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Revista Eletrônica de Julho - Centrodoscapitaes.org.br

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Uma Embaixada do Brasil no mar<<strong>br</strong> />

CFM Edson Martins Areias – OSM (Adv.)<<strong>br</strong> />

areias.edson@gmail.com<<strong>br</strong> />

Em 1971, época do milagre <strong>br</strong>asileiro, enquanto o mundo começava a olhar o Brasil efetivamente<<strong>br</strong> />

como o País do Futuro Próximo, seguia o lançamento da série <strong>de</strong> navios mercantes do II Programa <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Construção Naval.<<strong>br</strong> />

Jamais a indústria naval <strong>br</strong>asileira entregara ao tráfego marítimo tantas unida<strong>de</strong>s em tão pouco tempo.<<strong>br</strong> />

A Empresa <strong>de</strong> Navegação Aliança, então capitaneada pelo dinâmico Carl Fischer, um empresário<<strong>br</strong> />

verda<strong>de</strong>iramente <strong>br</strong>asileiro por opção, eis que nascido na Alemanha, recebeu quatro liners <strong>de</strong> doze mil<<strong>br</strong> />

toneladas, construídos no Estaleiro Mauá, aos quais batizou Copacabana, Maringá, Olinda e Flamengo.<<strong>br</strong> />

Eram navios muito imponentes, velozes e confortáveis, <strong>de</strong> casco azul e o<strong>br</strong>as vivas vermelhas, com a<<strong>br</strong> />

chaminé a ostentar as tradicionais cores da Aliança, a mais <strong>org</strong>anizada e eficiente <strong>de</strong> todas as empresas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

navegação do Brasil.<<strong>br</strong> />

Para comandar o Maringá, foi <strong>de</strong>signado o Capitão <strong>de</strong> Longo Curso Álvaro Almeida Júnior, hoje<<strong>br</strong> />

presi<strong>de</strong>nte do Centro dos Capitães, homem probo, exemplo <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança e <strong>de</strong> lealda<strong>de</strong>; para a Chefia <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Máquinas, o saudoso Oficial Superior <strong>de</strong> Máquinas Antônio Carlos Muniz, o Carlinhos Hipopótamo, inteligente,<<strong>br</strong> />

elegante e articulado.<<strong>br</strong> />

O imenso potencial e o temperamento irrequieto <strong>de</strong> Antônio Carlos Muniz – que fora meu Subchefe <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Máquinas e incentivador nos tempos <strong>de</strong> Praticante-Aluno a bordo do Lloyd Guatemala, a<strong>br</strong>eviaram sua carreira<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> pouco mais <strong>de</strong> vinte anos na Marinha Mercante: <strong>de</strong>corrido algum tempo após a viagem inaugural do<<strong>br</strong> />

Maringá, Antônio Carlos foi contratado por uma multinacional norte-americana e, a seguir, veio a montar sua<<strong>br</strong> />

própria empresa em parceria com outra sediada na Alemanha.<<strong>br</strong> />

Embarcar num liner da Aliança era quase um sonho para muitos oficiais mercantes; não só pela linha<<strong>br</strong> />

do Norte da Europa, tocando em portos da França, Bélgica, Holanda, Alemanha, Reino Unido, Dinamarca e, por<<strong>br</strong> />

vezes, Espanha e Portugal, geralmente escalando nas paradisíacas Ilhas Canárias. Contava também, o fato <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

ser navio mo<strong>de</strong>rno, que incorporava as mais avançadas tecnologias; mais a velocida<strong>de</strong>, a <strong>br</strong>evida<strong>de</strong> com que se<<strong>br</strong> />

retornava ao Brasil e, <strong>de</strong> que<strong>br</strong>a, tocar sempre em Santos, eventualmente em Paranaguá, Santa Catarina, Rio<<strong>br</strong> />

Gran<strong>de</strong> e, por fim, na sempre querida Buenos Aires.<<strong>br</strong> />

Pois bem, logo após a conclusão <strong>de</strong> meu primeiro Curso <strong>de</strong> Aperfeiçoamento para Oficiais <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Máquinas (à época, para tirar a carta <strong>de</strong> 2 MA-MO – hoje, diz-se primeiro oficial <strong>de</strong> máquinas), fui sondado para<<strong>br</strong> />

chefiar um friguinho - navio frigorífico, com pinta <strong>de</strong> iate.<<strong>br</strong> />

Classista assumido que sempre fui, neguei-me a aceitar a Chefia, a menos que a Aliança concordasse<<strong>br</strong> />

em me acomodar no luxuoso camarote do Armador, porquanto aqueles navios, a meu sentir, não possuíam<<strong>br</strong> />

camarotes compatíveis à relevância do cargo <strong>de</strong> Chefe <strong>de</strong> Máquinas.<<strong>br</strong> />

Desatendido em meu pleito, preferi <strong>de</strong>clinar da promoção, até, pouco tempo <strong>de</strong>pois, vir a ganhar a<<strong>br</strong> />

queda <strong>de</strong> <strong>br</strong>aço, para toda minha categoria: condicionei meu embarque nos frigos a po<strong>de</strong>r viajar no camarote do<<strong>br</strong> />

Armador enquanto não restassem concluídas e entregues as o<strong>br</strong>as <strong>de</strong> reforma do camarote do Chefe <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Máquinas; isto, porém, são outros quinhentos que contarei, se me <strong>de</strong>ixarem, <strong>de</strong> outra feita.<<strong>br</strong> />

Assim foi que, após a negativa <strong>de</strong> assumir a Chefia <strong>de</strong> Máquinas <strong>de</strong> um frigo, nomearam-me para<<strong>br</strong> />

assumir o Maringá, como Subchefe, e ren<strong>de</strong>r o saudoso Osvaldo Santana, o Índio, em Paranaguá. Nós, das<<strong>br</strong> />

turmas do Aperfeiçoamento, havíamos estudado <strong>de</strong>talhadamente os mecanismos e a automação daquela série<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> navios sob a batuta do maravilhoso Mestre Ettore Amêndola.<<strong>br</strong> />

Os Cursos <strong>de</strong> Aperfeiçoamento eram <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> eficiência para os oficiais mercantes. Isto porque<<strong>br</strong> />

chegávamos à Escola com uma base prática conquistada em anos <strong>de</strong> labuta a bordo. Para o Curso <strong>de</strong> 2º MA-<<strong>br</strong> />

MO, exigiam-se quatro anos <strong>de</strong> efetivo embarque, contados dia a dia, na Ca<strong>de</strong>rneta <strong>de</strong> Inscrição e Registro <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

cada candidato.<<strong>br</strong> />

A<strong>de</strong>mais, no ano anterior ao curso, os candidatos recebiam apostilas e livros para estudar a bordo e<<strong>br</strong> />

prestar os exames escritos na Escola; após a aprovação nos exames escritos, as vagas eram preenchidas<<strong>br</strong> />

segundo o resultado dos exames e o tempo <strong>de</strong> embarque.<<strong>br</strong> />

Em paralelo ao Curso <strong>de</strong> Aperfeiçoamento, matriculei-me em dois outros, particulares, mantidos por<<strong>br</strong> />

um i<strong>de</strong>alista, o Capitão <strong>de</strong> Mar e Guerra Nelson Dunham, um dos primeiros, senão o primeiro oficial da Marinha<<strong>br</strong> />

do Brasil a cursar radares nos Estados Unidos, ainda nos anos quarentas.<<strong>br</strong> />

Cursei Radiotécnica, com muita gente humil<strong>de</strong>, para apren<strong>de</strong>r artifícios práticos, e <strong>Eletrônica</strong> teórica e<<strong>br</strong> />

prática. A<strong>de</strong>mais, nos fins <strong>de</strong> semana contava com a colaboração do saudoso Bóris Valeiko, uma fera <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

eletrônica e oficial do Exército, casado com uma prima da mãe, <strong>de</strong>pois transferido para o 7º. BEC- Batalhão <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Engenharia e Construção, em Cruzeiro do Sul, Acre, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> jamais regressou.<<strong>br</strong> />

Enquanto adido na Aliança, <strong>de</strong>i muito trabalho ao diligente veterano Gílson Viegas, oficial <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

máquinas-engenheiro, <strong>de</strong> quem me dispus a “carregar a valise” nos atendimentos técnicos aos navios surtos no<<strong>br</strong> />

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