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Revista Eletrônica de Julho - Centrodoscapitaes.org.br

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Era esta fauna que o Comandante Álvaro domava e <strong>de</strong> quem lograva tirar o melhor <strong>de</strong>sempenho<<strong>br</strong> />

profissional, alcançando níveis técnicos e operacionais comparáveis aos das melhores frotas do mundo. Mais<<strong>br</strong> />

do que isto, nas estadias nos portos, o Comandante Álvaro, convocando todos os oficiais, recepcionava<<strong>br</strong> />

autorida<strong>de</strong>s consulares, ministros <strong>de</strong> estado, executivos, com almoços e jantares on<strong>de</strong> bom gosto, farta e<<strong>br</strong> />

excelente comida e bebida não faltavam.<<strong>br</strong> />

A guarnição se apresentava bem vestida e cortês. Numa saída às ruas <strong>de</strong> Hamburgo, regressei com<<strong>br</strong> />

duas meninas suecas que ao verem o padrão do navio perguntaram se a ban<strong>de</strong>ira era mesmo do Brasil porque<<strong>br</strong> />

tínhamos atitu<strong>de</strong>s e aparências <strong>de</strong> gente do primeiro mundo.<<strong>br</strong> />

Álvaro Almeida Júnior, hoje Presi<strong>de</strong>nte do Centro dos Capitães, continua, apesar da sua longa<<strong>br</strong> />

singradura, a prestar gran<strong>de</strong>s serviços à Comunida<strong>de</strong> Marítima. O Maringá não era exceção <strong>de</strong>ntre os navios<<strong>br</strong> />

que, com correção e entusiasmo, sempre comandou.<<strong>br</strong> />

Calmo e polido, com a energia e disciplina que, muito cedo, começou a <strong>de</strong>senvolver <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância<<strong>br</strong> />

nos Grupos <strong>de</strong> Escotismo, era capaz <strong>de</strong> imprimir um padrão <strong>de</strong> excelência a todo o grupo, por mais<<strong>br</strong> />

heterogêneo que fossem seus padrões e origens sócio-econômicas, técnicas ou culturais.<<strong>br</strong> />

Nosso Comandante Álvaro sabia imprimir a bordo um ambiente que fazia esquecer o isolamento da<<strong>br</strong> />

vida do mar, a nostalgia forte que batia nas datas especiais como Ano Novo, Páscoa, Natal, longe <strong>de</strong> casa,<<strong>br</strong> />

fazendo <strong>de</strong>spertar ou reacen<strong>de</strong>r o entusiasmo pela carreira.<<strong>br</strong> />

Por tudo isto, falar em Maringá é falar em seu primeiro Capitão, Álvaro José <strong>de</strong> Almeida Júnior, um<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>asileiro <strong>de</strong> escol. O Maringá, <strong>de</strong>ntre todos os navios em que naveguei, foi o que melhor cumpriu sua missão<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> Embaixada do Brasil no mar.<<strong>br</strong> />

Tragédia por um triz<<strong>br</strong> />

Comte. Luiz Augusto C. Ventura – CLC<<strong>br</strong> />

luizaugustocardosoventura@yahoo.com.<strong>br</strong><<strong>br</strong> />

“O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensida<strong>de</strong> com que acontecem. Por<<strong>br</strong> />

isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis"<<strong>br</strong> />

Esta frase <strong>de</strong> Fernando Pessoa me lem<strong>br</strong>a uma “quase tragédia” vivida a bordo do... (meus poucos<<strong>br</strong> />

leitores já imaginam) famigerado N/T “Bragança” (tóc...tóc...tóc...).<<strong>br</strong> />

Como tenho relatado na <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> alguns episódios, vivenciei no comando <strong>de</strong>sse navio situações<<strong>br</strong> />

extremamente perigosas todas felizmente contornadas graças a um po<strong>de</strong>roso Anjo da Guarda.<<strong>br</strong> />

È estranho como algumas coisas que nem chegam a acontecer, como um famoso “quase gol” do Pelé,<<strong>br</strong> />

por exemplo, acabam marcando a nossa vida para sempre. O episódio que vou narrar po<strong>de</strong> assim ser<<strong>br</strong> />

consi<strong>de</strong>rado: uma inesquecível “quase tragédia”. De duração efêmera, mas <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> muito forte, <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

momentos inesquecíveis e <strong>de</strong> coisas e fatos inexplicáveis (ou explicáveis).<<strong>br</strong> />

O “Bragança” (década <strong>de</strong> 80), com um carregamento <strong>de</strong> quase 800.000 barris <strong>de</strong> óleo cru, havia<<strong>br</strong> />

contornado a linda Ilha <strong>de</strong> São Sebastião, litoral norte <strong>de</strong> São Paulo, e fazia a aproximação da barra sul do<<strong>br</strong> />

canal, entre ela e o continente, para atracar no píer norte do Terminal da Petro<strong>br</strong>as (Tebar). A navegação era<<strong>br</strong> />

para oeste <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o través da Ponta do Boi, mudando para o norte ao ser divisado o farol da Ponta da Sela. A<<strong>br</strong> />

essa altura a máquina já estava pronta para mano<strong>br</strong>a e a guarnição a postos. A praticagem já havia sido<<strong>br</strong> />

contatada e o Prático confirmado para embarcar no ponto regulamentar fora <strong>de</strong> barra. O tempo naquela tar<strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

inverno não era bom. Vento <strong>de</strong> sudoeste mo<strong>de</strong>rado e mar agitado empurravam o navio em direção ao canal. A<<strong>br</strong> />

visibilida<strong>de</strong>, no entanto, era boa. Poucos minutos nos separavam do ponto <strong>de</strong> espera do prático. Mas, on<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

estava a lancha do prático? Ninguém a divisava. A praticagem é imediatamente chamada pelo VHF e o próprio<<strong>br</strong> />

prático aten<strong>de</strong> à chamada:<<strong>br</strong> />

- Comandante, por favor, po<strong>de</strong> vir entrando que eu já estou na lancha em direção ao navio.<<strong>br</strong> />

Era o prenúncio <strong>de</strong> uma sequência <strong>de</strong> erros. O prático <strong>de</strong>veria estar aguardando o navio nas<<strong>br</strong> />

coor<strong>de</strong>nadas <strong>de</strong>terminadas <strong>de</strong> espera, mas não estava. Por minha vez, ao invés <strong>de</strong> parar a máquina e ficar<<strong>br</strong> />

aguardando o prático naquele ponto não o fiz, talvez pelo fato do tempo estar <strong>de</strong>sfavorável. Preferi acreditar que<<strong>br</strong> />

ele já vinha realmente a caminho e continuei para <strong>de</strong>mandar o canal por minha conta e risco e embarcá-lo no<<strong>br</strong> />

canal. Talvez ele estivesse tentando evitar a ressaca fora <strong>de</strong> barra. Essa prática e esse tipo <strong>de</strong> solicitação são,<<strong>br</strong> />

na verda<strong>de</strong>, muito comuns.<<strong>br</strong> />

Eu já conhecia sobejamente o canal e não teria problema nenhum em <strong>de</strong>mandá-lo sozinho, mas isto<<strong>br</strong> />

não <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> ser uma transgressão ao regulamento da Capitania dos Portos.<<strong>br</strong> />

Reduzi a máquina <strong>de</strong> meia-força-adiante para <strong>de</strong>vagar-adiante e direcionei o navio para o farol da<<strong>br</strong> />

Ponta da Sela. O marinheiro do leme era bom <strong>de</strong> governo e o Piloto Hedilberto guarnecia o telégrafo e tentava<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> binóculo, juntamente com o Imediato Rubens Otávio, localizar a lancha do prático. Cruzei o primeiro par <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

bóias e nada <strong>de</strong> lancha. A partir dali a <strong>de</strong>manda do canal não permitia nenhuma falha. De largura e<<strong>br</strong> />

profundida<strong>de</strong> limitada, nossos <strong>de</strong>zesseis metros <strong>de</strong> calado não permitiam <strong>de</strong>svios no governo. O vento sudoeste<<strong>br</strong> />

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