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As jóias da coroa - Biblioteca Digital da PUC-Campinas

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Era horrível o que aqueles miseráveis combinavam. Um laço de<br />

perdição para um anjo. Vendia-se a dinheiro a pureza de uma criança.<br />

Um comprava como se fosse uma ave no mercado, e outro vendia,<br />

como se a mercadoria lhe pertencesse. Não havia ali só infâmia; havia<br />

infâmia e ladroeira. Tinha razão. O açougueiro não consulta a vitela<br />

sobre as condições de ven<strong>da</strong>. Torpeza. Não! Ela não podia deixar de<br />

intervir...<br />

A conversa acabou. Selaram-se as convenções e uma <strong>da</strong>s partes<br />

contratantes retirou-se, muito à vontade e satisfeita com a transação.<br />

Emília não se conteve um instante. Ardendo em febre e em ódio,<br />

atirou-se como uma harpia e agarrou Januário com as unhas...<br />

Passou-se a cena violenta do nosso terceiro capítulo e Emília<br />

retirou-se para o quartinho, onde dormia, jurando que não se havia de<br />

fazer a vontade dos dois perversos.<br />

Caiu na cama prostra<strong>da</strong> e soluçando. Um cansaço enorme<br />

acabrunhava-a, conseqüência do esforço que provocara a revolução <strong>da</strong><br />

sua energia, por tanto tempo em letargo.<br />

Sentiu ao mesmo tempo que o fresco <strong>da</strong> noite fizera-lhe mal.<br />

Um calor intenso de febre escal<strong>da</strong>va-lhe o corpo. Emília estirouse<br />

os membros por entre os grosseiros lençóis <strong>da</strong> sua marquesa e ficou<br />

a refletir na conversa que ouvira. Repassou na memória ca<strong>da</strong> uma<br />

<strong>da</strong>quelas frases, e a recor<strong>da</strong>ção causava-lhe estremecimentos e<br />

provocava mais lágrimas.<br />

No meio <strong>da</strong> escuridão do cubículo, ouvia-se-lhe o respirar<br />

ofegante e os soluços convulsivos...<br />

Quando clareou o dia, ain<strong>da</strong> não conseguira dormir um só<br />

instante.<br />

Amanheceu abati<strong>da</strong> como uma moribun<strong>da</strong>.<br />

Fez falta ao serviço <strong>da</strong> manhã. A mulher de Januário foi ver o que<br />

ela tinha.<br />

— Estou doente — respondeu Emília com voz cava e fraca.<br />

A pobre mulher tinha as feições cavernosas como um rosto de<br />

caveira. Estava lívi<strong>da</strong> e profun<strong>da</strong>mente acabrunha<strong>da</strong>. Nos olhos,<br />

entretanto, havia uns reflexos vítreos, contrastando com o<br />

amortecimento do corpo.<br />

A mulher de Januário não pôde conter um movimento de<br />

contrarie<strong>da</strong>de.<br />

Doente Emília, ficava-lhe o peso do serviço e ela era tão velha...<br />

Ah! Tinha Conceição... Mas Conceição estava atualmente destina<strong>da</strong> a<br />

outro serviço absolutamente indispensável... o diabo!... Era necessário<br />

tirar Emília <strong>da</strong> cama quanto antes!<br />

Por isso é que a moléstia <strong>da</strong> nora preocupava mais a mulher de<br />

Januário que o roubo do palácio.<br />

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