DEUS - Charles Guimarães Filho
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FORTUNA: Por falar em graçinha, qual é a sua graça mesmo?<br />
SEVERÃO: Severino Severão, com muita honra. Acabei de falar<br />
o necessário? (desviando o olhar, sorrindo, pega as vassouras):<br />
Então, passar bem, até logo porque ...<br />
ZECA (pensando): Severino Severão! Como esse é meu pai ...<br />
com vassouras, corra ...<br />
Severão sai dando vassourada a torto e a direito sem atingir os<br />
dois que correm muito.<br />
FORTUNA (esbaforido): Calma, está havendo equivoco, alguma<br />
falta de comunicação.<br />
SEVERÃO: Nessa rádio o que não falta é comunicação. Saiam<br />
logo, vou receber um ilustre convidado da minha bisnetinha<br />
Josinha, tal de Fortuna. Diz ela que ele é um sem teto, sem<br />
família, sem fé, sem trabalho, enfim deve ser um tremendo sem<br />
vergonha.<br />
FORTUNA: Sem vergonha? Fortuna? Fortuna sou eu, eu que<br />
vim palestrar neste meio moderno de comunicação sobre o tema<br />
“Ideologia”. Quer que eu ligue para bisnetinha?<br />
SEVERÃO: Como! Mendigo? Ainda bem que isso aqui não é<br />
emissora de televisão.<br />
FORTUNA: Karl Marx desenvolveu uma teoria a respeito da<br />
ideologia, na qual ...<br />
SEVERÃO (interrompendo): Já para o microfone que eu vou lhe<br />
entrevistar.<br />
O ancião com um dos microfones, o mendigo com o outro,<br />
vassouras no chão.<br />
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