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18<br />

Propõ<strong>em</strong> também o resgate de uma espiritualidade<br />

baseada na cont<strong>em</strong>plação do corpo humano<br />

e de toda a natureza, longe da exploração e da<br />

ganância. Propõ<strong>em</strong> a religião do amor que se<br />

faz carne no cotidiano da existência, <strong>em</strong> íntima<br />

relação entre os seres humanos e com tudo o que<br />

existe. Propõ<strong>em</strong>, enfim, o ideal da fraternidade:<br />

“Ah, se fosses o meu irmão!” (8,1).<br />

6. A natureza e a proposta de Jesus<br />

Jesus, como missionário itinerante, movimentou-se<br />

por inúmeros lugares e diversificadas<br />

paisagens. Seus ensinamentos possu<strong>em</strong> forte vinculação<br />

com a natureza: ela é uma das principais<br />

fontes de inspiração <strong>para</strong> sua proposta. Jesus<br />

d<strong>em</strong>onstra possuir profundo senso de observação<br />

do seu ambiente vital. Dessa realidade extrai<br />

a maioria de suas parábolas, meio privilegiado<br />

<strong>para</strong> despertar uma nova consciência <strong>em</strong> seus<br />

interlocutores. “A fonte de sua sabedoria pode<br />

ter sido vista como uma profunda consideração<br />

do mundo natural e seus processos, conduzida<br />

à luz das escrituras hebraicas e do Deus criador<br />

de que elas falam” (Freine, 2008, p. 46).<br />

Jesus herdou de sua tradição religiosa a<br />

concepção de Deus como Criador e capta a sua<br />

presença nos mínimos aspectos da natureza e nos<br />

gestos aparent<strong>em</strong>ente insignificantes das pessoas<br />

s<strong>em</strong> projeção social. É revelador da sua fé e da<br />

sua atitude de profunda cont<strong>em</strong>plação aquele<br />

momento <strong>em</strong> que se dirige ao Pai <strong>em</strong> ação de<br />

graças: “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da<br />

terra...” (Mt 11,25). O Pai é cuidador da vida de<br />

seus filhos e proporciona todos os recursos necessários<br />

<strong>para</strong> a vida de cada um deles, também<br />

dos pássaros do céu e dos animais do campo.<br />

A providência divina, tão evidente <strong>em</strong> toda a<br />

natureza, está vinculada ao cuidado que o ser<br />

humano deve ter com todas as coisas.<br />

Jesus convida a sua audiência a considerar os<br />

lírios do campo, cuja vida é tão breve, e os<br />

pássaros no ar, que, aos olhos dos homens,<br />

têm pouco valor por conta do seu grande<br />

número. Não obstante, <strong>em</strong> ambos os casos,<br />

Deus provê as necessidades deles. No interior<br />

dessa “cadeia do ser”, os seres humanos pod<strong>em</strong><br />

ter um lugar especial, mas isso não deve<br />

levá-los a ignorar o cuidado que Deus t<strong>em</strong><br />

pelos el<strong>em</strong>entos <strong>em</strong> aparência mais insignificantes<br />

do seu mundo criado, do qual também<br />

são parte (Freine, 2008, p. 45).<br />

<strong>Vida</strong> <strong>Pastoral</strong> – março-abril 2011 – ano 52 – n. 277<br />

A providência divina está, portanto, intimamente<br />

ligada à ética social. Herdeiro da legítima<br />

tradição profética de Israel, Jesus condena ve<strong>em</strong>ent<strong>em</strong>ente<br />

a exploração econômica, a concentração<br />

dos bens e toda forma de dominação. Em<br />

sua missão <strong>em</strong> favor das pessoas marginalizadas,<br />

deixa claro não ser possível “servir a Deus e ao<br />

dinheiro” (Mt 6,24). Relaciona-se com todas as<br />

criaturas, respeitando a dignidade de cada ser. É<br />

só abrir o Evangelho e observar, <strong>em</strong> cada texto,<br />

como Jesus vive e apresenta a sua proposta de<br />

vida digna s<strong>em</strong> exclusão. Por meio dos cinco<br />

sentidos próprios de todo ser humano, ele expressou<br />

seu amor cotidianamente, construindo<br />

relações de fraternidade e de justiça. Seus olhos,<br />

ouvidos, tato, olfato e paladar revelam sua<br />

maneira característica de ser portador da graça<br />

divina <strong>em</strong> todo lugar e <strong>em</strong> toda circunstância.<br />

Sua prática transformou-se <strong>em</strong> caminho <strong>para</strong><br />

uma vida verdadeiramente humana, que ele<br />

chamou de “reino de Deus”.<br />

7. Sob o impulso do Espírito<br />

O intuito principal deste artigo é colaborar<br />

<strong>para</strong> uma espiritualidade que <strong>em</strong>erge da compreensão<br />

do caráter sagrado da natureza, palco dos<br />

acontecimentos reveladores da bondade salvífica<br />

de Deus. Na tradição judaico-cristã, a vida do<br />

ser humano está intimamente ligada com a vida<br />

da natureza. As dimensões política, econômica<br />

e religiosa estão relacionadas com a dimensão<br />

ecológica. Uma depende da outra. Todas depend<strong>em</strong><br />

do modo de administrar adotado pela<br />

criatura inteligente.<br />

Estamos hoje num momento histórico crítico.<br />

A espiritualidade ecológica exige nova<br />

postura. Não foge da crise, pois sabe que as<br />

situações de crise se mostram favoráveis às<br />

mudanças necessárias, tanto <strong>em</strong> nível pessoal<br />

como social.<br />

A crise é uma situação de alerta, de tensão e<br />

de exigência. Alerta anunciando que o estado<br />

presente, somatório de etapas passadas,<br />

chegara ao seu ponto de maturação, exigindo<br />

mudança. Tensão entre o estado alcançado<br />

e o modelo que a natureza aspira, exigindo<br />

ação de escolha e discernimento. Exigência<br />

de providenciar as mutações reivindicadas<br />

pela tensão presente no novo que se anuncia.<br />

Pede capacidade de julgamento e decisão<br />

(Gorgulho, 1994, p. 55).

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