MULHERES POBRES E CHEFES DE FAMÍLIA ANA LUCIA ... - UFRJ
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Vale lembrar que, apesar das mulheres das diferentes camadas sociais,<br />
nestas últimas décadas, terem aumentado consideravelmente a sua participação no<br />
mercado de trabalho, seus papéis de mãe e esposa em pouco foram alterados.<br />
Como ressalva Ardaillon (1989),<br />
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Consideradas "indivíduos" no âmbito público, com direitos e deveres<br />
iguais àqueles de qualquer outro indivíduo, elas se reencontram, no<br />
domínio privado, como "indivíduos femininos" cujos direitos e deveres<br />
são tudo menos iguais àqueles dos indivíduos masculinos com os<br />
quais elas dividem suas vidas afetivas e sexuais (p. 191).<br />
Por outro lado, segundo Strey (1997),<br />
Ainda hoje, mesmo as idéias mais progressistas e igualitárias em<br />
relação ao trabalho feminino reivindicam-no como um direito que é<br />
necessário conquistar e não como uma obrigação irremediável. Essa<br />
percepção da não obrigatoriedade do trabalho feminino, assim como<br />
o dever social que têm as mulheres de dedicar-se de forma primordial<br />
a família marcam importantes diferenças na percepção do mundo do<br />
trabalho feminino em relação aos dos homens (p.60).<br />
A maior participação feminina – em termos de permanência e tempo de<br />
dedicação - no mercado de trabalho na sociedade atual – veloz, tecnológica,<br />
individualista – levou as mulheres contemporâneas a acelerar seus ritmos e a<br />
tentar comprimir família e trabalho dentro de um tempo que teima e resiste em se<br />
esticar, não passando das vinte e quatro horas do dia. Isto porque, as mulheres<br />
entraram no mundo do trabalho sem que se levasse em conta às horas que<br />
dedicam à vida privada. Esse tempo que ninguém computa, que as contas públicas<br />
desconhecem, contudo, é que garante a preservação da vida. Como assinala Alves<br />
(1981), as mulheres enfrentam a concorrência no espaço público trazendo consigo<br />
as raízes e responsabilidades do espaço privado:<br />
A mulher que trabalha fora vive uma espécie de esquizofrenia, uma<br />
divisão constante, na medida em que a nossa sociedade não leva em<br />
conta as atividades desenvolvidas na esfera privada, cujo<br />
desempenho cabe sempre à mulher [...]. Há um tal ocultamento do<br />
trabalho doméstico, que é como se o seu produto fosse o resultado