Boletim BioPESB 2013 - Edição 11.pdf
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<strong>Boletim</strong> Biopesb<br />
Ciência, meio ambiente e cidadania em suas mãos<br />
ISSN - 2316-6649 - Ano 3 - Nº 11 - <strong>2013</strong><br />
Nas escolas é comum<br />
os alunos aprenderem<br />
PESB se consolida como privilegiado espaço de lazer e de<br />
pesquisa<br />
Os Índios Puris: história de cultura na<br />
Serra dos Arrepiados<br />
Criado no ano de<br />
1996, o Parque Estadual<br />
da Serra do Brigadeiro<br />
(PESB) tem sido usado<br />
como importante espaço<br />
para realização de<br />
educação ambiental. Por<br />
meio de visitas guiadas<br />
por guarda-parques conhecedores<br />
da flora e<br />
fauna locais, professores<br />
de várias escolas públicas<br />
e privadas aproveitam a<br />
biodiversidade local para<br />
mostrar em ambiente natural<br />
os ensinamentos discutidos<br />
dentro da sala de<br />
aula. O PESB também vem<br />
sendo aproveitado pelos<br />
pesquisadores para o desenvolvimento<br />
dos seus estudos<br />
científicos, sendo comum<br />
encontrar nas teses<br />
defendidas nas universidades,<br />
o agradecimento<br />
deixado por escrito à população<br />
local que presta<br />
grande contribuição para<br />
a realização dessas pesquisas,<br />
como também a<br />
admiração pela natureza<br />
local que serviu de relaxamento<br />
e inspiração durante<br />
seus estudos neste<br />
nas aulas de história<br />
fatos que<br />
marcaram o extermínio<br />
de vários<br />
povos indígenas<br />
do país, resultado<br />
de sangrentos enfrentamentos<br />
travados<br />
contra colonizadores<br />
desde a<br />
época do Brasil colônia.<br />
No entanto, é bem possível<br />
que o ensino em várias<br />
escolas da Serra do<br />
Brigadeiro, guiado pelos<br />
livros didáticos que não<br />
levam em consideração<br />
o contexto local, ignore,<br />
na formação desse estudante,<br />
a história dos<br />
povos indígenas que<br />
habitavam este território.<br />
Digna de retratar<br />
as transformações geopolíticas<br />
ocorridas na<br />
região, que resultaram<br />
no desaparecimento das<br />
aldeias indígenas locais,<br />
a fascinante cultura dos<br />
índios Puris felizmente<br />
está sendo hoje recuperada<br />
por moradores locais<br />
pelo resgate da sua<br />
língua, dança e de seus<br />
costumes.<br />
Pág 12<br />
grande laboratório a céu<br />
aberto.<br />
Pág 4<br />
Foto: André Berlinck<br />
Aniversário do PESB<br />
Entrevista<br />
Serra do Brigadeiro<br />
Eventos realizados no mês<br />
de setembro marcam a comemoração<br />
dos 17 anos do<br />
PESB.<br />
Página 8<br />
O ambientalista e idealizador<br />
da Ong CEPEC de<br />
Araponga, Jurandir Assis,<br />
fala sobre a história do<br />
índios Puris na região.<br />
Municípios do entorno do<br />
PESB se consolidam como<br />
Território e traçam planejamento<br />
estratégico de<br />
gestão.<br />
Páginas 9 Página 11
CulturaPuris Ano 3, n°11 - Pág 2<br />
Indíos Puris - conheça a história desse valente povo que habitava<br />
a Serra dos Arrepiados<br />
Para a produção das matérias<br />
sobre os índios Puris,<br />
o <strong>Boletim</strong> <strong>BioPESB</strong> contou<br />
com a importante colaboração<br />
do historiador e<br />
doutorando da Universidade<br />
Federal Fluminense<br />
Marcelo Sant’ Ana Lemos.<br />
Viajantes naturalistas<br />
europeus que percorreram<br />
a zona da mata mineira<br />
por volta do século XIX<br />
relataram a predominância<br />
de diferentes povos<br />
indígenas, sendo os mais<br />
frequentes na região, os<br />
Coroados, Coropós e Puris.<br />
Esses indígenas tinham<br />
agricultura, mas também<br />
praticavam caça, pesca<br />
e coleta. Eram povos de<br />
grande mobilidade pelo<br />
território - particularmente<br />
os Puris.<br />
Os Puris não se diferenciavam<br />
em relação às<br />
demais tribos no que diz<br />
respeito à divisão das<br />
tarefas, pois cabiam aos<br />
homens as obrigações ligadas<br />
à caça e a guerra,<br />
por isso eram eles responsáveis<br />
pela fabricação<br />
das armas, enquanto as<br />
mulheres se preocupavam<br />
com as colheitas e tudo o<br />
que estava ligado às coisas<br />
da casa. Não existia<br />
a prática monogâmica<br />
entre eles, podendo o índio<br />
escolher mais de uma<br />
companheira desde que<br />
pudesse garantir o sustento<br />
de sua família, que normalmente<br />
não ultrapassava<br />
quatro filhos.<br />
Durante o século XIX,<br />
um dos fatores que contri-<br />
Ilustração dos Índios Puris.<br />
buiu para a maior sobrevivência<br />
dos Puris em relação<br />
aos demais grupos foi<br />
o fato de se organizarem<br />
em pequenos grupos e aldeias,<br />
garantindo a esta<br />
população maiores possibilidades<br />
de mobilidade,<br />
fuga e dificuldade de ser<br />
aldeada pelos outros povos<br />
da região.<br />
O fato de os Puris terem<br />
sido mais abundantes<br />
implica, atualmente, uma<br />
associação entre o próprio<br />
significado do vocábulo<br />
“Puri” com uma possível<br />
ancestralidade indígena.<br />
É comum nesta região uma<br />
pessoa que tenha um biótipo<br />
comumente associado<br />
com índio ser logo identificada<br />
como sendo um<br />
possível descendente de<br />
Puri. Já na língua dos Coroados,<br />
Puris poderia ser<br />
traduzido como “homens<br />
ousados”; isso porque esses<br />
índios invadiam, de<br />
surpresa, as aldeias dos<br />
inimigos durante a ausência<br />
dos homens, ateando<br />
fogo a tudo e saqueando<br />
o que vissem pela frente. É<br />
interessante ressaltar que<br />
os Puris também chamavam<br />
os Coroados de Puris,<br />
não havendo diferença na<br />
forma como eles se autodenominavam.<br />
A partir do ano de<br />
1500, em consequência<br />
da chegada dos portugueses<br />
e a prática escravista,<br />
os Puris se viram<br />
forçados a se acuar pelo<br />
interior do Brasil. Em uma<br />
dessas imersões chegaram<br />
à região da Serra do<br />
Brigadeiro, um dos seus<br />
últimos redutos, sendo encurralados<br />
pelos europeus<br />
e por algumas tribos indígenas,<br />
dominantes do<br />
Vale do Rio Doce. A única<br />
opção de sobrevivência<br />
foi mesmo se adaptar às<br />
matas fechadas e ao frio<br />
da Serra dos Arrepiados.<br />
Na região localizada<br />
entre as bacias dos rios<br />
Doce, Paraíba do Sul e<br />
Casca, a qual hoje corresponde<br />
o município de<br />
Araponga, os índios Puris<br />
predominavam até meados<br />
do século XIX. Com o<br />
passar dos tempos, grande<br />
parte da cultura desse<br />
povo começou a ser<br />
destruída por meio de<br />
massacres de aldeias, envenenamento<br />
de grupos,<br />
transmissão criminosa de<br />
varíola, entre outras formais<br />
violentas.<br />
Até o final do século<br />
XIX, os Puris mantinham<br />
boa parte de sua cultura<br />
e costumes, alguns destes<br />
ainda preservados por<br />
famílias que possuem descendência<br />
indígena. Os<br />
Índios Puris são lembrados<br />
até hoje através de suas<br />
heranças culturais, podendo-se<br />
destacar a Dança<br />
de Caboclo, uma das mais<br />
importantes manifestações<br />
folclóricas da região da<br />
Serra do Brigadeiro.<br />
Raquel Santos, Isaac Konig,<br />
Bárbara Dias<br />
Reprodução<br />
CulturaPuris<br />
Quem eram os Puris?<br />
Ao que tudo indica, a<br />
nação indígena da etnia<br />
Puri chegou à Serra do<br />
Brigadeiro em meados de<br />
1500. Vindos do litoral do<br />
Rio de Janeiro e do Espírito<br />
Santo, sua região de<br />
origem, que tiveram de<br />
deixar para se protegerem<br />
dos portugueses que<br />
estavam colonizando seus<br />
espaços. As regiões serranas<br />
do interior do Brasil,<br />
foram por algum tempo<br />
um bom refúgio para a<br />
população indígena.<br />
Os Puris viviam da caça<br />
na mata, da coleta de frutos<br />
e eram tidos como excelentes<br />
pescadores. Os<br />
instrumentos usados para<br />
a caça eram simples: flecha<br />
e bodoque, porém<br />
operados com muita habilidade.<br />
Eles tinham preferência<br />
por usar pedras<br />
ao invés de setas quando<br />
caçavam. Para servirem<br />
as refeições usavam cuias<br />
e cabaças.<br />
Eles gostavam de pintar<br />
o corpo para se enfeitarem,<br />
reproduzindo imagens<br />
de serpentes, aves<br />
e formas geométricas da<br />
natureza. Geralmente casavam<br />
muito jovens, logo<br />
ao atingir a puberdade, e<br />
ao contrário de muitas culturas<br />
os casamentos não<br />
eram arranjados, levando-se<br />
em conta a afeição.<br />
O artesanato era usado<br />
para fabricar instrumentos<br />
úteis no dia a dia,<br />
como colheres, potes de<br />
argila e moringas para<br />
armazenar água que<br />
eram feitos de argila ou<br />
barro cozido. Fibras vegetais<br />
como taioba e embira<br />
eram empregadas para<br />
confeccionar as cordas.<br />
Infelizmente existem<br />
poucos registros e documentos<br />
que ajudem a contar<br />
com fidelidade o período<br />
que os Puris viveram<br />
<strong>Boletim</strong> Biopesb<br />
Redação: Alunos do PET- Bioquímica da UFV (Bárbara<br />
Dias, Bruno Paes, Fernanda Araújo, Flávia Bagno,<br />
Isaac Konig, Joana Marchiori, Lethícia Ribeiro, Luciana<br />
Fernandes, Paulo Alves, Raquel Santos, Thaís Martins,<br />
Valdeir Moreira).<br />
Projeto Gráfico : Thamara Pereira<br />
Diagramação: Marcela Barbosa<br />
Revisão: Lethícia Ribeiro<br />
www.biopesb.ufv.br<br />
Senhor Dauá, descendente de Puris que vive em Araponga,<br />
dedicando parte de seu tempo para contar às crianças histórias<br />
e tradições indígenas, bem como ensiná-las sua língua.<br />
em nossa região, mas ainda<br />
vivem no território da<br />
Serra do Brigadeiro pessoas<br />
descendentes dessa<br />
etnia, como o senhor Jurandi<br />
e a dona Redomilha,<br />
que podem narrar as histórias<br />
que ouviram de seus<br />
pais e avós sobre os costumes<br />
de seus antepassados.<br />
Além disso, alguns museus<br />
guardam um pouco da história<br />
dos indígenas, como<br />
o Arquivo Histórico Municipal<br />
de Resende no Rio de<br />
Janeiro e o Museu Histórico<br />
de Rio Pomba em Minas<br />
Gerais.<br />
Raquel Santos, Isaac Konig,<br />
Bárbara Dias<br />
Editor-Chefe: João Paulo Viana Leite<br />
Telefone: (31) 3899-3044<br />
E-mail: biopesbufv@gmail.com<br />
Endereço: Departamento de Bioquímica e Biologia<br />
Molecular - UFV<br />
CEP 36570-000, Viçosa - MG - Brasil<br />
Tiragem: 1.000 exemplares<br />
Apoio: Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PIBEX)-UFV<br />
Apoio: Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em<br />
Interações Planta-Praga<br />
Arquivo pessoal<br />
Ano 3, n°11 - Pág 3<br />
Editorial<br />
Aproveitando o ensejo<br />
da comemoração dos<br />
17 anos do Parque Estadual<br />
da Serra do Brigadeiro,<br />
o <strong>Boletim</strong> <strong>BioPESB</strong><br />
buscou retratar nesta<br />
edição a rica história<br />
de resistência dos povos<br />
indígenas Puris que<br />
habitavam a região da<br />
Serra dos Arrepiados,<br />
hoje conhecido como<br />
“Serra do Brigadeiro”,<br />
e da luta compartilhada<br />
por diferentes personagens,<br />
para proteger<br />
a cultura e o meio ambiente<br />
local. Símbolo de<br />
preservação da Mata<br />
Atlântica de Minas Gerais,<br />
a criação do PESB<br />
constituiu um importante<br />
instrumento para frear<br />
o desmatamento de um<br />
dos principais resquício<br />
desse bioma no planeta,<br />
estabelecendo uma importante<br />
reserva para<br />
convivência de várias<br />
espécies de plantas e<br />
animais ainda ameaçados<br />
de extinção. Nesta<br />
região, habitada por<br />
gente guerreira, vários<br />
descendentes dos Puris,<br />
e também por pessoas<br />
que encontraram no território<br />
motivação para<br />
cuidar do planeta, depara-se<br />
atualmente com<br />
novos desafios para a<br />
resistência, tendo como<br />
ameaça vilões representados<br />
por projetos imobiliários<br />
que conseguem<br />
estranhamente equacionar<br />
paz individual com<br />
destruição ambiental;<br />
avanço de mineradoras<br />
e, muitas das vezes, a<br />
inoperância de órgãos<br />
públicos.<br />
João Paulo Viana<br />
Editor Chefe
CulturaPuris Ano 3, n°11 - Pág 4 CulturaPuris<br />
Ano 3, n°11 - Pág 5<br />
Encontro com a aldeia Puris: relato de um naturalista<br />
do séculoXIX<br />
Em 1836 o médico e naturalista francês Raymundo Henrique de Genettes visitou a Serra<br />
do Brigadeiro e escreveu em seu diário como foi sua aproximação com os Puris. Confira o relato<br />
de Raymundo:<br />
XI - Uma caçada de onça<br />
“20 de dezembro (1836)<br />
Chegamos pelas onze da manhã ao pé da Serra do Brigadeiro e encontramos de<br />
imprevisto um rancho de índios Puris. É para mim uma boa fortuna. O rancho consta de<br />
50 a 60 famílias formando um total de 120 a 130 pessoas.<br />
O cacique fala português e nos diz que a tribo negocia com gente de Itapemirim e<br />
litoral. Deve ser assim, porque nossa visita não os altera. Apeamos e somente as crianças<br />
consideram-nos com curiosidade e ficam cheias de espanto.<br />
Tomei meu vocabulário Coropó e me esforço para que me entendam. Noto logo que<br />
eles ignoram e apenas algumas palavras são comuns nas duas línguas. Principio a<br />
compreender que há para os ínidos uma língua geral e que as outras, Coropó, puri,<br />
chipotó, botocuda, neakeamuks, etc. São dialetos mais ou menos afastados da língua geral.<br />
Em boa hora encontramos estes índios, que mediante promessa de uma recompensa<br />
prometia nos levar para a origem do Itabapuano.<br />
Ao amanhecer do dia seguinte, tomo por um trilho mal seguido, levando minha<br />
espingarda de boa fábrica francesa e entro no mato. Apenas tinha caminhado quinhentos<br />
a seiscentos passos, encontro um magnífico animal. Agita sua cauda com suas malhas<br />
pretas e amarelas brilhando como seda à luz que coa entre as folhagens e nos primeiros<br />
raios de sol da manhã. A visão me enche de prazer, o animal caminha lentamente e sigo,<br />
mas o acho tão belo que não quero atirar.<br />
Caminho assim uns duzentos passos. Nunca vi uma onça, mas pela semelhança do<br />
animal presente com as descrições que li dos naturalistas, reconheço que tenho diante de<br />
mim um representante da raça tão prejudicial aos fazendeiros. Volto para trás e ao<br />
chegar no rancho, conto minha aventura. Os índios compreendem e, logo, dez a doze<br />
caçadores partem em demanda do animal.<br />
A poucos passos, os índios reconhecem sobre as folhas úmidas da floresta o seu rastro,<br />
que eles me fazem notar. Em vão procuro, mas nada vejo. À medida, porém que<br />
avançamos, noto que os índios seguem mais cauteloso, olhando para cima. Não<br />
compreendo o seu manejo.<br />
Em poucos segundos, ouvi o sibilar da flecha do caçador e um rugido agudo e dolorido<br />
nos fez reconhecer que a onça tinha sido ferida gravemente. O animal apenas mudou de<br />
posição. Os índios todos entretidos com a caçada, não mais se lembraram de mim e<br />
mudaram de lugar, deixando-me a descoberto. Até o momento, nada observo de notável. É<br />
o mesmo pássaro pousado sobre um ramo.<br />
Duas flechas partiram a um tempo e ferem novamente a onça que se atira no chão ,<br />
como um gato que cai. Depois de duas ou três voltas circulares, acompanhados de um<br />
rosnar surdo que parece sir da terra, encolhe-se e, de um salto vigoroso, se atira ao<br />
caçador índio mais próximo. Este a espera a recebe com uma espécie de lança, cuja ponta<br />
é feita de um osso muito pontudo e duro.<br />
A lança penetra profundamente no peito do valente animal, que pelo seu peso faz<br />
baixar a arma. Neste momento, e com incrível rapidez, o chefe se precipita com uma faca<br />
feita de pau-ferro e mata finalmente a magnífica onça.”<br />
*O relato de Raymundo Genettes foi publicado no livro Brasil Chinês (Wanke, Luis Ernesto & Wanke,<br />
Marcos Luiz. Curitiba: Ed. Lewi, 2009) e nos foi repassado gentilmente por Marcelo Lemos, a quem a equipe<br />
do <strong>Boletim</strong> agradece por ter disponibilizado informações para a confecção das matérias sobre os Puris.<br />
O nome completo brasileiro foi Raymundo Henrique des Genettes, e o de origem<br />
francesa, François Henry Trigant des Genettes. Este francês, naturalizado<br />
brasileiro, conhecido como Dr. Francisco ou Padre Henriques, além de ter se dedicado<br />
a cuidar da saúde de cidadãos brasileiros como médico, atuou também<br />
como naturalista. Levantou as bases geológicas de Minas Gerais e do Planalto<br />
Central, mediu pela primeira vez a altura do Pico da Bandeira, descobriu minas<br />
de ouro e jazidas de diamantes. Como político ativo, teve participação nas revoluções<br />
francesas de 1830 e na mineira de 1842.<br />
Reprodução<br />
Reprodução<br />
De Arrepiados a Brigadeiro: Passado e Presente do PESB<br />
Por volta de 1800, enviado<br />
pelo Governo Provincial,<br />
em uma de suas<br />
expedições, Brigadeiro<br />
Bacelar apareceu na Serra<br />
dos Arrepiados. A Serra<br />
fria nas partes altas<br />
era habitada pelos índios<br />
Puris, que costumavam<br />
usar adereços ou coques<br />
no cabelo. Tanto o modo<br />
como arranjavam os cabelos<br />
quanto os arrepios dos<br />
índios por causa do frio<br />
poderiam explicar o nome<br />
original do lugar. Mas dar<br />
nome por causa de índio<br />
não agradava muito aos<br />
que davam nome aos lugares.<br />
Mudaram logo<br />
para Serra do Brigadeiro<br />
em homenagem ao tal<br />
Bacelar. Contam que por<br />
causa desse mesmo Bacelar,<br />
o antigo Rio Guarus<br />
passou a se chamar Rio<br />
Glória.<br />
De uma forma<br />
ou de outra,<br />
apesar da mania<br />
desse Brigadeiro<br />
mudar o nome<br />
das coisas, hoje a<br />
Serra está entre<br />
as áreas prioritárias<br />
para a conservação<br />
da biodiversidade e<br />
tem um papel significativo<br />
para o desenvolvimento<br />
sustentável na Zona<br />
da Mata, conciliando fins<br />
científicos, educativos,<br />
ecoturísticos e ainda contribuindo<br />
para o processo<br />
de integração das comunidades<br />
do entorno.<br />
O Parque foi criado em<br />
1996 a partir de um processo<br />
histórico envolvendo<br />
diferentes organizações e<br />
tem o objetivo de resguardar<br />
o considerável fragmento<br />
de Mata Atlântica<br />
da região.<br />
A atividade turística em<br />
seu território tem importância<br />
não apenas pela<br />
geração de renda, mas<br />
também pelo potencial de<br />
conscientização ambiental.<br />
O número de visitantes<br />
do Parque vem subindo e,<br />
segundo dados da Sede<br />
do PESB, varia em torno<br />
de 4900 pessoas por ano.<br />
Dentre as opções turísticas<br />
que o PESB e seu entorno<br />
oferecem, o Pico do Boné,<br />
localizado na zona rural<br />
de Araponga, foi apontado<br />
como o lugar mais frequentado<br />
pelos turistas,<br />
seguido das Cachoeiras<br />
da Laje e a do Pio. Atualmente<br />
também é crescente<br />
a procura pela visitação à<br />
sede do Parque, e em outros<br />
pontos por praticantes<br />
de esportes radicais e cavalgada.<br />
Com relação aos fins<br />
educacionais e científicos,<br />
vale ressaltar que pesquisadores<br />
de importantes<br />
centros de ensino e pesquisa,<br />
como UFV, UFMG<br />
e Instituto Jardim Botânico<br />
do Rio de Janeiro utilizam<br />
as áreas do PESB para o<br />
desenvolvimento de aulas<br />
de campo e pesquisas.<br />
Dentre as áreas mais pesquisadas<br />
no PESB estão a<br />
botânica, avifauna, ecoturismo,<br />
farmacologia e entomologia.<br />
Nesta edição trazemos<br />
um encarte com uma<br />
linha do tempo que mostra<br />
como foi a conquista do<br />
que é hoje o nosso Parque.<br />
Por toda essa luta e por<br />
toda a importância socioambiental<br />
dessa região,<br />
entende-se a necessidade<br />
de preservação do PESB.<br />
Lethícia Ribeiro, Thaís Martins e<br />
Flávia Bagno<br />
Reprodução
Linha do tempo Ano 3, n°11 - Pág 6<br />
Linha do tempo Ano 3, n°11 - Pág 7<br />
Parque Estadual Serra do Brigadeiro - História de conquistas populares e de preservação ambiental<br />
Século<br />
XVI<br />
Ocupação colonial na<br />
região; exploração de ouro,<br />
índios e negros.<br />
1976 1981<br />
Elaboração da proposta de<br />
criação do PESB como UC<br />
de proteção integral com<br />
área total de 32.500 ha.<br />
Abaixo assinado para a<br />
criação do PESB<br />
coletando cerca de<br />
10.000 assinaturas.<br />
2005<br />
- Implementação de obras<br />
estruturais (alojamento,<br />
refeitórios, centros de pesquisa).<br />
- Planos de manejo e cadastros de<br />
famílias confrontantes no Parque.<br />
- Decreto de demarcação do PESB<br />
com 14.948 ha.<br />
Década de<br />
30<br />
- Instituição de leis<br />
ambientais: código florestal.<br />
- Processos migratórios:<br />
região utilizada como refúgio<br />
na Revolução de 30.<br />
1975<br />
A região recebe o nome de<br />
Serra do Brigadeiro.<br />
1962<br />
-Decreto de proteção às florestas<br />
nativas de propriedade privada<br />
existentes na região.<br />
- Criação do IEF-MG .<br />
1981<br />
Criação do Conselho<br />
Nacional do Meio<br />
Ambiente.<br />
2004<br />
- Instalação do Conselho<br />
Consultivo do PESB e elaboração<br />
do regimento interno.<br />
- Projeto PROMATA.<br />
1988<br />
1942<br />
Construção da Fazenda do Brigadeiro.<br />
Década de<br />
50<br />
Expansão agrícola e<br />
desmatamento da Fazenda do<br />
Brigadeiro.<br />
Governo de MG<br />
autoriza a criação do<br />
PESB.<br />
1996<br />
Decreto de criação do PESB<br />
com 13.210 ha, considerando<br />
aspectos ambientais e<br />
socioeconômicos.<br />
Por Flávia Bagno<br />
Baseada na Tese de Verônica Rocha Bonfim
Reprodução<br />
PESB Ano 3, n°11 - Pág 8<br />
Entrevista Ano 3, n°11 - Pág 9<br />
O Plano de gestão sustentável do Parque Estadual da<br />
Serra do Brigadeiro<br />
Quando se pensa na<br />
criação de um Parque sob<br />
proteção do Estado, um<br />
dos maiores impasses é<br />
a desocupação de áreas<br />
habitadas por agricultores<br />
familiares, que ao<br />
longo de várias décadas<br />
estabeleceram cultura e<br />
práticas agrícolas tradicionalmente<br />
ligadas ao<br />
ambiente local. A necessidade<br />
de interrupção<br />
destas práticas agrícolas,<br />
que sempre geraram renda<br />
e subsistência às suas<br />
famílias nas áreas envolvidas<br />
dentro da Unidade<br />
Eventos com grande participação da comunidade<br />
comemoraram o aniversário de 17 anos do PESB<br />
Dia de campo na Fazenda do Brigadeiro, Araponga<br />
No mês de setembro<br />
o PESB comemorou 17<br />
anos de existência. Para<br />
celebração da data, que<br />
coincide com a realização<br />
Semana Florestal, foram<br />
realizadas diversas atividades,<br />
envolvendo os<br />
funcionários do Parque e<br />
a comunidade do entorno.<br />
As atividades<br />
ocorreram entre os dias<br />
de Conservação, é uma<br />
situação difícil de ser resolvida.<br />
O PESB, desde a sua<br />
criação em 27 de setembro<br />
de 1996, é formado<br />
por áreas pertencentes<br />
aos municípios de Araponga,<br />
Divino, Ervália,<br />
Fervedouro, Miradouro,<br />
Muriaé, Pedra Dourada<br />
e Sericita. As áreas rurais<br />
desses municípios há muito<br />
tempo tem sua economia<br />
girando principalmente<br />
em torno do plantio do<br />
café.<br />
Quando se firmou a<br />
21 e 28 de Setembro.<br />
Entre elas destacam-se a<br />
Oficina de Arte Café, realizada<br />
no município de<br />
São Sebastião da Vargem<br />
Alegre e a Expedição “Pegue<br />
o Boné”, com a participação<br />
dos funcionários<br />
do Parque em uma subida<br />
ao Pico do Boné. Também<br />
houve a celebração de<br />
uma Missa ao Padroeiro<br />
construção do Parque,<br />
primou-se por uma identidade<br />
do território baseada<br />
nos vínculos afetivos<br />
entre as pessoas que ali<br />
viviam e a terra, além dos<br />
seus costumes. Segundo<br />
especialistas, o conceito<br />
de “Território” deveria<br />
envolver o sentimento de<br />
pertencimento, o padrão<br />
histórico produtivo, as festas<br />
comuns, a religião e<br />
as manifestações étnicas<br />
regionais. Construiu-se então<br />
na época da criação<br />
do PESB um perfil do Território<br />
Rural da Serra do<br />
Brigadeiro, que acolhia as<br />
seguintes ideologias:<br />
• Prática da agroecologia;<br />
• Práticas Culturais e Religiosas;<br />
• O solo característico,<br />
bem como o clima e o relevo<br />
montanhoso;<br />
• O cultivo do café de<br />
qualidade;<br />
• A prática do artesanato<br />
e o potencial para o turismo<br />
rural e o ecoturismo.<br />
Bruno Paes e Joana Marchiori<br />
de Araponga, com participação<br />
dos funcionários do<br />
IEF/PESB, ocasião na qual<br />
foi ressaltada a importância<br />
do Parque para preservação<br />
ambiental da<br />
região.<br />
No dia 27, data<br />
do aniversário do Parque,<br />
foram realizados dia de<br />
campo na Fazenda do Brigadeiro<br />
e Missa em comemoração<br />
ao aniversário<br />
do PESB. O evento contou<br />
com a participação de<br />
cerca de 270 pessoas, entre<br />
elas o prefeito de Araponga,<br />
representantes da<br />
Polícia Militar, funcionários<br />
do IEF, e população do entorno.<br />
Nessa ocasião, foram<br />
realizadas atividades<br />
culturais junto à comunidade,<br />
e um mini-campeonato<br />
de futebol com times do<br />
entorno.<br />
As comemorações<br />
se encerraram no dia 28,<br />
com doação de mudas<br />
produzidas nos viveiros<br />
do IEF e apresentação do<br />
Teatro do Foguinho, pelo<br />
Corpo de Bombeiros de<br />
Juiz de Fora, na Praça de<br />
Araponga.<br />
Paulo Alves e Fernanda Araújo<br />
Foto Marcela Barbosa<br />
Resgate da cultura Puri acontece no entorno do PESB<br />
Jurandir fala sobre o resgate da cultura Puri através do<br />
Folguedo dos Arrepiados, grupo folclórico de dança cabocla<br />
em Araponga, Minas Gerais.<br />
Em entrevista ao Bio-<br />
PESB, Jurandir dos Santos<br />
Assis, descendente dos índios<br />
Puris da região de<br />
Araponga, fala sobre a<br />
chegada deste povo na<br />
região e como é feito o<br />
resgate desta cultura.<br />
Em que época ocorreu<br />
a chegada dos índios<br />
Puris na região da Serra<br />
dos Arrepiados, atualmente<br />
conhecida como<br />
Serra do Brigadeiro?<br />
Existem duas hipóteses.<br />
A primeira é que eles<br />
sejam naturais da África<br />
e da Ásia e tenham chegado<br />
aqui passando pelo<br />
Estreito de Bering. Por<br />
ser o lugar muito estreito<br />
acredita-se que eles<br />
tenham passado com a<br />
canoagem, chegando ao<br />
continente americano e<br />
depois descendo a América<br />
do Sul. Isso é o que é<br />
lógico, não tem como sair<br />
disso. A segunda hipótese<br />
é essa visão de que todo<br />
mundo tem de achar a<br />
ossada, de achar cemitério,<br />
de achar as partes<br />
arqueológicas na própria<br />
América Latina. Mas esse<br />
povo se espalhou de um<br />
modo que quase não dá<br />
pra saber onde é que<br />
surgiu primeiro. Pra mim,<br />
diante de todo o estudo<br />
que eu fiz, o mais provável<br />
é que eles vieram pelo<br />
Estreito de Bering, esta é<br />
a primeira colocação, mas<br />
existe a possibilidade de<br />
eles já serem um povo nativo<br />
daqui.<br />
Quando e como aconteceu<br />
o encontro dos Puris<br />
com o homem branco?<br />
Em 1680 temos os registros<br />
da chegada dos<br />
primeiros bandeirantes<br />
aqui, vindos de São Paulo,<br />
principalmente da praia<br />
de São Vicente. No mesmo<br />
ano, o filho de Antônio<br />
Raposo de Barreto veio<br />
para a região e construiu<br />
uma choça de casca denominada<br />
casa da Casca,<br />
que ficava na região do<br />
Casca ou Serra dos Arrepiados<br />
e que hoje é a<br />
Serra do Brigadeiro. Ali<br />
foi registrado o primeiro<br />
ouro de Minas Gerais. Então<br />
quando o governador<br />
veio para a região, ele<br />
já veio com a intenção de<br />
explorar o lugar. Eu acredito<br />
que os Puris já habitavam<br />
a região e que<br />
o encontro deles com os<br />
bandeirantes tenha sido<br />
pacífico, porque nenhum<br />
povo indígena, no meu<br />
modo de enxergar, é um<br />
povo que se coloca como<br />
matador. Existe registro<br />
de uma carta que o Antônio<br />
Raposo escreveu a<br />
um correspondente no Rio<br />
de Janeiro sobre o receio<br />
de perder mais de 40 índios<br />
Puris que seu filho tinha<br />
trazido da Serra da<br />
Mantiqueira; isso mostra<br />
que eles tinham uma relação<br />
de domínio sobre os<br />
índios. Mas o índio em si<br />
nunca aceitou ser escravo.<br />
Já o negro, o europeu, já<br />
aceitou, já o índio morre<br />
mas não aceita ser escravo.<br />
Como os Puris viviam<br />
no seu dia-a-dia?<br />
A nação Puri era de<br />
um povo de boa índole,<br />
povo manso, mas não<br />
aceitava nenhum tipo de<br />
ofensas. Era um povo festeiro.<br />
O Puri nosso, que ficava<br />
mais aqui na serra,<br />
vivia da caça. Os Puris<br />
eram em grande número,<br />
praticamente uma nação.<br />
Era um povo nômade que<br />
ficava um, dois, três anos<br />
em um determinado local.<br />
Se tivesse o alimento ali,<br />
eles fincavam raízes, mas<br />
eram nômades, não dá<br />
pra dizer aqui se tinha<br />
uma tribo. Eles viviam da<br />
caça, da pesca, do próprio<br />
plantio, mas principalmente<br />
da caça. Se o<br />
território ficava fraco, ali<br />
eles deixavam sua cerâmica,<br />
que eles faziam<br />
para sua alimentação e<br />
saiam com suas próprias<br />
redes, suas próprias cuias,<br />
que eram fáceis de carregar.<br />
Eles iam pra outro<br />
lugar, então quando encontramos<br />
cerâmicas em<br />
alguns territórios é uma<br />
forma de saber onde eles<br />
habitaram.<br />
O que levou ao extermínio<br />
desse povo?<br />
Na verdade ele se espalhou.<br />
Isso é em documentos,<br />
quando eu falo<br />
em 1680 temos nomes,<br />
datas e pessoas. A partir<br />
dali um dos povos mais<br />
enfrentados de Minas
Entrevista Ano 3, n°11 - Pág 10 PESB Ano 3, n°11 - Pág 11<br />
Gerais foi o povo Puri. Por<br />
isso que há essa dizimação.<br />
Uma que eles eram<br />
mansos, contando em cima<br />
dessa matança que é uma<br />
coisa que eu falo, em 126<br />
anos atrás esse povo já<br />
era aldeado aqui ainda.<br />
Por exemplo, o córrego<br />
do Ouro, eu tenho registro<br />
que até ali em Abre<br />
Campo tinha mais de 800<br />
índios aldeados. Tenho informação<br />
de uma senhora<br />
que disse que a tia de<br />
seu marido ia com a avó<br />
levar as coisas (“para os<br />
índios”), há 100 e poucos<br />
anos. Elas iam pra dentro<br />
da mata, ela era pequenininha,<br />
eles (“os índios”)<br />
preferiram morrer dentro<br />
do lugar, lá eles colocaram<br />
como ararica, de<br />
dentro da mata fechada,<br />
eles preferiram morrer<br />
lá dentro, ou as vezes foi<br />
saindo aos poucos, mas<br />
pra não aceitar essa vida<br />
que tinha.<br />
Existem indícios da<br />
passagem dos Puris na<br />
região?<br />
Existem peças de cerâmicas,<br />
panelas de barro,<br />
cachimbos e outros registros.<br />
Existem poucas famílias<br />
que assumiram a cultura<br />
Puri. Até hoje algumas<br />
pessoas ainda guardam<br />
um pouco da língua Puri.<br />
Na questão arqueológica<br />
eu mesmo consigo localizar<br />
e visualizar locais<br />
onde eles se enterravam.<br />
Atualmente, como<br />
anda o resgate da cultura<br />
Puris?<br />
Mais importante do<br />
que os registros que temos<br />
é o próprio fato desse<br />
povo ainda se assumir<br />
como Puris. Além disso, o<br />
resgate da história que<br />
a gente tem das danças,<br />
da forma de vida deles,<br />
que meu pai passava,<br />
que a família passava, e<br />
quando a gente faz um<br />
resgate hoje, a gente se<br />
transforma dentro das<br />
apresentações. Fazemos<br />
igual era o ritual indígena<br />
que esse povo fazia<br />
antes. Até mesmo a língua<br />
que a gente fala, a bate<br />
o coco, é bem parecida.<br />
Não é 100% igual, até<br />
por influência de pronunciamento,<br />
mas você vê<br />
que tinha muita relação<br />
com o que a gente fala<br />
ou até mesmo com o que<br />
alguns escreveram. Então<br />
isso tudo ajuda a você<br />
chegar e apalpar mais a<br />
historia desse povo Puri.<br />
Como se deu a criaçaõ<br />
doCEPEC?<br />
Ele foi criado em cima<br />
da ideia de um resgate<br />
da cultura Puri na Serra<br />
do Brigadeiro. Pra mim,<br />
em particular, seria uma<br />
questão mais de honra<br />
mesmo, por se tratar de<br />
uma história da minha<br />
família. Hoje tentamos<br />
resgatar as mesmas atividades<br />
que eles faziam<br />
dentro da mata, como as<br />
apresentações de dança<br />
cabocla folguedo dos arrepiados<br />
que fazemos na<br />
universidade, em Brasília,<br />
em vários outros lugares.<br />
Marcela Barbosa<br />
“Ao unir natureza e religiosidade (esta como forte cultura<br />
local), o PESB firma seu compromisso socioambiental, fortalecendo<br />
as parcerias para a conservação ambiental e ao<br />
mesmo tempo valorizando as características da população<br />
local. Neste sentido, o PESB valoriza a vida como um todo.<br />
Viva a vida. Viva o Parque do Brigadeiro!”<br />
José Roberto Mendes de Oliveira<br />
Gerente do Parque Estadual da serra do Brigadeiro<br />
“Pesquisar a biodiversidade da Serra do Brigadeiro, além de<br />
ser estratégico para a descoberta de novos fitomedicamentos,<br />
pois estamos falando de um dos biomas mais importante do<br />
planeta, a Mata Atlântica; é também um grande privilégio,<br />
pois a cada expedição nos deparamos com novas belezas<br />
naturais e conhecemos pessoas que fazem desse lugar um<br />
recanto de Paz, harmonia e de contemplação da obra Divina”<br />
João Paulo Viana Leite<br />
Professor e Pesquisador da UFV<br />
“O PESB, por meio de seu grupo de trabalho (gerência,<br />
guarda parques e colaboradores), com forte inserção nas comunidades<br />
do entorno, tem influenciado fortemente na conscientização,<br />
em prol da conservação das plantas e animais.<br />
Nos últimos anos, o PESB tem sido parceiro vital nas ações<br />
de coleta seletiva de resíduos sólidos em comunidades rurais<br />
de Araponga.”<br />
Rolf Puschmann<br />
Professor do Departamento de Biologia Vegetal da UFV<br />
“O PESB, Parque relativamente novo, vem contribuindo<br />
com sua harmonia, organização e beleza para fomentar o<br />
turismo local. Abriga maravilhas naturais, uma incrível diversidade<br />
biológica e complexos ecossistemas. A preservação<br />
é fator que melhorará a qualidade de vida do seu entorno,<br />
dando maior qualidade ao ar que respiramos, a água<br />
que bebemos e a tudo que podemos ver, tal como a fauna e<br />
flora altamente aprazível à nossa sensibilidade humana. O<br />
PESB vem aumentando o gosto por morar em um lugar que<br />
se preocupa cada dia mais com a qualidade da vida humana,<br />
sentimento que vem sendo banalizado a cada dia por nossa<br />
sociedade capitalista. O município de Araponga só tem de<br />
se alegrar por pertencer a este complexo tao maravilhoso.”<br />
Simone Dias Sampaio Silva<br />
Moradora e Empresária do Setor de Turismo da região da<br />
Serra do Brigadeiro<br />
“O PESB é importante pela suas belezas naturais, referência<br />
do turismo em Araponga; pela preservação de espécies<br />
da fauna e flora, e dos mananciais hídricos que contribuem<br />
na formação do Rio Casca e Rio Doce. O PESB também é<br />
importante espaço para as pesquisas cientificas que trazem<br />
resultados positivos para uma melhor qualidade de vida para<br />
nossa população.”<br />
Chico da Mata<br />
Ex-guarda parque e morador do entorno do PESB<br />
Reprodução<br />
Reprodução<br />
Programa de Desenvolvimento Sustentável de Territórios<br />
Rurais busca criar parcerias entre municípios com identidades<br />
social e cultural<br />
Segundo o Conselho<br />
Nacional de Desenvolvimento<br />
Rural Sustentável<br />
(Condraf), ligado ao Ministério<br />
do Desenvolvimento<br />
Agrário (MDA), o<br />
meio rural não pode ser<br />
definido apenas como<br />
um universo que compreende<br />
um conjunto de<br />
atividades agrícolas e<br />
agropecuárias, além é<br />
claro, da população local.<br />
O meio rural deve<br />
ser entendido como um<br />
conjunto de regiões<br />
adjacentes que contribuem<br />
para a dinâmica<br />
econômica e social juntamente<br />
com as atividades<br />
desenvolvidas neste meio.<br />
Portanto, deve-se levar<br />
em consideração outros<br />
aspectos para descrever<br />
este ambiente, como<br />
a diversidade cultural,<br />
o conhecimento local, a<br />
relação com os recursos<br />
naturais e o ecossistema.<br />
Assim, a noção de território<br />
rural, como modelo de<br />
gestão pública pode ser<br />
descrita além da definição<br />
pelo senso comum.<br />
Pensando neste modelo<br />
mais amplo de território<br />
rural, o MDA, criou, em<br />
2004, o Programa Nacional<br />
de Desenvolvimento<br />
Sustentável dos Territórios<br />
Rurais (PRONAT), que se<br />
baseia na aplicação de<br />
práticas de desenvolvimento<br />
rural e de fortalecimento<br />
da agricultura<br />
familiar dentro de um território.<br />
Atualmente, já foram<br />
identificados no Brasil<br />
164 territórios rurais<br />
envolvendo 2,5 mil municípios,<br />
sendo o Território<br />
Rural da Serra do Brigadeiro<br />
um deles.<br />
Território da Serra do Brigadeiro como identidade e<br />
unidade de integração entre as comunidades<br />
Para a caracterização<br />
do Território da Serra<br />
do Brigadeiro, criado em<br />
2003, foram utilizados<br />
métodos de pesquisa documental<br />
e entrevista semiestruturada<br />
junto a uma<br />
amostra de agricultores<br />
familiares e<br />
autoridades<br />
da região.<br />
Os resultados<br />
mostraram a<br />
importância<br />
das ações de<br />
diversos atores<br />
sociais que<br />
contribuíram<br />
para que hoje<br />
o Território estivesse<br />
incluído<br />
no PRONAT<br />
e em outros<br />
projetos de<br />
desenvolvimento<br />
rural e<br />
ambiental.<br />
De acordo com o Plano<br />
Territorial de Desenvolvimento<br />
Rural Sustentável –<br />
PTDRS, após uma oficina<br />
sobre identidade territorial<br />
realizada em Viçosa<br />
(2003), verificou-se que<br />
as características mais<br />
marcantes do Território<br />
da Serra do Brigadeiro<br />
que constituíam sua identidade<br />
como um todo, giravam<br />
em torno da figura<br />
do PESB; suas atividades<br />
agrícolas (como o cultivo<br />
do café de montanha<br />
e a predominância da<br />
agricultura familiar); sua<br />
cultura (festas e crenças);<br />
a grande interação entre<br />
as comunidades do entorno<br />
do Parque; a falta de<br />
infraestrutura adequada<br />
e a necessidade de ações<br />
voltadas para o seu desenvolvimento.<br />
Tendo em sua constituição<br />
os municípios de<br />
Araponga, Divino, Ervália,<br />
Fervedouro, Miradouro,<br />
Muriaé, Pedra Bonita,<br />
Rosário de Limeira<br />
e Sericita, este território<br />
não deve ser entendido<br />
como apenas um espaço<br />
delimitado geográfica e<br />
politicamente. Segundo<br />
o PTDRS a concepção de<br />
território atinge níveis sociais,<br />
uma vez que as comunidades<br />
no entorno do<br />
Parque se encontram extremamente<br />
integradas e<br />
possuem inúmeras características<br />
em comum, que<br />
as tornam parte de um<br />
contexto único. A identidade<br />
do Território da Serra<br />
do Brigadeiro, então, foi<br />
determinada não apenas<br />
como um grupo de comunidades<br />
que pertence ao<br />
mesmo local, mas como<br />
um grupo que, unido ao<br />
longo do tempo, construiu<br />
uma imagem baseada<br />
na sua história, relações<br />
sociais e no contexto da<br />
preservação e recuperação<br />
ambiental.<br />
Valdeir Moreira e Luciana Fernandes
TerritórioSerradoBrigadeiro Ano 3, n°11 - Pág 12<br />
Municípios do entorno do Parque Estadual da Serra do<br />
Brigadeiro se consolidam como território<br />
Para que se consolidassem os aspectos culturais, ambientais, econômicos e políticos, um planejamento estratégico<br />
de gestão sustentável foi desenvolvido para os municípios do entorno do PESB. Dentre estes destacam-se:<br />
EIXO<br />
Preservação e Recuperação<br />
do Meio Ambiente<br />
FOCO<br />
Por se tratar de uma UC, as principais<br />
ações concentram-se na conservação<br />
ambiental e na recuperação de áreas<br />
degradadas, necessitando de uma participação<br />
ativa da população local.<br />
AÇÕES<br />
1. Desenvolvimento de material educativo<br />
ambiental e de oficinas de trocas de<br />
saberes, nas quais a população é orientada<br />
sobre a biodiversidade e a importância<br />
da preservação desta para manter<br />
a proposta do território.<br />
2. Prática da Agroecologia – cuja função<br />
seria auxiliar no manejo sustentável<br />
e no desenvolvimento de técnicas<br />
que possam explorar os recursos naturais<br />
associados a produção tradicional<br />
de café, milho, etc.; e professores do<br />
ensino básico - que podem introduzir<br />
o conceito de agroecologia para seus<br />
alunos.<br />
1. Melhoria das estradas que dão acesso<br />
aos municípios e às instalações.<br />
Turismo Rural<br />
As áreas de preservação ambiental e<br />
com tradições culturais apresentam<br />
grande potencial em se tornarem polos<br />
turísticos, nesse caso, de turismo<br />
ecológico e rural.<br />
2. Captar recursos junto ao governo,<br />
como no Programa de Incentivo à<br />
Agricultura Familiar (PRONAF), para<br />
melhoria da infraestrutura das propriedades.<br />
3. Divulgação das atividades turísticas.<br />
4. Organização de eventos culturais periódicos<br />
envolvendo toda a população<br />
local.<br />
Agricultura Familiar<br />
Diversificada<br />
Cultura<br />
Como a economia do PESB gira<br />
em torno da agricultura familiar<br />
desenvolvida em seu redor, apoiar<br />
as famílias a desenvolver uma diversidade<br />
de produtos que podem<br />
ser vendidos e possam servir como<br />
produto de abastecimento local é<br />
bastante crucial.<br />
Todas as demais áreas – agricultura,<br />
turismo e preservação – firmam-se na<br />
cultura. Para tanto, o resgate das tradições,<br />
ou seja, a reunião de contos,<br />
lendas, receitas, a reestruturação da<br />
medicina caseira e o conhecimento<br />
sobre os índios Puris constituíram a<br />
primeira linha temática.<br />
1. Consolidação da Escola, cujo papel é<br />
auxiliar na formação crítica, implantar<br />
os conceitos de sustentabilidade, política<br />
e cooperatividade.<br />
2. Adquirir equipamentos de beneficiamento<br />
de café e firmar parceria com a<br />
EMATER, para promoção de cursos sobre<br />
melhoramento, banco de sementes,<br />
técnicas de cultivo, etc.<br />
1. Implementação de Casas da Cultura<br />
em Miradouro e Araponga.<br />
2. Formulação de um calendário festivo<br />
da região.<br />
Bruno Paes e Joana Marchiori