As jóias da coroa - Biblioteca Digital da PUC-Campinas
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Não pôde continuar.<br />
O duque levantou-se e cortou-lhe a palavra:<br />
— Siga-me! — disse-lhe.<br />
Pavia considerou-se perdido. Lembrou-se de confessar o crime e<br />
pedir perdão, lembrou-se de correr pela porta do museu e saltar de uma<br />
janela para fugir <strong>da</strong> quinta. Mas não era possível. Faltavam certas<br />
providências que ele não tomara, por não prever uma tão positiva e<br />
inespera<strong>da</strong> acusação. Demais, uma espécie de magnetismo fatal o<br />
impossibilitava de escapar.<br />
— Siga-me! — repetiu fortemente o duque.<br />
Pavia seguiu-o. E os dois saíram pela porta que <strong>da</strong>va passagem<br />
para a frente do palácio.<br />
No seu gabinete privado, entre aquela caveira secular e aquela<br />
preguiçosa lasciva; nesse aposento recatado, que era ao mesmo tempo<br />
gruta sombria e casta de monge, pelo crânio, e alcova perfumosa e<br />
brilhante de harém, pelos coxins; ali, à vista de Sócrates e de Epicuro, o<br />
duque de Bragantina criou um tribunal por sua conta e condenou Manuel<br />
de Pavia.<br />
Veremos o peso desta condenação.<br />
Depois <strong>da</strong> sua longa ausência, reapareceu o duque aos que<br />
haviam ficado à espera, sem <strong>da</strong>r-lhes explicação nem pedir desculpas...<br />
— Graças a Deus!... — disse o marquês d’Etu ao ouvido do chefe<br />
de polícia, vendo entrar o pai.<br />
Logo em segui<strong>da</strong> ao duque apareceu Manuel de Pavia.<br />
Todos se espantaram com isso. O que significava a presença<br />
<strong>da</strong>quele indivíduo?<br />
O duque explicou:<br />
— Sr. dr. Louro — disse ele dirigindo-se ao chefe de polícia —,<br />
entrego-lhe este homem. Tenho sérios motivos para man<strong>da</strong>r prendê-lo.<br />
O senhor há de conhecê-los em breve. Pren<strong>da</strong>-o, e cuidemos de verificar<br />
quais são os culpados do roubo <strong>da</strong>s <strong>jóias</strong>.<br />
— Sr. dr. delegado — disse o chefe de polícia, voltando-se para<br />
um dos delegados presentes —, queira levar este homem para a<br />
detenção.<br />
— Sr. doutor, mando vir o carro celular...<br />
— É inútil! É inútil! — interveio o duque com a sua vozinha fina.<br />
— Na<strong>da</strong> de escân<strong>da</strong>los aqui em casa... Qualquer carro serve... Garantolhes<br />
que o preso não tentará fugir... Ele sabe que, se quiser fugir deita<br />
tudo a perder... pode levá-lo em qualquer veículo...<br />
— A vontade do sr. duque será feita — respondeu o delegado,<br />
curvando-se como um homem polido e como um lacaio.<br />
Encaminhou-se para Manuel de Pavia:<br />
— Está preso! — disse, pousando-lhe a mão no ombro.<br />
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