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Música, Mito e Ritual entre os Wauja do alto Xingu - Universidade ...

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26noruegueses), pilhas, linhas de pesca, tecid<strong>os</strong> ou vestid<strong>os</strong>, camisetas, bonés,facas, tabaco, fumo, papel de cigarro, isqueir<strong>os</strong> e outr<strong>os</strong> itens que porventuraestejam precisan<strong>do</strong> na época. Como vivem cerca de trezentas pessoas naaldeia, é cust<strong>os</strong>o realizar uma <strong>entre</strong>ga de presentes que satisfaça à maioria, eparece mesmo de praxe que haja reclamações quanto à quantidade insuficientede determinad<strong>os</strong> itens ou da qualidade de outr<strong>os</strong>. Entre <strong>os</strong> <strong>Wauja</strong> <strong>os</strong> objet<strong>os</strong>são constantemente trocad<strong>os</strong>, ocorren<strong>do</strong> freqüentemente rituais de trocachamad<strong>os</strong> huluki 28 .De alguns an<strong>os</strong> para cá as “lideranças” 29 da região chegaram à conclusãode que <strong>os</strong> objet<strong>os</strong> levad<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> pesquisa<strong>do</strong>res não são suficientes paraestabelecer uma troca justa e, desta forma, tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> grup<strong>os</strong> <strong>do</strong> Alto <strong>Xingu</strong>estão cobran<strong>do</strong>, além d<strong>os</strong> presentes, o que eles convencionaram a chamar de“taxa de entrada”: ou seja, devem<strong>os</strong> pagar em dinheiro por n<strong>os</strong>sa permanênciana aldeia. Toda esta partilha é um tanto estressante, pois não há nada muitoclaro, e as negociações feitas com o chefe nem sempre agradam a<strong>os</strong> demaismembr<strong>os</strong> da aldeia. Além disso, sempre que há dinheiro envolvi<strong>do</strong> nanegociação, as suspeitas de mau uso dele vêm à tona e uma série de acusaçõesem tom de fofoca começa a surgir. Como não poderíam<strong>os</strong> fazer de formadiferente, assim procedem<strong>os</strong>, <strong>entre</strong>gam<strong>os</strong> <strong>os</strong> presentes e o dinheiro para ochefe Atamai, que cui<strong>do</strong>u da distribuição d<strong>os</strong> objet<strong>os</strong> e, segun<strong>do</strong> as "máslínguas", <strong>entre</strong>gou to<strong>do</strong> o dinheiro para seu filho que vive fora da aldeia 30 .Como eu já conhecia as pessoas da aldeia, sabia quem poderia trabalharcomigo, conhecia <strong>os</strong> tradutores e tinha mesmo desenvolvi<strong>do</strong> uma sistemáticade trabalho com estes, principalmente com Tupanumaká e Ianahim, não foi28 A palavra huluki também significa “an<strong>do</strong>rinha”, animal que está no mito de origemdas trocas. Este mito relata o momento em que <strong>os</strong> animais resolveram adequar seustimbres vocais ao seu tamanho e personalidade. Retomarei isto n<strong>os</strong> comentári<strong>os</strong> finaisda tese.29 O conceito de “liderança” é toma<strong>do</strong> aqui de empréstimo de uma terminologia utilizadaamplamente no discurso indigenista. Estes “líderes”, no entanto, não sãonecessariamente aqueles que ocupam a p<strong>os</strong>ição de chefia em suas aldeias. Estacategoria está muito mais ligada às relações estabelecidas com o mun<strong>do</strong> d<strong>os</strong> branc<strong>os</strong>, oque por vezes é ignora<strong>do</strong> pel<strong>os</strong> indigenistas que <strong>os</strong> tomam por “chefes” em um senti<strong>do</strong>amplo, geran<strong>do</strong> assim, cert<strong>os</strong> constrangiment<strong>os</strong> e desequilíbri<strong>os</strong> nas relações sociaislocais.30 A acumulação excessiva ou indevida é mal vista e perig<strong>os</strong>a, pois aquele quedemonstra ganância pode ser acusa<strong>do</strong> de feitiçaria e corre o risco de ser assassina<strong>do</strong>.Galvão (1953), ao tratar d<strong>os</strong> sistemas de parentesco no Alto <strong>Xingu</strong>, já observa isto, queparece ter um espectro amazônico (Clastres, 1978; Fausto, 2001).

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