DEUS - Charles Guimarães Filho

BELO
São 14h30min. Exaustos de andarem por mais de duas horas,
eles estão diante do único prédio da cidade, que não passa de um
sobrado, mais especificamente uma residência com um piso a
mais do que o piso térreo. Só que na primeira metade do século
XX virou uma locação comercial e a partir da década de 70
passou a ser uma Fundação.
FORTUNA (cheio de pompa): Antes da criação da Fundação
Nacional de Arte, conhecida por Funarte, em 1975, com a
finalidade de promover, estimular e desenvolver atividades
culturais em todo o Brasil, você já tinha criado a grandiosa
Funzecarte nesta cidadezinha bucólica. Entremos nessa opulência
que é toda sua.
ZECA (pensando): Quando eu criei a Funzecarte gastando
grande soma de dinheiro foi para proteger minha fortuna e
receber honrarias. (pausa): Hoje, compreendo que acima das
existências criadas, tem-se o Criador com um plano para a Terra
de torná-la um Paraíso, isto é, um mundo do Belo, mas, também
da Verdade e do Bem.
Ao abrirem a porta são recebidos por um brancão com a outra
face do amor e paz exigindo a compra dos bilhetes para se ter
acesso as exposições artísticas.
FORTUNA (gritando): Tomara que o governo encampe essa
porcaria, essa singeleza.
ZECA (pensando): O que é isso! Seria reflexo condicionado? Se
Fortuna quer ser discípulo do Messias então tem que saber que
Meishu-Sama não gosta que falem várias vezes a mesma coisa
por ter certeza de que se trata de alguém de cabeça muito ruim.
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