As jóias da coroa - Biblioteca Digital da PUC-Campinas
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onde costumava apresentar-se; por isso, também, o arrabalde de Santo<br />
Cristo ressoava sur<strong>da</strong>mente com os boatos tímidos <strong>da</strong>s façanhas<br />
amorosas de certo homem de barbas brancas.<br />
Por felici<strong>da</strong>de do duque ele unira a sua existência à de uma<br />
generosa fi<strong>da</strong>lga, que sabia amargar em silêncio to<strong>da</strong>s as brincadeiras<br />
do esposo e distraía-se dos sofrimentos domésticos, entregando-se de<br />
corpo e alma à mais antiga prática <strong>da</strong> cari<strong>da</strong>de para com os que<br />
necessitavam dela.<br />
Os moradores <strong>da</strong> pequena aldeia consagravam à duquesa uma<br />
ver<strong>da</strong>deira adoração. Raro era aquele que não a tinha visto à sua porta,<br />
in<strong>da</strong>gando do estado de qualquer enfermo, aconselhando o uso de um<br />
medicamento, ou <strong>da</strong>ndo disfarça<strong>da</strong>mente uma esmola...<br />
Esta santa senhora esforçava-se por contrabalançar com as suas<br />
virtudes os excessos do duque.<br />
Em atenção a ela, algumas pessoas de consideração<br />
permaneciam na ro<strong>da</strong> perigosa do marido. Por essa razão, os amigos do<br />
duque não eram todos <strong>da</strong> ordem dos alegres companheiros de passeio<br />
pelas ruas de Anatópolis.<br />
A estes, costumava o grande fi<strong>da</strong>lgo <strong>da</strong>r a honra <strong>da</strong> sua<br />
companhia durante o verão. Aos sábados, porém, vinha só, ou com a<br />
duquesa, visitar a quinta de Santo Cristo.<br />
Na época que começavam os sucessos <strong>da</strong> nossa história, apesar<br />
do estio, não se achava o duque em Anatópolis.<br />
Viera de lá por um dos sábados.<br />
Tinha de voltar na segun<strong>da</strong>-feira e já o povo anatopolitano se<br />
preparava para recebê-lo, entre regozijos e foguetes. Mas o duque, não<br />
apareceu. Era uma grave contrarie<strong>da</strong>de para aqueles felizes<br />
desocupados. Tinham talvez de passar uma semana sem ver na rua a<br />
esplêndi<strong>da</strong> e branca figura do fi<strong>da</strong>lgo de chapéu Chile.<br />
Um desgosto para eles e um motivo de tristeza para a ci<strong>da</strong>de.<br />
Faltar aos seus habituais não era regra do duque. Pelo contrário.<br />
Ele era o que se pode chamar a pontuali<strong>da</strong>de em pessoa. A<br />
pontuali<strong>da</strong>de, porém, possui um sério inimigo que, aliás, não é<br />
incompatível com ela: o capricho.<br />
O duque era um homem caprichoso. Ain<strong>da</strong> uma conseqüência do<br />
servilismo dos maus educadores.<br />
Como homem caprichoso, não era de admirar que deixasse uma<br />
vez de se apresentar em Anatópolis conforme o costume.<br />
O duque de Bragantina tivera na ver<strong>da</strong>de um dos seus caprichos.<br />
Tinha dito na quinta que, depois do baile do marquês de ***, em<br />
cujo palácio passaria a noite, iria diretamente a Anatópolis, sem voltar a<br />
Santo Cristo. Um motivo qualquer ou mesmo motivo nenhum o fizera<br />
resolver o contrário.<br />
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