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A CORRESPONDêNCIA DE FRADIQUE MENDES - Figaro

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de soberano ensino. Se as Origens do Cristianismo o Fausto, as telas de Bomat, os mármores<br />

de Falguière, nos viessem de além dos mares, da nova e monumental Chicago — para<br />

Chicago, e não para Paris, se voltariam, como as plantas para o Sol, os espíritos e os<br />

corações da Terra.<br />

Se uma nação, portanto, só tem superioridade porque tem pensamento, todo aquele<br />

que venha revelar, na nossa pátria, um novo homem de original pensar, concorre<br />

patrioticamente para lhe aumentar a grandeza que a tornará respeitada, a única beleza<br />

que a tornará amada; — e é como quem aos seus templos juntasse mais um sacrário, ou<br />

sobre as suas muralhas erguesse mais um castelo.<br />

Michelet escrevia um dia, numa carta, aludindo a Antero de Quental: — «Se em Portugal<br />

restam quatro ou cinco homens como o autor das Odes Modernas, Portugal continua a<br />

ser um grande país vivo...» O mestre da História de França, com isto, significava — que<br />

enquanto viver pelo lado da Inteligência, mesmo que jaza morta pelo lado da Acção, a<br />

nossa pátria não é inteiramente um cadáver que sem escrúpulo se pise e se retalhe. Ora<br />

no Pensamento há manifestações diversas; e se nem todas irradiam o mesmo esplendor,<br />

todas provam a mesma vitalidade. Um livro de versos pode sublimemente mostrar que<br />

a alma de uma nação vive ainda pelo Génio Poético: um conjunto de leis salvadoras,<br />

emanando de um espírito positivo, pode solidamente comprovar que um povo vive ainda<br />

pelo Génio Político: — mas a revelação de um espírito, como o de Fradique, assegura que<br />

um país vive também pelos lados gíenos grandiosos, mas valiosos ainda, da graça, da<br />

vivaz invenção, da transcendente ironia , da fantasia, do humorismo e do gosto...<br />

Nos tempos incertos e amargos que vão, Portugueses destes não podem ficar para<br />

sempre esquecidos, longe, sob a mudez de um mármore. Por isso eu o revelo aos meus<br />

concidadãos — como uma consolação e uma esperança.

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