DEUS - Charles Guimarães Filho

BRONCO: Eu não tenho dúvida em lhe responder que para se
libertar basta o vexame de urinar nas calças e criar tumulto de
olhos vendados.
ZECA (pensando): Libertar-se é o oposto! Significa sair de um
estado de confusão e obter iluminação, donde, poder palmilhar
caminho certo e assim desenvolver cultura. Dessa forma, libertarse
é entrar no estado de serenidade, desembaraço e clareza. E não
é só enfrentar a preguiça material, mas também a espiritual, o
demônio de Belphegor.
BRONCO: Não vê como até um desprovido de tudo que nem
você é posto em afã, agonia e aperto ao perambular naquele
templo do espiritualmente incorreto. Todavia, não é só aquela
religião que é assim, são todas as religiões que são pecadoras de
falta de civilização, conhecimentos, criação, comportamentos e
costumes. Tem uma que chega ao absurdo de dizer que há um
grande erro na cultura moderna, exatamente na ignorância do
lado espiritual. E isso lá existe? Onde já se viu haver uma cultura
espiritual? Como tecer idéias que possa fazer algum sentido?
Como comprová-las?
ZECA (pensando): Um exemplo a respeito é a predominância de
só serem apenas conhecidos o Mundo Atmosférico e o Mundo
Material; desconhecendo-se a existência do Mundo Espiritual,
que a ciência da matéria não conseguiu detectar. A cultura atual
formou-se com o progresso obtido naqueles dois mundos, razão
pela qual ela abrange apenas dois terços. Na realidade, porém,
justamente o terço considerado inexistente, é mais importante que
os outros dois juntos, constituindo a fonte da força fundamental.
Ignorando-se a sua existência, jamais surgirá a civilização
perfeita. O fato do homem, apesar do considerável avanço da
cultura baseada apenas naqueles dois terços, não conseguir
realizar o seu maior desejo - a felicidade - comprova o que se está
afirmando.
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