DEUS - Charles Guimarães Filho

olhando para os importunantes. O silêncio sepulcral se faz
presente por alguns minutos até que a senhora de 49 anos que
dirigia as atividades, conhecida por SALVADORA.
SALVADORA: O que querem há essa hora? Comida? Esmola?
Ora, vão trabalhar.
FORTUNA (todo orgulhoso): Querida Dolores não está
reconhecendo? Esse é o Zeca! Aquele que lhe deixou um bom
dinheiro, e que só assim a bela senhora pôde abandonar a casa de
tolerância que tanto constrangimento lhe trouxe. É ele minha
Dodô.
ZECA (pensando): Não é possível! Dolores, filha do meu
amigão, congregado mariano.
SALVADORA (possessa de raiva): Que petulância é essa seus
fétidos de virem neste ambiente sagrado e falarem falsidades a
meu respeito. Fiquem sabendo que em termos de casa, só estive
na minha própria e na Casa do Senhor. Bem como, nunca recebi
dinheiro de ninguém, esse tal de Zeca que o consideram santo,
nunca o vi, só sei que ele foi embora da cidade quando eu tinha
13 anos. E além do mais abandonei o meu nome civil de Dolores,
hoje sou chamada apenas pelo meu nome religioso de Salvadora.
FORTUNA: Dodô eu sou o seu Fofô, aquele que tinha 18
aninhos e já era completamente apaixonado por você. Aquele que
desgostoso e desiludido por ser rejeitado por ti minha santa, a
salvadora. (pausa): Salvadora! Salvadora de que mesmo?
SALVADORA (irada): Que intimidade é essa de Dodô? Saibam
mixurucas importunos que eu sou Salvadora porque salvo vidas.
Guardem bem isso seus xexelentos.
FORTUNA (inconformado): Eu mixuruca e xexelento pode ser,
mas o são Zeca! Aquele que lhe tirou do prostíbulo! Isso é muita
ingratidão.
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