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Música, Mito e Ritual entre os Wauja do alto Xingu - Universidade ...

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20também não poderíam<strong>os</strong> ajudá-la muito, já que n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> conheciment<strong>os</strong> em<strong>Wauja</strong> eram, de início, muito restrit<strong>os</strong>. Algumas brincadeiras d<strong>os</strong> menin<strong>os</strong>deixaram Júlia revoltada, como a caça a passarinh<strong>os</strong>, ou a tortura a quesubmeteram uma ema que, por azar, apareceu na aldeia. Em outras atividadesela <strong>os</strong> acompanhava, como n<strong>os</strong> passei<strong>os</strong> pelo mato para colher mangaba, ousimplesmente as corridas até o local de banho. Com o passar <strong>do</strong> tempo, e coma insistência das meninas da aldeia em se aproximarem de Júlia, sua adaptaçãofoi evoluin<strong>do</strong>. À medida que ia aprenden<strong>do</strong> um pouco mais da língua, asp<strong>os</strong>sibilidades de interação aumentavam, e a brincadeira de pular corda, queaparentemente as crianças <strong>Wauja</strong> não conheciam, acabou levan<strong>do</strong> a umainteração muito boa. Isto a ponto de, ao se aproximar o dia de n<strong>os</strong>so retorno àcidade, Júlia desatar a falar em <strong>Wauja</strong> e não querer mais ir embora. N<strong>os</strong>últim<strong>os</strong> dias na aldeia, Júlia começou a ficar triste e melancólica, já preven<strong>do</strong> asaudade que sentiria de tu<strong>do</strong> e de tod<strong>os</strong>. Curi<strong>os</strong>amente, Atamai resolveu oproblema da seguinte forma: ele se aproximou de Júlia e n<strong>os</strong> disse: “podedeixar a menina aqui que a gente cuida dela. Quan<strong>do</strong> ela ficar moça a gentearranha ela, prende, faz tu<strong>do</strong> direito pra ela ficar forte. Pode deixar ela aquimesmo”. Neste mesmo instante, Júlia deu uma risada e se pôs a arrumar suascoisas para ir embora, não queren<strong>do</strong> passar por to<strong>do</strong> o ritual de iniciação quehavia presencia<strong>do</strong> acontecer com uma de suas amiguinhas da aldeia que haviamenstrua<strong>do</strong> durante n<strong>os</strong>sa estadia em Piulaga 22 .Estar com Júlia na aldeia chamou-me a atenção para vári<strong>os</strong> dad<strong>os</strong> queteriam passa<strong>do</strong> despercebid<strong>os</strong> caso ela não estivesse junto. Principalmenteaqueles relacionad<strong>os</strong> ao mun<strong>do</strong> infantil, à convivialidade e à formação <strong>do</strong>indivíduo <strong>Wauja</strong>. A forte delimitação de espaç<strong>os</strong> e atividades ocupadas porhomens e mulheres se inicia muito ce<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> as crianças nem sequeraprenderam a falar direito. É raro ver meninas e menin<strong>os</strong> brincan<strong>do</strong> junt<strong>os</strong>, anão ser que se trate de alguma disputa, como no futebol, ou de brincadeirasque imitam as disputas físicas d<strong>os</strong> adult<strong>os</strong> durante a festa <strong>do</strong> pequi. Gregordescreve, <strong>entre</strong> <strong>os</strong> Mehinaku (1982, 1985), que é muito comum haver22 Assim que esta garota menstruou, ela desapareceu <strong>do</strong> convívio <strong>do</strong> grupo e ficou,durante toda n<strong>os</strong>sa estadia na aldeia, enclausurada em casa, como é o c<strong>os</strong>tume. Paranós isto foi um acontecimento normal, amplamente divulga<strong>do</strong> na etnografia xinguana.Mas para Júlia, a ausência forçada e abrupta, bem como a imp<strong>os</strong>sibilidade dereencontrar a amiga, foram impressionantes.

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