ÉTICA E DEONTOLOGIA - OET - Ordem dos Engenheiros Técnicos
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convicção do que por obrigação externa. E por isso mesmo, para ser eficaz, o direito deve, tanto<br />
quanto possível, apoiar-se nos princípios éticos que estão funda<strong>dos</strong> na natureza humana.<br />
2.5. Deontologia<br />
Finalmente, temos a deontologia, que deriva do grego deon ou deontos/logos e significa o estudo <strong>dos</strong><br />
deveres. Emerge da necessidade de um grupo profissional de autoregular, mas a sua aplicação<br />
traduz-se em heteroregulação, uma vez que os membros do grupo devem cumprir as regras<br />
estabelecidas num código e fiscalizadas por uma instância superior (ordem profissional, associação,<br />
etc.).<br />
O objetivo da deontologia é reger os comportamentos <strong>dos</strong> membros de uma profissão para alcançar<br />
a excelência no trabalho, tendo em vista o reconhecimento pelos pares, garantir a confiança do<br />
público e proteger a reputação da profissão. Trata-se, em concreto, do estudo do conjunto <strong>dos</strong><br />
deveres profissionais estabeleci<strong>dos</strong> num código específico que, muitas vezes, propõe sanções para<br />
os infratores. Melhor dizendo, é um conjunto de deveres, princípios e normas reguladoras <strong>dos</strong><br />
comportamentos exigíveis aos profissionais, ainda que nem sempre estejam codifica<strong>dos</strong> numa<br />
regulamentação jurídica. Isto porque alguns conjuntos de normas não têm uma função normativa<br />
(presente nos códigos deontológicos), mas apenas reguladora (como, por exemplo, as declarações<br />
de princípios e os enuncia<strong>dos</strong> de valores).<br />
Neste sentido, a deontologia é uma disciplina da ética especialmente adaptada ao exercício de uma<br />
profissão. Em regra, os códigos de deontologia têm por base grandes declarações universais e<br />
esforçam-se por traduzir o sentimento ético expresso nestas, adaptando-o às particularidades de<br />
cada profissão e de cada país. As regras deontológicas são adoptadas por organizações<br />
profissionais, que assume a função de "legisladora" das normas e garante da sua aplicação. Os<br />
códigos de ética são dificilmente separáveis da deontologia profissional, pelo que é frequente os<br />
termos ética e deontologia serem utiliza<strong>dos</strong> como sinónimos, tendo apenas origem etimológica<br />
distinta. Muitas vezes utiliza-se mesmo a expressão anglosaxónica professional ethics para designar<br />
a deontologia.<br />
Mas a ética não se reduz à deontologia. Alguns autores alertam para a necessidade de ir além do<br />
mero cumprimento das normas deontológicas. Seguir os princípios éticos verti<strong>dos</strong> nos códigos<br />
deontológicos porque o seu incumprimento tem consequências sociais (nomeadamente disciplinares)<br />
não é atuar de forma ética. Porque as ações são apenas conformes à norma e não conformes ao<br />
valor. Se o valor não é assumido pelo agente, este não age racionalmente, de forma livre e<br />
responsável, de acordo com aquilo que, interiormente, sabe que deve fazer. E a verdade é que para<br />
ser bom profissional, o homem deve desenvolver todas as virtudes humanas, exercitadas através da<br />
profissão. Além do mais, a ética não se reduz a um conjunto de proibições: o comportamento ético<br />
gera satisfação, uma vez que se opta, livre e racionalmente, por praticar o bem. O comportamento<br />
ético nasce do interior do homem, das suas convicções, quer estas sejam, como refere José Manuel<br />
Moreira 1 , de natureza transcendente, quer de natureza humanista. E não deve ser adoptado apenas<br />
como "remédio" em caso de conflito: deve ser vivido to<strong>dos</strong> os dias, como parte de um projeto de vida<br />
pessoal.<br />
Todavia, a sanção pela violação de normas deontológicas é fundamental. Faz parte de um processo<br />
de "despertar para a ética" que deve ser assumido pelas organizações, sobretudo a partir do<br />
momento em que os diversos grupos sociais começaram a exercer pressão no sentido de se<br />
construir uma sociedade mais solidária, respeitadora <strong>dos</strong> direitos humanos e amiga do ambiente.<br />
1 José Manuel Moreira, As contas com a ética empresarial, 1999.<br />
Ética e Deontologia – Manual de Formação 11