14.04.2013 Views

download da versão impressa completa em pdf - anppom

download da versão impressa completa em pdf - anppom

download da versão impressa completa em pdf - anppom

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Capital cultural versus dom inato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .<br />

No âmbito popular, cabe ain<strong>da</strong> notar o caso do cantor e compositor Milton<br />

Nascimento (n1942). O mesmo narrou que sue mãe era <strong>em</strong>prega<strong>da</strong> doméstica e trabalhava<br />

<strong>em</strong> uma casa na qual havia duas meninas que estu<strong>da</strong>vam piano. O músico recordou que,<br />

quando estas tocavam, ele d<strong>em</strong>onstrava grande interesse, acompanhando a música<br />

<strong>da</strong>nçando. Segundo seu depoimento, uma destas meninas, Lília, o chamava e colocava no<br />

colo para ouvi-la tocar, ain<strong>da</strong> quando bebê.<br />

94<br />

Ela, além do piano, foi a primeira voz de mulher que eu escutei na minha vi<strong>da</strong>, [...] e ela,<br />

apesar de não ser cantora profissional [...], ela cantou regi<strong>da</strong> por Villa-Lobos, ela cantava nas<br />

festas de rua, festas de igreja [...]. E eu ia com a sanfoninha [...], que é terrível, porque não<br />

t<strong>em</strong> nenhum sustenido, nenhum b<strong>em</strong>ol, e aí era uma coisa incrível, porque quando ela ia, eu<br />

sentia que ia vir uma nota que não tinha na sanfona, aí eu pegava, fazia com a voz, imitando a<br />

sanfona. (NASCIMENTO, 2007)<br />

A condição narra<strong>da</strong> pelo compositor denota a ampliação do círculo familiar que,<br />

permitindo-o conviver <strong>em</strong> um meio socio-econômico mais abastado, também<br />

proporcionou sua inclusão no universo artístico, possibilitando-lhe o acesso ao estado<br />

objetivado <strong>da</strong> cultura – representado, por ex<strong>em</strong>plo, pelo piano e pela sanfona ou acordeão.<br />

Também colocando a prática pianística no cerne de sua iniciação à música, o<br />

compositor e intérprete João Bosco (n1946) revelou <strong>em</strong> seu depoimento ter crescido <strong>em</strong><br />

um ambiente familiar cercado por ativi<strong>da</strong>des musicais. Iniciou a prática do violão sob o<br />

incentivo de sua irmã, pianista profissional, que possuía estudos musicais formais, cantava,<br />

segundo o músico, com uma voz muito bonita, “e ficava entre a música mais formal e a<br />

música popular” (BOSCO, 2007). Este também destacou: “A minha mãe s<strong>em</strong>pre gostou de<br />

violino, toca violino até hoje, t<strong>em</strong> 90 anos. A minha avó, mãe de minha mãe, era<br />

bandolinista” (BOSCO, 2007). Seu pai era comerciante e apreciava bastante a música<br />

popular, levando à sua casa diversos discos que adquiria no comércio do Rio de Janeiro.<br />

Seja por meio do estado objetivado (piano, violão, bandolim, discos), seja pelo convívio com a<br />

prática instrumental e vocal cotidiana, João Bosco evidenciou mais um caso de acúmulo de<br />

capital cultural <strong>em</strong> famílias de classe média, como Villa-Lobos e Tom Jobim, por ex<strong>em</strong>plo.<br />

Conclusões<br />

O delineamento <strong>da</strong> trajetória musical dos oito músicos brasileiros escolhidos para<br />

ilustrar e comprovar a teoria sociológica do capital cultural, fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> por Bourdieu,<br />

desvelou o papel do ambiente familiar na constituição de um impulso inicial <strong>da</strong>do a estes<br />

para que futuramente fizess<strong>em</strong> do saber-fazer artístico seu maior patrimônio, trilhando uma<br />

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .opus

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!