ÉTICA E DEONTOLOGIA - OET - Ordem dos Engenheiros Técnicos
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Conclusões<br />
Vivemos num mundo complexo, global, tecnológico, intercultural. Numa sociedade dominada pelas<br />
redes de informação e comunicação, onde a legitimidade decisória já não vem da hierarquia mas do<br />
consenso, onde o desenvolvimento depende da confiança e de valores como a cooperação e<br />
participação de to<strong>dos</strong>, e, por isso, onde necessitamos de valores e critérios de atuação universais.<br />
Neste mundo, a prática da engenharia é confiada a indivíduos qualifica<strong>dos</strong>, com a responsabilidade<br />
de exercer os seus conhecimentos e capacidades para promover o aumento do bem-estar e da<br />
qualidade de vida das pessoas. Mais do que técnicos, os engenheiros são cidadãos com um papel<br />
ativo na promoção de um mundo melhor, capacita<strong>dos</strong> para lidar com os novos problemas com que<br />
hoje somos confronta<strong>dos</strong>, designadamente problemas culturais, urbanos ou ecológicos.<br />
Actualmente, temos uma maior consciência da nossa ligação com o mundo e do facto de sermos<br />
to<strong>dos</strong> responsáveis por ele. Por isso, ganhámos também uma maior consciência da necessidade de<br />
um diálogo entre as várias profissões para harmonizar as diversas abordagens sectoriais. E nisso a<br />
ética desempenha um papel fundamentaI. Porque a construção de comunidades sustentáveis a nível<br />
social, cultural e físico - depende da capacidade de pensar e dialogar sistemicamente. E a ética<br />
fornece esse quadro de referência que nos permite conjugar esforços num mesmo sentido: tem uma<br />
função unificadora porque torna claro que to<strong>dos</strong> têm o direito e o dever de contribuir para uma vida<br />
melhor.<br />
Tem sido evidente o esforço das várias profissões para disciplinar as condutas <strong>dos</strong> seus membros<br />
através da adopção de normas éticas. Mas é fundamental que as profissões encontrem uma base de<br />
valores comum que orientem a sua ação. Éticas separadas podem levar a escolhas éticas ineficazes<br />
e a ações sem ética. Ao mantermos as éticas separadas, perdemos de vista a função da ética<br />
tradicional: criar uma vida boa para pessoas que vivem em sociedade. Sem uma ética integrada, o<br />
homem não sabe qual o seu lugar no mundo nem como exercer o seu papel. Por isso, a integração<br />
ética é tão necessária e faz-se através <strong>dos</strong> objetivos partilha<strong>dos</strong>, que congregam as pessoas em prol<br />
de causas comuns, orientam a sua ação e dizem respeito fundamentalmente aos indivíduos (direitos<br />
da pessoa humana), à sociedade justiça, solidariedade, democracia) e ao ambiente<br />
(sustentabilidade).<br />
Neste contexto, os profissionais da engenharia precisam ampliar o horizonte <strong>dos</strong> seus<br />
conhecimentos para além das disciplinas técnicas, para se inserirem plenamente na economia e na<br />
sociedade moderna. Essa ampliação passa, fundamentalmente, pela interiorização de valores<br />
humanísticos, que o relembrem na sua responsabilidade social e que o ajudem a melhorar<br />
continuamente o seu desempenho, incluindo competências sociais que lhe permitam trabalhar em<br />
equipas multidisciplinares. Por isso se afirma que só a ética pode humanizar uma sociedade cada<br />
vez mais tecnológica.<br />
Com efeito, no mundo de hoje, a resposta a uma sociedade que nas últimas décadas tem estimulado<br />
sobretudo o bem-estar individualista e, desse modo, um certo individualismo irresponsável (o cada<br />
um por si), tem sido a recomposição de um individualismo responsável, ligado a um núcleo estável<br />
de valores éticos, comummente aceites nas sociedades ocidentais, como os direitos humanos, a<br />
honestidade, a tolerância, a recusa da violência 13 .<br />
Esta ética é uma ética da responsabilidade, associada à autonomia individual, à flexibilidade, à<br />
13 Gilles lipovetsky, A era do após-dever, 1998.<br />
Ética e Deontologia – Manual de Formação 52