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Boletim BioPESB 2013 - Edição 11.pdf

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Entrevista Ano 3, n°11 - Pág 10 PESB Ano 3, n°11 - Pág 11<br />

Gerais foi o povo Puri. Por<br />

isso que há essa dizimação.<br />

Uma que eles eram<br />

mansos, contando em cima<br />

dessa matança que é uma<br />

coisa que eu falo, em 126<br />

anos atrás esse povo já<br />

era aldeado aqui ainda.<br />

Por exemplo, o córrego<br />

do Ouro, eu tenho registro<br />

que até ali em Abre<br />

Campo tinha mais de 800<br />

índios aldeados. Tenho informação<br />

de uma senhora<br />

que disse que a tia de<br />

seu marido ia com a avó<br />

levar as coisas (“para os<br />

índios”), há 100 e poucos<br />

anos. Elas iam pra dentro<br />

da mata, ela era pequenininha,<br />

eles (“os índios”)<br />

preferiram morrer dentro<br />

do lugar, lá eles colocaram<br />

como ararica, de<br />

dentro da mata fechada,<br />

eles preferiram morrer<br />

lá dentro, ou as vezes foi<br />

saindo aos poucos, mas<br />

pra não aceitar essa vida<br />

que tinha.<br />

Existem indícios da<br />

passagem dos Puris na<br />

região?<br />

Existem peças de cerâmicas,<br />

panelas de barro,<br />

cachimbos e outros registros.<br />

Existem poucas famílias<br />

que assumiram a cultura<br />

Puri. Até hoje algumas<br />

pessoas ainda guardam<br />

um pouco da língua Puri.<br />

Na questão arqueológica<br />

eu mesmo consigo localizar<br />

e visualizar locais<br />

onde eles se enterravam.<br />

Atualmente, como<br />

anda o resgate da cultura<br />

Puris?<br />

Mais importante do<br />

que os registros que temos<br />

é o próprio fato desse<br />

povo ainda se assumir<br />

como Puris. Além disso, o<br />

resgate da história que<br />

a gente tem das danças,<br />

da forma de vida deles,<br />

que meu pai passava,<br />

que a família passava, e<br />

quando a gente faz um<br />

resgate hoje, a gente se<br />

transforma dentro das<br />

apresentações. Fazemos<br />

igual era o ritual indígena<br />

que esse povo fazia<br />

antes. Até mesmo a língua<br />

que a gente fala, a bate<br />

o coco, é bem parecida.<br />

Não é 100% igual, até<br />

por influência de pronunciamento,<br />

mas você vê<br />

que tinha muita relação<br />

com o que a gente fala<br />

ou até mesmo com o que<br />

alguns escreveram. Então<br />

isso tudo ajuda a você<br />

chegar e apalpar mais a<br />

historia desse povo Puri.<br />

Como se deu a criaçaõ<br />

doCEPEC?<br />

Ele foi criado em cima<br />

da ideia de um resgate<br />

da cultura Puri na Serra<br />

do Brigadeiro. Pra mim,<br />

em particular, seria uma<br />

questão mais de honra<br />

mesmo, por se tratar de<br />

uma história da minha<br />

família. Hoje tentamos<br />

resgatar as mesmas atividades<br />

que eles faziam<br />

dentro da mata, como as<br />

apresentações de dança<br />

cabocla folguedo dos arrepiados<br />

que fazemos na<br />

universidade, em Brasília,<br />

em vários outros lugares.<br />

Marcela Barbosa<br />

“Ao unir natureza e religiosidade (esta como forte cultura<br />

local), o PESB firma seu compromisso socioambiental, fortalecendo<br />

as parcerias para a conservação ambiental e ao<br />

mesmo tempo valorizando as características da população<br />

local. Neste sentido, o PESB valoriza a vida como um todo.<br />

Viva a vida. Viva o Parque do Brigadeiro!”<br />

José Roberto Mendes de Oliveira<br />

Gerente do Parque Estadual da serra do Brigadeiro<br />

“Pesquisar a biodiversidade da Serra do Brigadeiro, além de<br />

ser estratégico para a descoberta de novos fitomedicamentos,<br />

pois estamos falando de um dos biomas mais importante do<br />

planeta, a Mata Atlântica; é também um grande privilégio,<br />

pois a cada expedição nos deparamos com novas belezas<br />

naturais e conhecemos pessoas que fazem desse lugar um<br />

recanto de Paz, harmonia e de contemplação da obra Divina”<br />

João Paulo Viana Leite<br />

Professor e Pesquisador da UFV<br />

“O PESB, por meio de seu grupo de trabalho (gerência,<br />

guarda parques e colaboradores), com forte inserção nas comunidades<br />

do entorno, tem influenciado fortemente na conscientização,<br />

em prol da conservação das plantas e animais.<br />

Nos últimos anos, o PESB tem sido parceiro vital nas ações<br />

de coleta seletiva de resíduos sólidos em comunidades rurais<br />

de Araponga.”<br />

Rolf Puschmann<br />

Professor do Departamento de Biologia Vegetal da UFV<br />

“O PESB, Parque relativamente novo, vem contribuindo<br />

com sua harmonia, organização e beleza para fomentar o<br />

turismo local. Abriga maravilhas naturais, uma incrível diversidade<br />

biológica e complexos ecossistemas. A preservação<br />

é fator que melhorará a qualidade de vida do seu entorno,<br />

dando maior qualidade ao ar que respiramos, a água<br />

que bebemos e a tudo que podemos ver, tal como a fauna e<br />

flora altamente aprazível à nossa sensibilidade humana. O<br />

PESB vem aumentando o gosto por morar em um lugar que<br />

se preocupa cada dia mais com a qualidade da vida humana,<br />

sentimento que vem sendo banalizado a cada dia por nossa<br />

sociedade capitalista. O município de Araponga só tem de<br />

se alegrar por pertencer a este complexo tao maravilhoso.”<br />

Simone Dias Sampaio Silva<br />

Moradora e Empresária do Setor de Turismo da região da<br />

Serra do Brigadeiro<br />

“O PESB é importante pela suas belezas naturais, referência<br />

do turismo em Araponga; pela preservação de espécies<br />

da fauna e flora, e dos mananciais hídricos que contribuem<br />

na formação do Rio Casca e Rio Doce. O PESB também é<br />

importante espaço para as pesquisas cientificas que trazem<br />

resultados positivos para uma melhor qualidade de vida para<br />

nossa população.”<br />

Chico da Mata<br />

Ex-guarda parque e morador do entorno do PESB<br />

Reprodução<br />

Reprodução<br />

Programa de Desenvolvimento Sustentável de Territórios<br />

Rurais busca criar parcerias entre municípios com identidades<br />

social e cultural<br />

Segundo o Conselho<br />

Nacional de Desenvolvimento<br />

Rural Sustentável<br />

(Condraf), ligado ao Ministério<br />

do Desenvolvimento<br />

Agrário (MDA), o<br />

meio rural não pode ser<br />

definido apenas como<br />

um universo que compreende<br />

um conjunto de<br />

atividades agrícolas e<br />

agropecuárias, além é<br />

claro, da população local.<br />

O meio rural deve<br />

ser entendido como um<br />

conjunto de regiões<br />

adjacentes que contribuem<br />

para a dinâmica<br />

econômica e social juntamente<br />

com as atividades<br />

desenvolvidas neste meio.<br />

Portanto, deve-se levar<br />

em consideração outros<br />

aspectos para descrever<br />

este ambiente, como<br />

a diversidade cultural,<br />

o conhecimento local, a<br />

relação com os recursos<br />

naturais e o ecossistema.<br />

Assim, a noção de território<br />

rural, como modelo de<br />

gestão pública pode ser<br />

descrita além da definição<br />

pelo senso comum.<br />

Pensando neste modelo<br />

mais amplo de território<br />

rural, o MDA, criou, em<br />

2004, o Programa Nacional<br />

de Desenvolvimento<br />

Sustentável dos Territórios<br />

Rurais (PRONAT), que se<br />

baseia na aplicação de<br />

práticas de desenvolvimento<br />

rural e de fortalecimento<br />

da agricultura<br />

familiar dentro de um território.<br />

Atualmente, já foram<br />

identificados no Brasil<br />

164 territórios rurais<br />

envolvendo 2,5 mil municípios,<br />

sendo o Território<br />

Rural da Serra do Brigadeiro<br />

um deles.<br />

Território da Serra do Brigadeiro como identidade e<br />

unidade de integração entre as comunidades<br />

Para a caracterização<br />

do Território da Serra<br />

do Brigadeiro, criado em<br />

2003, foram utilizados<br />

métodos de pesquisa documental<br />

e entrevista semiestruturada<br />

junto a uma<br />

amostra de agricultores<br />

familiares e<br />

autoridades<br />

da região.<br />

Os resultados<br />

mostraram a<br />

importância<br />

das ações de<br />

diversos atores<br />

sociais que<br />

contribuíram<br />

para que hoje<br />

o Território estivesse<br />

incluído<br />

no PRONAT<br />

e em outros<br />

projetos de<br />

desenvolvimento<br />

rural e<br />

ambiental.<br />

De acordo com o Plano<br />

Territorial de Desenvolvimento<br />

Rural Sustentável –<br />

PTDRS, após uma oficina<br />

sobre identidade territorial<br />

realizada em Viçosa<br />

(2003), verificou-se que<br />

as características mais<br />

marcantes do Território<br />

da Serra do Brigadeiro<br />

que constituíam sua identidade<br />

como um todo, giravam<br />

em torno da figura<br />

do PESB; suas atividades<br />

agrícolas (como o cultivo<br />

do café de montanha<br />

e a predominância da<br />

agricultura familiar); sua<br />

cultura (festas e crenças);<br />

a grande interação entre<br />

as comunidades do entorno<br />

do Parque; a falta de<br />

infraestrutura adequada<br />

e a necessidade de ações<br />

voltadas para o seu desenvolvimento.<br />

Tendo em sua constituição<br />

os municípios de<br />

Araponga, Divino, Ervália,<br />

Fervedouro, Miradouro,<br />

Muriaé, Pedra Bonita,<br />

Rosário de Limeira<br />

e Sericita, este território<br />

não deve ser entendido<br />

como apenas um espaço<br />

delimitado geográfica e<br />

politicamente. Segundo<br />

o PTDRS a concepção de<br />

território atinge níveis sociais,<br />

uma vez que as comunidades<br />

no entorno do<br />

Parque se encontram extremamente<br />

integradas e<br />

possuem inúmeras características<br />

em comum, que<br />

as tornam parte de um<br />

contexto único. A identidade<br />

do Território da Serra<br />

do Brigadeiro, então, foi<br />

determinada não apenas<br />

como um grupo de comunidades<br />

que pertence ao<br />

mesmo local, mas como<br />

um grupo que, unido ao<br />

longo do tempo, construiu<br />

uma imagem baseada<br />

na sua história, relações<br />

sociais e no contexto da<br />

preservação e recuperação<br />

ambiental.<br />

Valdeir Moreira e Luciana Fernandes

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