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Música, Mito e Ritual entre os Wauja do alto Xingu - Universidade ...

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40A mesma autora segue afirman<strong>do</strong> que <strong>os</strong> cant<strong>os</strong> e o mito deJamugikumalu (o mesmo que iamurikuma) são também de origem aruak. Noentanto, creio que esta mesma origem não se estende a tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> rituais alipraticad<strong>os</strong>, visto que dentro <strong>do</strong> complexo ritual xamânico há um forte substratotupi (ver Menezes Bast<strong>os</strong>, 1999a). Além disso, não se deve atribuir umaexclusividade originária na esfera ritual a<strong>os</strong> pov<strong>os</strong> mais antig<strong>os</strong> na região, istoporque o próprio sistema xinguano, como já foi dito, é aberto e criativo,“movente” nas palavras de Menget (1977), e está sempre absorven<strong>do</strong> aalteridade de forma ritual 50 . Um exemplo disto é a complementaridade <strong>entre</strong> <strong>os</strong>rituais de yawari, de origem Trumai-tupi, e o ritual <strong>do</strong> kwarỳp, de provávelorigem aruak, amb<strong>os</strong> giran<strong>do</strong> em torno das temáticas da morte e da chefia. Oritual presumivelmente de maior abrangência xinguana, o kwarỳp (kaumai em<strong>Wauja</strong>), é dedica<strong>do</strong> a<strong>os</strong> chefes mort<strong>os</strong>. Apesar deste ritual contar com aseminal etnografia de Ag<strong>os</strong>tinho (1974), não se pode afirmar algo maisconclusivo a respeito de sua origem, o que, talvez pudesse ser contorna<strong>do</strong> casohouvesse maiores referências a<strong>os</strong> cant<strong>os</strong> deste ritual. P<strong>os</strong>so apenas dizer que, apartir de uma análise e escuta superficial de <strong>do</strong>is kwarỳp que presenciei, estescant<strong>os</strong> devem ter uma origem aruak 51 .Desta forma, pode-se pensar que diferentes vetores concorrem emrelação à origem d<strong>os</strong> principais rituais intertribais no Alto <strong>Xingu</strong>. Ten<strong>do</strong> em vistaque o sistema xinguano funciona incorporan<strong>do</strong> alteridades, de forma que o quevem de "fora" pode vir a ser tão legítimo quanto o que poderia estar mais"dentro", parece inadequa<strong>do</strong> querer chegar às origens deste ou daquele rito de50 Como se pode notar atualmente com <strong>os</strong> campeonat<strong>os</strong> de futebol (feminino emasculino) da região, o que m<strong>os</strong>tra que até <strong>os</strong> rituais “de branco” podem fazer partedeste contexto.51 Barcel<strong>os</strong> Neto também ap<strong>os</strong>ta em uma origem aruak para este ritual, na medida emque reconhece a centralidade da produção da chefia e da necessidade dereconhecimento regional destes chefes através deste e de outr<strong>os</strong> rituais (como opohoka, de iniciação masculina) para a manutenção <strong>do</strong> sistema xinguano (2004).Lembro ainda que, <strong>entre</strong> <strong>os</strong> <strong>Wauja</strong>, o repertório musical deste ritual está diretamenteliga<strong>do</strong> ao mito de Arakoni, personagem responsável, segun<strong>do</strong> a mitologia respectiva,pela criação d<strong>os</strong> padrões gráfic<strong>os</strong> utilizad<strong>os</strong> em toda a região. Como já foi dito, omodelo aruak-karib está na gênese <strong>do</strong> sistema, e é bem provável que um ritual como okwarỳp, emblema de xinguanidade, deva ter esta matriz como ponto de partida.Entretanto, como outr<strong>os</strong> autores afirmam que este ritual é de especialidade Kamayurá(Dole, 1993:390; Carneiro, 1993:407), creio que somente uma análise detalhada <strong>do</strong>material cancional <strong>do</strong> kwarỳp poderá ajudar a elucidar tal questão, tarefa a qual meproponho realizar em trabalh<strong>os</strong> futur<strong>os</strong>.

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