DEUS - Charles Guimarães Filho

Descendo as escadas vem a dona MARIA com as mãos cheias de
objetos artísticos.
MARIA: Ô Fortuna por que dessa falta de beleza aqui na minha
Fundação? Telefone!?
FORTUNA: Vai ver que a beleza só quer ficar na natureza, na
aparência pessoal, nas residências que só tem piso térreo. (todo
orgulhoso): Mas, Cara Maria Vai Com As Outras esse é o Zeca!
Aquele seu patrão amigo que lhe deixou essa Fundação.
ZECA (pensando): Não é possível!
MARIA (rindo): Esse, o Zeca! Se ouutraas o reconheceram,
fique tranqüilo, pois essa Maria aqui não o reconhece. Aliás, se
por acaso essas ouutraas permitiriam a entrada de mendigos nesse
recinto sagrado da perfeição, essa Maria não permite feiúra,
afinal aqui é um lugar de artistas e apreciadores de arte, ou
melhor, do belo, um local da manifestação da Verdade e Bem
expressa pelo sentimento. Logo, fora daquiii.
ZECA (pensando): Será que ela entende o que está dizendo?
Sabe que o Messias conduz as pessoas ao caminho do Reino dos
Céus ensinando-lhes a Verdade, praticando o Bem e fazendo com
que elas apreciem o Belo? Mas, o que significa realmente o Belo?
Como relacioná-lo com a Verdade e o Bem? Se ele não está no
nível das palavras e ações, mas sim do pensamento, qual é a sua
predominância: na razão, sentimento ou vontade? A resposta de
Meishu-Sama é a de que o Belo é uma demonstração da
veracidade e virtude concludente do amor. (pausa): Quem
entende isso?
FORTUNA: No tocante de aqui ser um local de artista posso não
ser um artista, mas afirmo que a verdadeira arte é a representação
da beleza. Agora, beleza autêntica não provém nunca desses
cosméticos que estão aí espalhadas pela sua face, nem da
falsidade e maldade impulsionadas pelo seu sentimento de ódio e
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