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Alberto Kenji Yamabuchi - Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro

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A proposta <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> genealógico <strong>de</strong> Foucault, que analisa a relação entre o<br />

po<strong>de</strong>r e saber, oferece uma libertação <strong>do</strong>s saberes sujeita<strong>do</strong>s, inscritos na “hierarquia<br />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>res próprios da ciência”:<br />

34<br />

Trata-se <strong>de</strong> ativar saberes locais, <strong>de</strong>scontínuos, <strong>de</strong>squalifica<strong>do</strong>s, não<br />

legitima<strong>do</strong>s, contra a instância teórica unitária que preten<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>purálos,<br />

hierarquizá-los, or<strong>de</strong>ná-los em nome <strong>de</strong> um conhecimento<br />

verda<strong>de</strong>iro, em nome <strong>do</strong>s direitos <strong>de</strong> uma ciência <strong>de</strong>tida por alguns. 31<br />

Foucault usa a idéia <strong>de</strong> insurreição <strong>do</strong>s saberes contra os efeitos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r observa<strong>do</strong>s<br />

em um discurso científico e <strong>do</strong>minante. As relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>rivam <strong>de</strong>sse conflito<br />

<strong>de</strong> saberes e produzem formas <strong>de</strong> resistência, <strong>de</strong> contra-po<strong>de</strong>r, cujo <strong>de</strong>senvolvimento<br />

histórico se observa nos diversos níveis das relações sociais: a oposição <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r <strong>do</strong><br />

homem sobre a mulher, <strong>do</strong>s pais sobre os filhos, da psiquiatria sobre a loucura, da<br />

medicina sobre o povo. Mas não são lutas que apenas se opõem às autorida<strong>de</strong>s<br />

<strong>do</strong>mina<strong>do</strong>ras. Essas lutas são transversais, sem fronteiras <strong>de</strong> nacionalida<strong>de</strong>, que têm<br />

como objetivo os efeitos próprios <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r. São lutas que se opõem aos privilégios<br />

que têm os <strong>de</strong>tentores <strong>do</strong> conhecimento científico, <strong>do</strong>gmático.<br />

Percebe-se a valiosa contribuição <strong>de</strong> Foucault para o pensamento e a teologia<br />

feministas: na <strong>de</strong>sconstrução <strong>do</strong> discurso patriarcal e androcêntrico pelo méto<strong>do</strong><br />

genealógico <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r, cria-se o caminho para a libertação e ativação <strong>do</strong>s saberes<br />

sujeita<strong>do</strong>s das mulheres na direção da construção da história das mulheres. 32<br />

A genealogia seria portanto, com relação ao projeto <strong>de</strong> uma inscrição <strong>do</strong>s<br />

saberes na hierarquia <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res próprios à ciência, um empreendimento<br />

para libertar da sujeição os saberes históricos, isto é, torná-los capazes <strong>de</strong><br />

oposição e <strong>de</strong> luta contra a coerção <strong>de</strong> um discurso teórico, unitário,<br />

formal e científico. 33<br />

O projeto genealógico é, portanto, um projeto <strong>de</strong> libertação <strong>do</strong>s saberes sujeita<strong>do</strong>s,<br />

não qualifica<strong>do</strong>s, que confere com os objetivos <strong>de</strong> uma teologia feminista da<br />

libertação.<br />

Susan Bor<strong>do</strong> nos ofereceu um méto<strong>do</strong> para uma apropriação feminista <strong>do</strong>s<br />

conceitos <strong>de</strong> Foucault, que foi aproveita<strong>do</strong> em essência nesta pesquisa:<br />

[...] temos primeiro que aban<strong>do</strong>nar a idéia <strong>de</strong> que o po<strong>de</strong>r é algo possuí<strong>do</strong><br />

por um grupo e dirigi<strong>do</strong> contra outro e pensar, em vez disso, na re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

práticas, instituições e tecnologias que sustentam posições <strong>de</strong><br />

31 FOUCAULT, Michel. Ética, sexualida<strong>de</strong>, política. Org. Manoel Barros da Motta. Trad. Elisa<br />

Monteiro, Inês Autran Doura<strong>do</strong> Barbosa. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>: Forense Universitária, 2004. (Coleção Ditos<br />

e Escritos, V), p. 171-172.<br />

32 Sobre a contribuição <strong>de</strong> Foucault para a história das mulheres cf. PERROT, Michele. As mulheres e<br />

os silêncios da história. Trad. Viviane Ribeiro. Bauru, SP: EDUSC, 2005, p. 489-503.<br />

33 Id. p. 172.

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