DEUS - Charles Guimarães Filho

ZECA (pensando): Puxa! De grandiosa e opulenta a minha exindústria
virou singela e porcaria, isso não é bem assim. Mesmo
que cem fabricantes de produtos farmacêuticos sejam
responsáveis por 90% de todos os produtos consumidos e que os
Estados Unidos, Europa e Japão abocanhem 85% desse mercado,
no entanto, como os gastos governamentais em saúde são da
ordem de trilhões, o Brasil fatura 10 bilhões e essa indústria
alguns milhões, o que não é nada desprezível, sendo assim, não é
bem assim.
Lá de dentro daquela fábrica, talvez pela gritaria do Fortuna,
vem um homem todo de branco muito apressado de nome
LOURENÇO, conhecido por Cercadinho, com as mãos cheia de
um remédio com sua embalagem, rótulo, bula, prospecto e texto.
LOURENÇO: Ô Fortuna por que dessa algazarra aqui na minha
empresa? São dez da manhã, ainda é cedo para pedir comida.
Agora, se veio exibir suas penas de pavão para esse seu colega
estranho ao lado então pode ir, pois o dever foi cumprido e
comprido.
FORTUNA (todo orgulhoso): Cercadinho não está
reconhecendo? Esse é o Zeca! Aquele seu patrão amigo que lhe
deixou essa indústria onde você trabalhava para ele.
ZECA (pensando): Não é possível! Lourenço, meu amigo e
encarregado de produção.
LOURENÇO (irritado): Não me venham seus mendigos com
essa conversa de cerca Lourenço, aqui não se dá esmola, aqui é
um lugar de trabalho, um templo dos cientistas.
FORTUNA: Posso não ser cientista, mas afirmo que a verdadeira
ciência não é algo tão ambígua. A verdadeira ciência é aquela
que, aprendendo a verdade, realiza pesquisas fundamentadas na
lógica autêntica e a sua eficiência deve ser decisiva e duradoura.
No entanto, após certo tempo tem se tornada ineficiente. Por isso,
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