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Reflexões sobre uni<strong>da</strong>de <strong>em</strong> música . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .<br />

seu apogeu. 5 Até mesmo os contrastes, com seu papel de gerar tensão e conflito, eram<br />

tidos como uma ‘<strong>em</strong>anação’ <strong>da</strong> essência. Assim, s<strong>em</strong>elhante ao seres no mundo natural,<br />

tudo na obra fluía <strong>da</strong> ‘s<strong>em</strong>ente’, formando uma totali<strong>da</strong>de origina<strong>da</strong> <strong>em</strong> uma causa única.<br />

To<strong>da</strong>via, este pensamento, preponderante por muito t<strong>em</strong>po, com o desenvolvimento no<br />

século vinte <strong>da</strong>s teorias pós-estruturalistas de Jacques Derri<strong>da</strong>, Michel Foucault, e Julia<br />

Kristeva, dentre outros, começa a perder força.<br />

Com o surgimento do desconstrucionismo e a utilização de suas teorias como<br />

parâmetro para o entendimento do que v<strong>em</strong> a ser a obra de arte, uma mu<strong>da</strong>nça profun<strong>da</strong><br />

quanto à concepção de uni<strong>da</strong>de na composição musical toma forma. Conceitos tradicionais<br />

relacionados ao autor e à obra são agora questionados, e com isto a própria noção de<br />

uni<strong>da</strong>de também é fragmentado. Em seu artigo, Execução/Interpretação musical: uma<br />

abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> filosófica, Sandra Neves Abdo (2000, p. 18), apresenta o esfacelamento destas<br />

concepções tradicionais de forma bastante clara.<br />

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Dois conceitos o de “autor” e o de “obra” são especialmente questionados, particularmente<br />

por Roland Barthes e Jacques Derri<strong>da</strong>. O que tradicionalmente se chama de autor, de<br />

compositor, enfim, de sujeito do ato formativo, diz<strong>em</strong> os dois conhecidos<br />

“desconstrucionistas”, não passa de um mero intermediário de pontos de vista alheios.<br />

Resumindo, o autor é uma ficção, que deve ser urgent<strong>em</strong>ente abandona<strong>da</strong>. Por razões<br />

s<strong>em</strong>elhantes, a noção tradicional de “obra” (entendi<strong>da</strong> como uma uni<strong>da</strong>de fecha<strong>da</strong>, <strong>da</strong> qual<br />

<strong>em</strong>ana um significado único) é substituí<strong>da</strong> pela noção de “texto”, mais adequa<strong>da</strong> para<br />

designar o que, com efeito, é um “espaço multidimensional”, “intertextual”, constituído pela<br />

absorção e transformação de vários outros textos. Todo “texto” é algo fragmentário,<br />

inacabado e incoerente, um fluxo contínuo de valores, s<strong>em</strong> sentido próprio, receptivo a<br />

qualquer intervenção, <strong>em</strong> suma, um “palimpsesto” (escrito sob o qual se pode s<strong>em</strong>pre<br />

descobrir escritos anteriores, nenhum deles original).<br />

O resultado do discernimento de que a obra é este ‘espaço multidimensional’,<br />

‘intertextual’ na reali<strong>da</strong>de trás consigo a noção de que uni<strong>da</strong>de na obra de arte e<br />

consequent<strong>em</strong>ente na composição musical é algo ilusório, que conceito de uni<strong>da</strong>de, como<br />

5 Um dos grandes herdeiros e propagadores desse pensamento foi o aluno de Arnold Schoenberg,<br />

Rudolph Reti. Em seu livro The th<strong>em</strong>atic process in music (1963), Reti afirma: “Uma vez que t<strong>em</strong>os êxito <strong>em</strong><br />

compreender a música <strong>em</strong> seu mecanismo t<strong>em</strong>ático interno, o conteúdo estrutural e estético-dramático<br />

<strong>da</strong> música se torna incomparavelmente mais transparente” (RETI, 1961: 3). Na seqüência do texto, quando<br />

Reti começa a especificar o que ele entende como ‘estrutura t<strong>em</strong>ática’ o leitor observa que ele a concebe<br />

como uma ‘substância musical idêntica’ ou ‘padrão idêntico’ que permeia to<strong>da</strong> a abra produzindo uma<br />

espécie de homogenei<strong>da</strong>de. É esta homogenei<strong>da</strong>de que gera a uni<strong>da</strong>de na obra, permeando inclusive as<br />

partes contrastantes.<br />

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