BAR EM BAR: ATÉ O DIA 18, UM FESTIVAL DE ... - Roteiro Brasília
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<strong>BAR</strong> <strong>EM</strong> <strong>BAR</strong>: <strong>ATÉ</strong> O <strong>DIA</strong> <strong>18</strong>, <strong>UM</strong> <strong>FESTIVAL</strong> <strong>DE</strong> PETISCOS A APENAS 10 REAIS<br />
Ano XI • nº 210<br />
Novembro de 2012<br />
R$ 5,90
<strong>Roteiro</strong> Especial de Natal<br />
Reservas: 06/12<br />
Material: 10/12<br />
Circulação: 14/12<br />
Nossa equipe já saiu a campo para preparar uma edição muito especial,<br />
a última do ano, com um roteiro completo das melhores ceias de Natal<br />
e festas de Réveillon da cidade. Não perca a oportunidade de anunciar<br />
seus produtos e serviços para o público mais seleto da cidade.<br />
Para anunciar, ligue 3961.6261<br />
Para quem sabe apreciar<br />
as coisas boas da vida
em poucas palavras<br />
Quando a Escola de Samba Acadêmicos da Vila Planalto<br />
entrar na avenida, em fevereiro, o abre-alas virá com uma<br />
foto de Rosental Ramos da Silva, cozinheiro do ex-presidente<br />
JK, o primeiro a abrir, nos anos 90, um restaurante na Vila<br />
Planalto. Com o tema “De Kubitscheck a Silva”, a escola de<br />
samba estará prestando uma justa homenagem aos sabores e<br />
aromas de um bairro vocacionado para a gastronomia simples<br />
e predominantemente regional.<br />
Nascida em 1957 para abrigar acampamentos de operários<br />
das construtoras encarregadas de erigir a nova capital, a Vila,<br />
como já é carinhosamente conhecida, transformou-se num<br />
bairro em tudo parecido com uma pacata cidade do interior.<br />
É para lá que engravatados da Esplanada dos Ministérios, a<br />
apenas 4 km dali, se refugiam na hora do almoço para comer<br />
bem e relaxar um pouco antes de voltar para o trabalho.<br />
São mais de 30 restaurantes de diversas especialidades<br />
– de churrascarias a casas de frutos do mar, de comidinhas<br />
mineiras e nordestinas a sushis e sashimis – frequentados<br />
até por políticos como o ex-presidente Lula, o senador José<br />
Sarney e o deputado Romário, que se rendem aos encantos<br />
desse bairro histórico (leia a partir da página 6).<br />
Por falar em história da cidade, estreia no final deste mês<br />
um documentário realizado com base no rico acervo de um<br />
cinegrafista italiano que chegou aqui em 1959 para documentar<br />
a festa de inauguração. A partir de 300 horas de filmes por<br />
ele produzidos, a historiadora Andrea Prates e o cineasta<br />
Cleisson Vidal conseguiram resgatar a história dos primeiros<br />
20 anos de <strong>Brasília</strong> em produção de 71 minutos (página 48).<br />
Depois de levar mais de 410 mil espectadores ao CCBB<br />
no Rio e São Paulo, está em <strong>Brasília</strong> a mostra Corpos presentes,<br />
do escultor inglês Antony Gormley. Indiferentes às polêmicas<br />
que costumam provocar, seus "corpos" estão colocados não<br />
só no CCBB como também em pontos movimentados da<br />
cidade, para interagir com a população (página 38).<br />
Interação e alegria são o mote do Festival Bar em Bar, até<br />
o dia <strong>18</strong>. Pastel de fraldinha, bolinho de ossobuco, coxa de<br />
frango recheada com creme de queijo e até bolinhos de paella<br />
marinera são as estrelas desses botecos. Harmonizadas com<br />
as estupidamente geladas, têm feito a festa dos botequeiros de<br />
plantão. Tim-Tim! (página 12).<br />
Boa leitura e até dezembro.<br />
Maria Teresa Fernandes<br />
Editora<br />
38<br />
galeriadearte<br />
obras do britânico antony Gormley ocupam o ccBB<br />
e vários espaços públicos da cidade até 6 de janeiro.<br />
águanaboca<br />
picadinho<br />
garfadas&goles<br />
pão&vinho<br />
doisespressoseaconta<br />
dia&noite<br />
graves&agudos<br />
queespetáculo<br />
terceirosetor<br />
educaçãoartística<br />
brasiliensedecoração<br />
diáriodeviagem<br />
cartadaeuropa<br />
luzcâmeraação<br />
ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora <strong>Roteiro</strong> Ltda. | Setor Hoteleiro Sul, Quadra 6, Bloco C, Sala 1612, <strong>Brasília</strong>-DF - CEP 70.322-915<br />
Endereço eletrônico revistaroteirobrasilia@gmail.com | Tel: 3961.6261 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Editora Maria Teresa Fernandes<br />
Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Capa André Sartorelli, sobre fotos de Sérgio Amaral | Colaboradores Akemi Nitahara, Alexandre Marino,<br />
Alexandre dos Santos Franco, Ana Cristina Vilela, Beth Almeida, Cláudio Ferreira, Eduardo Oliveira, Elaina Daher, Heitor Menezes, Ivana Cássia Nery,<br />
Lúcia Leão, Luiz Recena, Marina Ávila, Mariza de Macedo-Soares, Melissa Luz, Reynaldo Domingos Ferreira, Sérgio Moriconi, Silio Boccanera, Súsan<br />
Faria, Vicente Sá Fotografia Carlos Nery, Nuno Gouveia, Rodrigo Oliveira, Sérgio Amaral | Para anunciar Rachel Formiga (8144.9935 / 9959.9935)<br />
Impressão Alpha Gráfica e Editora | Tiragem: 20.000 exemplares.<br />
www.roteirobrasilia.com.br facebook.com/roteirobrasilia @roteirobrasilia<br />
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Divulgação<br />
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água na boca<br />
A praça de alimentação<br />
A Vila Planalto diversifica e aprimora sua gastronomia<br />
para atender a uma clientela cada vez mais exigente, vinda<br />
principalmente dos Ministérios e da Praça dos Três Poderes.<br />
por beth almeida<br />
Tudo começou com Rosental Ramos<br />
da Silva, o célebre cozinheiro do expresidente<br />
Juscelino Kubitscheck.<br />
Quando abriu seu restaurante, no início<br />
dos anos 90, ele não imaginava estar vocacionando<br />
todo um bairro da capital brasileira<br />
para o ramo da gastronomia. Hoje,<br />
são mais de 30 restaurantes na Vila Planalto,<br />
procurados pela proximidade do centro<br />
do poder, pela facilidade de estacionamento<br />
e, principalmente, pelo ar bucólico<br />
de cidade pequena. Mais que crescer, a<br />
culinária da Vila Planalto também se diver-<br />
da Esplanada<br />
sificou e, em alguns casos, até se sofisticou.<br />
Se antes as casas serviam pratos da cozinha<br />
mineiro-goiana ou nordestina, hoje há restaurantes<br />
de cozinha internacional, churrascarias<br />
e até um japonês.<br />
Embalada por esse sucesso, a Escola<br />
de Samba Acadêmicos da Vila Planalto<br />
decidiu homenagear os restaurantes do<br />
bairro no carnaval de 2013, quando a<br />
agremiação completa dez anos. Com o tema<br />
“De Kubitscheck a Silva”, numa referência<br />
aos ex-presidentes JK e Lula, que<br />
apreciavam chefs locais, a escola terá como<br />
abre-alas uma foto de Rosental com JK<br />
e falará das especialidades gastronômicas<br />
dos principais restaurantes do bairro.<br />
Entre as churrascarias, as mais recentes<br />
são a Tchê Garoto e O gaúcho da<br />
Vila. A primeira funciona no sistema de<br />
rodízio, tanto no almoço quanto no jantar.<br />
Fruto do trabalho de quatro irmãos<br />
que, há 15 anos, deixaram o Rio Grande<br />
do Sul para trabalhar na churrascaria Porcão<br />
de <strong>Brasília</strong>, a casa tem entre suas especialidades<br />
a costela e oferece um bufê com<br />
cerca de 50 itens, que inclui desde saladas<br />
até frutos do mar. É também uma ótima<br />
pedida para a happy hour, em que se pode<br />
apreciar um chope gelado enquanto se<br />
contempla a vista privilegiada para a Es-<br />
sérgio amaral
planada dos Ministérios. Os irmãos Rodrigues<br />
inauguraram ainda um hotel e, ao<br />
lado, outro restaurante, este mais simples,<br />
com serviço self-service e cozinha mineirogoiana.<br />
Na O Gaúcho da Vila, Paulo Renato<br />
Ribeiro, um dos quatro proprietários, indica<br />
como especialidades a costela de tira<br />
uruguaia, o entrecôte e a picanha. De segunda<br />
a sexta, a casa oferece, no almoço,<br />
“comida brasileira com churrasco gaúcho”:<br />
três tipos de carnes, saladas, arroz, feijão<br />
e, como opção para os não afeitos à carne,<br />
um prato à base de peixe. Como todos gaúchos<br />
que se prezam, os proprietários valorizam<br />
a terra natal até nos utensílios com<br />
que servem as mesas, todos nas cores da<br />
bandeira do Rio Grande de Sul. Às sextas,<br />
a casa serve feijoada e, no serviço à la carte,<br />
a paleta de ovelha e o carreteiro de charque.<br />
“A proximidade da Esplanada e a facilidade<br />
de estacionamento estão tornando<br />
a Vila Planalto um ponto gastronômico”,<br />
reconhece Paulo Renato, que antes<br />
de chegar a <strong>Brasília</strong> mantinha um restaurante<br />
flutuante no balneário de Angra dos<br />
Reis, onde morou por 15 anos.<br />
Também recentemente foi inaugurada<br />
no bairro a Figueira da Vila, onde a pedida<br />
é a parrilla uruguaia, com oito opções<br />
de cortes bovinos e ovinos, inclusive raridades<br />
como as mollejas, ou timo, uma<br />
glândula do cordeiro apreciada pela maciez.<br />
A casa abre no almoço e no jantar e a<br />
happy hour conta com música ao vivo.<br />
A costela de tira uruguaia é uma das especialidades d'O Gaúcho da Vila.<br />
Outra opção de churrascaria no bairro<br />
é a Vila Brasas, que completou cinco<br />
anos de funcionamento em setembro.<br />
Iniciativa de outro ex-funcionário do<br />
Porcão, a churrascaria ficou conhecida pela<br />
clientela como “Porquinho”, segundo<br />
seu proprietário, o gaúcho Joce dos Santos,<br />
mais conhecido como Chitãozinho,<br />
que mora na Vila Planalto desde que chegou<br />
a <strong>Brasília</strong>, em 2000. O serviço também<br />
é em sistema de rodízio, mas apenas<br />
no almoço. No jantar, a casa abre apenas<br />
para eventos, com reservas para mais de<br />
40 pessoas. Para Chitãozinho, a concorrência<br />
é sempre bem-vinda. “Com o surgimento<br />
de novos restaurantes, o movimento<br />
até aumentou”, afirma, adiantando que<br />
A churrascaria Tchê Garoto funciona no sistema de rodízio e oferece um bufê com cerca de 50 itens.<br />
sérgio amaral<br />
já está com planos de abrir um novo restaurante<br />
e choperia no bairro, em 2013.<br />
Para os amantes de frutos do mar, o<br />
bairro conta com o Esquina Gourmet,<br />
antigo Esquina da Vila, que está passando<br />
por algumas transformações, inclusive<br />
no cardápio. “Estamos fazendo um enxugamento<br />
e também modernizando o<br />
cardápio”, explica o empresário Marcelo<br />
Pandolfi, que há três meses assumiu o restaurante,<br />
sua primeira experiência no ramo<br />
da gastronomia, “uma paixão antiga”.<br />
Entre os novos itens do cardápio, o exotismo<br />
de um sushi de pirarucu ou um caldo<br />
de traíra, como entradas. A casa também<br />
passa a oferecer opções de pratos<br />
executivos, a maioria tendo os frutos do<br />
mar como personagem principal, como o<br />
robalo com ninho de alho poró e risoto<br />
de shitake ao molho de sálvia. Os sucessos<br />
mais antigos do cardápio, como a traíra,<br />
o tucunaré na chapa e a paella das<br />
sextas e sábados, permanecem. A decoração<br />
está mudando aos poucos e, para breve,<br />
Gustavo promete a instalação de lounge<br />
de espera, combinando com o que ele<br />
considera o grande diferencial do bairro.<br />
“Aqui as pessoas podem comer e relaxar<br />
ao mesmo tempo”, resume o empresário.<br />
Outra nova opção é o Vila Sushi, o<br />
primeiro do bairro especializado em cozinha<br />
japonesa, onde a clientela pode optar<br />
entre o rodízio, servido à mesa tanto<br />
no almoço quanto no jantar, e os pratos<br />
à la carte.<br />
Os apreciadores do bacalhau não podem<br />
perder o que Méa Araújo prepara no<br />
Feitiço da Vila, um simpático restaurantebistrô<br />
que funciona no bairro desde 2005.<br />
O peixe é servido para duas pessoas, com<br />
batatas inglesa e doce, tomates, pimentões,<br />
Divulgação<br />
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8<br />
água na boca<br />
azeitonas e cebolas, tudo regado a leite de<br />
coco. Outro sucesso da casa é o Brasileirinho,<br />
uma picanha na chapa com queijo<br />
ou alho frito, acompanhado de arroz, feijão<br />
tropeiro, ovo frito, vinagrete e batata ou<br />
mandioca fritas. Além do serviço à la carte,<br />
a casa oferece pratos executivos, com nove<br />
opções de carnes e peixes e 36 possibilidades<br />
de acompanhamentos, entre as quais<br />
o cliente escolhe quatro para compor a refeição.<br />
Moradora da Vila Planalto há 50<br />
anos, essa ex-servidora pública aponta a<br />
arborização e a amplidão do ambiente como<br />
o charme do bairro e o motivo para<br />
manter uma clientela cativa entre os ocupantes<br />
do poder.<br />
Foi o crescimento da demanda na Vila<br />
Planalto que levou o empresário José<br />
Mario Macedo a abrir o segundo restaurante<br />
no bairro, o Casarão, que funciona<br />
na Praça da Igreja há três anos e meio.<br />
Ao contrário da casa mais antiga, o Vila<br />
Verde, especializado em cozinha mineira,<br />
no Casarão o bufê, com mais de 100<br />
itens, conta com pratos variados, inclusive<br />
carnes assadas na chapa e, diariamente,<br />
pratos à base de salmão ou bacalhau.<br />
O local é ótimo também para petiscar<br />
antes do almoço dos fins de semana,<br />
com uma cerveja honestamente gelada e<br />
110 rótulos de cachaças.<br />
O engenheiro civil Tunas Ferreira e<br />
o contador João Ghizoni, que trabalham<br />
juntos na sede da Caixa Econômica<br />
Federal, vão com frequência saborear<br />
as delícias da Vila Planalto, especialmente<br />
as servidas por Tia Zélia e Dona Graça.<br />
“Eu não perco a feijoada das sextas-<br />
-feiras”, revela João, enquanto o amigo<br />
prefere a galinha caipira e o bife acebolado.<br />
“O que gosto nos restaurantes daqui<br />
é o temperinho caseiro; hoje mesmo disse<br />
para o João: vamos para a Vila Planalto<br />
que hoje quero comida de caldo”,<br />
conta Tunas, referindo-se às carnes com<br />
molho, na panela.<br />
Também companheiras de trabalho,<br />
no Ministério da Agricultura, Pecuária e<br />
Abastecimento, Luciana Assis, Daniela<br />
Oliveira, Tyessa Neiva e Paula Gripp não<br />
dispensam um almoço na Vila Planalto.<br />
O hábito começou com Daniela, que costumava<br />
frequentar o Fogão de Pedra<br />
quando trabalhava na Câmara dos Deputados.<br />
“Um dia sugeri a elas que viéssemos<br />
almoçar aqui e todas gostaram”, conta<br />
Daniela. Para as amigas, os principais<br />
atrativos são o ar interiorano do bairro e a<br />
comida caseira.<br />
A traíra sem espinha é um dos carros-chefes do Esquina Gourmet.<br />
As amigas Luciana Assis, Daniela de Oliveira, Paula Gripp e Tyessa Neiva são frequentadoras assíduas do<br />
Fogão de Pedra. O engenheiro Tunas Ferreira e o contador João Ghisoni preferem Tia Zélia e Dona Graça.<br />
sérgio amaral sérgio amaral Divulgação
Os queridinhos<br />
O tema da escola de samba da Vila<br />
Planalto demonstra que o sucesso da cozinha<br />
do bairro é antigo, especialmente<br />
entre os ocupantes do poder que chegam<br />
à capital federal – a começar pelo próprio<br />
JK, que conheceu Rosental no Hotel Quitandinha,<br />
em Petrópolis, e decidiu convidá-lo<br />
para apresentar seus quitutes na nova<br />
capital. A viúva de Rosental, Maria Vera<br />
Guimarães, ainda manteve o restaurante<br />
após a morte do chef, mas acabou fechando<br />
as portas.<br />
Já o ex-presidente José Sarney é fã da<br />
leitoa à pururuca do Fogão de Pedra, especializado<br />
em cozinha mineira. “Ele sempre<br />
encomendava e vinha a governanta buscar<br />
o prato, mas ele também chegou a vir aqui<br />
umas duas ou três vezes”, revela Elba Sardinha<br />
Ferreira, a proprietária, acrescentando<br />
que outra “celebridade” que frequentou<br />
“quase todos os restaurantes da Vila”<br />
é o ex-jogador de futebol e hoje deputado<br />
federal Romário. A casa funciona em sistema<br />
de self-service por peso e conta com<br />
mais de 100 itens. “Nosso forte é a diversidade<br />
dos pratos”, resume Elba.<br />
Mais recentemente, o ex-presidente<br />
Lula encantou-se com o tempero nordestino<br />
da baiana Maria José de Jesus Oliveira,<br />
a popular Tia Zélia. “O que ele mais gosta<br />
é da rabada e da mousse de tamarindo,<br />
que só a Tia Zélia sabe fazer”, conta a cozinheira,<br />
sempre se referindo ao petista com<br />
carinho. “Ele me chama de véia, e eu gosto!”,<br />
revela Tia Zélia, que, ironicamente, é<br />
mais jovem do que Lula. Nas paredes do<br />
restaurante, fotos do ex-presidente demonstram<br />
a adoração da proprietária pelo<br />
célebre cliente. Também são figuras fáceis<br />
no local outras estrelas petistas, como o<br />
ministro da Educação, Aluízio Mercadante,<br />
e os brasilienses Pedro Celso e Geraldo<br />
Magela, entre outros.<br />
do poder<br />
A simplicidade do Feitiço da Vila, onde faz sucesso o bacalhau de Méa Araújo, convive muito bem<br />
com o requinte do recém-inaugurado Figueira da Vila, que tem chef chileno e parrillero uruguaio.<br />
sérgio amaral<br />
Gui Teixeira<br />
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10<br />
água na boca<br />
Com sua simpatia contagiante, Tia Zélia<br />
resume sua cozinha: “Meu povo gosta<br />
de carne, eu faço comida para homem, para<br />
comer e sair feliz”. Funcionando apenas<br />
de segunda a sexta-feira no almoço,<br />
Tia Zélia serve diariamente três tipos de<br />
carnes e diversos acompanhamentos. O<br />
prato predileto de Lula é servido às quintas-feiras,<br />
dia em que também tem carne<br />
de sol, outro sucesso do restaurante. Às<br />
sextas, as estrelas são a feijoada e o pernil<br />
de panela.<br />
Devota de Nossa Senhora da Conceição,<br />
Tia Zélia promove, todos os anos, em<br />
dezembro, o “almoço 0800”, em que a<br />
clientela só paga pelas bebidas consumidas,<br />
“mas se deixar comida no prato, paga<br />
R$ 100, porque não pode ter desperdício”.<br />
Como o dia dedicado à santa, 8 de<br />
dezembro, neste ano cai num sábado, ela<br />
decidiu que a homenagem será no dia 5. É<br />
bom agendar e chegar cedo, porque para<br />
esse dia não há reserva de mesa.<br />
Entre os restaurantes tradicionais do<br />
bairro também encontramos a cozinha<br />
nordestina da piauiense Dona Graça, cuja<br />
especialidade é a carne de sol, servida diariamente.<br />
Mas a clientela também elogia o<br />
carneiro ao molho de coco e o capote (galinha<br />
d’angola). A casa abre só no almoço,<br />
de segunda a sexta-feira. Do Piauí para<br />
o Ceará, Benjamim Soares de Oliveira, o<br />
tchê garoto<br />
avenida belém-brasília, lote 1, rabelo<br />
(3081.8858). de 2ª a 6ª, das 12 às 21h.<br />
o gaúcho da vila<br />
rua 4, lote 12, tamboril (3879.0019).<br />
diariamente, das 11h30 às 16h<br />
Figueira da vila<br />
rua 20, lote 2, dFl (3081.0541).<br />
diariamente, das 11 à 1h.<br />
vila brasas<br />
avenida do contorno, casa 1, rabelo<br />
(3306-1006). de 2ª a 5ª e aos sábados das<br />
11h30 às 16h.<br />
esquina gourmet<br />
rua 1, lote 1, dFl (3081.0404). de 3ª a<br />
domingo, das 11h30 às 16h<br />
vila sushi<br />
avenida JK, lote 2, loja 1. avenida JK, rua<br />
2, lote. de 3ª a domingo, das 12 às 16h e<br />
das 19 às 23h.<br />
A admiração de Tia Zélia por seu cliente mais famoso está estampada nas paredes do restaurante.<br />
Seu Beija, também é pioneiro no bairro.<br />
No Restaurante do Beija ele serve delícias<br />
da terra natal com um tempero bem<br />
caseiro e pratos fartos.<br />
Numa cidade formada por brasileiros<br />
vindos de todas as regiões, os restau-<br />
Feitiço da vila<br />
rua 5, lote 2, dFl (3306.1115).<br />
de 2ª a 6ª, das 11h30 às 15h30; sábado e<br />
domingo, das 12h às 16h30.<br />
casarão<br />
rua da igreja, 3, dFl (3327.1108). diariamente,<br />
das 11 às 15h.<br />
tia Zélia<br />
rua maranhã, 8, casa 8, pacheco Fernandes<br />
(3306.1526). de 2ª a 6ª, das 11h30 às 16h.<br />
dona graça<br />
rua 7, casa 156, pacheco Fernandes<br />
(3032.1062). de 2ª a 6ª, das 12 às 15h.<br />
Fogão de pedra<br />
rua da praça, lote 14, rabelo (3306-1934).<br />
diariamente das 11h30 às 15h.<br />
restaurante do beija<br />
rua 9, casa 2, pacheco Fernandes (3306.2881).<br />
de 2ª a 6ª, das 11h às 14h30 e das <strong>18</strong>h30 às<br />
23h; sábado, das 11h às 14h30.<br />
rantes da Vila Planalto são um reflexo do<br />
apreço e da nostalgia de antigos e novos<br />
migrantes, que desde a inauguração da<br />
nova capital buscam na gastronomia<br />
uma forma de matar as saudades da terrinha,<br />
seja ela qual for.<br />
traíra sem espinha<br />
rua 4, lote 1, dFl (3306-2596). diariamente,<br />
das 11h30 às 24h.<br />
caminho de minas ville<br />
rua 2, lote 33, dFl (3306.1977). de 3ª a<br />
domingo, das 11h30 às 15h.<br />
sertao & mar<br />
clube unidade de vizinhança, dFl (3006.3016).<br />
diariamente, das 11h às 15h30.<br />
gameleira<br />
rua emulpress, lote 1, dFl (3306.1367).<br />
diariamente, das 11h30 às 15h30.<br />
pedaço de pizza<br />
avenida israel pinheiro, lote 10, rabelo<br />
(3306.1989). de 2ª a 5ª, das 15 às 23h; de 6ª a<br />
domingo, das 16 às 24h.<br />
triângulo mineiro<br />
rua 4, casa 1, dFl (3006.2126)<br />
casa grande<br />
rua piauí, casa 20 (3306.2440)<br />
sérgio amaral
Os bons<br />
aromas do<br />
Severina<br />
por ana cristina vilela<br />
Fotos rodrigo oliveira<br />
Tentando se adaptar ao mercado de<br />
Águas Claras e ao estilo dos clientes,<br />
o restaurante Severina, instalado<br />
na cidade há mais de um ano, mudouse<br />
recentemente para outro endereço. O<br />
motivo? A demanda. Antes com 70 lugares,<br />
agora a casa, instalada no Edifício<br />
Acqua, na Avenida Castanheiras, tem capacidade<br />
para 150 pessoas. Já a carne de<br />
sol, esta continua a mesma, com um “cheiro<br />
cheiroso!”, segundo o pequeno cliente<br />
que chega acompanhado da mãe ao amplo,<br />
rústico, arejado e agradável espaço,<br />
embalado por uma discreta música ambiente<br />
– nordestina, é claro!<br />
É Marcus Linhares, sócio-proprietário<br />
do restaurante, juntamente com sua esposa,<br />
Patrícia (com ele na foto ao lado),<br />
quem explica o porquê da mudança: “Estava<br />
muito cheio e não dávamos conta de<br />
atender a clientela”. Isso porque em Águas<br />
Claras o ritmo é diferente. Por exemplo, o<br />
movimento fica mesmo para o final de semana,<br />
quando, cansadas de ir para o Plano<br />
Piloto de segunda a sexta, as pessoas<br />
preferem ficar perto de casa. Para o meio<br />
de semana, o casal teve de fazer algumas<br />
adaptações no cardápio, para atender a outro<br />
público. Os “acochadinhos”, pratos<br />
menores do que os executivos, são servidos<br />
todos os dias a R$ 19,80, enquanto<br />
na Asa Sul essa oferta é feita apenas num<br />
dia da semana.<br />
Conhecido dos brasilienses há 32<br />
anos, em seu endereço na Asa Sul, o Severina<br />
abre as portas todos os dias para o<br />
almoço e nenhum dia para o jantar. Foi<br />
feito o teste de abrir durante a noite em<br />
Águas Claras, mas com insucesso. O motivo,<br />
de acordo com Marcus, é o tipo de<br />
comida, considerada pesada para um<br />
jantar, quando as pessoas preferem algo<br />
mais leve. Assim, o espaço só é aberto<br />
durante a noite para eventos, que podem<br />
ser agendados a partir de 50 pessoas.<br />
De dezembro a março estão previstas<br />
duas novidades para o Severina de Águas<br />
Claras. Para dezembro, a expectativa fica<br />
para o café da manhã, com tapioca, bolos<br />
vários e iguarias nordestinas. Ainda<br />
não está definida a forma como será servido.<br />
A outra novidade, cujas obras devem<br />
estar concluídas até março de 2013,<br />
é a brinquedoteca. “O público de Águas<br />
Claras é jovem, geralmente com filhos, e<br />
muitos passam o final de semana aqui,<br />
com os pais vindo do Plano Piloto para<br />
fazer companhia aos filhos e netos.”<br />
No cardápio, entre outras opções, como<br />
o escondidinho, a já tradicional carne<br />
de sol completa (carne de sol, feijão-<br />
-de-corda, paçoca de carne, manteiga de<br />
garrafa, arroz branco, vinagrete), com macaxeira<br />
cozida (R$ 76,90), com macaxeira<br />
cozida e queijo do sertanejo (R$ 84,90),<br />
com macaxeira frita (R$ 78,90), e com<br />
macaxeira frita e queijo do sertanejo<br />
(R$ 86,90). Esses pratos são suficientes<br />
para até três pessoas. Servem-se os mesmos<br />
cardápios para duas pessoas, de<br />
R$ 53,90 a R$ 63,90. E há, ainda, os indi-<br />
viduais, de R$ 26,90 a R$ 31,90. Diariamente,<br />
são feitas entregas em domicílio.<br />
Tanto Marcus quanto Patrícia nasceram<br />
em <strong>Brasília</strong>, mas ambas as famílias<br />
são nordestinas. “Cresci em Fortaleza”,<br />
conta Marcus, que fala do segredo do preparo<br />
de uma boa carne de sol. “Tudo começa<br />
com a seleção da carne, porque não<br />
adianta pegar qualquer carne; aqui, trabalhamos<br />
com coxão mole”. O processo<br />
de preparo dura em torno de 72 horas.<br />
Durante parte desse tempo, a carne fica<br />
em salmoura. O resultado? Depois de assada,<br />
uma carne de sabor marcante e “um<br />
cheiro cheiroso!” de deixar o estômago<br />
todo animado e a boca salivando.<br />
severina<br />
edifício acqua – avenida castanheiras, 980,<br />
bloco b (3027.2767).<br />
de 2ª a 6ª, das 11h30 às 16h. sábados,<br />
domingos e feriados, das 11h30 às 17h30<br />
11
12<br />
água na boca<br />
Hora de aproveitar<br />
Festival Bar em Bar oferece, até o dia <strong>18</strong>,<br />
petiscos a R$ 10 em 22 bares da cidade.<br />
por lúcia leão<br />
Todo botequeiro é um filósofo em<br />
potencial. O relaxamento e a descontração,<br />
naturais da situação<br />
que se cria em volta de uma mesa de bar,<br />
ajudados pelo poder inebriante dos<br />
drinks e da boa companhia, embaçam<br />
um tanto o racionalismo cartesiano que<br />
comanda o cotidiano do homo sapiens e<br />
ilumina a intuição e a sensibilidade, que<br />
deixam os homens mais sábios. Daí tanta<br />
filosofia e tanta poesia a brotar nos<br />
canteiros dos botequins.<br />
Esta, como veem, é mais uma tese<br />
nascida e apregoada pelas mesas de bar.<br />
E quem contesta? Excluídos os excessos,<br />
inoportunos em qualquer situação ou local,<br />
uma noitada, uma happy hour ou<br />
um simples pit stop (para os leigos, aquela<br />
paradinha breve para recarregar a máquina<br />
com um gole gelado e um salgadi-<br />
nho, geralmente no balcão) são sinônimos<br />
de festa e confraternização.<br />
De todos os equipamentos urbanos,<br />
portanto, poucos são mais democráticos<br />
e socializantes do que o bar. Um “campo<br />
neutro”, como teria definido Stanislaw<br />
Ponte Preta, o sábio Lalau, onde prevalece<br />
a igualdade e não há hegemonia entre<br />
os convivas. As palavras de um togado e<br />
de um poeta têm o mesmo peso e seus<br />
copos a mesma medida.<br />
São essas magníficas qualidades, além,<br />
é claro, dos bons petiscos e da cerveja gelada,<br />
que a Abrasel e os principais bares de<br />
<strong>Brasília</strong> e de outras 200 cidades do Brasil<br />
celebram, até o próximo dia <strong>18</strong>, com o festival<br />
Bar em Bar 2012, cujo lema promete:<br />
“A alegria é por nossa conta”.<br />
Esta é a sexta edição do evento e conta<br />
com a adesão de 22 bares da Capital.<br />
Cada um deles preparou um petisco especial,<br />
que está sendo oferecido ao preço<br />
Filezinho grelhado sobre pão ciabatta, do Parrilla Madrid.<br />
Bruschetas de tomates frescos e secos, do Café Savana. Bolinhos feitos com paella marinera, do Oliver.<br />
promocional de R$ 10 a porção, e todos<br />
prometem se esmerar para destacar o<br />
papel e as contribuições da “instituição<br />
botequim” para a nossa sociedade. “A intenção<br />
é promover uma ação que destaque<br />
o talento, a criatividade e o jeito único<br />
dos bares de <strong>Brasília</strong>, com várias opções<br />
de petiscos especiais, favorecendo a relação<br />
dos bares com a comunidade local”,<br />
explica Rodrigo Freire, presidente da<br />
Abrasel-DF.<br />
Os restaurantes puristas que nos desculpem,<br />
mas ser reconhecido como um<br />
bom bar é fundamental. E é isso que almejam<br />
os participantes da promoção. O<br />
Mercado 153 do Terraço Shopping, por<br />
exemplo: fez nome como um bom restaurante<br />
e normalmente está lotado nos horários<br />
de refeição. Mas um dos proprietários,<br />
Daniel Araújo, quer mais. “Queremos<br />
ser vistos como um ponto de encontro,<br />
mostrar nossa face de boteco, onde
os clientes podem sentar para tomar uma<br />
gelada e degustar bons petiscos com descontração,<br />
sem a etiqueta de um restaurante”,<br />
explica o empresário. Quem aparecer<br />
por lá esses dias poderá provar, por<br />
módicos R$ 10, as iscas de salmão em<br />
massa crocante, receita desenvolvida especialmente<br />
para o evento.<br />
Motivação semelhante trouxe o Carpe<br />
Diem de volta para a promoção, depois<br />
de dois anos fora do Bar em Bar. “A<br />
gente estava se concentrando só no restaurante<br />
e perdendo um pouco a pegada<br />
de bar. A clientela de <strong>Brasília</strong> já se acostumou<br />
e fica esperando esse tipo de<br />
evento para conhecer um lugar novo,<br />
provar alguma coisa diferente. Sem participar,<br />
estávamos perdendo esse público”,<br />
revela Fernanda La Rocque. Estão na promoção<br />
as casas da 104 Sul e do Terraço<br />
Shopping, que oferecem como petisco o<br />
“quarteto fantástico”, croquetes grandes<br />
de camarão e bacalhau, bolinho de mandioca<br />
com carne de sol e quibe.<br />
Dessa crise de identidade nunca sofreram<br />
os bares do empresário Jorge Ferreira.<br />
Feitiço Mineiro, Bar do Ferreira e<br />
Bar do Mercado Municipal são, essencialmente,<br />
bons botecos, embora competentes<br />
restaurantes. Parceiro de primeira hora<br />
da Abrasel no Bar em Bar, Ferreira destaca<br />
o papel da promoção no fortaleci-<br />
Iscas de peixe à doré, do Enchendo Linguiça.<br />
Bolinhos de carne com fondue de cerveja, do Agripina.<br />
mento do setor, na renovação dos cardápios<br />
e na melhoria do padrão de serviços:<br />
“É uma oportunidade para os bares da cidade<br />
se revigorarem, aprimorarem seus<br />
serviços, atraírem novos clientes e se fortalecerem<br />
como irradiadores de alegria<br />
para a cidade. Nós aproveitamos também<br />
para desenvolver e testar novas receitas<br />
que depois são agregadas ao cardápio permanente.<br />
Como aconteceu com o Veveco,<br />
um ragu de costela com hora-pro-nobis,<br />
criado para a promoção de 2009 e até hoje<br />
um dos grandes sucessos do Feitiço Mineiro”.<br />
Este ano, o Bar do Ferreira oferece a<br />
“coxa creme do Ferreira”, coxa de frango<br />
recheada com creme de queijo e ervas e<br />
servida com molho de chope.<br />
Testar a aceitação de um novo petisco<br />
também é a principal expectativa de<br />
Guto Nicolazzi, gestor do Primeiro Cozinha<br />
de Bar, de Águas Claras. Inaugurando<br />
sua participação no evento, oferece<br />
pastéis de panela crocantes, recheados<br />
com fraldinha desfiada. “Também esperamos<br />
atrair a atenção de novos clientes<br />
e contribuir para o fortalecimento do setor<br />
com um todo”, prevê Nicolazzi.<br />
Veja ao lado a relação completa dos<br />
bares participantes, com a descrição dos<br />
petiscos que estarão servindo, até o dia<br />
<strong>18</strong>, ao preço de R$ 10. E prepare-se para a<br />
maratona.<br />
Pastéis de massa fina com molho picante, do Duetto<br />
Espeto de lombo suíno grelhado, do Bier Haus.<br />
Fotos: Divulgação<br />
agripina bistrô (102 norte)<br />
bolinhos de carne com fondue de cerveja<br />
pale ale e queijo emmental.<br />
alfredos pizzaria (408 norte)<br />
porção de bolinhas de pizza cobertas<br />
com mussarela, pepperoni levemente<br />
apimentado e azeitona.<br />
bar bottarga (Qi 5 do lago sul)<br />
Queijo coalho grelhado com pesto de<br />
tomates secos e saladinha verde.<br />
bar do Ferreira (pier 21)<br />
coxa de frango recheada com creme de<br />
queijo e ervas, acompanhada de molho<br />
à base de chope brahma.<br />
bar do Ferreira (shopping Quê! de<br />
águas claras)<br />
tartare de filé marinado servido com torradas.<br />
bar do mercado municipal (509 sul)<br />
pão de queijo recheado com creme de<br />
pernil e linguiça.<br />
beirute norte (107 norte)<br />
coalhada seca temperada com zattar,<br />
azeite extra virgem e azeitonas pretas,<br />
acompanhada de torradinhas de pão sírio.<br />
bierfass lago (pontão do lago sul)<br />
porção de quibes servida com geleia de<br />
pimenta.<br />
bier hauss (402 sul)<br />
espeto de lombo suíno grelhado intercalado<br />
com cebola, acompanhado de farofa de<br />
frutas cristalizadas.<br />
café savana (116 norte)<br />
bruschetas de tomates frescos e secos,<br />
manjericão fresco e mussarela, temperadas<br />
com azeite, aceto balsâmico e orégano.<br />
carpe diem (104 sul) e carpe diem<br />
la cuccina (terraço shopping)<br />
Quarteto fantástico: porção de salgados<br />
grandes contendo croquetes de carne e<br />
bacalhau, bolinho de aipim com recheio<br />
de charque e catupiry e quibe.<br />
duetto (pier 21)<br />
dez pastéis de massa fina, recheados<br />
de mussarela temperada com orégano<br />
e servidos com molho picante.<br />
enchendo lingüiça (centro de<br />
lazer beira lago)<br />
iscas de peixe branco à doré acompanhadas<br />
de molho tártaro.<br />
godofredo (408 norte)<br />
trio de linguiças artesanais sobre cama de<br />
cebola gourmet, acompanhado de pãezinhos.<br />
lunna (deck norte)<br />
cubos de contra-filé empanados com farinha<br />
especial ao molho de sonha e com especiarias.<br />
mercado 153 (terraço shopping)<br />
rolinho em massa crocante, recheado<br />
com cream cheese, abacaxi e salmão<br />
servido com geleia de frutas vermelhas.<br />
mosaico grill (311 sul)<br />
bolinho de ossobuco com tempero<br />
especial, recheado com queijo provolone.<br />
oliver (clube de golfe)<br />
bolinhos feitos com paella marinheira.<br />
parrilla madrid (508 sul)<br />
Filezinho grelhado sobre pão ciabata<br />
com alioli, patata palha, ovo de codorna<br />
estrelado e azeite trufado.<br />
primeiro cozinha de bar (one mall<br />
de águas claras)<br />
porção com quatro pastéis de massa<br />
crocante recheados com fraldinha<br />
definhada na cocção em panela de ferro.<br />
vila madá (deck norte)<br />
pernil suíno assado e puxado na chapa<br />
com cebola, servido com mandioca cozida.<br />
13
14<br />
água na boca<br />
O morador de rua<br />
por vicente sá<br />
que virou tapioca<br />
A<br />
mais forte contribuição dos indígenas<br />
à culinária nacional, a mandioca<br />
é a base de uma iguaria que<br />
sempre foi apreciada no Nordeste brasileiro<br />
e nos últimos anos conquistou todo o<br />
país. Deixou de ser uma comidinha simples<br />
para sofisticar-se e agradar aos paladares<br />
mais exigentes. Estamos falando da tapioca,<br />
comida feita à base da fécula da<br />
mandioca que, ao se espalhar em uma<br />
chapa quente, coagula-se e vira um tipo de<br />
panqueca ou crepe seco. Do início da colonização<br />
brasileira até a metade do século<br />
passado, esse era o pão do nordestino,<br />
apreciado basicamente com manteiga ou<br />
queijo, em sua versão salgada, ou com coco,<br />
quando doce.<br />
Hoje, a comida ganhou incontáveis variações,<br />
com dezenas de recheios diferentes,<br />
e se transformou em “especialidade”<br />
de casas espalhadas por todo o Brasil. Em<br />
algumas, é tratada com requintes que a<br />
elevam à categoria gourmet, como é o caso<br />
da Tapiocaria Raízes do Sertão, do empresário<br />
Durley Soares da Silva. São mais de<br />
100 sabores de tapioca, desde a mais simples,<br />
apenas com manteiga do sertão, às<br />
recheadas com camarão, salmão, baca-<br />
Fotos: Divulgação<br />
lhau, atum, tilápia e uma vasta combinação<br />
de queijos e purês.<br />
A tapioca tornou-se uma paixão para<br />
Durley Soares ainda em 2009, quando<br />
ele era gerente de uma casa de massas que<br />
funcionava na 311 Norte, ao lado de uma<br />
tapiocaria. Mas a história desse hoje empresário<br />
de sucesso merece ser melhor<br />
contada. Durley é goiano de Iraciara e<br />
chegou a <strong>Brasília</strong> em 1987, aos sete anos<br />
de idade. Filho de uma família numerosa<br />
e com o pai sofrendo de um problema na<br />
coluna que o impedia de trabalhar, lutou<br />
desde cedo para ajudar no sustento da casa.<br />
Morando em Planaltina com os onze<br />
irmãos, descia todos os dias para trabalhar<br />
no Plano Piloto. Foi nessas incursões<br />
que aprendeu a gostar de livros. “Eu<br />
lia tudo o que encontrava, sem ligar para<br />
assunto ou gênero. Eu achava muito livro<br />
jogado no lixo. Depois fui lendo os oferecido<br />
pelo Luiz Amorim, do T-Bone, esses<br />
que ficam nos pontos de ônibus. Cheguei<br />
a ler mais de 300 livros em seis meses”,<br />
orgulha-se Durley.<br />
O amor pelos livros mudaria sua vida<br />
e o ajudaria a fugir do rumo fácil das drogas<br />
ou da bebida quando, por questões<br />
emocionais, largou a família, aos 17 anos,<br />
e tornou-se morador de rua. “Eu dormia<br />
pela Asa Norte, frequentava os pequenos<br />
restaurantes, onde trabalhava por comida,<br />
lavando pratos ou limpando o lixo.<br />
Nunca aceitei comida de graça”, lembra.<br />
Depois de um ano, ele voltou ao convívio<br />
da família e logo depois casou-se. Fez cursos<br />
no Senac enquanto trabalhava na Escola<br />
de Música de <strong>Brasília</strong> como técnico<br />
mecanógrafo, e nas horas de folga vendia<br />
sorvetes aos alunos e professores. Conheceu<br />
e criou laços de amizade com boa parte<br />
dos músicos da cidade que ali lecionavam,<br />
entre eles o violonista Jaime Ernest<br />
Dias, Maria Barros e o próprio diretor da<br />
escola à época, Carlos Galvão.<br />
Depois de fazer o curso de garçom,<br />
também no Senac, foi trabalhar numa ca
sa de massas, onde começou com o pé direito:<br />
um dia depois de assinarem sua carteira<br />
de trabalho, foi promovido a gerente.<br />
Com mais dinheiro no bolso, e na cabeça<br />
a ambição de progredir, começou a pensar<br />
em abrir seu próprio negócio. “Foi aí<br />
que eu conheci a tapioca e minha vida<br />
mudou”. Em 2010 ele arrendou a tapiocaria<br />
vizinha à casa de massas, mas o negócio<br />
não tinha registro e foi fechado pela<br />
fiscalização, impondo a perda do todo o<br />
tempo e dinheiro investido pelo novo<br />
empresário. Mas ficaram o sonho e a determinação<br />
de ser dono de uma tapiocaria.<br />
Sozinho, Darley planejou e colocou<br />
no papel seu novo negócio: montou o<br />
cardápio de mais de 100 itens, criou a logomarca<br />
e desenvolveu as diretrizes do estabelecimento.<br />
É aqui que ele agradece<br />
aos livros. “Eles me tiraram o medo de<br />
aprender e ensinaram que o fundamental<br />
na vida é o conhecimento. Com ele você<br />
pode tudo”, afirma, convicto.<br />
Com a ajuda do amigo Diego Valadares,<br />
em abril de 2011 o ex-morador de rua<br />
realizou seu grande sonho e tornou-se empresário,<br />
dono da tapiocaria Raízes do Sertão,<br />
na 309 Norte. Suas receitas encantaram<br />
os clientes e o local logo passou a ser<br />
frequentado por chefs, donos de restau-<br />
rantes, jornalistas e artistas, entre um sem<br />
números de clientes cada vez mais fiéis.<br />
Rapidamente virou sinônimo de sucesso.<br />
Por se considerar um nacionalista,<br />
Durley não usa nenhum produto importado<br />
em sua empresa e explica que o nome<br />
Raízes do Sertão é uma homenagem a<br />
seus antepassados e à culinária nacional.<br />
As folhagens utilizadas pelo Raízes são hidropônicas<br />
e 97% de seus produtos não<br />
contêm glúten. A tapiocaria também oferece<br />
tapiocas especiais para celíacos, intolerantes<br />
a lactose e a glúten, além de excelentes<br />
opções para vegetarianos.<br />
Entre as diretrizes traçadas por Durley<br />
no planejamento inicial já estava a de oferecer<br />
franquia de sua marca. E é o que ele<br />
já começou a fazer. A segunda Tapiocaria<br />
Raízes do Sertão, na 216 Sul, tem algumas<br />
diferenças em relação à da Asa Norte. Ela<br />
funciona todos os dias em horário integral,<br />
das dez de manhã à meia noite, e recebe<br />
os clientes em três pavimentos, com sala<br />
vip, brinquedoteca, banheiros com acessibilidade<br />
e wi-fi. Os preços são os mesmos<br />
da matriz e as tapiocas mais pedidas,<br />
assim como lá, são a de carne de sol, queijo<br />
coalho e banana (R$ 14,90), a de purê<br />
de mandioca, queijo coalho e carne seca<br />
(R$ 17,90) e a de carne de sol, rapadura,<br />
Fotos: Divulgação<br />
queijo coalho e banana (R$ 17,50). Entre<br />
as tapiocas gourmets, as que mais se destacam<br />
são a de salmão, alho poró e manjericão<br />
(R$ 26,90), a de salmão, mussarela<br />
de búfala, alcaparras e rúcula (R$ 28,90) e<br />
a de bacalhau, camarão, purê de mandioca,<br />
champignon e rúcula (R$ 29,90). Para<br />
aplacar a sede, sucos naturais, refrigerantes,<br />
cervejas long neck, caipirinhas, café e<br />
chocolate. A combinação fica por conta do<br />
recheio escolhido.<br />
tapiocaria raízes do sertão<br />
309 norte – bloco e (3037.9433).<br />
diariamente, das 16h às 24h.<br />
216 sul – bloco b (3037-9433).<br />
diariamente, das 10 às 24h.<br />
15
16<br />
água na boca<br />
Melhor do que parece<br />
por lúcia leão<br />
Fotos rodrigo oliveira<br />
Quando uma coisa não é o que<br />
parece, relaxe. Pode ser melhor!<br />
O que lhe parece um restaurante<br />
com o nome de SumôMed? Um japonês<br />
regado a azeite? Confesso que pensei<br />
nisso. Mas é claro que não. É muito melhor!<br />
É o novo restaurante de comida internacional<br />
que está literalmente movimentando<br />
o Liberty Mall.<br />
Alavancado numa surpreendente sequência<br />
de camarões – são 12 pratos preparados<br />
com o nobre crustáceo e servidos<br />
à fartura em sistema de rodízio – e em receitas<br />
tradicionalíssimas, como o bacalhau<br />
ao forno e o filé à parmegiana, o restaurante,<br />
há dois meses a vedete da praça de<br />
alimentação do shopping, é a primeira filial<br />
da casa aberta há dois anos na 116<br />
Sul, e se auto denomina de mediterranean<br />
food. O que se caracteriza, segundo o gerente-proprietário<br />
Enozor Souza Jr. (na foto<br />
ao lado), pelo uso e abuso de peixes e<br />
frutos do mar, pelo tempero clássico com<br />
pitadas de açafrão e, claro, pelo azeite.<br />
“Azeite extra-virgem”, destaca Júnior. “É<br />
só o que usamos na nossa cozinha. Ele é<br />
que deixa os pratos leves, que é o que mais<br />
agrada nossa clientela, formada, na maioria,<br />
por pessoas que precisam comer e voltar<br />
logo para o trabalho. Elas querem se<br />
fartar, mas de uma comida que não pese<br />
no estômago e não dê aquela famosa preguicinha<br />
da sesta”.<br />
Bem, está explicado o “Med”. E “Sumô”<br />
é o nome do primeiro restaurante da<br />
família Souza, de comida japonesa, que<br />
foi a quarta casa do tipo, em <strong>Brasília</strong>, aberta<br />
em 2006, e a primeira a servir em sistema<br />
de rodízio. Quando resolveram expan-<br />
dir o negócio, o patriarca Enozor, os dois<br />
filhos, a filha e o genro – que hoje tocam<br />
uma rede de cinco estabelecimentos com
Todos os dias, os fãs<br />
de camarão podem<br />
se esbaldar com o<br />
rodízio (R$ 36,90),<br />
que inclui 11 pratos<br />
feitos com o ingrediente.<br />
O crustáceo<br />
aparece ao mel, com<br />
lulas e nas receitas de<br />
massas e risotos. No<br />
cardápio fixo, a paella<br />
med combina camarão,<br />
lagosta, lula<br />
e tomate pelado<br />
(R$ 142, para quatro<br />
pessoas). De sobremesa,<br />
o tentation é uma<br />
taça de crème brûllée<br />
com suspiro, morango<br />
e chantilly (R$ 14,50,<br />
para três pessoas).<br />
Entre as bebidas, o<br />
vinho branco chileno<br />
Equus Chardonnay<br />
2009, a R$ 110.<br />
a ajuda de filhos, sobrinhos e primos em<br />
todos os cargos-chave – constataram que o<br />
modismo plantara, em poucos anos, mais<br />
de 15 restaurantes japoneses na cidade,<br />
sem contar com as temakerias que se espalharam<br />
por praticamente todas as quadras<br />
comerciais do Plano Piloto. Não havia<br />
clientela para tanto. “Optamos pela cozinha<br />
mediterrânea porque é mais eclética e<br />
tem o mesmo padrão saudável”.<br />
O SumôMed foi uma criação coletiva<br />
de uma família não de chefs ou restaurateurs,<br />
mas de pragmáticos e bem sucedidos<br />
comerciantes. Júnior, por exemplo,<br />
já teve lojas de calçados, roupas e bijouterias,<br />
e ainda hoje não deixa de “dar uma<br />
passadinha” na Rua 25 de Março quando<br />
vai a São Paulo comprar matérias-primas<br />
para o Sumô. “Quando vou à Liberdade,<br />
sempre dou um passeio por ali, pra ver o<br />
que tem de novidade, de oportunidade de<br />
negócios... tenho saudade das minhas lojas”,<br />
confessa o paulista da minúscula Ma-<br />
racaí, no noroeste do Estado, onde cresceu<br />
no meio do compra e vende do pai e<br />
em torno da mesa farta em que se reunia<br />
a família. “Os restaurantes surgiram na<br />
nossa vida como uma boa oportunidade<br />
de negócio. E negócio, para ser bom, tem<br />
que ser bem feito e agradar o cliente”.<br />
Simples assim! Sem nenhuma invenção<br />
– ou melhor, há uma única, o camarão<br />
ao molho de mel criado pela irmã e também<br />
sócia e gerente Enozomara – mas<br />
usando bons ingredientes, repetindo com<br />
competência receitas consagradas e servindo<br />
com eficiência e fartura (além do rodízio<br />
de camarões, que satisfaz mesmo os<br />
mais insaciáveis, todos os pratos servem<br />
bem no mínimo duas pessoas), os Souza<br />
Tavares (este o sobrenome do genro, que<br />
tanto entrou para a família como para o<br />
negócio) já ocupam praticamente metade<br />
da praça de alimentação do Liberty Mall e<br />
estão sendo saudados pelos demais comerciantes<br />
por ajudar a revitalizar o shopping.<br />
Junto ao SumôMed, com capacidade para<br />
atender a 300 clientes em vários ambientes,<br />
alguns com vista panorâmica para a<br />
Esplanada, a numerosa família acaba de<br />
abrir uma confeitaria, a BabeteSumô, e finaliza<br />
as obras de uma filial do japonês Sumô<br />
(aquele que deu origem a tudo).<br />
Com o sangue de comerciante que<br />
lhe corre nas veias – ele parece em tudo<br />
libanês, mas não é; descende de alemães!<br />
– Júnior já traçou um rumo para onde<br />
avançar no novo negócio: as salas de cinema.<br />
Não para comprar, mas para fazer<br />
parcerias, quem sabe de vendas casadas,<br />
programas de desconto ou fidelidade... Tipo<br />
“almoce um rodízio de camarões, veja<br />
um filme de curta ou média metragem e<br />
volte para o trabalho feliz da vida”.<br />
Simples assim! Quem não quer?<br />
sumômed<br />
liberty mall, 1º piso (3797.9440)<br />
de 2ª a 6ª, das 12 às 15h e das 19 às 23h;<br />
sábado, das 12 às 15h e das 19 às 24h;<br />
domingo, das 12 às 15h30.<br />
17
<strong>18</strong><br />
picadinho<br />
baco stg<br />
Gil Guimarães anda rindo à toa. E não<br />
é para menos. sua pizzaria acaba de<br />
conquistar o selo specialità Tradizionale<br />
Garantita (sTG), conferido pela<br />
associazione Verace pizza napoletana.<br />
É a primeira pizzaria de <strong>Brasília</strong> e a<br />
terceira do Brasil, ao lado das paulistanas<br />
speranza e Braz, a cumprir todas as<br />
exigências – e não são poucas – para a<br />
fabricação da verdadeira pizza napolitana,<br />
Divulgação<br />
que tem dois sabores tradicionais:<br />
marinara, com molho de tomate,<br />
orégano e alho, e margherita, com<br />
mussarela, molho de tomate, parmesão<br />
e manjericão. as regras da aVpn,<br />
que precisam ser seguidas à risca, vão<br />
desde a escolha dos ingredientes até a<br />
temperatura do forno. no preparo da<br />
massa utiliza-se a farinha 00 italiana,<br />
água e apenas 3% de fermento fresco.<br />
o tomate deve ser, de preferência, o san<br />
Marzano; a mussarela, de búfala ou de<br />
vaca sTG; o azeite, extra virgem italiano.<br />
Por fim, o forno precisa estar a 485º,<br />
de forma que a pizza seja assada em<br />
no máximo 90 segundos. “o resultado<br />
é uma pizza leve, elástica, macia e ao<br />
mesmo tempo sutilmente crocante, com<br />
sabor inconfundível”, garante Gil. por<br />
enquanto, a verace pizza napoletana é<br />
servida na Baco (309 norte e 408 sul)<br />
somente às quintas e sextas-feiras, a<br />
partir das <strong>18</strong> horas.<br />
Jantar light<br />
Após o sucesso alcançado nas filiais de<br />
salvador, Manaus e campinas, chega a<br />
<strong>Brasília</strong> o menu ligth do Barbacoa para o<br />
Rafael Wainberg<br />
jantar. na verdade, são os mesmos pratos<br />
do cardápio normal, mas em versões mais<br />
leves, com no máximo 250 gramas. As<br />
opções mais recomendadas pelo próprio<br />
restaurante são o salmão grelhado com<br />
molho de maracujá, a truta com amêndoas,<br />
o filé mignon grelhado ao molho poivre,<br />
a tirita (um corte especial de picanha, de<br />
230 gramas), a fraldinha e a picanha baby<br />
de cordeiro (ambas com 250 gramas). O<br />
preço é o mesmo para todos os pratos:<br />
R$ 46,90, com direito a uma guarnição<br />
e acesso livre ao bufê de saladas.
istrô maior<br />
o tamanho aumentou, mas continua<br />
bistrô, anuncia o nossa cozinha Bistrô,<br />
da 402 norte. um ano depois de abrir as<br />
portas, o salão foi reformado e dobrou de<br />
tamanho. o cardápio continua pequeno<br />
e as opções de almoço mudam todos os<br />
dias. para o jantar, o cardápio é semanal.<br />
Cinco pratos principais continuam fixos,<br />
incluindo a especialidade da casa: a<br />
costelinha de porco ao molho barbecue<br />
com batatas assadas (R$ 27,50).<br />
petiscaria rander<br />
a partir da implosão do Hotel das<br />
nações, um ano atrás, a Rander,<br />
especializada em ranicultura e piscicultura<br />
de cultivo, passou a procurar um novo<br />
local onde se instalar. o local escolhido<br />
foi a loja 41 do Bloco B da 104 sul, onde,<br />
em ambiente aberto, com capacidade<br />
para 38 pessoas, voltou a servir seus<br />
petiscos à base de rã e tilápia, de segunda<br />
a sexta-feira, das 16 às 21h30. um dos<br />
preferidos da clientela é essa ao alho<br />
e azeite da foto abaixo, à esquerda.<br />
spedini<br />
com 16 unidades em são paulo, santa<br />
catarina, paraná e Rio Grande do sul, a<br />
spedini Trattoria Expressa, especializada<br />
em culinária italiana, acaba de chegar<br />
a <strong>Brasília</strong> – mais precisamente, ao<br />
Taguatinga shopping. outras duas<br />
unidades serão abertas em pontos<br />
comerciais ainda não escolhidos.<br />
o investimento nas três lojas é superior<br />
a R$ 1 milhão, devendo gerar 40 postos<br />
de trabalho.<br />
sorvetes artesanais<br />
Essa é a especialidade da marca Mil<br />
Frutas, que também inaugurou<br />
recentemente sua primeira unidade<br />
brasiliense. Fundada há 20 anos no Rio de<br />
Janeiro e com nove lojas, sendo duas em<br />
são paulo, a sorveteria com 70 sabores<br />
de sorvetes sem corantes ou conservantes<br />
acaba de se instalar num quiosque do<br />
primeiro piso do parkshopping. Trazida<br />
pelos empresários Henrique Romano e<br />
suzy Reis, tem entre os carros-chefes o<br />
elogiadíssimo goiabada com queijo. E já<br />
anuncia para dezembro, época natalina,<br />
os sabores rabanada e panetone.<br />
Fotos: Divulgação<br />
19
20<br />
LuIz RECENA GRASSI<br />
lrecena@hotmail.com Bahia,<br />
prezado editor,<br />
GARFADAS & GOLES<br />
do tempo pretérito<br />
assim: missiva, com a carta do tempo passado, coisa antiga, volto ao nosso convívio epistolar, iniciado em tempo pretérito,<br />
quando contei pela vez primeira ao casal Teresa-adriano Lopes de oliveira a arte bem mexicana, dos jornalistas, de enganar<br />
“El Malo”, a censura, com cartas ao editor. a revista era “siempre”. os missivistas, amigos e até patrocinadores da revista,<br />
escreviam uma carta ao editor e, nela, destilavam o ódio de viver num México dominado por um “partido Revolucionário<br />
Institucional”. Revolucionário e institucional. Tudo ao mesmo tempo? pois é, nem mesmo quando a dialética foi domada pelos<br />
filósofos alemães tal situação foi prevista. Editores queridos: amá-los é a melhor parte. E como nem só de Garfadas & Goles vive a<br />
coluna, é tempo para um pouquinho de política. A Bahia, em lua cheia, elegeu ACM25Neto, o que não quer dizer nada, nada que<br />
caetano Veloso, o “oráculo do abaeté”, não tenha dito: “o menino neto é o melhor”. E foi. E bem ganhou, sem deixar dúvidas.<br />
Entre os perdedores, destaque para a sandice da senadora Lídice, que culpou o povo por não saber escolher; e o outro destaque,<br />
desta vez do bem, para o governador Jaques Wagner, que, na mesma noite da vitória de neto, sinalizou que, juntos, começariam<br />
logo a defender salvador, a cidade esquecida. uma cidade, aliás, que foi governada (e mal, muito mal) pela própria Lídice.<br />
volta a memória<br />
Bom que seja assim. Não tem sido fácil para este colunista<br />
ouvir, quatro anos já, a repetida frase “no tempo de ACM<br />
avô nada disso acontecia”. Podia até acontecer, mas, contam<br />
os baianos que não vivem em condomínios que só têm<br />
andares de cima, alguém, alguma autoridade reclamava.<br />
É esta a memória boa que está de volta. Esperemos que<br />
para o bem.<br />
memória de volta<br />
É bom, também, porque o prefeito eleito e o governador gostam<br />
da cidade, frequentam-na. Não fogem dela para irem à feira.<br />
Por isso, volta a nossa gastronomia à coluna que lhe é de<br />
propriedade. Voltarão os incentivos para que a cidade e seus<br />
quitutes brilhem outra vez. Ora pro nobis. Rogai por nossos<br />
estômagos, Nossa Senhora dos bons comeres.<br />
Final<br />
Os orixás, que sabiam antecipadamente do resultado das<br />
urnas, determinaram, e o governador cumpriu: o acarajé<br />
e a baiana do acarajé já são patrimônio imaterial do Estado.<br />
Sonissíme Du Abranchés, pesquisadora emérita da cultura<br />
do Recôncavo, esteve na solenidade e, logo após, celulou com<br />
exclusivité para a revista <strong>Roteiro</strong>: “Magnifique! O acarrajé<br />
é finalmente reconhecido. Brraavo!!”. Ela sabe das coisas.<br />
Filho pródigo<br />
Novembro, oito. Oito de novembro de 2012 é data para ficar<br />
nas histórias: de <strong>Brasília</strong>, da pizza na cidade, da nossa <strong>Roteiro</strong><br />
e, principalmente, da história de vida de Gil Guimarães.<br />
Nesse dia ele ganhou o certificado internacional da “Vera<br />
Pizza Napolitana”. A única em <strong>Brasília</strong>, uma das raras no país.<br />
Ele merece. A gente também.
ALEXANDRE FRANCO<br />
pao&vinho@agenciaalo.com.br Divina<br />
PÃO & VINHO<br />
diversidade<br />
normalmente, quando uma pessoa aprecia um<br />
determinado tipo de bebida, como cerveja, whisky ou<br />
vodka, costuma eleger sua marca preferida e permanecer<br />
consumindo-a a maior parte do tempo. com o vinho a<br />
tendência é quase que a oposta, pois a diversidade de<br />
castas, de produtores, de regiões, de safras, de tantas<br />
variáveis, enfim, é tão grande que o enófilo sabe,<br />
percebe, mesmo que intuitivamente, que deve sempre<br />
experimentar novos rótulos, pois tem a certeza de que vai<br />
encontrar sempre algo diferente, que eventualmente lhe<br />
será ainda melhor do que aquele seu preferido até então.<br />
E é com esse pensamento, ou intuição, que, embora<br />
preserve um ou outro rótulo no meu consumo usual,<br />
acabo sempre que posso optando por experimentar,<br />
desde os mais básicos até os mais sofisticados rótulos,<br />
e tenho tido muitas surpresas nessa jornada vínica, a<br />
maioria delas muito boas. a possibilidade de, ao "virar<br />
uma esquina”, descobrir uma nova estrela, ainda mais<br />
brilhante, é talvez o que acho de melhor no mundo do<br />
vinho.<br />
Recentemente fui "ofuscado" por dois exemplares,<br />
um branco e um tinto, dos quais não me esquecerei<br />
tão cedo, pois foram gratas surpresas. o primeiro deles,<br />
o branco, foi um chardonnay americano da Beckstoffer<br />
Vineyards, o Littauer, safra 2008, da região de carneros,<br />
com nada menos que 14,9% de álcool, o que em<br />
princípio não me agradaria, mas que neste caso,<br />
totalmente equilibrado, muito bem trabalhado<br />
em carvalho, provavelmente tendo passado pela<br />
fermentação malolática, apresentou-se com os dois lados<br />
da chardonnay, um frutado com abacaxi e ao mesmo<br />
tempo a baunilha, o caramelo e a manteiga. Muito<br />
redondo e sedoso em boca e, apesar da baixa acidez,<br />
incrivelmente gastronômico. Excelente, dos melhores<br />
brancos que já degustei.<br />
Já o tinto, ah... que sonho! simplesmente o melhor<br />
vinho que já provei até hoje. a prova viva de que os<br />
melhores vinhos ficam ainda melhores com a idade, pois<br />
trata-se de um chateau D’Issan, um Grand cru classé<br />
de Margaux da safra de 1981, nada menos que 31<br />
anos de garrafa. ao sacar a rolha, tive um momento de<br />
preocupação, pois ela já se mostrava umedecida quase que<br />
por inteiro. Mas, ao aproximar a taça do nariz, as dúvidas<br />
sumiram e eu sabia que o casamento seria meu destino.<br />
amor à primeira vista. paixão arrebatadora. Tudo que de<br />
melhor se pode esperar de um vinho. os aromas abriram<br />
com chocolate e evoluíram para geleia de frutas negras e<br />
cassis. Depois veio algo de húmus, toque de terra, de<br />
tabaco, trufas. Havia para todo gosto. se durasse mais a<br />
garrafa, pois acabou-se com facilidade, seriam infindáveis<br />
os aromas a serem percebidos.<br />
a cor elegantemente acastanhada, o corpo ideal,<br />
extremamente elegante, com a sensualidade de um<br />
Borgonha e a estrutura de um Bordeaux. o retrogosto,<br />
notável, trouxe de volta o cassis, as frutas negras<br />
confitadas, o toque de chocolate, algo da baunilha e<br />
mesmo um quê de violetas. Infindável na persistência.<br />
sem dúvida, se eu o pontuasse receberia nota 100/100,<br />
mas para mim ele está muito além de uma pontuação, é<br />
simplesmente a essência da imaginação vínica. se tiverem<br />
a chance de degustá-lo, embora creio que não será fácil<br />
encontrar a safra, que adquiri em paris muitos anos atrás,<br />
não percam a oportunidade. se Baco de fato existiu,<br />
deixou parte de sua alma nessas garrafas.<br />
21
22<br />
CLÁuDIO FERREIRA<br />
claudioferreira_64@hotmail.com A<br />
DOIS ESPRESSOS E A CONTA<br />
hora da “dolorosa”<br />
Depois de uma refeição farta ou de um período regado<br />
a bebida e petiscos, chega ela. os mais antigos ainda a<br />
chamam de “dolorosa”. pois é, a conta, seja no pé-sujo,<br />
seja no restaurante mais luxuoso, em geral marca o<br />
final da farra: é como cantar os parabéns em festa de<br />
aniversário de criança. por mais que o dono da festa<br />
insista, depois de soprar as velinhas, é hora de ir embora.<br />
no bar, a última esperança é a saideira.<br />
como pedir a conta sem ser mal-educado? É sempre<br />
um dilema. Em alguns restaurantes, é tarefa difícil fazer<br />
o garçom olhar para o cliente. Em outros, o atendimento<br />
é bate-e-pronto. Do inocente “psiu” ao gesto imitando<br />
uma caneta em um bloquinho, vale tudo para chamar<br />
a atenção dos atendentes.<br />
Há os clientes mais discretos, mas há os que fazem a<br />
mímica acompanhada de uma frase do tipo “a continha,<br />
por favor” ou “fecha pra gente”. Já disse uma dessas<br />
papisas da etiqueta que chique, mesmo, é estirar o braço<br />
pra cima e esperar que o garçom venha até a mesa.<br />
Mas, em alguns casos, o braço esticado pode sofrer...<br />
Quando a conta chega, a luta começa. primeiro,<br />
porque em alguns lugares ela ainda é manuscrita e as<br />
caligrafias nem sempre parecem familiares. Quanto maior<br />
a noitada, mais longa é a conta e mais difícil a conferência.<br />
se a mesa está cheia, o trabalho dobra. Já as contas<br />
impressas são mais organizadas.<br />
um drama é a divisão da conta. se todo mundo sai na<br />
mesma hora, o trabalho é decidir se a repartição vai ser<br />
individual, calculando-se o consumo de cada um ou por<br />
igual, independente do que se comeu ou bebeu. aí, quem<br />
só tomou refrigerante olha desconfiado para quem ficou<br />
na cerveja, ou o cara que pediu o prato de camarão quer<br />
socializar o custo – o benefício ficou só para ele.<br />
pior é fazer a divisão quando alguns já foram embora.<br />
Dependendo do teor alcoólico – não acredito em má-fé<br />
entre amigos – o cálculo sai errado e o que se deixa para<br />
contribuir com a conta total, em dinheiro ou cheque, é<br />
muito menos do que se consumiu. O prejuízo fica para os<br />
últimos. E nas comemorações, fica justamente para quem<br />
é o homenageado da festa.<br />
sonho com o dia em que as contas já virão divididas,<br />
como em outros países. o garçom abre contas separadas<br />
e cada um paga a sua no final, sem drama. Melhor do<br />
que ficar vigiando os risquinhos que os garçons fazem<br />
na comanda para ver se os chopes da conta correspondem<br />
à “sensação” de quem bebeu.<br />
algumas contas impressas já vêm com a divisão por<br />
pessoa. Mas há alguns inconvenientes. a gente nunca sabe<br />
se o cálculo incluiu ou não os 10 por cento. se não incluiu,<br />
toca a fazer conta de novo. Às vezes, a conta é dividida por<br />
menos gente do que está na mesa e a brincadeira é descobrir<br />
quem não foi considerado “pessoa” pelo sistema eletrônico.<br />
um ingrediente extra e recente para aumentar a<br />
confusão é a nota Legal. a maioria dos estabelecimentos<br />
só aceita um cpF por conta. De quem é a vez? Tira no<br />
palitinho. só que nem sempre a mesma turma sai junta<br />
e o revezamento fica difícil de cumprir. Uma dica: bom<br />
senso, para não perder a amizade e a companhia na<br />
próxima saída. o mesmo bom senso de quem precisar<br />
pedir dinheiro emprestado para “inteirar” o pagamento<br />
da conta – na noitada imediata, dinheiro trocado para<br />
devolver ao legítimo dono, por favor.
24<br />
Divulgação<br />
Divulgação<br />
dia & noite<br />
devoltaàbelleépoque<br />
O harmônio, um instrumento inventado em Paris em <strong>18</strong>40, está de volta às salas de<br />
concerto. Há muito esquecido, essa espécie de órgão tem sido resgatada por músicos<br />
que promovem uma desenfreada busca a esses tesouros escondidos da história da<br />
música. Um deles vive em <strong>Brasília</strong> e se chama Dib Francis, pianista que vai tocar o<br />
harmônio pela primeira vez no Brasil. Acompanhado da pianista Alda Mattos, ele<br />
se apresenta dia 23 na Casa Thomas Jefferson (606 Norte). No repertório, obras<br />
originais para harmônio que eram tocadas nos grandes salões de Paris, Viena e Berlim.<br />
Inventado por A. Debain, o instrumento teve seu apogeu em 1900 e entrou em declínio<br />
em 1930. Fascinados por sua sonoridade, grandes compositores como Franck, Liszt,<br />
Karg-Elert, Widor, Schoenberg e Webern criaram peças para esse instrumento.<br />
Os músicos Dib Franciss e Alda de Mattos prometem uma viagem inesquecível<br />
ao som de um raro Shoninger Grand Cymbella fabricado em <strong>18</strong>84 e totalmente<br />
restaurado nos Estados Unidos, em 2010, por Hans Herr. Às 20h, com entrada franca.<br />
violinoevioloncelo<br />
Desde 2010 o músico inglês David Gardner é violoncelista<br />
da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio<br />
Santoro. Com a violinista brasiliense Lilian Raiol forma o<br />
The Gardner Duo, que se apresenta dia 9 na Casa Thomas<br />
Jefferson (606 Norte). Para esse concerto, a proposta é<br />
apresentar um repertório moderno, pouco tocado e,<br />
portanto, pouco conhecido do público, como o Pequeno<br />
duo, de Guerra Peixe, a Sonata para violino e violoncelo, de<br />
Maurice Ravel, e Trio para violino, de Ingolf Dall. Desse<br />
último participa o clarinetista convidado Marcos Cohen. Às 21h, com entrada franca.<br />
perfisdegonzaga<br />
Xangai e Marcelo Jeneci fazem show para<br />
homenagear Luiz Gonzaga no ano em que ele<br />
completaria 100 anos. É o projeto Perfis de<br />
Gonzaga, que a Caixa Cultural apresenta<br />
propondo uma releitura das músicas do Rei do<br />
Baião. Os artistas foram escolhidos por<br />
representarem a integração que Luiz Gonzaga<br />
fazia entre visões distintas: Xangai há muito se<br />
estabeleceu como um dos principais<br />
“cantadores” de nossa tradição popular e Marcelo<br />
Jeneci, como representante da nova geração da MPB, ilustra bem como a permanência<br />
do legado de Gonzagão transcende fronteiras e rótulos musicais. Dias 10 e 11, na Caixa<br />
Cultural. Sábado, às 20h, e domingo, às 19h. Ingressos a R$20 e R$ 10.<br />
toquinhoepauloricardo<br />
Em julho essa dupla lançou um CD para homenagear o poetinha Vinícius<br />
de Moraes. No repertório, entre outros sucessos, Toquinho e Paulo Ricardo<br />
escolheram Chega de saudade, Eu sei que vou te amar, Se todos fossem iguais<br />
a você, Garota de Ipanema, Insensatez e Água de beber. A feliz união do talento<br />
do violonista, compositor e intérprete da bossa nova com o do roqueiro, baixista<br />
e vocalista do RPM pode agora ser vista pelo brasiliense no show intimista que<br />
farão dia 21, às 21h, no Unique Palace. Ingressos a partir de R$120. Informações:<br />
9293.7002 / 9252.0234.<br />
Divulgação<br />
caminosflamencos<br />
Esse é o nome do espetáculo que será<br />
apresentado na Sala Martins Penna<br />
nos dias 24 e 25. Tem a participação de<br />
70 alunas, alunos e professoras da<br />
Oficina Flamenca, e não ficará restrito<br />
ao ritmo nascido na Andaluzia, situada<br />
no sul da Espanha. Vai mostrar também<br />
um pouco de tribal fusion, dança<br />
do ventre e dança cigana. Fruto do<br />
convívio entre andaluzes, árabes,<br />
judeus e ciganos, o flamenco, como<br />
disse a bailaora Sara Baras, “não entende<br />
de fronteiras e nem de línguas,<br />
pois ele vai diretamente ao coração”.<br />
Às 20h, com ingressos a R$ 30 e R$ 15<br />
(para estudantes e quem levar um quilo<br />
de alimento não perecível a ser doado<br />
para uma instituição beneficente).<br />
Divulgação<br />
nicolau El-moor
Romildo souza<br />
fábricadesucessos<br />
Em 52 anos de existência, a gravadora norte-americana Motown lançou<br />
estrelas do quilate de Marvin Gaye, Stevie Wonder, Jackson 5 e The<br />
Supremes. Famosa por abrigar artistas negros e não censurar críticas<br />
sociais ou políticas, a gravadora de Michigan virou um musical cuja<br />
montagem brasileira estará na cidade entre entre os dias 7 e 9. Dirigido por<br />
Cláudio Figueira, o espetáculo O som da Motown foi indicado ao Prêmio<br />
Contigo de Teatro, na categoria de melhor musical nacional em 2010, e<br />
também ao prêmio de melhor musical pelo jornal Folha de S. Paulo. Visto<br />
por mais de 60 mil espectadores, está em turnê pelo país para apresentar<br />
50 das 110 canções mais ouvidas nas décadas de 60, 70 e 80, todas lançadas<br />
pela gravadora. No elenco, as intérpretes Simone Centurione, Ellen Wilson,<br />
Alcione Marques, Débora Pinheiro e Fabrícia Lees. Uma palhinha pode<br />
ser vista no vídeo http://www.youtube.com/watch?v=axrXK8_Ndos.<br />
feirademúsica<br />
Sábado sim, sábado não. Este mês, o CCBB recebe as duas últimas edições da<br />
Feira de Música 2012, cada uma com três atrações selecionadas para apresentações<br />
gratuitas. Dia 10 os destaques são Eduardo Rangel (foto), Andréa dos Santos e<br />
Os Dinamites. Já no dia 24, subirão ao palco os grupos Pé de Cerrado, Jenipapo e<br />
Mandrágora. Patrocinada pelo FAC (Fundo de Apoio à Cultura), a feira “constitui<br />
uma iniciativa de difusão da produção musical do Distrito Federal com um caráter<br />
de respeito à diversidade de sonoridades aqui produzidas, garantida através de uma<br />
curadoria formada por profissionais oriundos de diversos segmentos, como a música<br />
instrumental, o rock, o choro, a cultura popular”, afirma Henrique Rocha, gestor<br />
do projeto. Às 16h, na área externa do CCBB, com entrada franca.<br />
amagiadofolimage<br />
Filmes de animação inéditos no Brasil, acompanhados de trilha musical tocada ao vivo. Essa é<br />
a proposta do espetáculo Bobines mélodies, que está em turnê pelo Brasil e faz apresentação<br />
única em <strong>Brasília</strong> no dia 16, às 21h, no CCBB. O espetáculo é uma criação musical do trio<br />
L’effet vapeur para o Folimage, um estúdio de filmes de animação responsável, entre outros,<br />
pelos títulos La prophétie des Grenouilles, Mia le MigouI e Une vie de chat, este último<br />
indicado ao Oscar de melhor filme de animação de 2012. Serão exibidos uma dezena de<br />
curtas, com música lúdica e poética do trio formado por Xavier Garcia (sintetizador,<br />
aparelhagem eletrônica), Jean-Paul Autin (saxofone, clarineta) e Alfred Spirli (bateria,<br />
objetos). Eles formam um dos grupos responsáveis pela Nova Música na França, integrando<br />
provocação e diversão. Às 21h, com ingressos a R$ 6 e R$ 3. Informações: 3108.7600.<br />
Rodrigo oliveira<br />
aflordocerrado<br />
Ninguém melhor do que o jornalista Silvestre Gorgulho, ex-Secretário de Cultura do DF, para<br />
relatar a saga da construção da Torre de TV Digital. Afinal, ele é um dos "pais" do monumento<br />
mais visitado da cidade. Em edição luxuosa de 240 páginas, Silvestre conta, com minúcia de<br />
detalhes, toda a história do último projeto do arquiteto Oscar Niemeyer para <strong>Brasília</strong>. Prefaciado<br />
por Maria Estela Kubitschek Lopes, filha de JK, o livro, ricamente ilustrado, documenta todas<br />
as etapas da construção da Torre de TV Digital e homenageia os 741 operários que trabalharam<br />
na obra, nomeando-os por ordem alfabética. À venda na Livraria do Aeroporto JK, Livraria<br />
Cultura do CasaPark e Iguatemi, Livraria Dom Quixote do Aeroporto, Centro Comercial<br />
Gilberto Salomão, Nova Rodoviária, CCBB e Águas Claras Shopping, Livraria Briquet do Setor<br />
de Rádio e TV Sul e www.folhadomeio.com.br.<br />
Isabelle neri<br />
Divulgação<br />
25
26<br />
dia & noite<br />
serpaisagem<br />
Esse é o nome da exposição que até 26 apresenta trabalhos dos artistas Chico<br />
Amaral, Gê Orthof, Karina Dias e Regina de Paula, todos abordando a relação<br />
entre a paisagem e o sujeito. Chico Amaral sugere, por meio de fotografias,<br />
vídeo e instalação, o lugar de encontro entre o sujeito e o mundo como a<br />
construção de um jogo entre o eu e o outro (foto). Com o auxílio da escultura<br />
e da ilustração, Gê Orthof utiliza o papel para compor aquarelas e apresentar<br />
objetos industrializados de pequenos formatos. Já Karina Dias investiga a<br />
experiência da paisagem no cotidiano, realçando detalhes corriqueiros que se<br />
tornariam invisíveis aos nossos olhos por serem vistos continuamente, enquanto Regina de Paula apresenta um tratado elementar de<br />
arquitetura que tem como núcleo um livro-objeto composto por intervenções de desenhos colados. Com curadoria de Karina Dias e<br />
Graça Ramos, a mostra pode ser vista na Galeria Fayga Ostrower, de segunda a domingo, das 9 às 21h. Entrada franca.<br />
acanoaancorada<br />
Lâmina de aço, fios de nylon,<br />
pedaços de vigas de aço e restos de<br />
fundição foram as matérias primas<br />
utilizadas pelo artista plástico<br />
Rogério Severo para criar a sua<br />
“canoa ancorada em uma margem”.<br />
A instalação Linhas e lugares à<br />
espera, contemplada com o Prêmio<br />
Funarte de Arte Contemporânea<br />
2012, pode ser vista até o dia 26 na<br />
Funarte. De acordo com o artista,<br />
seu desenho, ao ser posto em outro<br />
espaço que não a folha de papel,<br />
ganha um novo olhar. “O papel é<br />
plano, tem limites. Quando construo<br />
esse desenho em um local em que<br />
posso circundá-lo, vê-lo por outros<br />
ângulos e com dimensões, consigo<br />
enxergar através dele”, explica.<br />
Gaúcho de Uruguaiana e morador<br />
de Porto Alegre, Rogério participou<br />
da 8ª Bienal do Mercosul e recebeu<br />
o Prêmio Açorianos 2011 por esse<br />
trabalho. Dia 24, Rogério lança o<br />
catálogo da mostra, às 10h30. De<br />
segunda-feira a domingo, das 9<br />
às 21h, com entrada franca.<br />
Rogério severo<br />
Henrique Luz<br />
paisageminterior<br />
O cotidiano, as paisagens urbanas e a natureza de <strong>Brasília</strong>, Rio de Janeiro, São Paulo,<br />
Mato Grosso e Amazonas estão retratados no trabalho da espanhola Concha Gómez-<br />
Acebo, que há um ano mora no Brasil. “Represento cenas do cerrado brasileiro, vasos<br />
com flores, hotéis iluminados<br />
perdidos na escuridão e o dia a dia<br />
das pessoas”, explica a artista, cujo<br />
trabalho está exposto no Instituto<br />
Cervantes até 10 de janeiro. Na<br />
mostra A paisagem interior na obra<br />
de Concha Gómez-Acebo estão 28<br />
pinturas e um vídeo da artista nascida<br />
em Málaga e que confessa sempre ter<br />
tido admiração pelo Brasil. Por essa<br />
razão, resolveu mostrar de modo particular em suas obras tudo o que chamou a<br />
atenção em cada lugar que conhecia. “Sensibilidade, imaginação e espírito livre são<br />
sentimentos necessários para entender as pinturas”, explica Concha. De segunda a<br />
sexta-feira, das 11 às 21h; sábados, das 9 às 14h. Entrada franca.<br />
semanade22<br />
Para comemorar o 90º aniversário da Semana<br />
de Arte Moderna, o Museu Nacional dos<br />
Correios (SCS, quadra 4) apresenta a<br />
mostra Semana sísmica – Correspondências<br />
modernas, uma panorâmica com obras de<br />
artistas que participaram daquele movimento<br />
emblemático ocorrido em São Paulo no ano<br />
de 1922. Com curadoria de Wagner Barja,<br />
estão expostas no museu obras de artistas<br />
que participaram do movimento, entre eles<br />
Vicente do Rego Monteiro, Ismael Nery,<br />
Mário Zanini, Anita Malfatti, Pedro<br />
Alexandrino, Clovis Graciano, John Graz, Vitor Brecheret, Di Cavalcanti e Tarsila<br />
do Amaral, bem como de seguidores que, nas décadas seguintes, sustentaram os<br />
desdobramentos do modernismo, como Alfredo Volpi, Djanira, Rebolo, Cícero Dias<br />
(foto), Guignard, Pancetti, Aldo Bonadei e Portinari. De terça a sexta-feira, das 10<br />
às 19h; sábados, domingos e feriados, das 12 às <strong>18</strong>h. Entrada franca.<br />
Divulgação<br />
Divulgação
mais-valia<br />
Um texto do dramaturgo Oduvaldo Viana<br />
Filho, o Vianinha, foi escolhido por Ricardo<br />
Guti para encerrar a oficina de atores<br />
coordenada por ele no Espaço Mosaico.<br />
De 17 a 25, seus alunos vão encenar A mais-<br />
-valia vai acabar, seu Edgar!, espetáculo<br />
de 1960 que percorreu sindicatos, escolas,<br />
favelas e organizações de bairro para mostrar<br />
ao público a lógica da exploração capitalista. Dessa atividade surgiu o CPC-UNE, órgão<br />
cultural da União Nacional dos Estudantes, e seu “teatro revolucionário”. O autor,<br />
Vianinha (1936/1974), fez parte do Teatro de Arena, dirigido por Augusto Boal, e foi um<br />
dos fundadores do grupo Opinião. Sábado, às 21h, e domingo, às 20h, com entrada franca.<br />
Divulgação<br />
Divulgação<br />
comíciogargalhada<br />
Se for anunciado como Rodrigo Sant’anna, muita gente não vai saber quem é. Mas se for dito “trata-se<br />
daquele ator que faz a Valéria do Zorra Total”, muitos saberão. Se, ainda assim, houver quem não o<br />
identifique, é só recitar o bordão “Ai como tô bandida!” que não haverá mais dúvidas. Pela primeira vez em<br />
<strong>Brasília</strong>, Rodrigo Sant’Anna apresenta o seu Comício gargalhada, dia 11, às 19h, no Orla Clube de<br />
Engenharia. Com texto próprio e direção da também comediante Thalita Carauta – a Janete,<br />
personagem com que divide o quadro no programa da Rede Globo –, o monólogo se passa num<br />
palanque, onde personagens hilários se apresentam para defender sua plataforma política. Ingressos a<br />
R$ 80 e R$ 60, à venda no <strong>Brasília</strong> Shopping e na FNAC do ParkShopping. Informações: 3225.2877.<br />
funçãopedagógica<br />
No último dia 1º, o Centro Cultural Banco do Brasil inaugurou novo espaço dedicado<br />
à cultura. Trata-se da Galeria 3, com o projeto Espaço Entre, concebido pelo Coletivo<br />
Irmãos Guimarães. O objetivo do projeto é criar um lugar de convivência onde<br />
trocas de experiências sejam as atividades principais. “O Espaço Entre aborda uma<br />
importante função pedagógica ao aproximar criadores e pesquisadores de toda a<br />
comunidade, por meio das diversas atividades propostas. As ações contribuirão para<br />
a formação de um público participativo, além de melhor preparado e mais confortável<br />
para ver-se e atuar como co-autor das proposições contemporâneas”, afirmam os<br />
irmãos Guimarães. O público terá acesso a duas exposições, 15 encontros com<br />
discussões em torno da arte contemporânea, três colóquios, quatro demonstrações de<br />
trabalho, quatro oficinas, dois ensaios abertos do espetáculo Nada, dois ensaios abertos<br />
do videodança Nada se move e quatro ciclos de leitura – todos os eventos com entrada<br />
franca. Além disso, as apresentações do espetáculo Nada terão preços populares (R$ 6<br />
e R$ 3). Informações: www.bb.com.br/cultura.<br />
forçasvitais<br />
Uma semana dedicada ao butoh, uma<br />
dança oriental nascida no pós-guerra e<br />
que recupera as forças vitais do corpo.<br />
Para se conhecer mais essa forma de<br />
expressão na qual alma, emoções e<br />
experiências se revelam pelos gestos, o<br />
Espaço Mosaico convidou o principal<br />
representante do butoh contemporâneo,<br />
Atsushi<br />
Takenouchi,<br />
discípulo dos<br />
fundadores do<br />
estilo, Tatsumi<br />
Hijikata e Kazuo<br />
Ohno. Além de se<br />
apresentar com sua<br />
companhia Jinen<br />
Butoh, nos dias 10<br />
e 11, o dançarino,<br />
que vive desde 2002<br />
na Europa, vai<br />
ministrar um<br />
workshop sobre sua<br />
arte de 12 a 16, das<br />
19 às 22h, no<br />
mesmo espaço. No<br />
dia 17, ele e seu grupo se apresentam<br />
novamente no Parque Olhos D’Água,<br />
às 17 horas. Entrada franca.<br />
literaturadeterror<br />
O jovem Felipe descobre os prazeres da vida ao se encontrar com o misterioso Fio Vilela. Mal sabe ele<br />
que, a partir dali, começa um jogo cuja principal conquista envolve sua própria alma. Esse é o enredo<br />
de A maldição de Fio Vilela, terceiro livro do escritor Marcelo Araújo, que será lançado neste dia 8, a<br />
partir das <strong>18</strong>h30, no restaurante Carpe Diem (104 Sul). Jornalista e escritor, Marcelo Araújo publicou<br />
seu primeiro trabalho, Não abra – contos de terror, em 2009. O segundo título foi lançado em 2011 –<br />
Pedaço malpassado, dois contos que também mergulham no universo do horror. O escritor mistura<br />
em seus livros elementos da cultura popular brasileira, da literatura e de referências da cultura pop.<br />
Luiz Badula<br />
Tsukasa aoki<br />
27
28<br />
graves & agudos<br />
por heitor meneZes<br />
amável para ser amado”, dizia<br />
o poeta Ovídio. “Nada é maior “Sê<br />
do que dar amor e receber de<br />
volta o amor”, diz a letra de Nature boy,<br />
que muitos pensam ser de Nat King Cole,<br />
mas é de um estranho rapaz chamado<br />
Eden Ahbez. Pois no longo capítulo do<br />
amor, cantado em verso e prosa, podemos<br />
acrescentar: “Amar alguém só pode fazer<br />
bem”, que é como diz o refrão da canção<br />
Amar alguém (Arnaldo Antunes/Dadi/<br />
Marisa Monte), quarta faixa do CD O que<br />
você quer saber de verdade, o mais recente<br />
de Marisa Monte.<br />
A romântica Marisa, que finalmente<br />
nos visita com a turnê Verdade, uma ilusão,<br />
dias 17 e <strong>18</strong>, no Auditório Master do<br />
Centro de Convenções Ulysses Guimarães.<br />
Corações carentes, almas sem par,<br />
corações apaixonados, almas gêmeas, felizes<br />
e azarados, todos têm motivos para celebrar<br />
o amor, na voz de quem entende<br />
um bocado de tão perseguida quanto intangível<br />
arte.<br />
Isso: ouvir Marisa Monte significa se<br />
render à singeleza da arte amorosa em for-<br />
David Guetta<br />
ma de canção. Sua obra mais recente<br />
acrescenta um punhado de novos versos<br />
ao mais caro dos temas humanos. “A música<br />
é um convite ao silêncio necessário<br />
para se escutar as necessidades da alma”,<br />
explica a cantora/compositora, que completa<br />
25 anos de vitoriosa carreira, sempre<br />
entregando ao público artigos de altíssima<br />
e indiscutível qualidade.<br />
Pois neste Verdade, uma ilusão, Marisa<br />
Monte e o seleto grupo de músicos que a<br />
acompanha complementam, com apresentação<br />
ao vivo e em cores, o pacote que<br />
inclui o disco, o interativo website e, num<br />
futuro não tão distante, o DVD/Blue-ray,<br />
com o registro, para ver e guardar, do<br />
atual estado de coisas por que passa a carioca<br />
Marisa de Azevedo Monte.<br />
Com seu mais recente trabalho, ela<br />
aproveita para reprisar a parceria de tanto<br />
sucesso com os tribalistas Arnaldo Antunes<br />
e Carlinhos Brown. Pelo menos nove<br />
das 14 faixas do álbum levam a assinatura<br />
dos amigos, que parecem entender como<br />
poucos as “necessidades da alma”, como<br />
apregoa a artista.<br />
Ouvindo O que você quer saber... percebe-se<br />
que as vicissitudes do amor preci-<br />
Há quem goste de música eletrônica justamente porque ela é feita de sons sintéticos e levam<br />
o ouvinte a atraentes paisagens artificiais, uma viagem na qual os alemães do Kraftwerk ou do<br />
Tangerine Dream, por exemplo, são mestres. por outro lado, temos os que preferem o baticum<br />
mesmo, os que têm na música eletrônica o passaporte para o hedonismo, a curtição que precisa<br />
de uma trilha sonora condizente com o tamanho da esbórnia.<br />
os que se encaixam no segundo quesito têm uma ótima chance de cair na gandaia (ainda existe<br />
essa expressão?) com o mega show do não menos mega DJ francês David Guetta, na quartafeira,<br />
14, véspera do feriado de proclamação da República. o estacionamento do Estádio nacional<br />
Mané Garrincha promete ficar pequeno, pois Guetta, a exemplo do britânico Fatboy Slim,<br />
costuma atrair multidões. Ele tem um punhado de hits, muitos construídos em parceria com<br />
artistas de fama, tipo David Bowie (!!!), Black Eyed peas, akon, usher e chris Willis. Ibiza é aqui?<br />
Divulgação<br />
Amor em<br />
forma de<br />
canção<br />
sam de atenção redobrada, pois os amantes,<br />
não obstante o estado de torpor e encantamento,<br />
necessitam de constante<br />
orientação; caso contrário, estarão fadados<br />
ao infortúnio de uma vida solitária, ó<br />
vida, ó azar.<br />
Há quem veja O que você quer saber...<br />
como um manual do amor venturoso. O<br />
recado começa com a faixa homônima, do<br />
trio Marisa/Brown/Antunes: “Ouve a<br />
terra respirar/ Pelas portas e janelas das<br />
casas/ Atenção para escutar/ O que você<br />
quer saber de verdade”.<br />
Apesar de bacana, pule o amor que se<br />
lamenta: “Quero que você seja feliz/ Hei<br />
de ser feliz também” (Depois, de Marisa/<br />
Brown/Antunes). Ouça com atenção Ainda<br />
bem (Marisa/Antunes), aquela do clip<br />
com o fortão Anderson Silva: “Você que<br />
me faz feliz/ você que me faz cantar assim”.<br />
E não esqueça o recado de Seja feliz<br />
(Dadi/Marisa/Antunes): “Tão largo o<br />
céu/ Tão largo o mar/ Tão curta a vida/<br />
Curta a vida”.<br />
O amor, segundo Marisa Monte, não é<br />
só “amor, I love you”. É o amor que se explica<br />
como nos versos de Verdade, uma ilusão<br />
(Brown/Antunes/Marisa): “Eu posso<br />
te fazer ouvir/ Milhões de sinos ao redor/<br />
Eu posso te fazer canções/ O amor soa em<br />
minha voz”. Ah, o amor.<br />
verdade, uma ilusão<br />
show de marisa monte dias 17/11 (sábado),<br />
às 21h30, e <strong>18</strong>/11 (domingo), às 19h, no<br />
auditório master do centro de convenções<br />
ulysses guimarães. ingressos (valores de<br />
meia entrada): vip gold, r$ 250; gold lateral,<br />
r$ 200; setor a, r$ 200; setor b, r$ 150;<br />
e superior, r$ 120 (à venda na central de<br />
ingressos do brasília shopping, Fnac do<br />
parkshopping e www.ingressorapido.com.br.
Aquarela Carioca<br />
por heitor meneZes<br />
Aforismo atribuído a Louis Armstrong<br />
diz que não há resposta para<br />
qual seria a definição de jazz.<br />
Pouco importa. Desde que Miles Davis<br />
subverteu a ordem e por diversas vezes levou<br />
o jazz a lugares nunca antes imaginados,<br />
o estilo musical metamorfoseou-se<br />
em muitas cores e manteve como essência<br />
apenas a síncope e o gosto pelo improviso.<br />
Quanto à essência afro-americana,<br />
bem, a essência afro-americana continua<br />
mãe de toda boa música, mas o que<br />
dizer do jazz escandinavo ou das influências<br />
orientais?<br />
Fiquemos com a boa música. O jazz<br />
made in Brasil ou o Brazilian jazz, como já<br />
foi chamado, continua firme e forte; tem<br />
lá seu público cativo e se hoje não arrebenta<br />
a boca do balão é porque o entretenimento<br />
de massa sobrepujou a arte<br />
feita na medida. Em outras palavras, o<br />
André Mehmari<br />
Fotos: Divulgação<br />
entretenimento self-service é mais forte<br />
que o à la carte, só que este, por servir<br />
iguarias finas, não é para qualquer um.<br />
Sem mais delongas, fiquemos com a<br />
papa fina que será servida no projeto Isso<br />
é jazz?, em cartaz entre os dias 12 e 15 no<br />
renovado Teatro da Caixa, sempre às 8<br />
da noite. Em ação, nossos melhores músicos<br />
de jazz, daqueles que são sempre<br />
bem-vindos porque tocam uma música<br />
que fala direto ao coração.<br />
Na segunda-feira, 12, o Mauro Senise<br />
Quarteto abre a programação. Para muitos,<br />
Senise é o responsável pelo incrível e<br />
inesquecível solo em Palhaço, de Egberto<br />
Gismonti, mas o saxofonista é muito<br />
mais. Seu sopro acompanhou gigantes<br />
como Hermeto Pascoal, o próprio Gismonti,<br />
Caetano Veloso, Wagner Tiso,<br />
Gilberto Gil, Luiz Eça, entre tantos.<br />
Lembram do Cama de Gato? Senise foi<br />
um dos fundadores do combo. Em sua<br />
companhia teremos Gabriel Geszti (piano),<br />
Rodrigo Villa (contrabaixo) e Ricardo<br />
Costa (bateria).<br />
Na terça-feira, 13, sobe ao palco o<br />
Victor Biglione Trio. O mais brasileiro<br />
dos guitarristas argentinos tem um currículo<br />
sensacional. Victor Biglione já foi<br />
do grupo A Cor do Som; gravou dois discos<br />
com Andy Summers, guitarra da banda<br />
The Police, e até tocou com ele de graça<br />
na praça de alimentação do Conjunto<br />
Nacional. Gravou com muita gente legal,<br />
tipo Cássia Eller, Zé Renato e Jane<br />
Duboc. O cara tem uns discos solos meio<br />
difíceis de achar. Na companhia de Alex<br />
Papa fina<br />
Rocha (contrabaixos elétrico e acústico)<br />
e Victor Bertrami (bateria e percussão),<br />
Biglione traz à cena o feeling jazz com as<br />
cores dos sons da grande MPB.<br />
Quarta-feira, 14, é a vez do grupo<br />
Aquarela Carioca, que os de boa memória<br />
lembram por ter tocado com Ney Matogrosso,<br />
no disco As aparências enganam<br />
(1993). Formado por Lui Coimbra (violoncelo),<br />
Marcos Suzano (percussão, bateria<br />
e programações), Mário Sève (saxofones<br />
e flautas), Paulo Brandão (baixos e<br />
sonoplastias) e Paulo Muylaert (guitarras<br />
e violões), o Aquarela vai mostrar repertório<br />
com ênfase no mais recente álbum,<br />
Mundo da rua (2008).<br />
E no feriado de quinta-feira, 15, o<br />
pianista nascido em Niterói André Mehmari<br />
encerra o projeto lembrando que<br />
este país é também pátria de incríveis domadores<br />
de piano. Quando se fala em inventividade,<br />
capacidade de improviso e<br />
erudição nesse requintado e completíssimo<br />
instrumento, Mehmari é visto como<br />
um sopro de ar fresco, capaz de renovar<br />
nosso interesse pelo piano solo. Dizem<br />
que o rapaz já deveria ter ido embora,<br />
pois aqui a música instrumental não é valorizada.<br />
Aproveitemos enquanto esse talento<br />
ainda está por aqui.<br />
isso é jazz?<br />
de 12 a 15/11, às 20h, no teatro da caixa<br />
(setor bancário sul). ingressos: r$ 20 e r$ 10<br />
(meia entrada para estudantes, professores,<br />
empregados e clientes da caixa, pessoas<br />
acima de 60 anos e doadores de 1 kg de<br />
alimento não perecível). classificação etária:<br />
14 anos. mais informações: 3206.9448.<br />
29
30<br />
Que EspETácuLo<br />
Rei David: um herói fabricado?<br />
Produção dramático-musical escrita por Marcus Mota e dirigida<br />
por Hugo Rodas dá novo formato à história do mito bíblico.<br />
por melissa luZ<br />
Em outubro, milhões de brasileiros<br />
foram às urnas para escolher prefeitos<br />
e vereadores. Candidatos de<br />
todas as estirpes pipocaram pelos municípios,<br />
dos mais sérios aos mais avacalhados;<br />
dos bem-intencionados aos oportunistas.<br />
Largos sorrisos, apertos de mão e<br />
abraços emolduraram pelas ruas infindáveis<br />
promessas de campanha. À primeira<br />
vista, muitos pareciam perfeitos. Mas<br />
agora, finda a eleição, será que o voto do<br />
povo foi bem direcionado? Como diferenciar<br />
um bom candidato de um personagem<br />
fabricado?<br />
Na Universidade de <strong>Brasília</strong>, um espetáculo<br />
dramático-musical desconstrói a<br />
história de um mítico rei bíblico para debater<br />
a construção de heróis e líderes carismáticos.<br />
Rei David, em cartaz no Anfiteatro<br />
9 de 28 de novembro a 2 de dezembro,<br />
parte das pesquisas do arqueólogo Israel<br />
Finkelstein para desmontar a versão de<br />
que David foi um herói puro das massas.<br />
“O espetáculo não é nem sobre o David<br />
que se ensina nas igrejas e na televisão,<br />
muito menos sobre um anti-David,<br />
um libelo gratuito contra a figura bíblica.<br />
O personagem principal é o coro, o povo.<br />
O povo que cria heróis, mas que também<br />
pode se afastar deles”, esclarece o<br />
dramaturgo Marcus Mota, diretor do<br />
LADI, Laboratório de Dramaturgia e<br />
Imaginação Dramática da Universidade<br />
de <strong>Brasília</strong>, responsável pela montagem,<br />
que tem patrocínio do FAC e integra as<br />
comemorações pelos 50 anos da UnB.<br />
Cinquenta atores/intérpretes e uma<br />
big band comandada por Ademir Júnior<br />
contam a história de um David anônimo,<br />
um “zé-ninguém” que cai nas graças<br />
do povo. O foco da montagem está em<br />
mostrar como a História gira em torno<br />
da imaginação popular. Imaginação essa<br />
que pode ser criativa e, ao mesmo tempo,<br />
liberadora e escrava de seus medos e<br />
esperanças. A direção de Hugo Rodas<br />
quebrou a estrutura clássica de musicais,<br />
com divisão de atos e cenas, canções co-<br />
rais e árias, para dar lugar à relação entre<br />
os heróis e o povo em diversas épocas,<br />
principalmente hoje.<br />
“O nosso musical é um pouco atípico.<br />
Além do protagonista não cantar, o<br />
centro de orientação não são as canções-<br />
-solo, mas os números coletivos. As músicas<br />
na montagem funcionam como negociação<br />
com a memória, e não como<br />
ilustração da cena, sobretudo, depois<br />
dos arranjos de Marcelo Dalla, que deram<br />
um toque cinematográfico ao trabalho”,<br />
explica Marcus, autor dos textos e<br />
das músicas. A dobradinha com Hugo<br />
Rodas acontece pela sexta vez: “Uma das<br />
vantagens de se trabalhar com o Hugo é<br />
a sua musicalidade, sua ciência coreográfica<br />
de materializar em movimento aquilo<br />
que é palavra e nota musical. Sem contar<br />
que ele está cada vez mais divertido!”.<br />
rei david<br />
de 28/11 a 2/12 no anfiteatro 9 da<br />
universidade de brasília. sessões às 19 e 21h,<br />
com entrada franca. classificação indicativa:<br />
14 anos. informações: 9214.4861/8119.9443<br />
clara Braga
A magia do circo<br />
Pela primeira vez no Brasil, o Kukli se apresenta em <strong>Brasília</strong> no dia 15<br />
O<br />
que o armênio Zhora Oganisyan<br />
consegue fazer no picadeiro é de provocar<br />
inveja até no craque Neymar.<br />
Equilibrando-se sobre uma imensa bola de futebol,<br />
ele anda pelo palco e ainda por cima faz<br />
malabarismos com outras três, essas de tamanho<br />
oficial. Só vendo, mesmo, para crer.<br />
Ele e outros 39 artistas russos e ucranianos<br />
fazem parte do Kukli Theatral Circo, trupe<br />
que está em turnê pelo Brasil e apresenta na<br />
cidade um só espetáculo repleto de equilíbrio,<br />
contorcionismo, ilusionismo, força e humor.<br />
Entre os destaques da companhia que<br />
chega ao Ginásio Nilson Nelson está também<br />
Valentim Urse, mais conhecido como Homem<br />
Mola, que já viajou o mundo divertindo<br />
crianças e adultos com suas performances de<br />
um grande boneco sem cabeça cujos braços<br />
viram pernas e cujas pernas viram braços sucessivamente.<br />
Sem contar os ciclistas acrobatas,<br />
que usam imensas câmeras de ar para pular<br />
a mais de cinco metros de altura, e o Duo<br />
Arni, casal de ilusionistas muito afinado que<br />
consegue trocar de roupa mais de dez vezes<br />
em poucos minutos.<br />
Outro ilusionista, o espanhol não à toa<br />
chamado Raúl Alegria, é conhecido por fazer<br />
surgir uma chama de fogo de cada um dos dez<br />
dedos de sua mão, além de trazer os clássicos<br />
pombos e lenços que tanto encantam as crianças,<br />
enquanto o Duet Konfuz arranca gargalhadas<br />
do público tocando instrumentos e sapateando<br />
com pernas de pau.<br />
Entre os malabaristas, destaque para Gumenyuk<br />
Volodymyr, que, com movimento de<br />
danças e acrobacias com bolas, é uma das<br />
principais atrações do Circo Bolshoi de Moscou,<br />
e Alyona Pavlova, capaz de voar sobre o<br />
picadeiro presa por um pé só apoiado a um<br />
grande bambolê.<br />
A apresentação única começa às 19h do<br />
feriado de 15 de novembro, no Ginásio Nilson<br />
Nelson, e tem ingressos à venda no <strong>Brasília</strong><br />
Shopping. Os mais baratos, na arquibancada,<br />
custam R$ 30 a meia. As cadeiras numeradas<br />
saem por R$ 60 a meia e o camarote<br />
R$ 120 a meia. As reservas podem ser feitas<br />
pelo telefone 9135.4445.<br />
Fotos: Divulgação<br />
31
32<br />
terceiro sEToR<br />
Circo pedagógico<br />
Projeto oferece a crianças carentes de Taguatinga e do<br />
Paranoá aulas gratuitas que unem o lúdico e o físico.<br />
por melissa luZ<br />
Sair do plano das ideias e partir para<br />
a ação. Uma ação concreta, capaz<br />
de gerar bons resultados a quem<br />
faz, a quem acompanha e, sobretudo, a<br />
quem recebe. Com essa filosofia, um grupo<br />
de artistas de <strong>Brasília</strong> fundou, em junho<br />
de 2008, a Ascetur, Associação Cultural,<br />
Esportiva e Turística, cujos projetos<br />
sociais buscam trabalhar a formação holística<br />
do ser humano. É o caso do Circo<br />
Social, programa educacional que desde<br />
abril atende gratuitamente crianças e adolescentes<br />
no Paranoá e em Taguatinga.<br />
Apesar de trazer no nome o templo do<br />
picadeiro, o projeto vai além das atividades<br />
circenses. Ao longo de dez meses, ou<br />
seja, até dezembro deste ano, os alunos do<br />
Centro Social Formar, de Taguatinga, e<br />
do Centro de Ensino Fundamental 3, do<br />
Paranoá, vêm tendo aulas de seis modalidades<br />
diferentes: malabares, teatro cômico,<br />
capoeira, dança acrobática (hip hop),<br />
acrobacia aérea e história em quadrinhos.<br />
Os participantes têm entre seis e 14 anos,<br />
divididos em turmas de até 15 alunos.<br />
As instituições beneficiadas foram escolhidas<br />
a partir de uma consulta da presidente<br />
da Ascetur, Ana Sofia Lamas, ao<br />
banco de dados da Rede Solidária Anjos<br />
do Amanhã, programa de voluntariado<br />
da 1ª Vara da Infância e da Juventude.<br />
“Sempre que temos um projeto, procuro<br />
instituições sérias no cadastro do Anjos.<br />
Depois, vou aos locais, vejo o espaço físico<br />
e avalio que tipo de atividade se encaixa<br />
lá”, detalha Ana Sofia.<br />
Essa é a terceira vez que o Centro Social<br />
Formar recebe a programação do Circo<br />
Social. Nas duas primeiras edições, por<br />
iniciativa individual de Ana Sofia. Assim,<br />
a edição deste ano é a primeira da Ascetur<br />
como entidade instituída, detentora de<br />
CNPJ e com nome registrado (leia quadro<br />
na página ao lado). Mas não é apenas a<br />
parceria com o Formar que se repete agora.<br />
Ana Sofia fez questão de convidar os<br />
mesmos profissionais que a acompanham<br />
há três anos. O grupo, escolhido a dedo, é<br />
formado pelos professores Ilson Pereira<br />
(capoeira), Henrique Siqueira (história<br />
em quadrinhos), Sandra Kelly (hip hop),<br />
Tallyta Torres (acrobacia aérea), Guilher-
me Alves (teatro cômico) e Miguel Estill<br />
(malabares). Emanuel Santana é o coordenador<br />
no Paranoá e Raphael Balduzzi em<br />
Taguatinga. A atriz, bailarina e coreógrafa<br />
Lívia Bennet faz a coordenação geral do<br />
projeto. Todos os envolvidos integram<br />
grupos artísticos do DF, como Ana Sofia,<br />
que, além de lecionar acrobacia aérea no<br />
Colégio Setor Leste, é integrante da Trupe<br />
dos Argonautas, que mistura em seus trabalhos<br />
circo, teatro, dança e música.<br />
Assim como o corpo docente, as disciplinas<br />
oferecidas pelo Circo Social também<br />
foram escolhidas criteriosamente.<br />
A ideia é que as seis atividades unam o lúdico<br />
e o físico na tarefa de despertar, estimular<br />
e desenvolver em cada participante<br />
a consciência do seu papel como um ente<br />
social. O teatro, por exemplo, trabalha o<br />
saber se colocar, o falar de frente para o<br />
outro, além de descontrair com o lado cômico.<br />
Já a capoeira exige do aluno disciplina<br />
e enfrentamento do medo, ao mesmo<br />
tempo em que ensina o contexto histórico<br />
da luta e noções práticas da música. A<br />
acrobacia aérea ensina às crianças e adolescentes<br />
o poder da superação. Coordenação<br />
e paciência são os grandes benefícios<br />
que os alunos de malabares apreendem<br />
das aulas. O hip hop, além de ensinar<br />
ritmo, métrica e rima, valoriza a cultura<br />
nascida e frutificada nos subúrbios.<br />
A aula de história em quadrinhos é<br />
uma capítulo à parte. De acordo com Ana<br />
Sofia, a disciplina tem sido uma grata surpresa<br />
para todos: “A história em quadrinhos<br />
foi um achado. A quantidade de meninos<br />
talentosos é algo impressionante.<br />
Eles já dominam técnicas como perspectiva<br />
e planos de fundo. Às vezes eu vejo uns<br />
desenhos e não acredito que foram eles<br />
que fizeram”.<br />
Este ano, o Circo Social conquistou o<br />
patrocínio do FAC, Fundo de Apoio à<br />
Cultura do GDF. Isso possibilita o pagamento<br />
de cachê para os professores e coordenadores<br />
sem qualquer custo para os alunos<br />
e instituições. Ano que vem, a busca<br />
por financiamento recomeça. “Todo edital<br />
é uma torcida!”, desabafa Ana Sofia,<br />
confessando, entretanto, que o pro cesso à<br />
frente da organização tem sido um desafio<br />
interessante: “Eu estou aprendendo a cada<br />
projeto. Cada nova etapa é um aprendizado.<br />
Já errei, já aprendi com o erro e<br />
não errei de novo. Eu acho que isso faz<br />
parte do crescimento, como tudo em nossa<br />
vida. E eu vejo isso super positivamente.<br />
Estou aberta para aprender e eu gosto”.<br />
Em busca de parceiros<br />
segundo o dito popular, “a ocasião faz o ladrão”. Talvez essa seja uma boa expressão<br />
para explicar a criação da ascetur, associação cultural, Esportiva e Turística. Instigados<br />
e motivados a realizar projetos sociais em comunidades carentes, artistas do DF decidiram<br />
se unir em 2008 em forma de associação. a institucionalização foi naturalmente necessária<br />
para que o grupo pudesse participar de editais. “agora, com cnpJ, podemos pleitear<br />
patrocínio sem pedir nome emprestado de ninguém”, explica a presidente Ana Sofia.<br />
Em junho deste ano, a ascetur deu mais um passo e se tornou oscip, organização da<br />
sociedade civil de Interesse público. atualmente, 12 pessoas compõem o quadro da<br />
organização, além dos profissionais envolvidos no projeto Circo Social. Apesar do número<br />
relativamente alto de integrantes, a associação ainda batalha para manter um quadro fixo.<br />
a falta de um patrocínio inviabiliza o pagamento de funcionários (como pró-labore) ou<br />
a manutenção de uma sede.<br />
Mas Ana Sofia garante que essas adversidades não tiram o empenho de continuar a busca<br />
por parceiros ou financiamentos. “O que me motiva é saber que o trabalho dá resultado.<br />
O Circo Social, por exemplo, beneficia tanto crianças e adolescentes como toda a equipe<br />
envolvida. Eu já ouvi testemunho de amigo de professor dizendo que ele mudou depois<br />
que começou a dar aula no projeto. Quando eu ouço isso, fico feliz, porque é o que venho<br />
procurando para a minha vida. não tem preço. por isso, quero continuar, e a equipe também<br />
quer continuar!”.<br />
os interessados em colaborar podem obter mais informações no site www.ascetur.com.br.<br />
Fotos: Divulgação<br />
33
34<br />
educação aRTísTIca<br />
Um espaço<br />
por cláudio Ferreira<br />
Fotos rodrigo oliveira<br />
Depois de duas temporadas – 15<br />
anos no total – estudando e trabalhando<br />
com música nos Estados<br />
Unidos, um maestro resolveu trazer<br />
para a terra natal uma experiência que<br />
tinha dado certo em Columbia, cidade<br />
de 80 mil habitantes do Estado do Missouri.<br />
Apostou mais uma vez no lado empreendedor<br />
e inaugurou, no final da Asa<br />
Norte, o ECAI, Espaço Cultural Alexandre<br />
Innecco, que, agora em novembro,<br />
está completando um ano de atividades.<br />
A proposta de movimentar um local pequeno<br />
com palestras sobre música clássica<br />
e popular, abrindo espaço também para<br />
outras manifestações artísticas, como<br />
artes plásticas e literatura, tem atraído cada<br />
vez mais um público interessado em<br />
trocar informações sobre arte e cultura.<br />
para todas as artes<br />
Da experiência anterior, nos EUA,<br />
Alexandre aprendeu algumas lições. A primeira,<br />
a falta de contato entre a universidade<br />
e a comunidade, que fez com que, lá,<br />
ele ampliasse o escopo de seu empreendimento,<br />
que levou à população palestras,<br />
por exemplo, sobre a co-<br />
reógrafa Isadora Duncan<br />
e o cinema da América<br />
Latina. Aqui, a mesma<br />
ponte já começou a ser<br />
feita: uma vez por mês, a<br />
professora de Ciência<br />
Política da UnB Paola<br />
Ramos utiliza o ECAI<br />
para um projeto de Extensão,<br />
com foco na Filosofia,<br />
que já abordou autores<br />
como Nietzsche e<br />
Maquiavel. A segunda lição<br />
foi investir menos<br />
em infraestrutura e mais<br />
“<strong>Brasília</strong> precisava de um<br />
lugar não só para ouvir<br />
boa música, mas também<br />
para ouvir sobre a boa<br />
música. o EcaI veio suprir<br />
essa necessidade de<br />
conhecimento que temos e<br />
que por vezes não sabemos<br />
como encontrar. por mais<br />
que você já conheça uma<br />
obra, o alexandre sempre<br />
contribui com algo mais. E<br />
sempre com bom humor.”<br />
Fernando sávio de sousa,<br />
servidor público.<br />
na parte artística do espaço cultural.<br />
O prato principal do cardápio ainda<br />
é a música. Neste primeiro ano de vida,<br />
o ECAI já promoveu palestras sobre<br />
compositores clássicos, sobre a história<br />
da MPB e sobre os instrumentos musicais<br />
de uma orquestra, entre ou-<br />
tras. Para comemorar o aniversário,<br />
volta o ciclo sobre<br />
história da música erudita,<br />
abordando os períodos da<br />
Renascença, Barroco, Clássico,<br />
Romântico e Moderno,<br />
e começa uma nova rodada<br />
de palestras, desta vez<br />
sobre ópera, com a história<br />
do gênero, os grandes nomes<br />
e o vocabulário específico<br />
utilizado nas produções.<br />
“A ideia é ter sempre<br />
um módulo novo e outros<br />
antigos”, avisa Innecco.
Ele diz que o principal desafio das palestras<br />
musicais – sempre ministradas por<br />
ele próprio – é fazer uma análise diferente<br />
do assunto. É aí que entram as ferramentas<br />
adquiridas com a formação musical,<br />
que fizeram, por exemplo, com que os<br />
alunos de História da MPB ouvissem,<br />
com espanto e atenção, a “desconstrução”<br />
do arranjo do maestro Rogério Duprat<br />
para Construção, de Chico Buarque, na<br />
aula sobre a década de 60. “Vem do estilo<br />
de maestro a necessidade de criar uma<br />
aula estimulante”, afirma Alexandre, que<br />
já conduziu orquestras e coros com os<br />
mais diversos repertórios. Ele deixa claro,<br />
no entanto, que cada palestra é tão somente<br />
uma introdução ao assunto – “é como<br />
uma visita à seção de referência de<br />
uma biblioteca”.<br />
Os encontros acontecem durante a semana,<br />
em vários horários. O primeiro ano<br />
de atividades já revelou o perfil dos alunos:<br />
nas aulas durante o dia, uma turma fiel de<br />
aposentados; à noite, um público mais variado.<br />
“São principalmente pessoas curiosas,<br />
que sentem necessidade de encontrar<br />
pessoas novas, de falar”, atesta o maestro,<br />
que identifica uma grande quantidade de<br />
funcionários públicos.<br />
Um ciclo diferente na área musical foi<br />
o curso de voz para tímidos. O mote era<br />
atrair gente que gosta de cantar, mas tem<br />
vergonha de fazê-lo fora do chuveiro. A<br />
“alexandre Innecco tem o<br />
dom de cativar a plateia.<br />
É um prazer acompanhar<br />
a história da música<br />
dividida criativamente em<br />
gêneros, instrumentos,<br />
épocas e personalidades.”<br />
Fátima bueno, artista<br />
plástica que atualmente<br />
expõe no ecai.<br />
empreitada, ao que parece, deu certo – ao<br />
final do ciclo, muitos alunos tinham per-<br />
dido a inibição, escolheram<br />
uma música de seu repertório<br />
particular e soltaram<br />
a voz.<br />
Além da música, o Espaço<br />
Cultural Alexandre<br />
Innecco tem promovido<br />
exposições e lançamentos<br />
de livros. As cinco mostras<br />
de artes plásticas e fotografialevaram,<br />
em cada<br />
vernissage,<br />
um público<br />
que, depois,<br />
deixa o contato para ser incluído<br />
na mala direta do ECAI. O<br />
professor tem um benefício<br />
extra com as exposições: “É<br />
muito bom dar aula variando<br />
o cenário”, comemora ele,<br />
que descobriu os artistas entre<br />
os próprios alunos das palestras<br />
de música. Os lançamentos<br />
de livros, conta Alexandre,<br />
também levaram “gente antenada”<br />
ao espaço.<br />
O espírito empreendedor<br />
fez com que ele planejasse diversas<br />
formas de os alunos terem<br />
acesso às aulas. A primeira<br />
palestra é sempre gratuita<br />
e, a partir da segunda, o preço<br />
é R$ 45. Mas quem compra<br />
um passaporte por R$ <strong>18</strong>0<br />
paga por quatro aulas e tem<br />
“Eu sentia falta de um local<br />
onde a cultura pudesse ser<br />
divulgada e trabalhada da<br />
forma mais variada possível.<br />
a volta do alexandre foi<br />
crucial, pois pudemos ver<br />
exposições, ter aulas sobre os<br />
mais diversificados assuntos<br />
em torno da música, assistir<br />
a palestras sobre filosofia,<br />
discutir e bater papo de<br />
forma descontraída.”<br />
maria cândida veloso,<br />
servidora pública.<br />
cinco, podendo variar os horários e os ciclos<br />
e até “pular” uma aula do mesmo ci-<br />
clo, de acordo com sua conveniência.<br />
Quem quiser ser fiel<br />
ao ciclo paga pelo curso completo<br />
e tem maior abatimento,<br />
com cada aula saindo a R$ 30.<br />
Os preços ainda variam de<br />
acordo com a antecedência da<br />
reserva, se a pessoa leva um<br />
amigo ou se compromete com<br />
mais de um módulo. E existe<br />
também a possibilidade de se<br />
“encomendar” uma palestra<br />
dentro de um cardápio previamente<br />
oferecido, para grupos<br />
de tamanhos variados.<br />
As ideias para movimentar o ECAI<br />
não param. Em janeiro e fevereiro haverá<br />
uma espécie de “colônia de férias para<br />
adultos”, com cursos em horários e fre-<br />
quência diferentes dos habituais. Em<br />
2013, o objetivo é intensificar a diversificação<br />
de temas e áreas tratados nas palestras.<br />
E solidificar a parceria com o Café Savana,<br />
que tinha uma galeria de arte naquele local<br />
e apoia todos os eventos do ECAI – o aluno<br />
pode, por exemplo, almoçar enquanto<br />
assiste a uma aula de música ou sentar para<br />
tomar um drinque depois de pegar o autógrafo<br />
do autor no lançamento do livro.<br />
espaço cultural alexandre innecco<br />
116 norte – bloco a – loja 74 (ao lado do<br />
café savana). programação de novembro:<br />
13 e 14, Grandes nomes da ópera; 20 e 21,<br />
Como se faz uma ópera; 26, Romântico;<br />
27 e 28, Discoteca básica de ópera; 29, Bert<br />
Hellinger para todos. reservas: 9559.2699.<br />
informações: www.alexandreinnecco.com.<br />
35
36<br />
brasiliense <strong>DE</strong> coração<br />
Maluco<br />
beleza<br />
por vicente sá<br />
Fotos rodrigo oliveira<br />
Otempo é setembro de 2012. O<br />
espaço, um misto de shopping<br />
e labirinto, no bairro do Jardim<br />
Botânico, conhecido como Mercado<br />
Cultural Piloto, um conjunto nada convencional<br />
de lojas, restaurantes, um teatro<br />
e uma sala de cinema que funciona<br />
com equipamentos de projeção doados<br />
pelo Ministério da Cultura. Em cima da<br />
mesa, vinho, água e alguns petiscos. Em<br />
volta, atores e músicos fazem a primeira<br />
leitura do texto. Quase ao fundo, sorrindo<br />
e deixando a conversa e os palpites<br />
fluírem, o autor e diretor do espetáculo,<br />
J. Pingo. A peça é O último rango, que será<br />
reencenada a partir do primeiro semestre<br />
de 2013, quase 30 anos depois da<br />
primeira montagem, no Teatro Galpão<br />
– que, naquela época, causou um verdadeiro<br />
rebuliço na efervescente <strong>Brasília</strong>.<br />
Mas quem é mesmo esse senhor de<br />
66 anos, protagonista de tão distintos papéis<br />
como autor e diretor de teatro, dono<br />
do “shopping labirinto”, ator de cinema,<br />
locutor, jornalista, ex-presidente<br />
do Clube da Imprensa, pai de seis<br />
filhos, respeitado e temido nos<br />
meios culturais da cidade por suas<br />
posições firmes e sua voz grave, que<br />
pouco elogia e muito esbraveja?<br />
Quem é esse personagem que parece<br />
não conseguir parar de surpreender<br />
e se rebelar contra o teatro tradicional?<br />
Quem, de verdade, é J. Pingo?<br />
O pouco que se sabe dele aponta<br />
Porto Alegre como cidade de nascimento<br />
e mostra uma infância rica de aventu
as ao lado dos irmãos – entre eles o ator<br />
Paulo César Pereio, seis anos mais velho<br />
– e da família que foi rica e que, por conta<br />
de gastança romântica do pai, ficou<br />
quase pobre. Dos seus primeiros anos de<br />
estudo sabe-se apenas que foi brilhante e<br />
rebelde, expulso quase todos os anos do<br />
primário, embora nunca tenha sido reprovado.<br />
“Eu normalmente já havia passado<br />
de ano quando me pegavam”, conta<br />
Carlos Augusto de Campos Velho,<br />
nome de registro do pequeno “pinguinho<br />
de gente”, como o chamava sua<br />
mãe, dona Maria Hugo Velho.<br />
Sua adolescência fica perdida nas<br />
brumas da lenda e hora ou outra se entrevê<br />
um rapaz alto fazendo teatro, cantando<br />
mocinhas e viajando pelos lugares<br />
menos turísticos do país. Do homem<br />
ainda jovem, sabe-se de uma aventura no<br />
Paraguai que lhe rendeu um ano de prisão<br />
numa pequena cidade do interior do<br />
Mato Grosso. O carro que ele dirigia, ao<br />
voltar para o Brasil, estava abarrotado de<br />
drogas. Seu companheiro de viagem fugiu<br />
e ele foi preso. Não se sabe se tinha<br />
conhecimento da carga, mas o certo é<br />
que na cadeia fez amizade com o delegado<br />
e os praças e passou a exercer o ofício<br />
de escrivão, que lhe rendeu algumas<br />
mordomias: uma sala especial só para ele<br />
e acesso a todo material apreendido pelos<br />
policiais. “Quando eu saí, eles quase<br />
choravam, pedindo para eu ficar, mas eu<br />
tinha outros compromissos e não aceitei<br />
a oferta”, lembra Pingo.<br />
Depois de passar pelo Rio de Janeiro<br />
e São Paulo e trabalhar em teatro e cinema,<br />
chegou a <strong>Brasília</strong> em 1977, aos 31<br />
anos. Aqui retomou a carreira teatral como<br />
diretor e montou diversas peças,<br />
sempre com sucessos ou fracassos estrondosos.<br />
Criou inimigos a rodo no meio<br />
artístico e uniu-se a figuras mitológicas<br />
da cidade, como o produtor José Pereira<br />
e o jornalista Wanderlei Lopes, com<br />
quem aprontou muito em bares e festas.<br />
Para conseguir patrocínio da extinta<br />
Fundação Cultural para uma de suas<br />
montagens, tirou a roupa na porta do gabinete<br />
do diretor, o embaixador Wladimir<br />
Murtinho. A artimanha deu certo e ele<br />
conseguiu a verba.<br />
Na década de 80, inspirado no clássico<br />
O último tango em Paris, escreveu e<br />
montou O último rango, com direção musical<br />
de Edu Viola e participação de Renato<br />
Russo, Plebe Rude e Liga Tripa. No<br />
transcorrer da peça é preparada uma sopa,<br />
depois servida aos atores e à plateia.<br />
Para garantir os ingredientes da sopa,<br />
Pingo ligou certo dia para a Ceasa, passando-se<br />
pelo secretário de Agricultura e<br />
ordenando que atendessem bem a um enviado<br />
seu, que naquele momento estava<br />
se dirigindo para lá. Apresentou-se como<br />
tal, informou que estava montando o espetáculo<br />
a pedido do governador e daí em<br />
diante não faltou sopa nem nos ensaios<br />
do grupo, que eram realizados no Clube<br />
da Imprensa.<br />
Sua relação com o Clube da Imprensa<br />
se tornou mágica e ele, por puro amor e<br />
também por falta de local para morar,<br />
candidatou-se à presidência com o slogan<br />
“vamos viver o clube”. Ganhou a eleição e<br />
passou, efetivamente, a morar no clube<br />
com a família e uma vaca que comprara<br />
para dar leite fresco aos filhos pequenos.<br />
Depois dessa experiência política, voltou<br />
aos palcos e montou mais uma dezena<br />
de peças. Entre elas, uma que não<br />
agradava muito ao público, que costumava<br />
sair antes dos vinte primeiros minutos.<br />
Pingo resolveu esse problema trancando<br />
o teatro e colocando a chave no colo. Antes<br />
de o espetáculo começar, ele avisava<br />
que quem quisesse sair era só pegar a chave<br />
e abrir a porta. O público tornou-se<br />
mais sensível ao texto e à montagem e<br />
passou a sair somente no final da peça.<br />
Nosso imaginoso e irrequieto personagem<br />
não se prende somente ao teatro.<br />
Também faz filmes e muitos filhos. “Um<br />
com cada mulher, sem nunca me ter casado.<br />
Aliás, tive dois gêmeos com uma,<br />
por isso são seis filhos”, conta. Também<br />
criou uma colônia de férias, promoveu<br />
oficinas de arte e desfiles de moda afro<br />
com jovens da periferia. Candidatou-se a<br />
deputado distrital, mas não foi eleito.<br />
Uniu-se à atriz e produtora Andréa<br />
Gozzo, com quem tem a filha mais nova,<br />
Alice, e criou a Associação de Movimentos<br />
Culturais, para produzir seus trabalhos.<br />
Por fim, tornou-se empresário e<br />
construiu o shopping no qual funcionam<br />
o Teatro Grande Otelo e o Cinema Saracura.<br />
Pois foi justamente nesse centro comercial<br />
que começou nossa história – que<br />
esperamos esteja longe do fim.<br />
37
38<br />
galeria <strong>DE</strong> arte<br />
O corpo<br />
e seus limites<br />
Obras do britânico Antony Gormley ocupam CCBB<br />
e espaços públicos da cidade até dia 6 de janeiro.<br />
por alexandre marino<br />
O<br />
espaço é a referência do corpo.<br />
O que envolve o corpo o torna<br />
visível, autêntico, vivo. Entre o<br />
espaço e o corpo reside o limite entre a<br />
existência e a desintegração, o que cria<br />
um estado de tensão permanente, explorado<br />
pelo artista plástico inglês Antony<br />
Gormley em obras expostas em vários<br />
pontos de <strong>Brasília</strong> e mais especificamente<br />
no Centro Cultural Banco do Brasil. Sob<br />
o título geral de Corpos presentes (Still being,<br />
no original), uma ampla retrospectiva do<br />
artista nascido em Londres há 61 anos po-<br />
de ser vista na cidade até 6 de janeiro.<br />
Depois de levar mais de 410 mil espectadores<br />
aos espaços do CCBB no Rio de<br />
Janeiro e São Paulo, a mostra chegou a<br />
<strong>Brasília</strong> provocando polêmica. Uma de<br />
suas esculturas, que retrata um corpo masculino<br />
em tamanho natural, moldado em<br />
ferro fundido – o modelo é o próprio artista<br />
–, foi derrubada e embalada em saco<br />
plástico, como se fosse um cadáver. A peça<br />
deveria ficar nas imediações do Espaço<br />
Israel Pinheiro, próximo à Praça dos Três<br />
Poderes, local onde, na véspera da inauguração,<br />
ocorreu o vandalismo.<br />
As esculturas de Gormley já correram<br />
o mundo, passando por países como Inglaterra,<br />
Alemanha, Dinamarca, China,<br />
México, Rússia, Áustria, Holanda. Em vários<br />
locais, provocaram reações e despertaram<br />
a criatividade de pessoas que resolveram<br />
contribuir, ainda que inconscientemente,<br />
para o aprofundamento da experiência<br />
artística. No Rio de Janeiro, uma<br />
das esculturas recebeu uma camisinha<br />
usada, e alguém deixou, ao lado de outra,<br />
uma caixinha de esmolas com a frase “ajude<br />
a arte”. Indiferentes a tudo, os “corpos<br />
presentes” de Gormley observam os principais<br />
cenários de grandes cidades do<br />
mundo, e também de <strong>Brasília</strong>, a partir de<br />
Divulgação
pontos estratégicos. Do alto do viaduto da<br />
rodoviária central, por exemplo.<br />
Os corpos de Gormley, que pesam<br />
630 quilos, já foram vistos em áreas urbanas<br />
de grande movimento, como o Vale<br />
do Anhangabaú, em São Paulo, ou no<br />
Largo da Candelária, no Rio de Janeiro.<br />
Como turistas que observam a cidade ou<br />
suicidas que ameaçam se atirar do alto<br />
de edifícios, eles interferem na paisagem<br />
humana e se tornam atores no meio urbano.<br />
Esta é a força maior do trabalho de<br />
Gormley, observável tanto nas ruas, em<br />
que os corpos dialogam com a população,<br />
quanto nos pavilhões e galerias do<br />
CCBB.<br />
Em <strong>Brasília</strong>, Gormley preferiu não<br />
instalar suas esculturas no alto de prédios,<br />
e apenas as espalhou em locais de<br />
circulação. Foi a forma que encontrou<br />
de dialogar com a cidade, que lhe chamou<br />
a atenção pelo posicionamento do<br />
horizonte, que se encontra no campo<br />
frontal de visão, no nível dos olhos do<br />
pedestre. Ele também preferiu não interferir<br />
na obra de Oscar Niemeyer, por<br />
considerar <strong>Brasília</strong> “uma escultura onde<br />
as pessoas vivem” – em meio a alienação<br />
e sofrimento, perdidas como formigas<br />
no espaço vazio. Em visita à cidade para<br />
a inauguração da exposição, Gormley reconheceu<br />
que <strong>Brasília</strong> evocou lembranças<br />
da Praça Vermelha, de Moscou, e de<br />
regiões de Varsóvia, projetadas de acordo<br />
com o fundamento socialista. Oscar<br />
Niemeyer, o comunista sobrevivente, deve<br />
ter gostado da comparação.<br />
O trabalho de Antony Gormley não<br />
se limita a corpos moldados em ferro<br />
fundido, embora sempre explore a tensão<br />
entre a matéria humana e o espaço<br />
que a envolve. Especificamente na mostra<br />
brasiliense, chamam a atenção obras<br />
como Breathing room IV, uma armação de<br />
tubos de alumínio que dramatizam a arquitetura,<br />
colocando o espectador dentro<br />
de uma mandala tridimensional que,<br />
em função dos efeitos de luz, provocam<br />
reações indescritíveis.<br />
Outro trabalho em exposto no CCBB<br />
é Amazonian field, que provoca um misto<br />
de encantamento e desconforto. São<br />
aproximadamente 24 mil pequenas esculturas<br />
em terracota, medindo entre quatro<br />
e 40 centímetros, representando formas<br />
corporais em que se destaca um irrepreensível<br />
olhar de questionamento. Cerca<br />
de <strong>18</strong> toneladas de terra foram trabalhadas<br />
pelo artista e 60 pessoas escolhidas<br />
em Porto Velho, Rondônia, durante sete<br />
dias, em 1992. A obra foi produzida originalmente<br />
para ser exposta na conferência<br />
ambiental Rio-92. Assim como acontece<br />
com os demais trabalhos de Antony<br />
Gormley, fica a sensação de que as figuras,<br />
que miram o espectador, lançam perguntas<br />
no ar. Aqui, não é a arte que leva<br />
o espectador a perguntar. A própria obra<br />
se antecipa e coloca as questões, cabendo<br />
a nós procurar as respostas.<br />
corpos presentes<br />
antony gormley<br />
ate 6/1/2013 no centro cultural banco<br />
do brasil. de 3ª a domingo, das 9 às 21h.<br />
entrada franca.<br />
Divulgação<br />
Divulgação<br />
alexandre Loureiro<br />
39
astelo de Bragança,<br />
onstruído no<br />
éculo XII.<br />
40<br />
diário <strong>DE</strong> viagem<br />
Portugal medieval<br />
por súsan Faria<br />
colaborou marina ávila<br />
Portugal possui regiões belíssimas e<br />
isoladas, bem menos conhecidas<br />
do que as tradicionais rotas turísticas<br />
próximas a Lisboa. Apreciar a rústica<br />
natureza, os vilarejos e monumentos arquitetônicos<br />
medievais do Centro e Leste<br />
Transmontano, especialmente nas cercanias<br />
do Rio Douro, é desligar-se do mundo<br />
e entrar em sintonia com um passado<br />
remoto, que resiste, especialmente, nas<br />
muralhas, rochas, casas celtas, igrejas, castelos<br />
medievais e santuários locais.<br />
Navegar de barco pelo grandioso Douro,<br />
na divisa entre Portugal e Espanha, em<br />
silêncio, é conhecer um mundo distante,<br />
onde a contemplação da exuberante paisagem<br />
nos tranquiliza e nos equilibra. Fizemos<br />
parte da comitiva de jornalistas e promotores<br />
turísticos portugueses e estrangeiros<br />
que conheceu a região, dias 9, 10 e 11<br />
de outubro. A visita foi organizada pela<br />
Direção Regional de Cultura Norte e pela<br />
instituição Porto e Norte de Portugal.<br />
Na divisa entre o distrito de Bragança<br />
e Zamora, na Espanha, encontramos um<br />
povoado surgido na Idade Média, Miranda<br />
do Douro, com suas muralhas, porta<br />
falsa, castelos, torre e uma história de muitas<br />
batalhas. Habitada durante séculos<br />
por romanos, depois árabes, Miranda do<br />
Douro enfrentou tragédias como a explosão<br />
de 30 mil kg de pólvora no paiol da<br />
praça, com a morte de 400 pessoas, du-<br />
rante a Guerra dos Sete Anos (Guerra do<br />
Miradum, de 1756 a 1763, vencida pelos<br />
espanhóis).<br />
Na cidade, localizada na região de<br />
Trás-os-Montes, assistimos a “pauliteiros”<br />
com suas gaitas e instrumentos típicos, e<br />
percorremos de barco o Parque Natural<br />
Douro Internacional, cercado por rochas<br />
de 250 metros de altura. O ar puríssimo,<br />
as cegonhas negras, o poço das lontras,<br />
os graves cantos das aves, os pássaros<br />
em ninhos altos, o bosque das corujas,<br />
os patos, as plantas centenárias com<br />
raízes na rocha, os coelhos selvagens ou<br />
mesmo um santuário nas pedras, em boa<br />
parte dos 150 km do Douro, em nada recordam<br />
a civilização atual.<br />
Às margens do Douro, junto às rochas,<br />
ancestrais enfrentavam a natureza fazendo<br />
aterros de pedra e terra, para cultivar<br />
oliveiras, amendoeiras e laranjais, produzir<br />
mel e até improvisar pequenos pastos<br />
para cabras. No Século XVII, em meio<br />
aos blocos de rochas, corredeiras e gargantas,<br />
enfrentando a noite e o frio, o contrabando<br />
rolava solto no Douro, mas sempre<br />
à noite e praticado por homens de<br />
muita resistência física.<br />
Aventureiros montavam estacas ou<br />
cordas entre uma margem e outra do rio<br />
– com profundidade entre 22 e 80 metros<br />
– e transportavam café, açúcar e máquinas<br />
de costura Singer de Portugal para a Espanha<br />
e, na volta, tabaco para Portugal. Ou<br />
seja, produtos vindos das colônias e que<br />
garantiam a sobrevivência de moradores<br />
da região. Ainda hoje cultiva-se alimentos
às margens íngremes e rústicas do Douro.<br />
A navegação foi viabilizada a partir de<br />
1950, graças às barragens edificadas por<br />
Portugal e Espanha.<br />
A beleza da região não se restringe ao<br />
Rio Douro. Em Bragança e Vimioso, visitamos<br />
castelos e igrejas ornamentadas<br />
de ouro. Em Mogadouro, conhecemos a<br />
igreja românica de Algosinho e o Largo<br />
da Misericórdia, onde se encontra um<br />
castelo de 1297, ligado à Ordem dos<br />
Templários. No restaurante Lareira, nessa<br />
cidade a 200 km do Porto, pudemos<br />
apreciar pães com azeitonas e caldo verde<br />
de entrada, posta à mirandesa (400<br />
gramas de bife de vitela), cogumelos selvagens,<br />
salada, pastelão de batatas, vinho<br />
do Douro e charlotte al figo (sobremesa<br />
de gelatina com figo).<br />
Em Moncorvo, destaque para os edifícios<br />
dos séculos XVI, XVII e XVIII, de<br />
elevado valor patrimonial, e a Casa de<br />
Roda dos Expostos, onde foram deixados<br />
mais de quatro mil bebês pobres ou indesejados,<br />
cujos registros estão na Casa Municipal.<br />
Em Carrazeda de Ansiães, uma<br />
das mais antigas vilas de Portugal, conhecemos<br />
o Castelo de Ansiães, uma vila<br />
amuralhada com cinco mil anos de história,<br />
onde viveu uma população estimada<br />
em 200 habitantes. Na área fria e áspera,<br />
belas oliveiras e castanheiras e o cultivo de<br />
trigo, centeio, figos e amêndoas. Muitos<br />
dos caminhos para chegar a essas cidades<br />
foram rotas antigas dos peregrinos para<br />
Santiago de Compostela, na Espanha.<br />
Serra da Estrela<br />
A crise que afeta Portugal – com desemprego,<br />
farmácias de luto para não serem<br />
fechadas, protesto de estudantes e<br />
queda na qualidade de vida da classe média<br />
– praticamente não prejudicou nossa<br />
viagem. Ao contrário: os portugueses<br />
foram corteses e gentís o tempo todo. E<br />
a culinária, preciosa e farta.<br />
O que não pudemos fazer foi viajar<br />
para o centro de Portugal de trem, cujos<br />
condutores estavam em greve. Alugamos<br />
um carro e fomos de Lisboa a Seia. No<br />
caminho, avistamos montanhas, lagoas e<br />
vales cavados por rios e riachos que têm<br />
suas nascentes no alto da Serra da Estrela,<br />
com quase dois mil metros de altitude, o<br />
ponto mais alto de Portugal.<br />
Rota também única: as plantações de<br />
maçã, uva, marmelo e pêssego e pequenas<br />
aldeias e comércios, em estradinhas<br />
Castelo de Mogadouro, em Trás-os-Montes.<br />
bem conservadas, ao lado de precipícios.<br />
A fartura de frutas na região já foi tanta<br />
que os moradores davam maçãs aos porcos.<br />
Em Seia, com cinco mil habitantes,<br />
come-se bem, especialmente carne de porco,<br />
queijos variados, requeijão, azeite,<br />
pão de centeio e broa de milho, e bebe-se<br />
excelentes vinhos. A diária para casal em<br />
hotel quatro estrelas, com piscina, fica em<br />
torno de 50 euros. Um bom almoço, cerca<br />
de dez euros.<br />
Em Seia, assistimos ao XVIII Festival<br />
Internacional de Cinema Ambiental da<br />
Serra da Estrela (Cine Eco), no qual foram<br />
exibidos 36 filmes, selecionados entre<br />
mais de 300 inscritos, como os brasi-<br />
O passeio dos jornalistas pelo Rio Douro.<br />
leiros Paralelo 10, de Sílvio Da-Rin, Ribeirinhos<br />
do asfalto, de Jorane Castro, e Uma<br />
professora muito maluquinha, de André Pinto<br />
e César Rodrigues. “O tema do festival<br />
é muito atual, já que os problemas do<br />
meio-ambiente se agravam. O festival discute<br />
o meio ambiente daqui e de outros<br />
lugares do mundo”, destaca a atriz portuguesa<br />
Ana Brito e Cunha, uma das juradas<br />
do Cine Eco. Na cidade, belos monumentos,<br />
bom comércio e os Museus da<br />
Criança, da Eletricidade e do Pão.<br />
Na Serra da Estrela, a neve chega em<br />
novembro e o frio atinge 20 graus negativos<br />
em fevereiro e março. Com o passar<br />
dos anos, a neve moldou os rochedos da<br />
Fotos: nuno Gouveia<br />
41
42<br />
diário <strong>DE</strong> viagem<br />
Muralha do Castelo de Ansiães.<br />
região. As lagoas em volta são geladas,<br />
mesmo em época de verão. Nas altitudes<br />
mais elevadas, os invernos, além de rigorosos,<br />
são longos, mas resplandece a natureza<br />
ímpar, com grande variedade de flores e<br />
animais selvagens, como a lontra, a largatixa-da-montanha,<br />
a raposa, o coelho-bravo,<br />
o largato-de-água, o javali e a perdiz.<br />
Lisboa<br />
Além de ser uma porta de entrada<br />
para a Europa, e da facilidade com a língua,<br />
Lisboa é um lugar para passear, comer<br />
bem, andar, aprofundar conhecimentos,<br />
contemplar e se divertir muito,<br />
especialmente neste Ano do Brasil em<br />
Portugal, iniciado em setembro último e<br />
que prossegue até junho de 2013, com<br />
muitos espetáculos de música, dança e<br />
teatro, exposições artísticas, seminários e<br />
outras promoções.<br />
Entre tantas atrações em Lisboa –<br />
museus, teatros, pastelarias de Belém,<br />
noites de fado – destaca-se o Cine São<br />
Jorge, na Avenida da Liberdade, 175,<br />
próximo à Praça Marquês de Pombal,<br />
que sedia festivais de cinema de muita<br />
qualidade, como o Festin (Festival de Cinema<br />
Itinerante da Língua Portuguesa),<br />
tendo à frente duas jornalistas brasileiras<br />
que vivem em Portugal, Lea Teixeira e<br />
Adriana Niemeyer. A quarta edição do<br />
evento, que exibe curtas e longas-metragens,<br />
será de 3 a 10 de abril de 2013 e as<br />
inscrições estão abertas até 31 de dezembro<br />
próximo. Em 2013, o Festin homenageará<br />
a cinematografia angolana e terá<br />
uma mostra de cinema brasileiro.<br />
Há voos diretos para Lisboa saindo<br />
de <strong>Brasília</strong>, Salvador, Recife, Natal e Fortaleza.<br />
Para visitar a Serra da Estrela e a região<br />
do Douro, interessante é alugar um<br />
carro – 40 euros por dia para um veículo<br />
seguro e bom – e seguir pelas estradas<br />
bem conservadas, ou procurar agências de<br />
turismo na Cidade do Porto. Foi o que fizemos<br />
– eu, Marina e um casal de amigos,<br />
Curiosidades lusitanas<br />
Igreja Matriz de Torre de Moncorvo.<br />
Ivana (também jornalista) e Carlos Nery.<br />
Juntos, estivemos em Lisboa e Seia durante<br />
nove dias. Ivana e Carlos seguiram para<br />
excursão em Fátima.<br />
As repórteres Marina Ávila e Súsan Faria às margens do Rio Tejo, em Lisboa. Ao fundo, a Ponte 25 de Abril.<br />
• O Brasil tem uma extensão territorial 96 vezes maior,<br />
aproximadamente, do que Portugal.<br />
• "Obrigadinho!" é uma forma carinhosa e muito usada<br />
pelos portugueses para agradecer algo.<br />
• Se não lhe tratarem bem, peça o “Livro de Reclamação”.<br />
É obrigatório nos estabelecimentos e vale muito.<br />
• Pequeno almoço é como se denomina o café da manhã dos portugueses.<br />
• Come-se bem e barato, em Lisboa, nas tasquinhas, restaurantes pequenos,<br />
apertadinhos mesmo, mas de muita qualidade e bem servidos. Bacalhau<br />
a lagareiro (no forno com alho por cima), batata inglesa assada, sobremesa<br />
(maçã assada ou torta de laranja), água e vinho à vontade. Com 10 euros<br />
se faz a festas nas tasquinhas. Não há cobrança dos 10% de serviço.<br />
• Comprar água e frutas nos mercadinhos sai bem em conta. Próximo à Praça<br />
Marquês de Pombal, com 7,50 euros compramos 5 litros de água, banana,<br />
laranja, maçã, biscoitinhos de nata e iogurtes.<br />
Fotos: nuno Gouveia
Fátima: o fervor da religiosidade<br />
por ivana cássia nery<br />
Todo dia 13 de cada mês, especialmente<br />
13 de maio e 13 de outubro, milhares<br />
de fiéis vão até Fátima, em Portugal,<br />
em peregrinação para pedir votos, agradecer<br />
graças ou milagres e comemorar a aparição<br />
da virgem aos três pastorinhos – Lúcia<br />
Santos, 10 anos, e seus primos Francisco<br />
Marto e Jacinta Marto, 9 e 7 anos,<br />
respectivamente. O espaço da Cova da<br />
Iria, onde hoje se ergue uma grande basílica<br />
neobarroca, às vezes não comporta o<br />
grande número de visitantes do mundo<br />
inteiro. Muitos vêm em romaria que leva<br />
vários dias. Uma romaria de 300 km, por<br />
exemplo, necessita de onze dias de caminhada.<br />
Cerca de 4,5 milhões de pessoas<br />
visitam o local anualmente.<br />
A Virgem apareceu para as crianças<br />
acima de uma azinheira grande (árvore<br />
nativa), no dia 13 de maio de 1917, quando<br />
brincavam na Cova da Iria. Cinco<br />
aparições aconteceram até outubro, sempre<br />
no mesmo dia. A senhora de grande<br />
beleza solicitou-lhes que rezassem pela<br />
salvação do mundo. No Brasil, paróquias<br />
e lares de devotos recebem a santa por<br />
meio dos mais de 250 mensageiros, inscritos<br />
no Santuário de Fátima, em Portugal.<br />
Atualmente, o trabalho é realizado de<br />
segunda a sábado, sempre à noite. As famílias<br />
reúnem parentes e amigos para a<br />
oração do terço e maior conhecimento<br />
das palavras proferidas pela santa.<br />
O Movimento da Mensagem de Fátima<br />
tem sede na Paróquia de Santa Edwiges,<br />
em Curitiba, e segue a orientação do<br />
Padre Raimundo Alves Fonseca. Integrante<br />
do Movimento e um dos três responsá-<br />
veis por levar a imagem da peregrina às casas<br />
do Distrito Federal, Wagner de Castro<br />
explica que, inicialmente, eram contemplados<br />
apenas dois lares a cada dia, em razão<br />
da grande quantidade de pedidos. Hoje,<br />
com a ajuda de outras duas pessoas, as<br />
visitas aumentaram. De 2009 até 2012,<br />
mais de 1.200 famílias já receberam a santa<br />
em seus lares, no DF. Não há quem não<br />
se emocione com a presença da imagem<br />
da Virgem, uma obra de arte de grande<br />
perfeição. Seus olhos, feitos em porcelana,<br />
parecem vivos, e transmitem imensa paz.<br />
No inicio de outubro, Wagner de<br />
Castro levou 27 devotos para Fátima,<br />
um dos principais centros de peregrinação<br />
da Europa, comparável ao de Lourdes,<br />
na França, e a Santiago de Compos-<br />
Fotos: carlos nery<br />
tela, na Espanha. Todos os dias são feitas<br />
homenagens à santa.<br />
No enorme espaço da Cova da Iria,<br />
que pode acolher até 500 mil pessoas, romeiros<br />
de todos os lugares têm a chance<br />
de ouvir, durante o terço, parte da Ave<br />
Maria em sua língua. Nas dez primeiras<br />
dezenas é possível vê-lo recitado metade<br />
em inglês e o restante em romeno, por<br />
exemplo, conforme as inscrições feitas.<br />
A segunda parte é respondida pela plateia,<br />
cada pessoa no seu idioma. No início<br />
do terço, e entre um e outro mistério,<br />
são cantadas músicas de grande beleza<br />
em latim, acompanhadas por um coral,<br />
o que encanta a todos que participam do<br />
encontro. Todo dia 12 de cada mês acontece<br />
a procissão das velas, após o terço e<br />
a vigília, para preparar os festejos do dia<br />
13, data das aparições.<br />
Atualmente, onze imagens oficiais de<br />
Nossa Senhora de Fátima percorrem países<br />
do mundo inteiro levando mensagens<br />
de amor e paz. Esculpida em madeira (cedro<br />
do Brasil) pelo escultor santeiro José<br />
Ferreira Thedim, a santa mede 1,04 m e<br />
foi feita pela primeira vez em 1920 com<br />
base na descrição de Lúcia, a quem a santa<br />
apareceu em 1917. Em 1945, pouco<br />
depois da Segunda Guerra, um pároco<br />
de Berlim propôs que a imagem percorresse<br />
todas as capitais e cidades episcopais<br />
da Europa, até a fronteira da Rússia.<br />
43
44<br />
carta Da europa<br />
O jeito<br />
Hitchcock<br />
de criar<br />
por silio boccanera, de londres<br />
The pleasure garden, um filme mudo dirigido por Alfred Hitchcock na década de<br />
1920, foi uma das atrações paralelas do recente Festival Internacional de Cinema<br />
do Rio de Janeiro. A projeção aberta ao público, na Praia de Copacabana,<br />
só foi possível graças a um cuidadoso trabalho de restauração no Instituto Britânico do<br />
Cinema-BFI, que recuperou oito filmes mudos do cineasta nascido em Londres e emigrado<br />
para Hollywood.<br />
Hitchcock é ainda tema de uma retrospectiva no BFI, que há meio século publica<br />
uma revista, Sight&Sound, famosa pelo tratamento sério que dá ao cinema internacional<br />
e também pela preparação, a cada dez anos, de uma lista dos melhores filmes de<br />
todos os tempos, conforme opinião de especialistas. Neste ano, pela primeira vez em<br />
cinco décadas de premiação, o vencedor habitual perdeu a vaga para um novo campeão:<br />
saiu Cidadão Kane, de Orson Welles, entrou Vertigem, ou Um corpo que cai,<br />
de Hitchcock.<br />
A retrospectiva Hitchcock no BFI inclui os filmes mudos feitos por ele antes<br />
de se mudar para Hollywood, em 1936. Nos Estados Unidos, ele iria<br />
conquistar fama mundial com filmes como Psicose, Os<br />
pássaros, O homem que sabia demais, Janela indiscreta<br />
e muitos outros que lhe trouxeram reconhecimento<br />
de público e crítica.<br />
O novo ocupante do pedestal dos melhores,<br />
Um corpo que cai, traz James Stewart como um detetive<br />
que se aposentou porque sofre de vertigem de altura e<br />
se sentiu culpado pela morte de um colega. Ele aceita realizar<br />
uma investigação privada para o marido da misteriosa<br />
Kim Novak, porque estranha o comportamento incomum<br />
que a mulher vem exibindo.<br />
Como de hábito em Hitchcock, o que importa não é apenas<br />
a narrativa, o drama psicológico da personagem, e sim a maneira<br />
de contar a história sob a forma de filme. O diretor, que começou<br />
sua carreira no Reino Unido e encerrou-a em Hollywood,<br />
onde morreu em 1980, contribuiu para criar uma linguagem<br />
no cinema, um jeito de se expressar pelas imagens, seja na sequência<br />
em que elas aparecem como resultado da montagem,<br />
no ângulo da câmera ao captar a cena, no uso da música ou<br />
nos diálogos.
Hitchcock criou seus próprios recursos<br />
visuais, numa época sem os truques<br />
eletrônicos hoje banalizados pela tecnologia<br />
digital nos computadores. A vertigem<br />
do personagem de James Stewart<br />
permite mostrar alguns desses truques<br />
com a tecnologia de 1958, mas com uma<br />
criatividade sem data.<br />
A votação da Sight&Sound recolheu<br />
opiniões de críticos, curadores, programadores,<br />
exibidores e outros especialistas<br />
em cinema pelo mundo, além de cineastas<br />
como Martin Scorcese, Woody<br />
Allen, Quentin Tarantino, Francis Ford<br />
Coppola e Guillermo del Toro. Segundo<br />
o editor da revista, Um corpo que cai é um<br />
filme que cresce à medida que o revemos.<br />
O curador da retrospectiva no BFI,<br />
Robin Baker, complementou essa observação<br />
em entrevista que nos deu em Londres:<br />
“O fato de um filme feito há bem<br />
mais de 50 anos ainda ser considerado o<br />
melhor de todas as épocas comprova que<br />
o julgamento crítico não precisa se dar necessariamente<br />
no momento de produção<br />
ou lançamento da obra. É importante ver<br />
como ela passa à posteridade. E é esse o<br />
caso da premiação de Um corpo que cai”.<br />
Na época, esse filme não foi necessariamente<br />
aclamado por todos. “Não é<br />
um filme confortável ou fácil de ver”, explicou<br />
Baker. “Tem várias camadas. É o<br />
tipo de filme que me surpreende sempre<br />
que o revejo. Há momentos em que fico<br />
impressionado, chocado, pelas mudanças<br />
no tom do filme, por ver James<br />
Stewart agindo de maneira tão horrível.<br />
Estaria tendo um colapso nervoso? Por<br />
que age daquela maneira?” Ele se diz surpreso<br />
com a mágica e o brilhantismo de<br />
Hitchcock ao construir uma narrativa,<br />
com o que faz com a câmera. “É tudo<br />
muito rico. É o tipo de filme sobre o<br />
qual podemos falar sem parar, escrever<br />
sem parar. E, para mim, é esse desejo de<br />
vê-lo de novo e de novo”.<br />
Por certo, a vitória de Hitchcock com<br />
o melhor filme de todos os tempos não<br />
tem a unanimidade dos 846 especialistas<br />
que responderam à consulta da<br />
Sigh&Sound, nem terá concordância geral<br />
do público ou de outros cinéfilos. Compor<br />
uma lista dos melhores filmes exige<br />
considerar a importância histórica da<br />
obra, seu impacto a longo prazo, a capacidade<br />
de resistir a uma segunda, terceira,<br />
décima sessão repetida. Quem não<br />
concorda com a escolha pode esbravejar<br />
Divulgação<br />
e até chamar de imbecis os eleitores da<br />
revista. Esse tipo de indignação revela a<br />
paixão que o cinema desperta. No mínimo,<br />
gera calorosa discussão em bar.<br />
Nem mesmo os aficionados de Hitch-<br />
cock concordam na escolha do que seria<br />
seu melhor filme. Muitos preferem, por<br />
exemplo, Psicose, obra marcante na capacidade<br />
de espantar o espectador. Inclui uma<br />
das cenas mais reverenciadas na história do<br />
cinema: o esfaqueamento de Janet Leigh no<br />
chuveiro, com maestria na edição dos vários<br />
cortes (97), nos closes reveladores. Nos<br />
iludimos a ponto de perceber o vermelho<br />
do sangue num filme preto e branco. Sem<br />
esquecer do uso dramático da trilha sonora<br />
de Bernard Hermann.<br />
Outros preferem como melhor filme<br />
Os pássaros, que nos surpreende com o<br />
mistério das aves que atacam humanos<br />
sem motivo aparente, com alvo especial<br />
numa das habituais louras frias de Hitch-<br />
cock. No caso, a loura se encarna em Tippi<br />
Hedren, de visita a uma pequena cidade<br />
de beira-mar para resolver uma pendência<br />
antiga. Seria uma metáfora de explosão<br />
sexual contida, que a mulher de<br />
aparência impecável traz e a história insi-<br />
nua? Hitchcock não explica. Não pretende<br />
explicar. Deixa obscuro e não resolvido<br />
de propósito, para que o espectador perplexo<br />
preencha o conteúdo. Ou passe o<br />
resto da vida com medo de pássaros...<br />
Há quem prefira Janela Indiscreta, com<br />
um James Stewart de perna engessada convencido<br />
de que ocorreu um homicídio no<br />
prédio em frente, que ele observa de binóculos.<br />
Difícil convencer os outros, inclusive<br />
sua própria namorada, Grace Kelly em fase<br />
de beleza inigualável, em 1954, fazendo outra<br />
loura hitchcockiana.<br />
Quando o assunto é cinema, cada<br />
um tem sua escolha pessoal, muitas vezes<br />
inspirada pelo que a obra representou na<br />
vida pessoal ou na primeira vez que viu o<br />
filme, em companhia de quem, com que<br />
idade, visto no cinema escuro ou no vídeo<br />
em casa.<br />
Além da votação ampla, que gerou a<br />
vitória de Um corpo que cai, a revista promoveu<br />
também uma votação mais restrita,<br />
só entre 358 diretores, escolhidos em vários<br />
países para evitar um predomínio anglo-americano.<br />
Nessa lista extra, só de diretores,<br />
o filme de Hitchcock ficou apenas<br />
no oitavo lugar.<br />
os dez mais<br />
1. Vertigem ou Um corpo que cai, de alfredo Hitchcock (1958)<br />
2. Cidadão Kane, de orson Welles (1941)<br />
3. Era uma vez em Tóquio, de Yasugiro ozu (1953)<br />
4. A regra do jogo, de Jean Renoir (1939)<br />
5. Aurora, de F.W. Murnau (1927)<br />
6. 2001: Uma odisséia no espaço, de Stanley Kubrick (1968)<br />
7. Rastros de ódio, de John Ford (1956)<br />
8. Um homem com uma câmera, de Dziga Vertov (1929)<br />
9. The passion of Joan of Arc, de carl Dreyer (1927)<br />
10. 8 ½, de Federico Fellini (1963)<br />
45
luZ câMERa ação<br />
Elefante<br />
branco<br />
por reynaldo domingos Ferreira<br />
Não é de fácil convencimento a<br />
abordagem, na literatura ou no<br />
cinema, da questão do altruísmo<br />
cristão, como pretendeu o cineasta Pablo<br />
Trapero em Elefante branco, selecionado<br />
para a mostra Un Certain Régard do Festival<br />
de Cannes deste ano, apesar de contar<br />
com a colaboração de dois excepcionais<br />
intérpretes: Ricardo Darín e Jérémie Renier,<br />
que estão bem, mas não em seus<br />
melhores momentos.<br />
Seus papéis são os de dois padres, Julián<br />
e Nicolá, mergulhados no inferno de<br />
uma favela – Villa Virgen – na periferia<br />
de Buenos Aires, de 15 mil habitantes,<br />
dominada pelo narcotráfico, uma horrenda<br />
mazela social que a Argentina não<br />
faz questão de divulgar. A vila se formou,<br />
desde a década de 30, em torno do esqueleto<br />
de um edifício destinado a abrigar<br />
um hospital que, segundo a idealização<br />
de seu construtor, Alfredo Palácios, deveria<br />
ser o maior da América Latina. Na<br />
atualidade, residem nele perto de 300 famílias<br />
em condições deploráveis.<br />
Os sacerdotes, originários de famílias<br />
ricas da França, que em outros tempos foram<br />
colegas no seminário, um tendo sido<br />
confessor do outro, querem atenuar os<br />
problemas da gente pobre que os cerca.<br />
Acontece, porém, que, ante sua inábil<br />
atuação, eles contrariam não só os traficantes<br />
como também a Igreja, cuja cúpula<br />
representativa se mostra conivente com a<br />
corrupta ação policial na localidade.<br />
Trapero, também um dos autores do<br />
roteiro, abarca variados temas paralelos,<br />
como a campanha pela canonização do<br />
padre Carlos Mugica, criador da primeira<br />
capela na comunidade; um projeto imobiliário<br />
de construção de vivendas, tocado<br />
pelo bispado; o abalo da fé de Julián<br />
ante a percepção da inutilidade de sua luta;<br />
e, além disso, os tormentos da carne<br />
de Nicolá, causados por uma assistente<br />
social, Luciana (Martina Gusman). O resultado,<br />
previsível, não poderia ser outro<br />
senão o da superficialidade com que todos<br />
os assuntos são tratados. E, pior, com<br />
certo sabor de falsidade. Do lado do roteiro,<br />
portanto, é isso o que se tem.<br />
Mas, do lado da direção, o trabalho<br />
de Trapero é, sem dúvida, mais elogiável,<br />
principalmente pelos recursos de linguagem<br />
que ele usa com muita propriedade.<br />
Note-se, por exemplo, a constância com<br />
que ele capta, pela excelente fotografia de<br />
Guillermo Nieto, cenas em plano-sequência<br />
de eficiente efeito dramático, como a da<br />
chegada dos dois religiosos à favela, em<br />
que, pelo deslocar da embarcação que os<br />
traz, se descortina, em impressionante<br />
quadro panorâmico, a miséria do lugar.<br />
Ao tomar ciência, no prólogo, por<br />
exame de ressonância magnética, de ser<br />
portador de uma doença terminal, o padre<br />
Julián vai à procura de seu ex-colega<br />
Nicolá, que se encontra gravemente ferido<br />
num vilarejo, na Amazônia. Ele sobrevivera<br />
a uma chacina perpetrada por<br />
policiais contra colonos, moradores de<br />
um ajuntamento de cabanas no meio da<br />
floresta, sem que lhes pudesse prestar<br />
qualquer ajuda.<br />
Muito debilitado, física e moralmente,<br />
Nicolá, sem saber da situação verdadeira<br />
de Julián, aceita seu convite para se<br />
integrar à vida de Villa Virgen. Na essência,<br />
portanto, o argumento do pouco<br />
convincente filme de Trapero se centraliza<br />
na tentativa do padre Nicolá de moldar<br />
sua alma às difíceis condições locais.<br />
Os dois intérpretes dos protagonistas,<br />
como já foi dito, estão razoavelmente<br />
bem. Ao que se evidencia, contudo, Jéremie<br />
Renier se entregou mais à sua personagem<br />
do que Darín, que continuou, a<br />
todo tempo, sendo ele mesmo.<br />
elefante branco (Elefante blanco)<br />
argentina/espanha/bélgica/2012, 107min.<br />
direção: pablo trapero. roteiro: trapero,<br />
alejandro Fadel, martin maurequi e santiago<br />
mitri. com ricardo darín, Jérémie renier,<br />
martina gusman, pablo gatti, susana varela e<br />
raul ramos.<br />
Fotos: Divulgação<br />
47
48<br />
luZ câMERa ação<br />
O resgate<br />
da memória<br />
por sérgio moriconi<br />
Se a captação das imagens históricas<br />
da épica construção de <strong>Brasília</strong> fosse<br />
uma corrida de revezamento, Dino<br />
Cazzola certamente seria aquele que fecharia<br />
a raia, já no alvorecer dos anos 70.<br />
Com a transferência do centro do poder<br />
brasileiro para os confins do Centro-Oeste<br />
(uma aventura inimaginável para os incrédulos),<br />
dezenas de profissionais da reportagem<br />
cinematográfica se deslocaram para<br />
o gigantesco descampado onde seria erguida<br />
a utópica capital do país, a fim de documentar<br />
o início da obras. Alguns nomes,<br />
como os de Herbert Richers e do judeu<br />
bessarábico Isaac Rozemberg, se destacavam<br />
como produtores consolidados no<br />
Rio e São Paulo. Ao lado deles, um francês,<br />
Jean Manzon, muito conhecido desde<br />
os tempos de Getúlio Vargas por sua atuação<br />
no malfadado Departamento de Imprensa<br />
e Propaganda, o DIP.<br />
Mas foram José Silva e Sávio Silva, pai<br />
e filho, aqueles que seriam considerados<br />
os cinegrafistas oficiais do governo, responsáveis<br />
por toda a documentação do<br />
trabalho de construção. José era um pioneiro<br />
dos cinejornais quando Israel Pinheiro,<br />
presidente da Novacap, o convidou<br />
para filmar o andamento das obras da<br />
nova capital. Os dois se conheciam desde<br />
os tempos de Belo Horizonte. A Liberta<br />
Filmes, de José Silva, tinha grande expe-<br />
riência no ramo. Registrou os principais<br />
acontecimentos oficiais e não-oficiais da<br />
capital mineira e de Minas Gerais, como a<br />
construção do Grande Hotel de Araxá e –<br />
ele próprio cita – “a visita do general Clark<br />
a Belo Horizonte”. Serviu a Juscelino no<br />
período da prefeitura de BH, de 1940 a<br />
Estreia no final do mês o<br />
documentário que conta<br />
um pedaço da história<br />
de <strong>Brasília</strong> com base no<br />
acervo do cinegrafista<br />
italiano Dino Cazzola.<br />
1945, e do governo de Minas, de 1951 a<br />
1955. Um ano e pouco depois, ele e o filho<br />
registravam as escavadeiras retirando<br />
o pó rubro que daria lugar à cidade imaginada<br />
na prancheta por Oscar Niemeyer e<br />
Lúcio Costa.<br />
Italiano de nascimento, Dino Cazzola<br />
– lembramos – recebeu a bola da documentação<br />
com a capital já inaugurada. Ele<br />
tinha vindo a <strong>Brasília</strong>, em 1959, justamente<br />
para registrar as festas de inauguração<br />
pela extinta TV Tupi. Criaria depois o<br />
Departamento de Cinema da TV <strong>Brasília</strong><br />
e aqui ficou, registrando a vida na nova capital<br />
para os órgãos públicos. De sua equipe,<br />
e de sua câmara, saíam as imagens veiculadas<br />
nos telejornais dos quatro cantos<br />
do país. Em 1972, com a chegada da TV<br />
a cores, aos 16 anos, o filho Júlio Cazzola<br />
foi com ele à Bélgica, para um curso sobre<br />
vídeo e fotos coloridos na Agfa Gevaert.<br />
Não seguiu a profissão do pai. A vocação<br />
pela Engenharia falou mais alto. Hoje, ele<br />
é o guardião do acervo cinematográfico dr<br />
Dino Cazzola, falecido em 1998. São 500<br />
latas com filmes em preto-e-branco e em<br />
cores. Eles narram parte da história da capital<br />
em suas duas primeiras décadas de<br />
existência.
E foi por esse baú de memórias que a<br />
historiadora Andréa Prates e o cineasta<br />
Cleisson Vidal se interessaram. Andrea<br />
soube dos filmes de Dino em 1984, quando<br />
era estagiária na extinta Fundação Nacional<br />
Pró-Memória. No início da década<br />
de 90, ela conheceu Júlio e se assustou<br />
com a coincidência. “Quando ele disse<br />
que era filho do Dino, quase caí dura.”<br />
Depois da morte do jornalista, as conversas<br />
sobre a recuperação do acervo ficaram<br />
cada vez mais constantes. Junto com Cleisson<br />
Vidal, Andréa lançou, em 2005, o longa-metragem<br />
Missionários, exibido no Festival<br />
do Rio. Novamente juntos, os dois realizaram,<br />
em 2012, Dino Cazzola: uma filmografia<br />
de <strong>Brasília</strong>, que, como o título deixa<br />
claro, é um documentário sobre a história<br />
da cidade a partir da coleção deixada pelo<br />
cinegrafista, ao mesmo tempo em que expõe<br />
a fragilidade das políticas de preservação<br />
dos acervos de imagem brasileiros.<br />
Que tesouros mais podem ser encontrados<br />
na <strong>Brasília</strong> filtrada pelas lentes de<br />
Cazzola, além daqueles revelados por esse<br />
documentário? Na histórica entrevista que<br />
fez para a Globo News com Geraldo Vandré,<br />
o jornalista Geneton Moraes Neto<br />
perguntou: “Onde estão as imagens gravadas<br />
por Evilásio Carneiro para a produtora<br />
de Dino Cazzola, no Aeroporto de <strong>Brasília</strong><br />
(retransmitidas por emissoras de TV<br />
de todo país), quando o artista regressou<br />
de seu exílio no Chile, em 1973, após breves<br />
passagens por Peru, Argélia, Alemanha<br />
e França?” Segundo Geneton, não há<br />
registros do filme na Polícia Federal, nem<br />
no Arquivo Nacional, nem em lugar nenhum.<br />
Personagem maldito, mítico, autor<br />
do hino à sublevação popular Pra não dizer<br />
que não falei das flores, teriam tido inutilizadas<br />
pelos militares todas as imagens<br />
de participações suas em programas de televisão<br />
e festivais.<br />
“Busco incansavelmente, nos últimos<br />
anos”, conta Cleisson Vidal, “os registros<br />
do depoimento que Vandré deu à equipe<br />
de Dino Cazzola, pois este é um dos momentos<br />
mais importantes da trajetória da<br />
produtora”. Apesar das buscas, Vidal não<br />
conseguiu encontrar nenhuma imagem.<br />
“Naquela altura”, diz ele, “eu me daria por<br />
Os diretores<br />
Andrea Prates<br />
e Cleisson Vidal<br />
Fotos: Divulgação<br />
satisfeito se conseguisse ao menos o áudio<br />
para usar no nosso documentário”. Na<br />
entrevista a Geneton, Vandré disse não<br />
acreditar na “lenda” da destruição de sua<br />
imagem televisiva e cinematográfica. Afirmou<br />
nunca ter tido problemas com os militares,<br />
a ponto de ter composto um hino<br />
em homenagem à Força Aérea Brasileira<br />
(FAB). Para ele, esses registros devem estar<br />
muito bem guardados em algum lugar.<br />
Boa parte do acervo de Cazzola pertencia<br />
à TV <strong>Brasília</strong>. Cleisson Vidal e Andréa<br />
Prates tiveram em suas mãos três mil rolos,<br />
contendo cerca de 300 horas de filmes.<br />
Boa parte deles estava deteriorada.<br />
Foi preciso contar com os serviços de um<br />
perito – Francisco Moreira, diretor de restauração<br />
do Labocine – para analisar o<br />
material. Quando houve a mudança do filme<br />
para vídeo, a emissora jogou tudo fora.<br />
Cazzola teve o bom senso de recolher tudo<br />
e guardar ele próprio as latas em sua produtora.<br />
Isso ilustra bem o descaso que empresas,<br />
e também órgãos públicos, têm em<br />
relação à conservação e restauração do patrimônio<br />
de memória audiovisual do país.<br />
Júlio Cazzola lembra que o pai considerava<br />
seu acervo um patrimônio. “Tudo que<br />
ele fez ele guardou. Infelizmente, mais de<br />
80% se perderam”.<br />
dino cazzola – uma<br />
filmografia de brasília<br />
brasil/2012, 71min. estreia dia 30/11 em<br />
cinemas de são paulo, rio de Janeiro, brasília<br />
e Juiz de Fora. roteiro, produção e direção:<br />
andrea prates e cleisson vidal. Fotografia:<br />
cleisson vidal. consultoria em acervo Fílmico:<br />
Francisco sérgio moreira. montagem: lea<br />
van steen. produção executiva: vera affonso.<br />
música: iura ranevsky. som: renato calaça.<br />
edição de som e mixagem: miriam biderman<br />
e ricardo reis. Finalização: afinal Filmes.<br />
49
50<br />
luZ câMERa ação<br />
A negociação<br />
por reynaldo domingos Ferreira<br />
Com uma direção bem conduzida,<br />
ao estilo de um thriller, o escritor<br />
e cineasta Nicholas Jarecki<br />
defende a ideia, em A negociação, de que<br />
os poderosos – principalmente os que lidam<br />
no desregrado mercado financeiro<br />
– se saem sempre bem dos imbróglios<br />
que eles próprios aprontam, na vida particular<br />
ou nos negócios. Autor também<br />
do brilhante roteiro, Jarecki não tem como<br />
evitar a conotação política que assume<br />
sua parábola em relação ao que vem<br />
acontecendo em seu país depois da bolha<br />
imobiliária de 2008.<br />
De fato, os articuladores da crise hipotecária<br />
dos bancos – como mostra o<br />
pertinente documentário Trabalho interno,<br />
de Charles Ferguson, premiado com<br />
o Oscar – acabaram por ser aquinhoados<br />
com altos cargos da administração financeira,<br />
no atual governo democrata, e evitaram<br />
assim que fosse feita uma regulamentação,<br />
como era necessária, do sistema<br />
bancário.<br />
Realizado pela mesma metodologia<br />
de thrillers da década de 70, como Serpico,<br />
de Sidney Lumet, o filme de Jarecki, embora<br />
tenha voo próprio, narra a história<br />
de um magnata de Wall Street, Robert<br />
Miller (Richard Gere), capa da revista<br />
Fortune, que, como muitos atualmente,<br />
daqui e de lá, ficou milionário vendendo<br />
títulos fictícios sobre a exploração de<br />
uma mina de minérios na Rússia. Para<br />
vender sua falida empresa, na qual trabalham<br />
seus filhos Peter (Austin Lysi) e<br />
Brooke (Brit Marling), ele não se constrange<br />
em fazer, comprometendo-os,<br />
uma série de transferências fraudulentas,<br />
com a anuência de um banco estatal, de<br />
empréstimos contraídos, no valor de 412<br />
milhões de dólares. Mas isso não é tudo.<br />
Depois de badalada entrevista concedida<br />
algures à imprensa, Miller retorna,<br />
em seu avião particular, a Nova York, onde<br />
a família, reunida, o aguarda para comemorar<br />
seu aniversário. Ao agradecer a<br />
homenagem, ele, enfático, cita Mark<br />
Twain, quando afirma que “a velhice não<br />
importa para quem não se importa com<br />
ela”. Em seguida, malgrado o pedido da<br />
esposa Ellen (Susan Sarandon) para que<br />
fique em casa com os filhos e netos, Miller<br />
alega compromissos de negócios e,<br />
azafamado, como um gigolô de luxo, vai<br />
para a casa da amante francesa Julie (Laetitia<br />
Casta), dona de uma galeria de artes.<br />
Aspirando pó, ela se despedaça de angústia<br />
pela demora dele em comer o bolo<br />
que lhe preparou. Chorosa, muito chorosa,<br />
Julie lhe exige que deixe a família.<br />
Para distraí-la, Miller a convida a dar<br />
um passeio, em sua Mercedes, por lugares<br />
ermos e aprazíveis da cidade, mas,<br />
cansado, dormita ao volante, provocando<br />
uma espetacular capotagem. Julie<br />
morre. Ele, ferido na cabeça e nas costas,<br />
foge do carro em chamas para evitar<br />
comprometer sua imagem com o acidente.<br />
Entram então na história duas curiosas<br />
figuras que vão ficar na cola do poderoso<br />
Miller: um motorista de táxi do<br />
Harlem, Jimmy (Nate Parker), e um detetive,<br />
Michael Bryer (Tim Roth).<br />
O estreante diretor tem uma linguagem<br />
clara, simples, sem simbologia pré-<br />
fabricada, no ritmo e na cadência do suspense.<br />
E trabalha com uma ambientação<br />
de Carrie Stewart muito apropriada ao desenvolvimento<br />
do argumento. Além disso,<br />
conta com interpretações primorosas<br />
de um elenco a todo o tempo ajustado à<br />
sua concepção da mise-en-scène do drama.<br />
Nesse sentido, vale ressaltar que Richard<br />
Gere, como Robert Miller, tem representação<br />
discreta, mas eficiente. Susan<br />
Sarandon, embora mal servida (intencionalmente?)<br />
pelo figurinista, aparece<br />
em bons momentos de atuação. Tim<br />
Roth personifica bem o detetive Michael<br />
Bryer, que transita pelos meandros da vida<br />
de Miller à procura de provas que possam<br />
incriminá-lo. E Nate Parker oferece<br />
justas evidências de seu promissor talento.<br />
Note-se ainda a presença de Graydon<br />
Carter, editor da revista Vanity Fair, que<br />
fez questão de encarnar James Mayfield,<br />
o comprador da empresa de Miller.<br />
a negociação (Arbitrage)<br />
eua/2012, 107min. roteiro e direção: nicholas<br />
Jarecki. com richard gere, susan sarandon,<br />
tim roth, brit marling, laetitia casta, nate<br />
parker, graydon carter e austin lysi.<br />
Divulgação
Duas horas de férias por dia.<br />
Vista para o lago, amplo estacionamento<br />
e as melhores opções gastronômicas.<br />
Quem almoça no Pontão volta muito mais descansado.<br />
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