15.04.2013 Views

As jóias da coroa - Biblioteca Digital da PUC-Campinas

As jóias da coroa - Biblioteca Digital da PUC-Campinas

As jóias da coroa - Biblioteca Digital da PUC-Campinas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Capítulo XIV<br />

A chega<strong>da</strong> de Conceição casa de Pavia foi uma festa.<br />

Houve tanto prazer que ninguém acreditaria que o chefe <strong>da</strong>quela<br />

família fora preso. É que Manuel de Pavia dissera à mulher coisas<br />

tranqüilizadoras...<br />

Ca<strong>da</strong> um cui<strong>da</strong>va apenas em fazer agrados à companheira de<br />

Claudina. <strong>As</strong> horas correram insensivelmente. Houve um jantar que<br />

surpreendeu a Conceição. Iguarias nunca vistas; vinhos nunca<br />

sonhados.<br />

Foi notável o interesse com que a mulher de Pavia serviu de<br />

bebi<strong>da</strong>s a lin<strong>da</strong> hóspede. Conceição, com a sua rustici<strong>da</strong>de<br />

descerimoniosa, foi provando de tudo que lhe <strong>da</strong>vam.<br />

Ao fim do jantar, sentiu-se presa de uma sonolência estranha.<br />

Quis retirar-se. Todos protestaram, dizendo que ela não iria para sua<br />

casa, senão no dia seguinte.<br />

Conceição ficou.<br />

Muito cedo começou a família de Pavia a preparar-se para<br />

dormir.<br />

Conceição foi conduzi<strong>da</strong> pela dona <strong>da</strong> casa ao esplêndido<br />

aposento que lhe era destinado. Um Éden de perfumes e tapeçaria.<br />

Clareava-o bran<strong>da</strong>mente uma pequena lâmpa<strong>da</strong> de porcelana, a desferir<br />

luares rosados para os largos espelhos que adornavam o quarto, nos<br />

intervalos de luxuosos móveis de toilette. Duas grande janelas, vela<strong>da</strong>s<br />

sob alvíssimos panos de ren<strong>da</strong> pendentes de maçanetas doura<strong>da</strong>s,<br />

<strong>da</strong>vam passagem às aragens frescas que circulavam por fora. Erguendose<br />

estas cortinas, viam-se, a entrar pelas janelas, debruçados<br />

indiscretamente sobre o peitoril, frondosos ramos de jasmineiros, que<br />

alastravam de flores o peitoril e desprendiam aromas, nocivos talvez<br />

àquela hora, mas de uma doçura celestial, enervante. Era indescritível a<br />

luta silenciosa mas renhi<strong>da</strong>, desses aromas com a perfumaria dos<br />

frascos perdidos pelo boudoir.<br />

Conceição, ao entrar, sentiu-se atordoa<strong>da</strong> por aquela orquestra<br />

viva de fragrâncias. Morta de sono, como se achava, não levou grande<br />

tempo a reparar nos esplendores do ninho que entregavam. Procurou a<br />

cama. Era um prodígio de marcenaria que nem de longe recor<strong>da</strong>va o<br />

seu leito <strong>da</strong> casa de Januário. Conceição não gastou um momento de<br />

admiração <strong>da</strong>quelas rosetas de madeira lavra<strong>da</strong>, <strong>da</strong>quele precioso<br />

cortinado escapando-se de uma elegante cúpula de cetim azul e<br />

derramando à farta torrentes de vaporozas gazes por volta <strong>da</strong> cama...<br />

73

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!