As jóias da coroa - Biblioteca Digital da PUC-Campinas
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Era a duquesa!<br />
— Não te levantes — dizia ela nervosamente. — Pede perdão a<br />
tua filha.<br />
— Minha filha! — gaguejou o duque, fulminado pela aparição <strong>da</strong><br />
mulher.<br />
— Sim, tua filha, desgraçado!... a mãe acaba de morrer<br />
miseravelmente, viúva de um dos teus lacaios...<br />
Daí a sete dias, <strong>da</strong>va-se liber<strong>da</strong>de a Manuel de Pavia e aos<br />
indivíduos suspeitos do crime.<br />
A língua do boato murmurava que, no dia seguinte ao <strong>da</strong><br />
descoberta do crime, o duque se levantara acabrunhado como um<br />
doente; que recebera a visita do dr. Louro Trigueiro; que começara-se a<br />
dizer então que as <strong>jóias</strong> tinham sido encontra<strong>da</strong>s.<br />
Era o caso, que o chefe de polícia, visitando Pavia na casa de<br />
detenção, ameaçara-o com a energia do duque, que o reduziria à última<br />
miséria, se não revelasse o lugar onde estavam deposita<strong>da</strong>s as <strong>jóias</strong>. O<br />
criminoso, exigindo garantias de impuni<strong>da</strong>de, confessou tudo e declarou<br />
que o tesouro <strong>da</strong> <strong>coroa</strong> estava enterrado num lugar que ele mostraria...<br />
Senhor destas disposições de Pavia, dr. Trigueiro correu a comunica-las<br />
ao duque.<br />
Encontrou o fi<strong>da</strong>lgo de mau humor como nunca lhe encontrara.<br />
Com as novi<strong>da</strong>des do chefe de polícia, o duque ficou mais sereno. É que<br />
o sr. de Bragantina, profun<strong>da</strong>mente abalado com a surpresa que tivera<br />
em casa de Pavia, temia que a permanência deste em detenção desse<br />
lugar a comentários, os quais, somando-se aos murmúrios<br />
necessariamente provocados pelo procedimento <strong>da</strong> duquesa,<br />
levantariam um rumor terrível ao redor do seu nome...<br />
— Participe ao Pavia — disse rapi<strong>da</strong>mente o duque ao chefe de<br />
polícia — que, <strong>da</strong>qui a sete dias, ele está livre e virá desenterrar as<br />
<strong>jóias</strong>... É só o tempo de se buscar provas de culpabili<strong>da</strong>de e inocência...<br />
Isto é o que o senhor dirá, se por acaso algum estranho perguntar por<br />
que estiveram presos tão pouco tempo... Por fim de contas, não foram<br />
as provas que fizeram conhecer-se o criminoso... Foi uma suspeita que<br />
ninguém teria o direito de levantar... A polícia fui eu. Depois... o negócio<br />
acabou maravilhosamente... Para <strong>da</strong>r algum colorido característico, eu<br />
expulso de meu serviço o particular e o Inácio... Ao patife do Pavia, o<br />
mais que posso fazer-lhe é deixá-lo no ofício para que um dia um cacete<br />
honesto esmague-lhe a nuca, aí em qualquer esquina do arrabalde...<br />
Veja que sou justo...<br />
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