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BAR EM BAR: ATÉ O DIA 18, UM FESTIVAL DE ... - Roteiro Brasília

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<strong>BAR</strong> <strong>EM</strong> <strong>BAR</strong>: <strong>ATÉ</strong> O <strong>DIA</strong> <strong>18</strong>, <strong>UM</strong> <strong>FESTIVAL</strong> <strong>DE</strong> PETISCOS A APENAS 10 REAIS<br />

Ano XI • nº 210<br />

Novembro de 2012<br />

R$ 5,90


<strong>Roteiro</strong> Especial de Natal<br />

Reservas: 06/12<br />

Material: 10/12<br />

Circulação: 14/12<br />

Nossa equipe já saiu a campo para preparar uma edição muito especial,<br />

a última do ano, com um roteiro completo das melhores ceias de Natal<br />

e festas de Réveillon da cidade. Não perca a oportunidade de anunciar<br />

seus produtos e serviços para o público mais seleto da cidade.<br />

Para anunciar, ligue 3961.6261<br />

Para quem sabe apreciar<br />

as coisas boas da vida


em poucas palavras<br />

Quando a Escola de Samba Acadêmicos da Vila Planalto<br />

entrar na avenida, em fevereiro, o abre-alas virá com uma<br />

foto de Rosental Ramos da Silva, cozinheiro do ex-presidente<br />

JK, o primeiro a abrir, nos anos 90, um restaurante na Vila<br />

Planalto. Com o tema “De Kubitscheck a Silva”, a escola de<br />

samba estará prestando uma justa homenagem aos sabores e<br />

aromas de um bairro vocacionado para a gastronomia simples<br />

e predominantemente regional.<br />

Nascida em 1957 para abrigar acampamentos de operários<br />

das construtoras encarregadas de erigir a nova capital, a Vila,<br />

como já é carinhosamente conhecida, transformou-se num<br />

bairro em tudo parecido com uma pacata cidade do interior.<br />

É para lá que engravatados da Esplanada dos Ministérios, a<br />

apenas 4 km dali, se refugiam na hora do almoço para comer<br />

bem e relaxar um pouco antes de voltar para o trabalho.<br />

São mais de 30 restaurantes de diversas especialidades<br />

– de churrascarias a casas de frutos do mar, de comidinhas<br />

mineiras e nordestinas a sushis e sashimis – frequentados<br />

até por políticos como o ex-presidente Lula, o senador José<br />

Sarney e o deputado Romário, que se rendem aos encantos<br />

desse bairro histórico (leia a partir da página 6).<br />

Por falar em história da cidade, estreia no final deste mês<br />

um documentário realizado com base no rico acervo de um<br />

cinegrafista italiano que chegou aqui em 1959 para documentar<br />

a festa de inauguração. A partir de 300 horas de filmes por<br />

ele produzidos, a historiadora Andrea Prates e o cineasta<br />

Cleisson Vidal conseguiram resgatar a história dos primeiros<br />

20 anos de <strong>Brasília</strong> em produção de 71 minutos (página 48).<br />

Depois de levar mais de 410 mil espectadores ao CCBB<br />

no Rio e São Paulo, está em <strong>Brasília</strong> a mostra Corpos presentes,<br />

do escultor inglês Antony Gormley. Indiferentes às polêmicas<br />

que costumam provocar, seus "corpos" estão colocados não<br />

só no CCBB como também em pontos movimentados da<br />

cidade, para interagir com a população (página 38).<br />

Interação e alegria são o mote do Festival Bar em Bar, até<br />

o dia <strong>18</strong>. Pastel de fraldinha, bolinho de ossobuco, coxa de<br />

frango recheada com creme de queijo e até bolinhos de paella<br />

marinera são as estrelas desses botecos. Harmonizadas com<br />

as estupidamente geladas, têm feito a festa dos botequeiros de<br />

plantão. Tim-Tim! (página 12).<br />

Boa leitura e até dezembro.<br />

Maria Teresa Fernandes<br />

Editora<br />

38<br />

galeriadearte<br />

obras do britânico antony Gormley ocupam o ccBB<br />

e vários espaços públicos da cidade até 6 de janeiro.<br />

águanaboca<br />

picadinho<br />

garfadas&goles<br />

pão&vinho<br />

doisespressoseaconta<br />

dia&noite<br />

graves&agudos<br />

queespetáculo<br />

terceirosetor<br />

educaçãoartística<br />

brasiliensedecoração<br />

diáriodeviagem<br />

cartadaeuropa<br />

luzcâmeraação<br />

ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora <strong>Roteiro</strong> Ltda. | Setor Hoteleiro Sul, Quadra 6, Bloco C, Sala 1612, <strong>Brasília</strong>-DF - CEP 70.322-915<br />

Endereço eletrônico revistaroteirobrasilia@gmail.com | Tel: 3961.6261 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Editora Maria Teresa Fernandes<br />

Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Capa André Sartorelli, sobre fotos de Sérgio Amaral | Colaboradores Akemi Nitahara, Alexandre Marino,<br />

Alexandre dos Santos Franco, Ana Cristina Vilela, Beth Almeida, Cláudio Ferreira, Eduardo Oliveira, Elaina Daher, Heitor Menezes, Ivana Cássia Nery,<br />

Lúcia Leão, Luiz Recena, Marina Ávila, Mariza de Macedo-Soares, Melissa Luz, Reynaldo Domingos Ferreira, Sérgio Moriconi, Silio Boccanera, Súsan<br />

Faria, Vicente Sá Fotografia Carlos Nery, Nuno Gouveia, Rodrigo Oliveira, Sérgio Amaral | Para anunciar Rachel Formiga (8144.9935 / 9959.9935)<br />

Impressão Alpha Gráfica e Editora | Tiragem: 20.000 exemplares.<br />

www.roteirobrasilia.com.br facebook.com/roteirobrasilia @roteirobrasilia<br />

6<br />

<strong>18</strong><br />

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44<br />

47<br />

Divulgação<br />

5


6<br />

água na boca<br />

A praça de alimentação<br />

A Vila Planalto diversifica e aprimora sua gastronomia<br />

para atender a uma clientela cada vez mais exigente, vinda<br />

principalmente dos Ministérios e da Praça dos Três Poderes.<br />

por beth almeida<br />

Tudo começou com Rosental Ramos<br />

da Silva, o célebre cozinheiro do expresidente<br />

Juscelino Kubitscheck.<br />

Quando abriu seu restaurante, no início<br />

dos anos 90, ele não imaginava estar vocacionando<br />

todo um bairro da capital brasileira<br />

para o ramo da gastronomia. Hoje,<br />

são mais de 30 restaurantes na Vila Planalto,<br />

procurados pela proximidade do centro<br />

do poder, pela facilidade de estacionamento<br />

e, principalmente, pelo ar bucólico<br />

de cidade pequena. Mais que crescer, a<br />

culinária da Vila Planalto também se diver-<br />

da Esplanada<br />

sificou e, em alguns casos, até se sofisticou.<br />

Se antes as casas serviam pratos da cozinha<br />

mineiro-goiana ou nordestina, hoje há restaurantes<br />

de cozinha internacional, churrascarias<br />

e até um japonês.<br />

Embalada por esse sucesso, a Escola<br />

de Samba Acadêmicos da Vila Planalto<br />

decidiu homenagear os restaurantes do<br />

bairro no carnaval de 2013, quando a<br />

agremiação completa dez anos. Com o tema<br />

“De Kubitscheck a Silva”, numa referência<br />

aos ex-presidentes JK e Lula, que<br />

apreciavam chefs locais, a escola terá como<br />

abre-alas uma foto de Rosental com JK<br />

e falará das especialidades gastronômicas<br />

dos principais restaurantes do bairro.<br />

Entre as churrascarias, as mais recentes<br />

são a Tchê Garoto e O gaúcho da<br />

Vila. A primeira funciona no sistema de<br />

rodízio, tanto no almoço quanto no jantar.<br />

Fruto do trabalho de quatro irmãos<br />

que, há 15 anos, deixaram o Rio Grande<br />

do Sul para trabalhar na churrascaria Porcão<br />

de <strong>Brasília</strong>, a casa tem entre suas especialidades<br />

a costela e oferece um bufê com<br />

cerca de 50 itens, que inclui desde saladas<br />

até frutos do mar. É também uma ótima<br />

pedida para a happy hour, em que se pode<br />

apreciar um chope gelado enquanto se<br />

contempla a vista privilegiada para a Es-<br />

sérgio amaral


planada dos Ministérios. Os irmãos Rodrigues<br />

inauguraram ainda um hotel e, ao<br />

lado, outro restaurante, este mais simples,<br />

com serviço self-service e cozinha mineirogoiana.<br />

Na O Gaúcho da Vila, Paulo Renato<br />

Ribeiro, um dos quatro proprietários, indica<br />

como especialidades a costela de tira<br />

uruguaia, o entrecôte e a picanha. De segunda<br />

a sexta, a casa oferece, no almoço,<br />

“comida brasileira com churrasco gaúcho”:<br />

três tipos de carnes, saladas, arroz, feijão<br />

e, como opção para os não afeitos à carne,<br />

um prato à base de peixe. Como todos gaúchos<br />

que se prezam, os proprietários valorizam<br />

a terra natal até nos utensílios com<br />

que servem as mesas, todos nas cores da<br />

bandeira do Rio Grande de Sul. Às sextas,<br />

a casa serve feijoada e, no serviço à la carte,<br />

a paleta de ovelha e o carreteiro de charque.<br />

“A proximidade da Esplanada e a facilidade<br />

de estacionamento estão tornando<br />

a Vila Planalto um ponto gastronômico”,<br />

reconhece Paulo Renato, que antes<br />

de chegar a <strong>Brasília</strong> mantinha um restaurante<br />

flutuante no balneário de Angra dos<br />

Reis, onde morou por 15 anos.<br />

Também recentemente foi inaugurada<br />

no bairro a Figueira da Vila, onde a pedida<br />

é a parrilla uruguaia, com oito opções<br />

de cortes bovinos e ovinos, inclusive raridades<br />

como as mollejas, ou timo, uma<br />

glândula do cordeiro apreciada pela maciez.<br />

A casa abre no almoço e no jantar e a<br />

happy hour conta com música ao vivo.<br />

A costela de tira uruguaia é uma das especialidades d'O Gaúcho da Vila.<br />

Outra opção de churrascaria no bairro<br />

é a Vila Brasas, que completou cinco<br />

anos de funcionamento em setembro.<br />

Iniciativa de outro ex-funcionário do<br />

Porcão, a churrascaria ficou conhecida pela<br />

clientela como “Porquinho”, segundo<br />

seu proprietário, o gaúcho Joce dos Santos,<br />

mais conhecido como Chitãozinho,<br />

que mora na Vila Planalto desde que chegou<br />

a <strong>Brasília</strong>, em 2000. O serviço também<br />

é em sistema de rodízio, mas apenas<br />

no almoço. No jantar, a casa abre apenas<br />

para eventos, com reservas para mais de<br />

40 pessoas. Para Chitãozinho, a concorrência<br />

é sempre bem-vinda. “Com o surgimento<br />

de novos restaurantes, o movimento<br />

até aumentou”, afirma, adiantando que<br />

A churrascaria Tchê Garoto funciona no sistema de rodízio e oferece um bufê com cerca de 50 itens.<br />

sérgio amaral<br />

já está com planos de abrir um novo restaurante<br />

e choperia no bairro, em 2013.<br />

Para os amantes de frutos do mar, o<br />

bairro conta com o Esquina Gourmet,<br />

antigo Esquina da Vila, que está passando<br />

por algumas transformações, inclusive<br />

no cardápio. “Estamos fazendo um enxugamento<br />

e também modernizando o<br />

cardápio”, explica o empresário Marcelo<br />

Pandolfi, que há três meses assumiu o restaurante,<br />

sua primeira experiência no ramo<br />

da gastronomia, “uma paixão antiga”.<br />

Entre os novos itens do cardápio, o exotismo<br />

de um sushi de pirarucu ou um caldo<br />

de traíra, como entradas. A casa também<br />

passa a oferecer opções de pratos<br />

executivos, a maioria tendo os frutos do<br />

mar como personagem principal, como o<br />

robalo com ninho de alho poró e risoto<br />

de shitake ao molho de sálvia. Os sucessos<br />

mais antigos do cardápio, como a traíra,<br />

o tucunaré na chapa e a paella das<br />

sextas e sábados, permanecem. A decoração<br />

está mudando aos poucos e, para breve,<br />

Gustavo promete a instalação de lounge<br />

de espera, combinando com o que ele<br />

considera o grande diferencial do bairro.<br />

“Aqui as pessoas podem comer e relaxar<br />

ao mesmo tempo”, resume o empresário.<br />

Outra nova opção é o Vila Sushi, o<br />

primeiro do bairro especializado em cozinha<br />

japonesa, onde a clientela pode optar<br />

entre o rodízio, servido à mesa tanto<br />

no almoço quanto no jantar, e os pratos<br />

à la carte.<br />

Os apreciadores do bacalhau não podem<br />

perder o que Méa Araújo prepara no<br />

Feitiço da Vila, um simpático restaurantebistrô<br />

que funciona no bairro desde 2005.<br />

O peixe é servido para duas pessoas, com<br />

batatas inglesa e doce, tomates, pimentões,<br />

Divulgação<br />

7


8<br />

água na boca<br />

azeitonas e cebolas, tudo regado a leite de<br />

coco. Outro sucesso da casa é o Brasileirinho,<br />

uma picanha na chapa com queijo<br />

ou alho frito, acompanhado de arroz, feijão<br />

tropeiro, ovo frito, vinagrete e batata ou<br />

mandioca fritas. Além do serviço à la carte,<br />

a casa oferece pratos executivos, com nove<br />

opções de carnes e peixes e 36 possibilidades<br />

de acompanhamentos, entre as quais<br />

o cliente escolhe quatro para compor a refeição.<br />

Moradora da Vila Planalto há 50<br />

anos, essa ex-servidora pública aponta a<br />

arborização e a amplidão do ambiente como<br />

o charme do bairro e o motivo para<br />

manter uma clientela cativa entre os ocupantes<br />

do poder.<br />

Foi o crescimento da demanda na Vila<br />

Planalto que levou o empresário José<br />

Mario Macedo a abrir o segundo restaurante<br />

no bairro, o Casarão, que funciona<br />

na Praça da Igreja há três anos e meio.<br />

Ao contrário da casa mais antiga, o Vila<br />

Verde, especializado em cozinha mineira,<br />

no Casarão o bufê, com mais de 100<br />

itens, conta com pratos variados, inclusive<br />

carnes assadas na chapa e, diariamente,<br />

pratos à base de salmão ou bacalhau.<br />

O local é ótimo também para petiscar<br />

antes do almoço dos fins de semana,<br />

com uma cerveja honestamente gelada e<br />

110 rótulos de cachaças.<br />

O engenheiro civil Tunas Ferreira e<br />

o contador João Ghizoni, que trabalham<br />

juntos na sede da Caixa Econômica<br />

Federal, vão com frequência saborear<br />

as delícias da Vila Planalto, especialmente<br />

as servidas por Tia Zélia e Dona Graça.<br />

“Eu não perco a feijoada das sextas-<br />

-feiras”, revela João, enquanto o amigo<br />

prefere a galinha caipira e o bife acebolado.<br />

“O que gosto nos restaurantes daqui<br />

é o temperinho caseiro; hoje mesmo disse<br />

para o João: vamos para a Vila Planalto<br />

que hoje quero comida de caldo”,<br />

conta Tunas, referindo-se às carnes com<br />

molho, na panela.<br />

Também companheiras de trabalho,<br />

no Ministério da Agricultura, Pecuária e<br />

Abastecimento, Luciana Assis, Daniela<br />

Oliveira, Tyessa Neiva e Paula Gripp não<br />

dispensam um almoço na Vila Planalto.<br />

O hábito começou com Daniela, que costumava<br />

frequentar o Fogão de Pedra<br />

quando trabalhava na Câmara dos Deputados.<br />

“Um dia sugeri a elas que viéssemos<br />

almoçar aqui e todas gostaram”, conta<br />

Daniela. Para as amigas, os principais<br />

atrativos são o ar interiorano do bairro e a<br />

comida caseira.<br />

A traíra sem espinha é um dos carros-chefes do Esquina Gourmet.<br />

As amigas Luciana Assis, Daniela de Oliveira, Paula Gripp e Tyessa Neiva são frequentadoras assíduas do<br />

Fogão de Pedra. O engenheiro Tunas Ferreira e o contador João Ghisoni preferem Tia Zélia e Dona Graça.<br />

sérgio amaral sérgio amaral Divulgação


Os queridinhos<br />

O tema da escola de samba da Vila<br />

Planalto demonstra que o sucesso da cozinha<br />

do bairro é antigo, especialmente<br />

entre os ocupantes do poder que chegam<br />

à capital federal – a começar pelo próprio<br />

JK, que conheceu Rosental no Hotel Quitandinha,<br />

em Petrópolis, e decidiu convidá-lo<br />

para apresentar seus quitutes na nova<br />

capital. A viúva de Rosental, Maria Vera<br />

Guimarães, ainda manteve o restaurante<br />

após a morte do chef, mas acabou fechando<br />

as portas.<br />

Já o ex-presidente José Sarney é fã da<br />

leitoa à pururuca do Fogão de Pedra, especializado<br />

em cozinha mineira. “Ele sempre<br />

encomendava e vinha a governanta buscar<br />

o prato, mas ele também chegou a vir aqui<br />

umas duas ou três vezes”, revela Elba Sardinha<br />

Ferreira, a proprietária, acrescentando<br />

que outra “celebridade” que frequentou<br />

“quase todos os restaurantes da Vila”<br />

é o ex-jogador de futebol e hoje deputado<br />

federal Romário. A casa funciona em sistema<br />

de self-service por peso e conta com<br />

mais de 100 itens. “Nosso forte é a diversidade<br />

dos pratos”, resume Elba.<br />

Mais recentemente, o ex-presidente<br />

Lula encantou-se com o tempero nordestino<br />

da baiana Maria José de Jesus Oliveira,<br />

a popular Tia Zélia. “O que ele mais gosta<br />

é da rabada e da mousse de tamarindo,<br />

que só a Tia Zélia sabe fazer”, conta a cozinheira,<br />

sempre se referindo ao petista com<br />

carinho. “Ele me chama de véia, e eu gosto!”,<br />

revela Tia Zélia, que, ironicamente, é<br />

mais jovem do que Lula. Nas paredes do<br />

restaurante, fotos do ex-presidente demonstram<br />

a adoração da proprietária pelo<br />

célebre cliente. Também são figuras fáceis<br />

no local outras estrelas petistas, como o<br />

ministro da Educação, Aluízio Mercadante,<br />

e os brasilienses Pedro Celso e Geraldo<br />

Magela, entre outros.<br />

do poder<br />

A simplicidade do Feitiço da Vila, onde faz sucesso o bacalhau de Méa Araújo, convive muito bem<br />

com o requinte do recém-inaugurado Figueira da Vila, que tem chef chileno e parrillero uruguaio.<br />

sérgio amaral<br />

Gui Teixeira<br />

9


10<br />

água na boca<br />

Com sua simpatia contagiante, Tia Zélia<br />

resume sua cozinha: “Meu povo gosta<br />

de carne, eu faço comida para homem, para<br />

comer e sair feliz”. Funcionando apenas<br />

de segunda a sexta-feira no almoço,<br />

Tia Zélia serve diariamente três tipos de<br />

carnes e diversos acompanhamentos. O<br />

prato predileto de Lula é servido às quintas-feiras,<br />

dia em que também tem carne<br />

de sol, outro sucesso do restaurante. Às<br />

sextas, as estrelas são a feijoada e o pernil<br />

de panela.<br />

Devota de Nossa Senhora da Conceição,<br />

Tia Zélia promove, todos os anos, em<br />

dezembro, o “almoço 0800”, em que a<br />

clientela só paga pelas bebidas consumidas,<br />

“mas se deixar comida no prato, paga<br />

R$ 100, porque não pode ter desperdício”.<br />

Como o dia dedicado à santa, 8 de<br />

dezembro, neste ano cai num sábado, ela<br />

decidiu que a homenagem será no dia 5. É<br />

bom agendar e chegar cedo, porque para<br />

esse dia não há reserva de mesa.<br />

Entre os restaurantes tradicionais do<br />

bairro também encontramos a cozinha<br />

nordestina da piauiense Dona Graça, cuja<br />

especialidade é a carne de sol, servida diariamente.<br />

Mas a clientela também elogia o<br />

carneiro ao molho de coco e o capote (galinha<br />

d’angola). A casa abre só no almoço,<br />

de segunda a sexta-feira. Do Piauí para<br />

o Ceará, Benjamim Soares de Oliveira, o<br />

tchê garoto<br />

avenida belém-brasília, lote 1, rabelo<br />

(3081.8858). de 2ª a 6ª, das 12 às 21h.<br />

o gaúcho da vila<br />

rua 4, lote 12, tamboril (3879.0019).<br />

diariamente, das 11h30 às 16h<br />

Figueira da vila<br />

rua 20, lote 2, dFl (3081.0541).<br />

diariamente, das 11 à 1h.<br />

vila brasas<br />

avenida do contorno, casa 1, rabelo<br />

(3306-1006). de 2ª a 5ª e aos sábados das<br />

11h30 às 16h.<br />

esquina gourmet<br />

rua 1, lote 1, dFl (3081.0404). de 3ª a<br />

domingo, das 11h30 às 16h<br />

vila sushi<br />

avenida JK, lote 2, loja 1. avenida JK, rua<br />

2, lote. de 3ª a domingo, das 12 às 16h e<br />

das 19 às 23h.<br />

A admiração de Tia Zélia por seu cliente mais famoso está estampada nas paredes do restaurante.<br />

Seu Beija, também é pioneiro no bairro.<br />

No Restaurante do Beija ele serve delícias<br />

da terra natal com um tempero bem<br />

caseiro e pratos fartos.<br />

Numa cidade formada por brasileiros<br />

vindos de todas as regiões, os restau-<br />

Feitiço da vila<br />

rua 5, lote 2, dFl (3306.1115).<br />

de 2ª a 6ª, das 11h30 às 15h30; sábado e<br />

domingo, das 12h às 16h30.<br />

casarão<br />

rua da igreja, 3, dFl (3327.1108). diariamente,<br />

das 11 às 15h.<br />

tia Zélia<br />

rua maranhã, 8, casa 8, pacheco Fernandes<br />

(3306.1526). de 2ª a 6ª, das 11h30 às 16h.<br />

dona graça<br />

rua 7, casa 156, pacheco Fernandes<br />

(3032.1062). de 2ª a 6ª, das 12 às 15h.<br />

Fogão de pedra<br />

rua da praça, lote 14, rabelo (3306-1934).<br />

diariamente das 11h30 às 15h.<br />

restaurante do beija<br />

rua 9, casa 2, pacheco Fernandes (3306.2881).<br />

de 2ª a 6ª, das 11h às 14h30 e das <strong>18</strong>h30 às<br />

23h; sábado, das 11h às 14h30.<br />

rantes da Vila Planalto são um reflexo do<br />

apreço e da nostalgia de antigos e novos<br />

migrantes, que desde a inauguração da<br />

nova capital buscam na gastronomia<br />

uma forma de matar as saudades da terrinha,<br />

seja ela qual for.<br />

traíra sem espinha<br />

rua 4, lote 1, dFl (3306-2596). diariamente,<br />

das 11h30 às 24h.<br />

caminho de minas ville<br />

rua 2, lote 33, dFl (3306.1977). de 3ª a<br />

domingo, das 11h30 às 15h.<br />

sertao & mar<br />

clube unidade de vizinhança, dFl (3006.3016).<br />

diariamente, das 11h às 15h30.<br />

gameleira<br />

rua emulpress, lote 1, dFl (3306.1367).<br />

diariamente, das 11h30 às 15h30.<br />

pedaço de pizza<br />

avenida israel pinheiro, lote 10, rabelo<br />

(3306.1989). de 2ª a 5ª, das 15 às 23h; de 6ª a<br />

domingo, das 16 às 24h.<br />

triângulo mineiro<br />

rua 4, casa 1, dFl (3006.2126)<br />

casa grande<br />

rua piauí, casa 20 (3306.2440)<br />

sérgio amaral


Os bons<br />

aromas do<br />

Severina<br />

por ana cristina vilela<br />

Fotos rodrigo oliveira<br />

Tentando se adaptar ao mercado de<br />

Águas Claras e ao estilo dos clientes,<br />

o restaurante Severina, instalado<br />

na cidade há mais de um ano, mudouse<br />

recentemente para outro endereço. O<br />

motivo? A demanda. Antes com 70 lugares,<br />

agora a casa, instalada no Edifício<br />

Acqua, na Avenida Castanheiras, tem capacidade<br />

para 150 pessoas. Já a carne de<br />

sol, esta continua a mesma, com um “cheiro<br />

cheiroso!”, segundo o pequeno cliente<br />

que chega acompanhado da mãe ao amplo,<br />

rústico, arejado e agradável espaço,<br />

embalado por uma discreta música ambiente<br />

– nordestina, é claro!<br />

É Marcus Linhares, sócio-proprietário<br />

do restaurante, juntamente com sua esposa,<br />

Patrícia (com ele na foto ao lado),<br />

quem explica o porquê da mudança: “Estava<br />

muito cheio e não dávamos conta de<br />

atender a clientela”. Isso porque em Águas<br />

Claras o ritmo é diferente. Por exemplo, o<br />

movimento fica mesmo para o final de semana,<br />

quando, cansadas de ir para o Plano<br />

Piloto de segunda a sexta, as pessoas<br />

preferem ficar perto de casa. Para o meio<br />

de semana, o casal teve de fazer algumas<br />

adaptações no cardápio, para atender a outro<br />

público. Os “acochadinhos”, pratos<br />

menores do que os executivos, são servidos<br />

todos os dias a R$ 19,80, enquanto<br />

na Asa Sul essa oferta é feita apenas num<br />

dia da semana.<br />

Conhecido dos brasilienses há 32<br />

anos, em seu endereço na Asa Sul, o Severina<br />

abre as portas todos os dias para o<br />

almoço e nenhum dia para o jantar. Foi<br />

feito o teste de abrir durante a noite em<br />

Águas Claras, mas com insucesso. O motivo,<br />

de acordo com Marcus, é o tipo de<br />

comida, considerada pesada para um<br />

jantar, quando as pessoas preferem algo<br />

mais leve. Assim, o espaço só é aberto<br />

durante a noite para eventos, que podem<br />

ser agendados a partir de 50 pessoas.<br />

De dezembro a março estão previstas<br />

duas novidades para o Severina de Águas<br />

Claras. Para dezembro, a expectativa fica<br />

para o café da manhã, com tapioca, bolos<br />

vários e iguarias nordestinas. Ainda<br />

não está definida a forma como será servido.<br />

A outra novidade, cujas obras devem<br />

estar concluídas até março de 2013,<br />

é a brinquedoteca. “O público de Águas<br />

Claras é jovem, geralmente com filhos, e<br />

muitos passam o final de semana aqui,<br />

com os pais vindo do Plano Piloto para<br />

fazer companhia aos filhos e netos.”<br />

No cardápio, entre outras opções, como<br />

o escondidinho, a já tradicional carne<br />

de sol completa (carne de sol, feijão-<br />

-de-corda, paçoca de carne, manteiga de<br />

garrafa, arroz branco, vinagrete), com macaxeira<br />

cozida (R$ 76,90), com macaxeira<br />

cozida e queijo do sertanejo (R$ 84,90),<br />

com macaxeira frita (R$ 78,90), e com<br />

macaxeira frita e queijo do sertanejo<br />

(R$ 86,90). Esses pratos são suficientes<br />

para até três pessoas. Servem-se os mesmos<br />

cardápios para duas pessoas, de<br />

R$ 53,90 a R$ 63,90. E há, ainda, os indi-<br />

viduais, de R$ 26,90 a R$ 31,90. Diariamente,<br />

são feitas entregas em domicílio.<br />

Tanto Marcus quanto Patrícia nasceram<br />

em <strong>Brasília</strong>, mas ambas as famílias<br />

são nordestinas. “Cresci em Fortaleza”,<br />

conta Marcus, que fala do segredo do preparo<br />

de uma boa carne de sol. “Tudo começa<br />

com a seleção da carne, porque não<br />

adianta pegar qualquer carne; aqui, trabalhamos<br />

com coxão mole”. O processo<br />

de preparo dura em torno de 72 horas.<br />

Durante parte desse tempo, a carne fica<br />

em salmoura. O resultado? Depois de assada,<br />

uma carne de sabor marcante e “um<br />

cheiro cheiroso!” de deixar o estômago<br />

todo animado e a boca salivando.<br />

severina<br />

edifício acqua – avenida castanheiras, 980,<br />

bloco b (3027.2767).<br />

de 2ª a 6ª, das 11h30 às 16h. sábados,<br />

domingos e feriados, das 11h30 às 17h30<br />

11


12<br />

água na boca<br />

Hora de aproveitar<br />

Festival Bar em Bar oferece, até o dia <strong>18</strong>,<br />

petiscos a R$ 10 em 22 bares da cidade.<br />

por lúcia leão<br />

Todo botequeiro é um filósofo em<br />

potencial. O relaxamento e a descontração,<br />

naturais da situação<br />

que se cria em volta de uma mesa de bar,<br />

ajudados pelo poder inebriante dos<br />

drinks e da boa companhia, embaçam<br />

um tanto o racionalismo cartesiano que<br />

comanda o cotidiano do homo sapiens e<br />

ilumina a intuição e a sensibilidade, que<br />

deixam os homens mais sábios. Daí tanta<br />

filosofia e tanta poesia a brotar nos<br />

canteiros dos botequins.<br />

Esta, como veem, é mais uma tese<br />

nascida e apregoada pelas mesas de bar.<br />

E quem contesta? Excluídos os excessos,<br />

inoportunos em qualquer situação ou local,<br />

uma noitada, uma happy hour ou<br />

um simples pit stop (para os leigos, aquela<br />

paradinha breve para recarregar a máquina<br />

com um gole gelado e um salgadi-<br />

nho, geralmente no balcão) são sinônimos<br />

de festa e confraternização.<br />

De todos os equipamentos urbanos,<br />

portanto, poucos são mais democráticos<br />

e socializantes do que o bar. Um “campo<br />

neutro”, como teria definido Stanislaw<br />

Ponte Preta, o sábio Lalau, onde prevalece<br />

a igualdade e não há hegemonia entre<br />

os convivas. As palavras de um togado e<br />

de um poeta têm o mesmo peso e seus<br />

copos a mesma medida.<br />

São essas magníficas qualidades, além,<br />

é claro, dos bons petiscos e da cerveja gelada,<br />

que a Abrasel e os principais bares de<br />

<strong>Brasília</strong> e de outras 200 cidades do Brasil<br />

celebram, até o próximo dia <strong>18</strong>, com o festival<br />

Bar em Bar 2012, cujo lema promete:<br />

“A alegria é por nossa conta”.<br />

Esta é a sexta edição do evento e conta<br />

com a adesão de 22 bares da Capital.<br />

Cada um deles preparou um petisco especial,<br />

que está sendo oferecido ao preço<br />

Filezinho grelhado sobre pão ciabatta, do Parrilla Madrid.<br />

Bruschetas de tomates frescos e secos, do Café Savana. Bolinhos feitos com paella marinera, do Oliver.<br />

promocional de R$ 10 a porção, e todos<br />

prometem se esmerar para destacar o<br />

papel e as contribuições da “instituição<br />

botequim” para a nossa sociedade. “A intenção<br />

é promover uma ação que destaque<br />

o talento, a criatividade e o jeito único<br />

dos bares de <strong>Brasília</strong>, com várias opções<br />

de petiscos especiais, favorecendo a relação<br />

dos bares com a comunidade local”,<br />

explica Rodrigo Freire, presidente da<br />

Abrasel-DF.<br />

Os restaurantes puristas que nos desculpem,<br />

mas ser reconhecido como um<br />

bom bar é fundamental. E é isso que almejam<br />

os participantes da promoção. O<br />

Mercado 153 do Terraço Shopping, por<br />

exemplo: fez nome como um bom restaurante<br />

e normalmente está lotado nos horários<br />

de refeição. Mas um dos proprietários,<br />

Daniel Araújo, quer mais. “Queremos<br />

ser vistos como um ponto de encontro,<br />

mostrar nossa face de boteco, onde


os clientes podem sentar para tomar uma<br />

gelada e degustar bons petiscos com descontração,<br />

sem a etiqueta de um restaurante”,<br />

explica o empresário. Quem aparecer<br />

por lá esses dias poderá provar, por<br />

módicos R$ 10, as iscas de salmão em<br />

massa crocante, receita desenvolvida especialmente<br />

para o evento.<br />

Motivação semelhante trouxe o Carpe<br />

Diem de volta para a promoção, depois<br />

de dois anos fora do Bar em Bar. “A<br />

gente estava se concentrando só no restaurante<br />

e perdendo um pouco a pegada<br />

de bar. A clientela de <strong>Brasília</strong> já se acostumou<br />

e fica esperando esse tipo de<br />

evento para conhecer um lugar novo,<br />

provar alguma coisa diferente. Sem participar,<br />

estávamos perdendo esse público”,<br />

revela Fernanda La Rocque. Estão na promoção<br />

as casas da 104 Sul e do Terraço<br />

Shopping, que oferecem como petisco o<br />

“quarteto fantástico”, croquetes grandes<br />

de camarão e bacalhau, bolinho de mandioca<br />

com carne de sol e quibe.<br />

Dessa crise de identidade nunca sofreram<br />

os bares do empresário Jorge Ferreira.<br />

Feitiço Mineiro, Bar do Ferreira e<br />

Bar do Mercado Municipal são, essencialmente,<br />

bons botecos, embora competentes<br />

restaurantes. Parceiro de primeira hora<br />

da Abrasel no Bar em Bar, Ferreira destaca<br />

o papel da promoção no fortaleci-<br />

Iscas de peixe à doré, do Enchendo Linguiça.<br />

Bolinhos de carne com fondue de cerveja, do Agripina.<br />

mento do setor, na renovação dos cardápios<br />

e na melhoria do padrão de serviços:<br />

“É uma oportunidade para os bares da cidade<br />

se revigorarem, aprimorarem seus<br />

serviços, atraírem novos clientes e se fortalecerem<br />

como irradiadores de alegria<br />

para a cidade. Nós aproveitamos também<br />

para desenvolver e testar novas receitas<br />

que depois são agregadas ao cardápio permanente.<br />

Como aconteceu com o Veveco,<br />

um ragu de costela com hora-pro-nobis,<br />

criado para a promoção de 2009 e até hoje<br />

um dos grandes sucessos do Feitiço Mineiro”.<br />

Este ano, o Bar do Ferreira oferece a<br />

“coxa creme do Ferreira”, coxa de frango<br />

recheada com creme de queijo e ervas e<br />

servida com molho de chope.<br />

Testar a aceitação de um novo petisco<br />

também é a principal expectativa de<br />

Guto Nicolazzi, gestor do Primeiro Cozinha<br />

de Bar, de Águas Claras. Inaugurando<br />

sua participação no evento, oferece<br />

pastéis de panela crocantes, recheados<br />

com fraldinha desfiada. “Também esperamos<br />

atrair a atenção de novos clientes<br />

e contribuir para o fortalecimento do setor<br />

com um todo”, prevê Nicolazzi.<br />

Veja ao lado a relação completa dos<br />

bares participantes, com a descrição dos<br />

petiscos que estarão servindo, até o dia<br />

<strong>18</strong>, ao preço de R$ 10. E prepare-se para a<br />

maratona.<br />

Pastéis de massa fina com molho picante, do Duetto<br />

Espeto de lombo suíno grelhado, do Bier Haus.<br />

Fotos: Divulgação<br />

agripina bistrô (102 norte)<br />

bolinhos de carne com fondue de cerveja<br />

pale ale e queijo emmental.<br />

alfredos pizzaria (408 norte)<br />

porção de bolinhas de pizza cobertas<br />

com mussarela, pepperoni levemente<br />

apimentado e azeitona.<br />

bar bottarga (Qi 5 do lago sul)<br />

Queijo coalho grelhado com pesto de<br />

tomates secos e saladinha verde.<br />

bar do Ferreira (pier 21)<br />

coxa de frango recheada com creme de<br />

queijo e ervas, acompanhada de molho<br />

à base de chope brahma.<br />

bar do Ferreira (shopping Quê! de<br />

águas claras)<br />

tartare de filé marinado servido com torradas.<br />

bar do mercado municipal (509 sul)<br />

pão de queijo recheado com creme de<br />

pernil e linguiça.<br />

beirute norte (107 norte)<br />

coalhada seca temperada com zattar,<br />

azeite extra virgem e azeitonas pretas,<br />

acompanhada de torradinhas de pão sírio.<br />

bierfass lago (pontão do lago sul)<br />

porção de quibes servida com geleia de<br />

pimenta.<br />

bier hauss (402 sul)<br />

espeto de lombo suíno grelhado intercalado<br />

com cebola, acompanhado de farofa de<br />

frutas cristalizadas.<br />

café savana (116 norte)<br />

bruschetas de tomates frescos e secos,<br />

manjericão fresco e mussarela, temperadas<br />

com azeite, aceto balsâmico e orégano.<br />

carpe diem (104 sul) e carpe diem<br />

la cuccina (terraço shopping)<br />

Quarteto fantástico: porção de salgados<br />

grandes contendo croquetes de carne e<br />

bacalhau, bolinho de aipim com recheio<br />

de charque e catupiry e quibe.<br />

duetto (pier 21)<br />

dez pastéis de massa fina, recheados<br />

de mussarela temperada com orégano<br />

e servidos com molho picante.<br />

enchendo lingüiça (centro de<br />

lazer beira lago)<br />

iscas de peixe branco à doré acompanhadas<br />

de molho tártaro.<br />

godofredo (408 norte)<br />

trio de linguiças artesanais sobre cama de<br />

cebola gourmet, acompanhado de pãezinhos.<br />

lunna (deck norte)<br />

cubos de contra-filé empanados com farinha<br />

especial ao molho de sonha e com especiarias.<br />

mercado 153 (terraço shopping)<br />

rolinho em massa crocante, recheado<br />

com cream cheese, abacaxi e salmão<br />

servido com geleia de frutas vermelhas.<br />

mosaico grill (311 sul)<br />

bolinho de ossobuco com tempero<br />

especial, recheado com queijo provolone.<br />

oliver (clube de golfe)<br />

bolinhos feitos com paella marinheira.<br />

parrilla madrid (508 sul)<br />

Filezinho grelhado sobre pão ciabata<br />

com alioli, patata palha, ovo de codorna<br />

estrelado e azeite trufado.<br />

primeiro cozinha de bar (one mall<br />

de águas claras)<br />

porção com quatro pastéis de massa<br />

crocante recheados com fraldinha<br />

definhada na cocção em panela de ferro.<br />

vila madá (deck norte)<br />

pernil suíno assado e puxado na chapa<br />

com cebola, servido com mandioca cozida.<br />

13


14<br />

água na boca<br />

O morador de rua<br />

por vicente sá<br />

que virou tapioca<br />

A<br />

mais forte contribuição dos indígenas<br />

à culinária nacional, a mandioca<br />

é a base de uma iguaria que<br />

sempre foi apreciada no Nordeste brasileiro<br />

e nos últimos anos conquistou todo o<br />

país. Deixou de ser uma comidinha simples<br />

para sofisticar-se e agradar aos paladares<br />

mais exigentes. Estamos falando da tapioca,<br />

comida feita à base da fécula da<br />

mandioca que, ao se espalhar em uma<br />

chapa quente, coagula-se e vira um tipo de<br />

panqueca ou crepe seco. Do início da colonização<br />

brasileira até a metade do século<br />

passado, esse era o pão do nordestino,<br />

apreciado basicamente com manteiga ou<br />

queijo, em sua versão salgada, ou com coco,<br />

quando doce.<br />

Hoje, a comida ganhou incontáveis variações,<br />

com dezenas de recheios diferentes,<br />

e se transformou em “especialidade”<br />

de casas espalhadas por todo o Brasil. Em<br />

algumas, é tratada com requintes que a<br />

elevam à categoria gourmet, como é o caso<br />

da Tapiocaria Raízes do Sertão, do empresário<br />

Durley Soares da Silva. São mais de<br />

100 sabores de tapioca, desde a mais simples,<br />

apenas com manteiga do sertão, às<br />

recheadas com camarão, salmão, baca-<br />

Fotos: Divulgação<br />

lhau, atum, tilápia e uma vasta combinação<br />

de queijos e purês.<br />

A tapioca tornou-se uma paixão para<br />

Durley Soares ainda em 2009, quando<br />

ele era gerente de uma casa de massas que<br />

funcionava na 311 Norte, ao lado de uma<br />

tapiocaria. Mas a história desse hoje empresário<br />

de sucesso merece ser melhor<br />

contada. Durley é goiano de Iraciara e<br />

chegou a <strong>Brasília</strong> em 1987, aos sete anos<br />

de idade. Filho de uma família numerosa<br />

e com o pai sofrendo de um problema na<br />

coluna que o impedia de trabalhar, lutou<br />

desde cedo para ajudar no sustento da casa.<br />

Morando em Planaltina com os onze<br />

irmãos, descia todos os dias para trabalhar<br />

no Plano Piloto. Foi nessas incursões<br />

que aprendeu a gostar de livros. “Eu<br />

lia tudo o que encontrava, sem ligar para<br />

assunto ou gênero. Eu achava muito livro<br />

jogado no lixo. Depois fui lendo os oferecido<br />

pelo Luiz Amorim, do T-Bone, esses<br />

que ficam nos pontos de ônibus. Cheguei<br />

a ler mais de 300 livros em seis meses”,<br />

orgulha-se Durley.<br />

O amor pelos livros mudaria sua vida<br />

e o ajudaria a fugir do rumo fácil das drogas<br />

ou da bebida quando, por questões<br />

emocionais, largou a família, aos 17 anos,<br />

e tornou-se morador de rua. “Eu dormia<br />

pela Asa Norte, frequentava os pequenos<br />

restaurantes, onde trabalhava por comida,<br />

lavando pratos ou limpando o lixo.<br />

Nunca aceitei comida de graça”, lembra.<br />

Depois de um ano, ele voltou ao convívio<br />

da família e logo depois casou-se. Fez cursos<br />

no Senac enquanto trabalhava na Escola<br />

de Música de <strong>Brasília</strong> como técnico<br />

mecanógrafo, e nas horas de folga vendia<br />

sorvetes aos alunos e professores. Conheceu<br />

e criou laços de amizade com boa parte<br />

dos músicos da cidade que ali lecionavam,<br />

entre eles o violonista Jaime Ernest<br />

Dias, Maria Barros e o próprio diretor da<br />

escola à época, Carlos Galvão.<br />

Depois de fazer o curso de garçom,<br />

também no Senac, foi trabalhar numa ca


sa de massas, onde começou com o pé direito:<br />

um dia depois de assinarem sua carteira<br />

de trabalho, foi promovido a gerente.<br />

Com mais dinheiro no bolso, e na cabeça<br />

a ambição de progredir, começou a pensar<br />

em abrir seu próprio negócio. “Foi aí<br />

que eu conheci a tapioca e minha vida<br />

mudou”. Em 2010 ele arrendou a tapiocaria<br />

vizinha à casa de massas, mas o negócio<br />

não tinha registro e foi fechado pela<br />

fiscalização, impondo a perda do todo o<br />

tempo e dinheiro investido pelo novo<br />

empresário. Mas ficaram o sonho e a determinação<br />

de ser dono de uma tapiocaria.<br />

Sozinho, Darley planejou e colocou<br />

no papel seu novo negócio: montou o<br />

cardápio de mais de 100 itens, criou a logomarca<br />

e desenvolveu as diretrizes do estabelecimento.<br />

É aqui que ele agradece<br />

aos livros. “Eles me tiraram o medo de<br />

aprender e ensinaram que o fundamental<br />

na vida é o conhecimento. Com ele você<br />

pode tudo”, afirma, convicto.<br />

Com a ajuda do amigo Diego Valadares,<br />

em abril de 2011 o ex-morador de rua<br />

realizou seu grande sonho e tornou-se empresário,<br />

dono da tapiocaria Raízes do Sertão,<br />

na 309 Norte. Suas receitas encantaram<br />

os clientes e o local logo passou a ser<br />

frequentado por chefs, donos de restau-<br />

rantes, jornalistas e artistas, entre um sem<br />

números de clientes cada vez mais fiéis.<br />

Rapidamente virou sinônimo de sucesso.<br />

Por se considerar um nacionalista,<br />

Durley não usa nenhum produto importado<br />

em sua empresa e explica que o nome<br />

Raízes do Sertão é uma homenagem a<br />

seus antepassados e à culinária nacional.<br />

As folhagens utilizadas pelo Raízes são hidropônicas<br />

e 97% de seus produtos não<br />

contêm glúten. A tapiocaria também oferece<br />

tapiocas especiais para celíacos, intolerantes<br />

a lactose e a glúten, além de excelentes<br />

opções para vegetarianos.<br />

Entre as diretrizes traçadas por Durley<br />

no planejamento inicial já estava a de oferecer<br />

franquia de sua marca. E é o que ele<br />

já começou a fazer. A segunda Tapiocaria<br />

Raízes do Sertão, na 216 Sul, tem algumas<br />

diferenças em relação à da Asa Norte. Ela<br />

funciona todos os dias em horário integral,<br />

das dez de manhã à meia noite, e recebe<br />

os clientes em três pavimentos, com sala<br />

vip, brinquedoteca, banheiros com acessibilidade<br />

e wi-fi. Os preços são os mesmos<br />

da matriz e as tapiocas mais pedidas,<br />

assim como lá, são a de carne de sol, queijo<br />

coalho e banana (R$ 14,90), a de purê<br />

de mandioca, queijo coalho e carne seca<br />

(R$ 17,90) e a de carne de sol, rapadura,<br />

Fotos: Divulgação<br />

queijo coalho e banana (R$ 17,50). Entre<br />

as tapiocas gourmets, as que mais se destacam<br />

são a de salmão, alho poró e manjericão<br />

(R$ 26,90), a de salmão, mussarela<br />

de búfala, alcaparras e rúcula (R$ 28,90) e<br />

a de bacalhau, camarão, purê de mandioca,<br />

champignon e rúcula (R$ 29,90). Para<br />

aplacar a sede, sucos naturais, refrigerantes,<br />

cervejas long neck, caipirinhas, café e<br />

chocolate. A combinação fica por conta do<br />

recheio escolhido.<br />

tapiocaria raízes do sertão<br />

309 norte – bloco e (3037.9433).<br />

diariamente, das 16h às 24h.<br />

216 sul – bloco b (3037-9433).<br />

diariamente, das 10 às 24h.<br />

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16<br />

água na boca<br />

Melhor do que parece<br />

por lúcia leão<br />

Fotos rodrigo oliveira<br />

Quando uma coisa não é o que<br />

parece, relaxe. Pode ser melhor!<br />

O que lhe parece um restaurante<br />

com o nome de SumôMed? Um japonês<br />

regado a azeite? Confesso que pensei<br />

nisso. Mas é claro que não. É muito melhor!<br />

É o novo restaurante de comida internacional<br />

que está literalmente movimentando<br />

o Liberty Mall.<br />

Alavancado numa surpreendente sequência<br />

de camarões – são 12 pratos preparados<br />

com o nobre crustáceo e servidos<br />

à fartura em sistema de rodízio – e em receitas<br />

tradicionalíssimas, como o bacalhau<br />

ao forno e o filé à parmegiana, o restaurante,<br />

há dois meses a vedete da praça de<br />

alimentação do shopping, é a primeira filial<br />

da casa aberta há dois anos na 116<br />

Sul, e se auto denomina de mediterranean<br />

food. O que se caracteriza, segundo o gerente-proprietário<br />

Enozor Souza Jr. (na foto<br />

ao lado), pelo uso e abuso de peixes e<br />

frutos do mar, pelo tempero clássico com<br />

pitadas de açafrão e, claro, pelo azeite.<br />

“Azeite extra-virgem”, destaca Júnior. “É<br />

só o que usamos na nossa cozinha. Ele é<br />

que deixa os pratos leves, que é o que mais<br />

agrada nossa clientela, formada, na maioria,<br />

por pessoas que precisam comer e voltar<br />

logo para o trabalho. Elas querem se<br />

fartar, mas de uma comida que não pese<br />

no estômago e não dê aquela famosa preguicinha<br />

da sesta”.<br />

Bem, está explicado o “Med”. E “Sumô”<br />

é o nome do primeiro restaurante da<br />

família Souza, de comida japonesa, que<br />

foi a quarta casa do tipo, em <strong>Brasília</strong>, aberta<br />

em 2006, e a primeira a servir em sistema<br />

de rodízio. Quando resolveram expan-<br />

dir o negócio, o patriarca Enozor, os dois<br />

filhos, a filha e o genro – que hoje tocam<br />

uma rede de cinco estabelecimentos com


Todos os dias, os fãs<br />

de camarão podem<br />

se esbaldar com o<br />

rodízio (R$ 36,90),<br />

que inclui 11 pratos<br />

feitos com o ingrediente.<br />

O crustáceo<br />

aparece ao mel, com<br />

lulas e nas receitas de<br />

massas e risotos. No<br />

cardápio fixo, a paella<br />

med combina camarão,<br />

lagosta, lula<br />

e tomate pelado<br />

(R$ 142, para quatro<br />

pessoas). De sobremesa,<br />

o tentation é uma<br />

taça de crème brûllée<br />

com suspiro, morango<br />

e chantilly (R$ 14,50,<br />

para três pessoas).<br />

Entre as bebidas, o<br />

vinho branco chileno<br />

Equus Chardonnay<br />

2009, a R$ 110.<br />

a ajuda de filhos, sobrinhos e primos em<br />

todos os cargos-chave – constataram que o<br />

modismo plantara, em poucos anos, mais<br />

de 15 restaurantes japoneses na cidade,<br />

sem contar com as temakerias que se espalharam<br />

por praticamente todas as quadras<br />

comerciais do Plano Piloto. Não havia<br />

clientela para tanto. “Optamos pela cozinha<br />

mediterrânea porque é mais eclética e<br />

tem o mesmo padrão saudável”.<br />

O SumôMed foi uma criação coletiva<br />

de uma família não de chefs ou restaurateurs,<br />

mas de pragmáticos e bem sucedidos<br />

comerciantes. Júnior, por exemplo,<br />

já teve lojas de calçados, roupas e bijouterias,<br />

e ainda hoje não deixa de “dar uma<br />

passadinha” na Rua 25 de Março quando<br />

vai a São Paulo comprar matérias-primas<br />

para o Sumô. “Quando vou à Liberdade,<br />

sempre dou um passeio por ali, pra ver o<br />

que tem de novidade, de oportunidade de<br />

negócios... tenho saudade das minhas lojas”,<br />

confessa o paulista da minúscula Ma-<br />

racaí, no noroeste do Estado, onde cresceu<br />

no meio do compra e vende do pai e<br />

em torno da mesa farta em que se reunia<br />

a família. “Os restaurantes surgiram na<br />

nossa vida como uma boa oportunidade<br />

de negócio. E negócio, para ser bom, tem<br />

que ser bem feito e agradar o cliente”.<br />

Simples assim! Sem nenhuma invenção<br />

– ou melhor, há uma única, o camarão<br />

ao molho de mel criado pela irmã e também<br />

sócia e gerente Enozomara – mas<br />

usando bons ingredientes, repetindo com<br />

competência receitas consagradas e servindo<br />

com eficiência e fartura (além do rodízio<br />

de camarões, que satisfaz mesmo os<br />

mais insaciáveis, todos os pratos servem<br />

bem no mínimo duas pessoas), os Souza<br />

Tavares (este o sobrenome do genro, que<br />

tanto entrou para a família como para o<br />

negócio) já ocupam praticamente metade<br />

da praça de alimentação do Liberty Mall e<br />

estão sendo saudados pelos demais comerciantes<br />

por ajudar a revitalizar o shopping.<br />

Junto ao SumôMed, com capacidade para<br />

atender a 300 clientes em vários ambientes,<br />

alguns com vista panorâmica para a<br />

Esplanada, a numerosa família acaba de<br />

abrir uma confeitaria, a BabeteSumô, e finaliza<br />

as obras de uma filial do japonês Sumô<br />

(aquele que deu origem a tudo).<br />

Com o sangue de comerciante que<br />

lhe corre nas veias – ele parece em tudo<br />

libanês, mas não é; descende de alemães!<br />

– Júnior já traçou um rumo para onde<br />

avançar no novo negócio: as salas de cinema.<br />

Não para comprar, mas para fazer<br />

parcerias, quem sabe de vendas casadas,<br />

programas de desconto ou fidelidade... Tipo<br />

“almoce um rodízio de camarões, veja<br />

um filme de curta ou média metragem e<br />

volte para o trabalho feliz da vida”.<br />

Simples assim! Quem não quer?<br />

sumômed<br />

liberty mall, 1º piso (3797.9440)<br />

de 2ª a 6ª, das 12 às 15h e das 19 às 23h;<br />

sábado, das 12 às 15h e das 19 às 24h;<br />

domingo, das 12 às 15h30.<br />

17


<strong>18</strong><br />

picadinho<br />

baco stg<br />

Gil Guimarães anda rindo à toa. E não<br />

é para menos. sua pizzaria acaba de<br />

conquistar o selo specialità Tradizionale<br />

Garantita (sTG), conferido pela<br />

associazione Verace pizza napoletana.<br />

É a primeira pizzaria de <strong>Brasília</strong> e a<br />

terceira do Brasil, ao lado das paulistanas<br />

speranza e Braz, a cumprir todas as<br />

exigências – e não são poucas – para a<br />

fabricação da verdadeira pizza napolitana,<br />

Divulgação<br />

que tem dois sabores tradicionais:<br />

marinara, com molho de tomate,<br />

orégano e alho, e margherita, com<br />

mussarela, molho de tomate, parmesão<br />

e manjericão. as regras da aVpn,<br />

que precisam ser seguidas à risca, vão<br />

desde a escolha dos ingredientes até a<br />

temperatura do forno. no preparo da<br />

massa utiliza-se a farinha 00 italiana,<br />

água e apenas 3% de fermento fresco.<br />

o tomate deve ser, de preferência, o san<br />

Marzano; a mussarela, de búfala ou de<br />

vaca sTG; o azeite, extra virgem italiano.<br />

Por fim, o forno precisa estar a 485º,<br />

de forma que a pizza seja assada em<br />

no máximo 90 segundos. “o resultado<br />

é uma pizza leve, elástica, macia e ao<br />

mesmo tempo sutilmente crocante, com<br />

sabor inconfundível”, garante Gil. por<br />

enquanto, a verace pizza napoletana é<br />

servida na Baco (309 norte e 408 sul)<br />

somente às quintas e sextas-feiras, a<br />

partir das <strong>18</strong> horas.<br />

Jantar light<br />

Após o sucesso alcançado nas filiais de<br />

salvador, Manaus e campinas, chega a<br />

<strong>Brasília</strong> o menu ligth do Barbacoa para o<br />

Rafael Wainberg<br />

jantar. na verdade, são os mesmos pratos<br />

do cardápio normal, mas em versões mais<br />

leves, com no máximo 250 gramas. As<br />

opções mais recomendadas pelo próprio<br />

restaurante são o salmão grelhado com<br />

molho de maracujá, a truta com amêndoas,<br />

o filé mignon grelhado ao molho poivre,<br />

a tirita (um corte especial de picanha, de<br />

230 gramas), a fraldinha e a picanha baby<br />

de cordeiro (ambas com 250 gramas). O<br />

preço é o mesmo para todos os pratos:<br />

R$ 46,90, com direito a uma guarnição<br />

e acesso livre ao bufê de saladas.


istrô maior<br />

o tamanho aumentou, mas continua<br />

bistrô, anuncia o nossa cozinha Bistrô,<br />

da 402 norte. um ano depois de abrir as<br />

portas, o salão foi reformado e dobrou de<br />

tamanho. o cardápio continua pequeno<br />

e as opções de almoço mudam todos os<br />

dias. para o jantar, o cardápio é semanal.<br />

Cinco pratos principais continuam fixos,<br />

incluindo a especialidade da casa: a<br />

costelinha de porco ao molho barbecue<br />

com batatas assadas (R$ 27,50).<br />

petiscaria rander<br />

a partir da implosão do Hotel das<br />

nações, um ano atrás, a Rander,<br />

especializada em ranicultura e piscicultura<br />

de cultivo, passou a procurar um novo<br />

local onde se instalar. o local escolhido<br />

foi a loja 41 do Bloco B da 104 sul, onde,<br />

em ambiente aberto, com capacidade<br />

para 38 pessoas, voltou a servir seus<br />

petiscos à base de rã e tilápia, de segunda<br />

a sexta-feira, das 16 às 21h30. um dos<br />

preferidos da clientela é essa ao alho<br />

e azeite da foto abaixo, à esquerda.<br />

spedini<br />

com 16 unidades em são paulo, santa<br />

catarina, paraná e Rio Grande do sul, a<br />

spedini Trattoria Expressa, especializada<br />

em culinária italiana, acaba de chegar<br />

a <strong>Brasília</strong> – mais precisamente, ao<br />

Taguatinga shopping. outras duas<br />

unidades serão abertas em pontos<br />

comerciais ainda não escolhidos.<br />

o investimento nas três lojas é superior<br />

a R$ 1 milhão, devendo gerar 40 postos<br />

de trabalho.<br />

sorvetes artesanais<br />

Essa é a especialidade da marca Mil<br />

Frutas, que também inaugurou<br />

recentemente sua primeira unidade<br />

brasiliense. Fundada há 20 anos no Rio de<br />

Janeiro e com nove lojas, sendo duas em<br />

são paulo, a sorveteria com 70 sabores<br />

de sorvetes sem corantes ou conservantes<br />

acaba de se instalar num quiosque do<br />

primeiro piso do parkshopping. Trazida<br />

pelos empresários Henrique Romano e<br />

suzy Reis, tem entre os carros-chefes o<br />

elogiadíssimo goiabada com queijo. E já<br />

anuncia para dezembro, época natalina,<br />

os sabores rabanada e panetone.<br />

Fotos: Divulgação<br />

19


20<br />

LuIz RECENA GRASSI<br />

lrecena@hotmail.com Bahia,<br />

prezado editor,<br />

GARFADAS & GOLES<br />

do tempo pretérito<br />

assim: missiva, com a carta do tempo passado, coisa antiga, volto ao nosso convívio epistolar, iniciado em tempo pretérito,<br />

quando contei pela vez primeira ao casal Teresa-adriano Lopes de oliveira a arte bem mexicana, dos jornalistas, de enganar<br />

“El Malo”, a censura, com cartas ao editor. a revista era “siempre”. os missivistas, amigos e até patrocinadores da revista,<br />

escreviam uma carta ao editor e, nela, destilavam o ódio de viver num México dominado por um “partido Revolucionário<br />

Institucional”. Revolucionário e institucional. Tudo ao mesmo tempo? pois é, nem mesmo quando a dialética foi domada pelos<br />

filósofos alemães tal situação foi prevista. Editores queridos: amá-los é a melhor parte. E como nem só de Garfadas & Goles vive a<br />

coluna, é tempo para um pouquinho de política. A Bahia, em lua cheia, elegeu ACM25Neto, o que não quer dizer nada, nada que<br />

caetano Veloso, o “oráculo do abaeté”, não tenha dito: “o menino neto é o melhor”. E foi. E bem ganhou, sem deixar dúvidas.<br />

Entre os perdedores, destaque para a sandice da senadora Lídice, que culpou o povo por não saber escolher; e o outro destaque,<br />

desta vez do bem, para o governador Jaques Wagner, que, na mesma noite da vitória de neto, sinalizou que, juntos, começariam<br />

logo a defender salvador, a cidade esquecida. uma cidade, aliás, que foi governada (e mal, muito mal) pela própria Lídice.<br />

volta a memória<br />

Bom que seja assim. Não tem sido fácil para este colunista<br />

ouvir, quatro anos já, a repetida frase “no tempo de ACM<br />

avô nada disso acontecia”. Podia até acontecer, mas, contam<br />

os baianos que não vivem em condomínios que só têm<br />

andares de cima, alguém, alguma autoridade reclamava.<br />

É esta a memória boa que está de volta. Esperemos que<br />

para o bem.<br />

memória de volta<br />

É bom, também, porque o prefeito eleito e o governador gostam<br />

da cidade, frequentam-na. Não fogem dela para irem à feira.<br />

Por isso, volta a nossa gastronomia à coluna que lhe é de<br />

propriedade. Voltarão os incentivos para que a cidade e seus<br />

quitutes brilhem outra vez. Ora pro nobis. Rogai por nossos<br />

estômagos, Nossa Senhora dos bons comeres.<br />

Final<br />

Os orixás, que sabiam antecipadamente do resultado das<br />

urnas, determinaram, e o governador cumpriu: o acarajé<br />

e a baiana do acarajé já são patrimônio imaterial do Estado.<br />

Sonissíme Du Abranchés, pesquisadora emérita da cultura<br />

do Recôncavo, esteve na solenidade e, logo após, celulou com<br />

exclusivité para a revista <strong>Roteiro</strong>: “Magnifique! O acarrajé<br />

é finalmente reconhecido. Brraavo!!”. Ela sabe das coisas.<br />

Filho pródigo<br />

Novembro, oito. Oito de novembro de 2012 é data para ficar<br />

nas histórias: de <strong>Brasília</strong>, da pizza na cidade, da nossa <strong>Roteiro</strong><br />

e, principalmente, da história de vida de Gil Guimarães.<br />

Nesse dia ele ganhou o certificado internacional da “Vera<br />

Pizza Napolitana”. A única em <strong>Brasília</strong>, uma das raras no país.<br />

Ele merece. A gente também.


ALEXANDRE FRANCO<br />

pao&vinho@agenciaalo.com.br Divina<br />

PÃO & VINHO<br />

diversidade<br />

normalmente, quando uma pessoa aprecia um<br />

determinado tipo de bebida, como cerveja, whisky ou<br />

vodka, costuma eleger sua marca preferida e permanecer<br />

consumindo-a a maior parte do tempo. com o vinho a<br />

tendência é quase que a oposta, pois a diversidade de<br />

castas, de produtores, de regiões, de safras, de tantas<br />

variáveis, enfim, é tão grande que o enófilo sabe,<br />

percebe, mesmo que intuitivamente, que deve sempre<br />

experimentar novos rótulos, pois tem a certeza de que vai<br />

encontrar sempre algo diferente, que eventualmente lhe<br />

será ainda melhor do que aquele seu preferido até então.<br />

E é com esse pensamento, ou intuição, que, embora<br />

preserve um ou outro rótulo no meu consumo usual,<br />

acabo sempre que posso optando por experimentar,<br />

desde os mais básicos até os mais sofisticados rótulos,<br />

e tenho tido muitas surpresas nessa jornada vínica, a<br />

maioria delas muito boas. a possibilidade de, ao "virar<br />

uma esquina”, descobrir uma nova estrela, ainda mais<br />

brilhante, é talvez o que acho de melhor no mundo do<br />

vinho.<br />

Recentemente fui "ofuscado" por dois exemplares,<br />

um branco e um tinto, dos quais não me esquecerei<br />

tão cedo, pois foram gratas surpresas. o primeiro deles,<br />

o branco, foi um chardonnay americano da Beckstoffer<br />

Vineyards, o Littauer, safra 2008, da região de carneros,<br />

com nada menos que 14,9% de álcool, o que em<br />

princípio não me agradaria, mas que neste caso,<br />

totalmente equilibrado, muito bem trabalhado<br />

em carvalho, provavelmente tendo passado pela<br />

fermentação malolática, apresentou-se com os dois lados<br />

da chardonnay, um frutado com abacaxi e ao mesmo<br />

tempo a baunilha, o caramelo e a manteiga. Muito<br />

redondo e sedoso em boca e, apesar da baixa acidez,<br />

incrivelmente gastronômico. Excelente, dos melhores<br />

brancos que já degustei.<br />

Já o tinto, ah... que sonho! simplesmente o melhor<br />

vinho que já provei até hoje. a prova viva de que os<br />

melhores vinhos ficam ainda melhores com a idade, pois<br />

trata-se de um chateau D’Issan, um Grand cru classé<br />

de Margaux da safra de 1981, nada menos que 31<br />

anos de garrafa. ao sacar a rolha, tive um momento de<br />

preocupação, pois ela já se mostrava umedecida quase que<br />

por inteiro. Mas, ao aproximar a taça do nariz, as dúvidas<br />

sumiram e eu sabia que o casamento seria meu destino.<br />

amor à primeira vista. paixão arrebatadora. Tudo que de<br />

melhor se pode esperar de um vinho. os aromas abriram<br />

com chocolate e evoluíram para geleia de frutas negras e<br />

cassis. Depois veio algo de húmus, toque de terra, de<br />

tabaco, trufas. Havia para todo gosto. se durasse mais a<br />

garrafa, pois acabou-se com facilidade, seriam infindáveis<br />

os aromas a serem percebidos.<br />

a cor elegantemente acastanhada, o corpo ideal,<br />

extremamente elegante, com a sensualidade de um<br />

Borgonha e a estrutura de um Bordeaux. o retrogosto,<br />

notável, trouxe de volta o cassis, as frutas negras<br />

confitadas, o toque de chocolate, algo da baunilha e<br />

mesmo um quê de violetas. Infindável na persistência.<br />

sem dúvida, se eu o pontuasse receberia nota 100/100,<br />

mas para mim ele está muito além de uma pontuação, é<br />

simplesmente a essência da imaginação vínica. se tiverem<br />

a chance de degustá-lo, embora creio que não será fácil<br />

encontrar a safra, que adquiri em paris muitos anos atrás,<br />

não percam a oportunidade. se Baco de fato existiu,<br />

deixou parte de sua alma nessas garrafas.<br />

21


22<br />

CLÁuDIO FERREIRA<br />

claudioferreira_64@hotmail.com A<br />

DOIS ESPRESSOS E A CONTA<br />

hora da “dolorosa”<br />

Depois de uma refeição farta ou de um período regado<br />

a bebida e petiscos, chega ela. os mais antigos ainda a<br />

chamam de “dolorosa”. pois é, a conta, seja no pé-sujo,<br />

seja no restaurante mais luxuoso, em geral marca o<br />

final da farra: é como cantar os parabéns em festa de<br />

aniversário de criança. por mais que o dono da festa<br />

insista, depois de soprar as velinhas, é hora de ir embora.<br />

no bar, a última esperança é a saideira.<br />

como pedir a conta sem ser mal-educado? É sempre<br />

um dilema. Em alguns restaurantes, é tarefa difícil fazer<br />

o garçom olhar para o cliente. Em outros, o atendimento<br />

é bate-e-pronto. Do inocente “psiu” ao gesto imitando<br />

uma caneta em um bloquinho, vale tudo para chamar<br />

a atenção dos atendentes.<br />

Há os clientes mais discretos, mas há os que fazem a<br />

mímica acompanhada de uma frase do tipo “a continha,<br />

por favor” ou “fecha pra gente”. Já disse uma dessas<br />

papisas da etiqueta que chique, mesmo, é estirar o braço<br />

pra cima e esperar que o garçom venha até a mesa.<br />

Mas, em alguns casos, o braço esticado pode sofrer...<br />

Quando a conta chega, a luta começa. primeiro,<br />

porque em alguns lugares ela ainda é manuscrita e as<br />

caligrafias nem sempre parecem familiares. Quanto maior<br />

a noitada, mais longa é a conta e mais difícil a conferência.<br />

se a mesa está cheia, o trabalho dobra. Já as contas<br />

impressas são mais organizadas.<br />

um drama é a divisão da conta. se todo mundo sai na<br />

mesma hora, o trabalho é decidir se a repartição vai ser<br />

individual, calculando-se o consumo de cada um ou por<br />

igual, independente do que se comeu ou bebeu. aí, quem<br />

só tomou refrigerante olha desconfiado para quem ficou<br />

na cerveja, ou o cara que pediu o prato de camarão quer<br />

socializar o custo – o benefício ficou só para ele.<br />

pior é fazer a divisão quando alguns já foram embora.<br />

Dependendo do teor alcoólico – não acredito em má-fé<br />

entre amigos – o cálculo sai errado e o que se deixa para<br />

contribuir com a conta total, em dinheiro ou cheque, é<br />

muito menos do que se consumiu. O prejuízo fica para os<br />

últimos. E nas comemorações, fica justamente para quem<br />

é o homenageado da festa.<br />

sonho com o dia em que as contas já virão divididas,<br />

como em outros países. o garçom abre contas separadas<br />

e cada um paga a sua no final, sem drama. Melhor do<br />

que ficar vigiando os risquinhos que os garçons fazem<br />

na comanda para ver se os chopes da conta correspondem<br />

à “sensação” de quem bebeu.<br />

algumas contas impressas já vêm com a divisão por<br />

pessoa. Mas há alguns inconvenientes. a gente nunca sabe<br />

se o cálculo incluiu ou não os 10 por cento. se não incluiu,<br />

toca a fazer conta de novo. Às vezes, a conta é dividida por<br />

menos gente do que está na mesa e a brincadeira é descobrir<br />

quem não foi considerado “pessoa” pelo sistema eletrônico.<br />

um ingrediente extra e recente para aumentar a<br />

confusão é a nota Legal. a maioria dos estabelecimentos<br />

só aceita um cpF por conta. De quem é a vez? Tira no<br />

palitinho. só que nem sempre a mesma turma sai junta<br />

e o revezamento fica difícil de cumprir. Uma dica: bom<br />

senso, para não perder a amizade e a companhia na<br />

próxima saída. o mesmo bom senso de quem precisar<br />

pedir dinheiro emprestado para “inteirar” o pagamento<br />

da conta – na noitada imediata, dinheiro trocado para<br />

devolver ao legítimo dono, por favor.


24<br />

Divulgação<br />

Divulgação<br />

dia & noite<br />

devoltaàbelleépoque<br />

O harmônio, um instrumento inventado em Paris em <strong>18</strong>40, está de volta às salas de<br />

concerto. Há muito esquecido, essa espécie de órgão tem sido resgatada por músicos<br />

que promovem uma desenfreada busca a esses tesouros escondidos da história da<br />

música. Um deles vive em <strong>Brasília</strong> e se chama Dib Francis, pianista que vai tocar o<br />

harmônio pela primeira vez no Brasil. Acompanhado da pianista Alda Mattos, ele<br />

se apresenta dia 23 na Casa Thomas Jefferson (606 Norte). No repertório, obras<br />

originais para harmônio que eram tocadas nos grandes salões de Paris, Viena e Berlim.<br />

Inventado por A. Debain, o instrumento teve seu apogeu em 1900 e entrou em declínio<br />

em 1930. Fascinados por sua sonoridade, grandes compositores como Franck, Liszt,<br />

Karg-Elert, Widor, Schoenberg e Webern criaram peças para esse instrumento.<br />

Os músicos Dib Franciss e Alda de Mattos prometem uma viagem inesquecível<br />

ao som de um raro Shoninger Grand Cymbella fabricado em <strong>18</strong>84 e totalmente<br />

restaurado nos Estados Unidos, em 2010, por Hans Herr. Às 20h, com entrada franca.<br />

violinoevioloncelo<br />

Desde 2010 o músico inglês David Gardner é violoncelista<br />

da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio<br />

Santoro. Com a violinista brasiliense Lilian Raiol forma o<br />

The Gardner Duo, que se apresenta dia 9 na Casa Thomas<br />

Jefferson (606 Norte). Para esse concerto, a proposta é<br />

apresentar um repertório moderno, pouco tocado e,<br />

portanto, pouco conhecido do público, como o Pequeno<br />

duo, de Guerra Peixe, a Sonata para violino e violoncelo, de<br />

Maurice Ravel, e Trio para violino, de Ingolf Dall. Desse<br />

último participa o clarinetista convidado Marcos Cohen. Às 21h, com entrada franca.<br />

perfisdegonzaga<br />

Xangai e Marcelo Jeneci fazem show para<br />

homenagear Luiz Gonzaga no ano em que ele<br />

completaria 100 anos. É o projeto Perfis de<br />

Gonzaga, que a Caixa Cultural apresenta<br />

propondo uma releitura das músicas do Rei do<br />

Baião. Os artistas foram escolhidos por<br />

representarem a integração que Luiz Gonzaga<br />

fazia entre visões distintas: Xangai há muito se<br />

estabeleceu como um dos principais<br />

“cantadores” de nossa tradição popular e Marcelo<br />

Jeneci, como representante da nova geração da MPB, ilustra bem como a permanência<br />

do legado de Gonzagão transcende fronteiras e rótulos musicais. Dias 10 e 11, na Caixa<br />

Cultural. Sábado, às 20h, e domingo, às 19h. Ingressos a R$20 e R$ 10.<br />

toquinhoepauloricardo<br />

Em julho essa dupla lançou um CD para homenagear o poetinha Vinícius<br />

de Moraes. No repertório, entre outros sucessos, Toquinho e Paulo Ricardo<br />

escolheram Chega de saudade, Eu sei que vou te amar, Se todos fossem iguais<br />

a você, Garota de Ipanema, Insensatez e Água de beber. A feliz união do talento<br />

do violonista, compositor e intérprete da bossa nova com o do roqueiro, baixista<br />

e vocalista do RPM pode agora ser vista pelo brasiliense no show intimista que<br />

farão dia 21, às 21h, no Unique Palace. Ingressos a partir de R$120. Informações:<br />

9293.7002 / 9252.0234.<br />

Divulgação<br />

caminosflamencos<br />

Esse é o nome do espetáculo que será<br />

apresentado na Sala Martins Penna<br />

nos dias 24 e 25. Tem a participação de<br />

70 alunas, alunos e professoras da<br />

Oficina Flamenca, e não ficará restrito<br />

ao ritmo nascido na Andaluzia, situada<br />

no sul da Espanha. Vai mostrar também<br />

um pouco de tribal fusion, dança<br />

do ventre e dança cigana. Fruto do<br />

convívio entre andaluzes, árabes,<br />

judeus e ciganos, o flamenco, como<br />

disse a bailaora Sara Baras, “não entende<br />

de fronteiras e nem de línguas,<br />

pois ele vai diretamente ao coração”.<br />

Às 20h, com ingressos a R$ 30 e R$ 15<br />

(para estudantes e quem levar um quilo<br />

de alimento não perecível a ser doado<br />

para uma instituição beneficente).<br />

Divulgação<br />

nicolau El-moor


Romildo souza<br />

fábricadesucessos<br />

Em 52 anos de existência, a gravadora norte-americana Motown lançou<br />

estrelas do quilate de Marvin Gaye, Stevie Wonder, Jackson 5 e The<br />

Supremes. Famosa por abrigar artistas negros e não censurar críticas<br />

sociais ou políticas, a gravadora de Michigan virou um musical cuja<br />

montagem brasileira estará na cidade entre entre os dias 7 e 9. Dirigido por<br />

Cláudio Figueira, o espetáculo O som da Motown foi indicado ao Prêmio<br />

Contigo de Teatro, na categoria de melhor musical nacional em 2010, e<br />

também ao prêmio de melhor musical pelo jornal Folha de S. Paulo. Visto<br />

por mais de 60 mil espectadores, está em turnê pelo país para apresentar<br />

50 das 110 canções mais ouvidas nas décadas de 60, 70 e 80, todas lançadas<br />

pela gravadora. No elenco, as intérpretes Simone Centurione, Ellen Wilson,<br />

Alcione Marques, Débora Pinheiro e Fabrícia Lees. Uma palhinha pode<br />

ser vista no vídeo http://www.youtube.com/watch?v=axrXK8_Ndos.<br />

feirademúsica<br />

Sábado sim, sábado não. Este mês, o CCBB recebe as duas últimas edições da<br />

Feira de Música 2012, cada uma com três atrações selecionadas para apresentações<br />

gratuitas. Dia 10 os destaques são Eduardo Rangel (foto), Andréa dos Santos e<br />

Os Dinamites. Já no dia 24, subirão ao palco os grupos Pé de Cerrado, Jenipapo e<br />

Mandrágora. Patrocinada pelo FAC (Fundo de Apoio à Cultura), a feira “constitui<br />

uma iniciativa de difusão da produção musical do Distrito Federal com um caráter<br />

de respeito à diversidade de sonoridades aqui produzidas, garantida através de uma<br />

curadoria formada por profissionais oriundos de diversos segmentos, como a música<br />

instrumental, o rock, o choro, a cultura popular”, afirma Henrique Rocha, gestor<br />

do projeto. Às 16h, na área externa do CCBB, com entrada franca.<br />

amagiadofolimage<br />

Filmes de animação inéditos no Brasil, acompanhados de trilha musical tocada ao vivo. Essa é<br />

a proposta do espetáculo Bobines mélodies, que está em turnê pelo Brasil e faz apresentação<br />

única em <strong>Brasília</strong> no dia 16, às 21h, no CCBB. O espetáculo é uma criação musical do trio<br />

L’effet vapeur para o Folimage, um estúdio de filmes de animação responsável, entre outros,<br />

pelos títulos La prophétie des Grenouilles, Mia le MigouI e Une vie de chat, este último<br />

indicado ao Oscar de melhor filme de animação de 2012. Serão exibidos uma dezena de<br />

curtas, com música lúdica e poética do trio formado por Xavier Garcia (sintetizador,<br />

aparelhagem eletrônica), Jean-Paul Autin (saxofone, clarineta) e Alfred Spirli (bateria,<br />

objetos). Eles formam um dos grupos responsáveis pela Nova Música na França, integrando<br />

provocação e diversão. Às 21h, com ingressos a R$ 6 e R$ 3. Informações: 3108.7600.<br />

Rodrigo oliveira<br />

aflordocerrado<br />

Ninguém melhor do que o jornalista Silvestre Gorgulho, ex-Secretário de Cultura do DF, para<br />

relatar a saga da construção da Torre de TV Digital. Afinal, ele é um dos "pais" do monumento<br />

mais visitado da cidade. Em edição luxuosa de 240 páginas, Silvestre conta, com minúcia de<br />

detalhes, toda a história do último projeto do arquiteto Oscar Niemeyer para <strong>Brasília</strong>. Prefaciado<br />

por Maria Estela Kubitschek Lopes, filha de JK, o livro, ricamente ilustrado, documenta todas<br />

as etapas da construção da Torre de TV Digital e homenageia os 741 operários que trabalharam<br />

na obra, nomeando-os por ordem alfabética. À venda na Livraria do Aeroporto JK, Livraria<br />

Cultura do CasaPark e Iguatemi, Livraria Dom Quixote do Aeroporto, Centro Comercial<br />

Gilberto Salomão, Nova Rodoviária, CCBB e Águas Claras Shopping, Livraria Briquet do Setor<br />

de Rádio e TV Sul e www.folhadomeio.com.br.<br />

Isabelle neri<br />

Divulgação<br />

25


26<br />

dia & noite<br />

serpaisagem<br />

Esse é o nome da exposição que até 26 apresenta trabalhos dos artistas Chico<br />

Amaral, Gê Orthof, Karina Dias e Regina de Paula, todos abordando a relação<br />

entre a paisagem e o sujeito. Chico Amaral sugere, por meio de fotografias,<br />

vídeo e instalação, o lugar de encontro entre o sujeito e o mundo como a<br />

construção de um jogo entre o eu e o outro (foto). Com o auxílio da escultura<br />

e da ilustração, Gê Orthof utiliza o papel para compor aquarelas e apresentar<br />

objetos industrializados de pequenos formatos. Já Karina Dias investiga a<br />

experiência da paisagem no cotidiano, realçando detalhes corriqueiros que se<br />

tornariam invisíveis aos nossos olhos por serem vistos continuamente, enquanto Regina de Paula apresenta um tratado elementar de<br />

arquitetura que tem como núcleo um livro-objeto composto por intervenções de desenhos colados. Com curadoria de Karina Dias e<br />

Graça Ramos, a mostra pode ser vista na Galeria Fayga Ostrower, de segunda a domingo, das 9 às 21h. Entrada franca.<br />

acanoaancorada<br />

Lâmina de aço, fios de nylon,<br />

pedaços de vigas de aço e restos de<br />

fundição foram as matérias primas<br />

utilizadas pelo artista plástico<br />

Rogério Severo para criar a sua<br />

“canoa ancorada em uma margem”.<br />

A instalação Linhas e lugares à<br />

espera, contemplada com o Prêmio<br />

Funarte de Arte Contemporânea<br />

2012, pode ser vista até o dia 26 na<br />

Funarte. De acordo com o artista,<br />

seu desenho, ao ser posto em outro<br />

espaço que não a folha de papel,<br />

ganha um novo olhar. “O papel é<br />

plano, tem limites. Quando construo<br />

esse desenho em um local em que<br />

posso circundá-lo, vê-lo por outros<br />

ângulos e com dimensões, consigo<br />

enxergar através dele”, explica.<br />

Gaúcho de Uruguaiana e morador<br />

de Porto Alegre, Rogério participou<br />

da 8ª Bienal do Mercosul e recebeu<br />

o Prêmio Açorianos 2011 por esse<br />

trabalho. Dia 24, Rogério lança o<br />

catálogo da mostra, às 10h30. De<br />

segunda-feira a domingo, das 9<br />

às 21h, com entrada franca.<br />

Rogério severo<br />

Henrique Luz<br />

paisageminterior<br />

O cotidiano, as paisagens urbanas e a natureza de <strong>Brasília</strong>, Rio de Janeiro, São Paulo,<br />

Mato Grosso e Amazonas estão retratados no trabalho da espanhola Concha Gómez-<br />

Acebo, que há um ano mora no Brasil. “Represento cenas do cerrado brasileiro, vasos<br />

com flores, hotéis iluminados<br />

perdidos na escuridão e o dia a dia<br />

das pessoas”, explica a artista, cujo<br />

trabalho está exposto no Instituto<br />

Cervantes até 10 de janeiro. Na<br />

mostra A paisagem interior na obra<br />

de Concha Gómez-Acebo estão 28<br />

pinturas e um vídeo da artista nascida<br />

em Málaga e que confessa sempre ter<br />

tido admiração pelo Brasil. Por essa<br />

razão, resolveu mostrar de modo particular em suas obras tudo o que chamou a<br />

atenção em cada lugar que conhecia. “Sensibilidade, imaginação e espírito livre são<br />

sentimentos necessários para entender as pinturas”, explica Concha. De segunda a<br />

sexta-feira, das 11 às 21h; sábados, das 9 às 14h. Entrada franca.<br />

semanade22<br />

Para comemorar o 90º aniversário da Semana<br />

de Arte Moderna, o Museu Nacional dos<br />

Correios (SCS, quadra 4) apresenta a<br />

mostra Semana sísmica – Correspondências<br />

modernas, uma panorâmica com obras de<br />

artistas que participaram daquele movimento<br />

emblemático ocorrido em São Paulo no ano<br />

de 1922. Com curadoria de Wagner Barja,<br />

estão expostas no museu obras de artistas<br />

que participaram do movimento, entre eles<br />

Vicente do Rego Monteiro, Ismael Nery,<br />

Mário Zanini, Anita Malfatti, Pedro<br />

Alexandrino, Clovis Graciano, John Graz, Vitor Brecheret, Di Cavalcanti e Tarsila<br />

do Amaral, bem como de seguidores que, nas décadas seguintes, sustentaram os<br />

desdobramentos do modernismo, como Alfredo Volpi, Djanira, Rebolo, Cícero Dias<br />

(foto), Guignard, Pancetti, Aldo Bonadei e Portinari. De terça a sexta-feira, das 10<br />

às 19h; sábados, domingos e feriados, das 12 às <strong>18</strong>h. Entrada franca.<br />

Divulgação<br />

Divulgação


mais-valia<br />

Um texto do dramaturgo Oduvaldo Viana<br />

Filho, o Vianinha, foi escolhido por Ricardo<br />

Guti para encerrar a oficina de atores<br />

coordenada por ele no Espaço Mosaico.<br />

De 17 a 25, seus alunos vão encenar A mais-<br />

-valia vai acabar, seu Edgar!, espetáculo<br />

de 1960 que percorreu sindicatos, escolas,<br />

favelas e organizações de bairro para mostrar<br />

ao público a lógica da exploração capitalista. Dessa atividade surgiu o CPC-UNE, órgão<br />

cultural da União Nacional dos Estudantes, e seu “teatro revolucionário”. O autor,<br />

Vianinha (1936/1974), fez parte do Teatro de Arena, dirigido por Augusto Boal, e foi um<br />

dos fundadores do grupo Opinião. Sábado, às 21h, e domingo, às 20h, com entrada franca.<br />

Divulgação<br />

Divulgação<br />

comíciogargalhada<br />

Se for anunciado como Rodrigo Sant’anna, muita gente não vai saber quem é. Mas se for dito “trata-se<br />

daquele ator que faz a Valéria do Zorra Total”, muitos saberão. Se, ainda assim, houver quem não o<br />

identifique, é só recitar o bordão “Ai como tô bandida!” que não haverá mais dúvidas. Pela primeira vez em<br />

<strong>Brasília</strong>, Rodrigo Sant’Anna apresenta o seu Comício gargalhada, dia 11, às 19h, no Orla Clube de<br />

Engenharia. Com texto próprio e direção da também comediante Thalita Carauta – a Janete,<br />

personagem com que divide o quadro no programa da Rede Globo –, o monólogo se passa num<br />

palanque, onde personagens hilários se apresentam para defender sua plataforma política. Ingressos a<br />

R$ 80 e R$ 60, à venda no <strong>Brasília</strong> Shopping e na FNAC do ParkShopping. Informações: 3225.2877.<br />

funçãopedagógica<br />

No último dia 1º, o Centro Cultural Banco do Brasil inaugurou novo espaço dedicado<br />

à cultura. Trata-se da Galeria 3, com o projeto Espaço Entre, concebido pelo Coletivo<br />

Irmãos Guimarães. O objetivo do projeto é criar um lugar de convivência onde<br />

trocas de experiências sejam as atividades principais. “O Espaço Entre aborda uma<br />

importante função pedagógica ao aproximar criadores e pesquisadores de toda a<br />

comunidade, por meio das diversas atividades propostas. As ações contribuirão para<br />

a formação de um público participativo, além de melhor preparado e mais confortável<br />

para ver-se e atuar como co-autor das proposições contemporâneas”, afirmam os<br />

irmãos Guimarães. O público terá acesso a duas exposições, 15 encontros com<br />

discussões em torno da arte contemporânea, três colóquios, quatro demonstrações de<br />

trabalho, quatro oficinas, dois ensaios abertos do espetáculo Nada, dois ensaios abertos<br />

do videodança Nada se move e quatro ciclos de leitura – todos os eventos com entrada<br />

franca. Além disso, as apresentações do espetáculo Nada terão preços populares (R$ 6<br />

e R$ 3). Informações: www.bb.com.br/cultura.<br />

forçasvitais<br />

Uma semana dedicada ao butoh, uma<br />

dança oriental nascida no pós-guerra e<br />

que recupera as forças vitais do corpo.<br />

Para se conhecer mais essa forma de<br />

expressão na qual alma, emoções e<br />

experiências se revelam pelos gestos, o<br />

Espaço Mosaico convidou o principal<br />

representante do butoh contemporâneo,<br />

Atsushi<br />

Takenouchi,<br />

discípulo dos<br />

fundadores do<br />

estilo, Tatsumi<br />

Hijikata e Kazuo<br />

Ohno. Além de se<br />

apresentar com sua<br />

companhia Jinen<br />

Butoh, nos dias 10<br />

e 11, o dançarino,<br />

que vive desde 2002<br />

na Europa, vai<br />

ministrar um<br />

workshop sobre sua<br />

arte de 12 a 16, das<br />

19 às 22h, no<br />

mesmo espaço. No<br />

dia 17, ele e seu grupo se apresentam<br />

novamente no Parque Olhos D’Água,<br />

às 17 horas. Entrada franca.<br />

literaturadeterror<br />

O jovem Felipe descobre os prazeres da vida ao se encontrar com o misterioso Fio Vilela. Mal sabe ele<br />

que, a partir dali, começa um jogo cuja principal conquista envolve sua própria alma. Esse é o enredo<br />

de A maldição de Fio Vilela, terceiro livro do escritor Marcelo Araújo, que será lançado neste dia 8, a<br />

partir das <strong>18</strong>h30, no restaurante Carpe Diem (104 Sul). Jornalista e escritor, Marcelo Araújo publicou<br />

seu primeiro trabalho, Não abra – contos de terror, em 2009. O segundo título foi lançado em 2011 –<br />

Pedaço malpassado, dois contos que também mergulham no universo do horror. O escritor mistura<br />

em seus livros elementos da cultura popular brasileira, da literatura e de referências da cultura pop.<br />

Luiz Badula<br />

Tsukasa aoki<br />

27


28<br />

graves & agudos<br />

por heitor meneZes<br />

amável para ser amado”, dizia<br />

o poeta Ovídio. “Nada é maior “Sê<br />

do que dar amor e receber de<br />

volta o amor”, diz a letra de Nature boy,<br />

que muitos pensam ser de Nat King Cole,<br />

mas é de um estranho rapaz chamado<br />

Eden Ahbez. Pois no longo capítulo do<br />

amor, cantado em verso e prosa, podemos<br />

acrescentar: “Amar alguém só pode fazer<br />

bem”, que é como diz o refrão da canção<br />

Amar alguém (Arnaldo Antunes/Dadi/<br />

Marisa Monte), quarta faixa do CD O que<br />

você quer saber de verdade, o mais recente<br />

de Marisa Monte.<br />

A romântica Marisa, que finalmente<br />

nos visita com a turnê Verdade, uma ilusão,<br />

dias 17 e <strong>18</strong>, no Auditório Master do<br />

Centro de Convenções Ulysses Guimarães.<br />

Corações carentes, almas sem par,<br />

corações apaixonados, almas gêmeas, felizes<br />

e azarados, todos têm motivos para celebrar<br />

o amor, na voz de quem entende<br />

um bocado de tão perseguida quanto intangível<br />

arte.<br />

Isso: ouvir Marisa Monte significa se<br />

render à singeleza da arte amorosa em for-<br />

David Guetta<br />

ma de canção. Sua obra mais recente<br />

acrescenta um punhado de novos versos<br />

ao mais caro dos temas humanos. “A música<br />

é um convite ao silêncio necessário<br />

para se escutar as necessidades da alma”,<br />

explica a cantora/compositora, que completa<br />

25 anos de vitoriosa carreira, sempre<br />

entregando ao público artigos de altíssima<br />

e indiscutível qualidade.<br />

Pois neste Verdade, uma ilusão, Marisa<br />

Monte e o seleto grupo de músicos que a<br />

acompanha complementam, com apresentação<br />

ao vivo e em cores, o pacote que<br />

inclui o disco, o interativo website e, num<br />

futuro não tão distante, o DVD/Blue-ray,<br />

com o registro, para ver e guardar, do<br />

atual estado de coisas por que passa a carioca<br />

Marisa de Azevedo Monte.<br />

Com seu mais recente trabalho, ela<br />

aproveita para reprisar a parceria de tanto<br />

sucesso com os tribalistas Arnaldo Antunes<br />

e Carlinhos Brown. Pelo menos nove<br />

das 14 faixas do álbum levam a assinatura<br />

dos amigos, que parecem entender como<br />

poucos as “necessidades da alma”, como<br />

apregoa a artista.<br />

Ouvindo O que você quer saber... percebe-se<br />

que as vicissitudes do amor preci-<br />

Há quem goste de música eletrônica justamente porque ela é feita de sons sintéticos e levam<br />

o ouvinte a atraentes paisagens artificiais, uma viagem na qual os alemães do Kraftwerk ou do<br />

Tangerine Dream, por exemplo, são mestres. por outro lado, temos os que preferem o baticum<br />

mesmo, os que têm na música eletrônica o passaporte para o hedonismo, a curtição que precisa<br />

de uma trilha sonora condizente com o tamanho da esbórnia.<br />

os que se encaixam no segundo quesito têm uma ótima chance de cair na gandaia (ainda existe<br />

essa expressão?) com o mega show do não menos mega DJ francês David Guetta, na quartafeira,<br />

14, véspera do feriado de proclamação da República. o estacionamento do Estádio nacional<br />

Mané Garrincha promete ficar pequeno, pois Guetta, a exemplo do britânico Fatboy Slim,<br />

costuma atrair multidões. Ele tem um punhado de hits, muitos construídos em parceria com<br />

artistas de fama, tipo David Bowie (!!!), Black Eyed peas, akon, usher e chris Willis. Ibiza é aqui?<br />

Divulgação<br />

Amor em<br />

forma de<br />

canção<br />

sam de atenção redobrada, pois os amantes,<br />

não obstante o estado de torpor e encantamento,<br />

necessitam de constante<br />

orientação; caso contrário, estarão fadados<br />

ao infortúnio de uma vida solitária, ó<br />

vida, ó azar.<br />

Há quem veja O que você quer saber...<br />

como um manual do amor venturoso. O<br />

recado começa com a faixa homônima, do<br />

trio Marisa/Brown/Antunes: “Ouve a<br />

terra respirar/ Pelas portas e janelas das<br />

casas/ Atenção para escutar/ O que você<br />

quer saber de verdade”.<br />

Apesar de bacana, pule o amor que se<br />

lamenta: “Quero que você seja feliz/ Hei<br />

de ser feliz também” (Depois, de Marisa/<br />

Brown/Antunes). Ouça com atenção Ainda<br />

bem (Marisa/Antunes), aquela do clip<br />

com o fortão Anderson Silva: “Você que<br />

me faz feliz/ você que me faz cantar assim”.<br />

E não esqueça o recado de Seja feliz<br />

(Dadi/Marisa/Antunes): “Tão largo o<br />

céu/ Tão largo o mar/ Tão curta a vida/<br />

Curta a vida”.<br />

O amor, segundo Marisa Monte, não é<br />

só “amor, I love you”. É o amor que se explica<br />

como nos versos de Verdade, uma ilusão<br />

(Brown/Antunes/Marisa): “Eu posso<br />

te fazer ouvir/ Milhões de sinos ao redor/<br />

Eu posso te fazer canções/ O amor soa em<br />

minha voz”. Ah, o amor.<br />

verdade, uma ilusão<br />

show de marisa monte dias 17/11 (sábado),<br />

às 21h30, e <strong>18</strong>/11 (domingo), às 19h, no<br />

auditório master do centro de convenções<br />

ulysses guimarães. ingressos (valores de<br />

meia entrada): vip gold, r$ 250; gold lateral,<br />

r$ 200; setor a, r$ 200; setor b, r$ 150;<br />

e superior, r$ 120 (à venda na central de<br />

ingressos do brasília shopping, Fnac do<br />

parkshopping e www.ingressorapido.com.br.


Aquarela Carioca<br />

por heitor meneZes<br />

Aforismo atribuído a Louis Armstrong<br />

diz que não há resposta para<br />

qual seria a definição de jazz.<br />

Pouco importa. Desde que Miles Davis<br />

subverteu a ordem e por diversas vezes levou<br />

o jazz a lugares nunca antes imaginados,<br />

o estilo musical metamorfoseou-se<br />

em muitas cores e manteve como essência<br />

apenas a síncope e o gosto pelo improviso.<br />

Quanto à essência afro-americana,<br />

bem, a essência afro-americana continua<br />

mãe de toda boa música, mas o que<br />

dizer do jazz escandinavo ou das influências<br />

orientais?<br />

Fiquemos com a boa música. O jazz<br />

made in Brasil ou o Brazilian jazz, como já<br />

foi chamado, continua firme e forte; tem<br />

lá seu público cativo e se hoje não arrebenta<br />

a boca do balão é porque o entretenimento<br />

de massa sobrepujou a arte<br />

feita na medida. Em outras palavras, o<br />

André Mehmari<br />

Fotos: Divulgação<br />

entretenimento self-service é mais forte<br />

que o à la carte, só que este, por servir<br />

iguarias finas, não é para qualquer um.<br />

Sem mais delongas, fiquemos com a<br />

papa fina que será servida no projeto Isso<br />

é jazz?, em cartaz entre os dias 12 e 15 no<br />

renovado Teatro da Caixa, sempre às 8<br />

da noite. Em ação, nossos melhores músicos<br />

de jazz, daqueles que são sempre<br />

bem-vindos porque tocam uma música<br />

que fala direto ao coração.<br />

Na segunda-feira, 12, o Mauro Senise<br />

Quarteto abre a programação. Para muitos,<br />

Senise é o responsável pelo incrível e<br />

inesquecível solo em Palhaço, de Egberto<br />

Gismonti, mas o saxofonista é muito<br />

mais. Seu sopro acompanhou gigantes<br />

como Hermeto Pascoal, o próprio Gismonti,<br />

Caetano Veloso, Wagner Tiso,<br />

Gilberto Gil, Luiz Eça, entre tantos.<br />

Lembram do Cama de Gato? Senise foi<br />

um dos fundadores do combo. Em sua<br />

companhia teremos Gabriel Geszti (piano),<br />

Rodrigo Villa (contrabaixo) e Ricardo<br />

Costa (bateria).<br />

Na terça-feira, 13, sobe ao palco o<br />

Victor Biglione Trio. O mais brasileiro<br />

dos guitarristas argentinos tem um currículo<br />

sensacional. Victor Biglione já foi<br />

do grupo A Cor do Som; gravou dois discos<br />

com Andy Summers, guitarra da banda<br />

The Police, e até tocou com ele de graça<br />

na praça de alimentação do Conjunto<br />

Nacional. Gravou com muita gente legal,<br />

tipo Cássia Eller, Zé Renato e Jane<br />

Duboc. O cara tem uns discos solos meio<br />

difíceis de achar. Na companhia de Alex<br />

Papa fina<br />

Rocha (contrabaixos elétrico e acústico)<br />

e Victor Bertrami (bateria e percussão),<br />

Biglione traz à cena o feeling jazz com as<br />

cores dos sons da grande MPB.<br />

Quarta-feira, 14, é a vez do grupo<br />

Aquarela Carioca, que os de boa memória<br />

lembram por ter tocado com Ney Matogrosso,<br />

no disco As aparências enganam<br />

(1993). Formado por Lui Coimbra (violoncelo),<br />

Marcos Suzano (percussão, bateria<br />

e programações), Mário Sève (saxofones<br />

e flautas), Paulo Brandão (baixos e<br />

sonoplastias) e Paulo Muylaert (guitarras<br />

e violões), o Aquarela vai mostrar repertório<br />

com ênfase no mais recente álbum,<br />

Mundo da rua (2008).<br />

E no feriado de quinta-feira, 15, o<br />

pianista nascido em Niterói André Mehmari<br />

encerra o projeto lembrando que<br />

este país é também pátria de incríveis domadores<br />

de piano. Quando se fala em inventividade,<br />

capacidade de improviso e<br />

erudição nesse requintado e completíssimo<br />

instrumento, Mehmari é visto como<br />

um sopro de ar fresco, capaz de renovar<br />

nosso interesse pelo piano solo. Dizem<br />

que o rapaz já deveria ter ido embora,<br />

pois aqui a música instrumental não é valorizada.<br />

Aproveitemos enquanto esse talento<br />

ainda está por aqui.<br />

isso é jazz?<br />

de 12 a 15/11, às 20h, no teatro da caixa<br />

(setor bancário sul). ingressos: r$ 20 e r$ 10<br />

(meia entrada para estudantes, professores,<br />

empregados e clientes da caixa, pessoas<br />

acima de 60 anos e doadores de 1 kg de<br />

alimento não perecível). classificação etária:<br />

14 anos. mais informações: 3206.9448.<br />

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30<br />

Que EspETácuLo<br />

Rei David: um herói fabricado?<br />

Produção dramático-musical escrita por Marcus Mota e dirigida<br />

por Hugo Rodas dá novo formato à história do mito bíblico.<br />

por melissa luZ<br />

Em outubro, milhões de brasileiros<br />

foram às urnas para escolher prefeitos<br />

e vereadores. Candidatos de<br />

todas as estirpes pipocaram pelos municípios,<br />

dos mais sérios aos mais avacalhados;<br />

dos bem-intencionados aos oportunistas.<br />

Largos sorrisos, apertos de mão e<br />

abraços emolduraram pelas ruas infindáveis<br />

promessas de campanha. À primeira<br />

vista, muitos pareciam perfeitos. Mas<br />

agora, finda a eleição, será que o voto do<br />

povo foi bem direcionado? Como diferenciar<br />

um bom candidato de um personagem<br />

fabricado?<br />

Na Universidade de <strong>Brasília</strong>, um espetáculo<br />

dramático-musical desconstrói a<br />

história de um mítico rei bíblico para debater<br />

a construção de heróis e líderes carismáticos.<br />

Rei David, em cartaz no Anfiteatro<br />

9 de 28 de novembro a 2 de dezembro,<br />

parte das pesquisas do arqueólogo Israel<br />

Finkelstein para desmontar a versão de<br />

que David foi um herói puro das massas.<br />

“O espetáculo não é nem sobre o David<br />

que se ensina nas igrejas e na televisão,<br />

muito menos sobre um anti-David,<br />

um libelo gratuito contra a figura bíblica.<br />

O personagem principal é o coro, o povo.<br />

O povo que cria heróis, mas que também<br />

pode se afastar deles”, esclarece o<br />

dramaturgo Marcus Mota, diretor do<br />

LADI, Laboratório de Dramaturgia e<br />

Imaginação Dramática da Universidade<br />

de <strong>Brasília</strong>, responsável pela montagem,<br />

que tem patrocínio do FAC e integra as<br />

comemorações pelos 50 anos da UnB.<br />

Cinquenta atores/intérpretes e uma<br />

big band comandada por Ademir Júnior<br />

contam a história de um David anônimo,<br />

um “zé-ninguém” que cai nas graças<br />

do povo. O foco da montagem está em<br />

mostrar como a História gira em torno<br />

da imaginação popular. Imaginação essa<br />

que pode ser criativa e, ao mesmo tempo,<br />

liberadora e escrava de seus medos e<br />

esperanças. A direção de Hugo Rodas<br />

quebrou a estrutura clássica de musicais,<br />

com divisão de atos e cenas, canções co-<br />

rais e árias, para dar lugar à relação entre<br />

os heróis e o povo em diversas épocas,<br />

principalmente hoje.<br />

“O nosso musical é um pouco atípico.<br />

Além do protagonista não cantar, o<br />

centro de orientação não são as canções-<br />

-solo, mas os números coletivos. As músicas<br />

na montagem funcionam como negociação<br />

com a memória, e não como<br />

ilustração da cena, sobretudo, depois<br />

dos arranjos de Marcelo Dalla, que deram<br />

um toque cinematográfico ao trabalho”,<br />

explica Marcus, autor dos textos e<br />

das músicas. A dobradinha com Hugo<br />

Rodas acontece pela sexta vez: “Uma das<br />

vantagens de se trabalhar com o Hugo é<br />

a sua musicalidade, sua ciência coreográfica<br />

de materializar em movimento aquilo<br />

que é palavra e nota musical. Sem contar<br />

que ele está cada vez mais divertido!”.<br />

rei david<br />

de 28/11 a 2/12 no anfiteatro 9 da<br />

universidade de brasília. sessões às 19 e 21h,<br />

com entrada franca. classificação indicativa:<br />

14 anos. informações: 9214.4861/8119.9443<br />

clara Braga


A magia do circo<br />

Pela primeira vez no Brasil, o Kukli se apresenta em <strong>Brasília</strong> no dia 15<br />

O<br />

que o armênio Zhora Oganisyan<br />

consegue fazer no picadeiro é de provocar<br />

inveja até no craque Neymar.<br />

Equilibrando-se sobre uma imensa bola de futebol,<br />

ele anda pelo palco e ainda por cima faz<br />

malabarismos com outras três, essas de tamanho<br />

oficial. Só vendo, mesmo, para crer.<br />

Ele e outros 39 artistas russos e ucranianos<br />

fazem parte do Kukli Theatral Circo, trupe<br />

que está em turnê pelo Brasil e apresenta na<br />

cidade um só espetáculo repleto de equilíbrio,<br />

contorcionismo, ilusionismo, força e humor.<br />

Entre os destaques da companhia que<br />

chega ao Ginásio Nilson Nelson está também<br />

Valentim Urse, mais conhecido como Homem<br />

Mola, que já viajou o mundo divertindo<br />

crianças e adultos com suas performances de<br />

um grande boneco sem cabeça cujos braços<br />

viram pernas e cujas pernas viram braços sucessivamente.<br />

Sem contar os ciclistas acrobatas,<br />

que usam imensas câmeras de ar para pular<br />

a mais de cinco metros de altura, e o Duo<br />

Arni, casal de ilusionistas muito afinado que<br />

consegue trocar de roupa mais de dez vezes<br />

em poucos minutos.<br />

Outro ilusionista, o espanhol não à toa<br />

chamado Raúl Alegria, é conhecido por fazer<br />

surgir uma chama de fogo de cada um dos dez<br />

dedos de sua mão, além de trazer os clássicos<br />

pombos e lenços que tanto encantam as crianças,<br />

enquanto o Duet Konfuz arranca gargalhadas<br />

do público tocando instrumentos e sapateando<br />

com pernas de pau.<br />

Entre os malabaristas, destaque para Gumenyuk<br />

Volodymyr, que, com movimento de<br />

danças e acrobacias com bolas, é uma das<br />

principais atrações do Circo Bolshoi de Moscou,<br />

e Alyona Pavlova, capaz de voar sobre o<br />

picadeiro presa por um pé só apoiado a um<br />

grande bambolê.<br />

A apresentação única começa às 19h do<br />

feriado de 15 de novembro, no Ginásio Nilson<br />

Nelson, e tem ingressos à venda no <strong>Brasília</strong><br />

Shopping. Os mais baratos, na arquibancada,<br />

custam R$ 30 a meia. As cadeiras numeradas<br />

saem por R$ 60 a meia e o camarote<br />

R$ 120 a meia. As reservas podem ser feitas<br />

pelo telefone 9135.4445.<br />

Fotos: Divulgação<br />

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32<br />

terceiro sEToR<br />

Circo pedagógico<br />

Projeto oferece a crianças carentes de Taguatinga e do<br />

Paranoá aulas gratuitas que unem o lúdico e o físico.<br />

por melissa luZ<br />

Sair do plano das ideias e partir para<br />

a ação. Uma ação concreta, capaz<br />

de gerar bons resultados a quem<br />

faz, a quem acompanha e, sobretudo, a<br />

quem recebe. Com essa filosofia, um grupo<br />

de artistas de <strong>Brasília</strong> fundou, em junho<br />

de 2008, a Ascetur, Associação Cultural,<br />

Esportiva e Turística, cujos projetos<br />

sociais buscam trabalhar a formação holística<br />

do ser humano. É o caso do Circo<br />

Social, programa educacional que desde<br />

abril atende gratuitamente crianças e adolescentes<br />

no Paranoá e em Taguatinga.<br />

Apesar de trazer no nome o templo do<br />

picadeiro, o projeto vai além das atividades<br />

circenses. Ao longo de dez meses, ou<br />

seja, até dezembro deste ano, os alunos do<br />

Centro Social Formar, de Taguatinga, e<br />

do Centro de Ensino Fundamental 3, do<br />

Paranoá, vêm tendo aulas de seis modalidades<br />

diferentes: malabares, teatro cômico,<br />

capoeira, dança acrobática (hip hop),<br />

acrobacia aérea e história em quadrinhos.<br />

Os participantes têm entre seis e 14 anos,<br />

divididos em turmas de até 15 alunos.<br />

As instituições beneficiadas foram escolhidas<br />

a partir de uma consulta da presidente<br />

da Ascetur, Ana Sofia Lamas, ao<br />

banco de dados da Rede Solidária Anjos<br />

do Amanhã, programa de voluntariado<br />

da 1ª Vara da Infância e da Juventude.<br />

“Sempre que temos um projeto, procuro<br />

instituições sérias no cadastro do Anjos.<br />

Depois, vou aos locais, vejo o espaço físico<br />

e avalio que tipo de atividade se encaixa<br />

lá”, detalha Ana Sofia.<br />

Essa é a terceira vez que o Centro Social<br />

Formar recebe a programação do Circo<br />

Social. Nas duas primeiras edições, por<br />

iniciativa individual de Ana Sofia. Assim,<br />

a edição deste ano é a primeira da Ascetur<br />

como entidade instituída, detentora de<br />

CNPJ e com nome registrado (leia quadro<br />

na página ao lado). Mas não é apenas a<br />

parceria com o Formar que se repete agora.<br />

Ana Sofia fez questão de convidar os<br />

mesmos profissionais que a acompanham<br />

há três anos. O grupo, escolhido a dedo, é<br />

formado pelos professores Ilson Pereira<br />

(capoeira), Henrique Siqueira (história<br />

em quadrinhos), Sandra Kelly (hip hop),<br />

Tallyta Torres (acrobacia aérea), Guilher-


me Alves (teatro cômico) e Miguel Estill<br />

(malabares). Emanuel Santana é o coordenador<br />

no Paranoá e Raphael Balduzzi em<br />

Taguatinga. A atriz, bailarina e coreógrafa<br />

Lívia Bennet faz a coordenação geral do<br />

projeto. Todos os envolvidos integram<br />

grupos artísticos do DF, como Ana Sofia,<br />

que, além de lecionar acrobacia aérea no<br />

Colégio Setor Leste, é integrante da Trupe<br />

dos Argonautas, que mistura em seus trabalhos<br />

circo, teatro, dança e música.<br />

Assim como o corpo docente, as disciplinas<br />

oferecidas pelo Circo Social também<br />

foram escolhidas criteriosamente.<br />

A ideia é que as seis atividades unam o lúdico<br />

e o físico na tarefa de despertar, estimular<br />

e desenvolver em cada participante<br />

a consciência do seu papel como um ente<br />

social. O teatro, por exemplo, trabalha o<br />

saber se colocar, o falar de frente para o<br />

outro, além de descontrair com o lado cômico.<br />

Já a capoeira exige do aluno disciplina<br />

e enfrentamento do medo, ao mesmo<br />

tempo em que ensina o contexto histórico<br />

da luta e noções práticas da música. A<br />

acrobacia aérea ensina às crianças e adolescentes<br />

o poder da superação. Coordenação<br />

e paciência são os grandes benefícios<br />

que os alunos de malabares apreendem<br />

das aulas. O hip hop, além de ensinar<br />

ritmo, métrica e rima, valoriza a cultura<br />

nascida e frutificada nos subúrbios.<br />

A aula de história em quadrinhos é<br />

uma capítulo à parte. De acordo com Ana<br />

Sofia, a disciplina tem sido uma grata surpresa<br />

para todos: “A história em quadrinhos<br />

foi um achado. A quantidade de meninos<br />

talentosos é algo impressionante.<br />

Eles já dominam técnicas como perspectiva<br />

e planos de fundo. Às vezes eu vejo uns<br />

desenhos e não acredito que foram eles<br />

que fizeram”.<br />

Este ano, o Circo Social conquistou o<br />

patrocínio do FAC, Fundo de Apoio à<br />

Cultura do GDF. Isso possibilita o pagamento<br />

de cachê para os professores e coordenadores<br />

sem qualquer custo para os alunos<br />

e instituições. Ano que vem, a busca<br />

por financiamento recomeça. “Todo edital<br />

é uma torcida!”, desabafa Ana Sofia,<br />

confessando, entretanto, que o pro cesso à<br />

frente da organização tem sido um desafio<br />

interessante: “Eu estou aprendendo a cada<br />

projeto. Cada nova etapa é um aprendizado.<br />

Já errei, já aprendi com o erro e<br />

não errei de novo. Eu acho que isso faz<br />

parte do crescimento, como tudo em nossa<br />

vida. E eu vejo isso super positivamente.<br />

Estou aberta para aprender e eu gosto”.<br />

Em busca de parceiros<br />

segundo o dito popular, “a ocasião faz o ladrão”. Talvez essa seja uma boa expressão<br />

para explicar a criação da ascetur, associação cultural, Esportiva e Turística. Instigados<br />

e motivados a realizar projetos sociais em comunidades carentes, artistas do DF decidiram<br />

se unir em 2008 em forma de associação. a institucionalização foi naturalmente necessária<br />

para que o grupo pudesse participar de editais. “agora, com cnpJ, podemos pleitear<br />

patrocínio sem pedir nome emprestado de ninguém”, explica a presidente Ana Sofia.<br />

Em junho deste ano, a ascetur deu mais um passo e se tornou oscip, organização da<br />

sociedade civil de Interesse público. atualmente, 12 pessoas compõem o quadro da<br />

organização, além dos profissionais envolvidos no projeto Circo Social. Apesar do número<br />

relativamente alto de integrantes, a associação ainda batalha para manter um quadro fixo.<br />

a falta de um patrocínio inviabiliza o pagamento de funcionários (como pró-labore) ou<br />

a manutenção de uma sede.<br />

Mas Ana Sofia garante que essas adversidades não tiram o empenho de continuar a busca<br />

por parceiros ou financiamentos. “O que me motiva é saber que o trabalho dá resultado.<br />

O Circo Social, por exemplo, beneficia tanto crianças e adolescentes como toda a equipe<br />

envolvida. Eu já ouvi testemunho de amigo de professor dizendo que ele mudou depois<br />

que começou a dar aula no projeto. Quando eu ouço isso, fico feliz, porque é o que venho<br />

procurando para a minha vida. não tem preço. por isso, quero continuar, e a equipe também<br />

quer continuar!”.<br />

os interessados em colaborar podem obter mais informações no site www.ascetur.com.br.<br />

Fotos: Divulgação<br />

33


34<br />

educação aRTísTIca<br />

Um espaço<br />

por cláudio Ferreira<br />

Fotos rodrigo oliveira<br />

Depois de duas temporadas – 15<br />

anos no total – estudando e trabalhando<br />

com música nos Estados<br />

Unidos, um maestro resolveu trazer<br />

para a terra natal uma experiência que<br />

tinha dado certo em Columbia, cidade<br />

de 80 mil habitantes do Estado do Missouri.<br />

Apostou mais uma vez no lado empreendedor<br />

e inaugurou, no final da Asa<br />

Norte, o ECAI, Espaço Cultural Alexandre<br />

Innecco, que, agora em novembro,<br />

está completando um ano de atividades.<br />

A proposta de movimentar um local pequeno<br />

com palestras sobre música clássica<br />

e popular, abrindo espaço também para<br />

outras manifestações artísticas, como<br />

artes plásticas e literatura, tem atraído cada<br />

vez mais um público interessado em<br />

trocar informações sobre arte e cultura.<br />

para todas as artes<br />

Da experiência anterior, nos EUA,<br />

Alexandre aprendeu algumas lições. A primeira,<br />

a falta de contato entre a universidade<br />

e a comunidade, que fez com que, lá,<br />

ele ampliasse o escopo de seu empreendimento,<br />

que levou à população palestras,<br />

por exemplo, sobre a co-<br />

reógrafa Isadora Duncan<br />

e o cinema da América<br />

Latina. Aqui, a mesma<br />

ponte já começou a ser<br />

feita: uma vez por mês, a<br />

professora de Ciência<br />

Política da UnB Paola<br />

Ramos utiliza o ECAI<br />

para um projeto de Extensão,<br />

com foco na Filosofia,<br />

que já abordou autores<br />

como Nietzsche e<br />

Maquiavel. A segunda lição<br />

foi investir menos<br />

em infraestrutura e mais<br />

“<strong>Brasília</strong> precisava de um<br />

lugar não só para ouvir<br />

boa música, mas também<br />

para ouvir sobre a boa<br />

música. o EcaI veio suprir<br />

essa necessidade de<br />

conhecimento que temos e<br />

que por vezes não sabemos<br />

como encontrar. por mais<br />

que você já conheça uma<br />

obra, o alexandre sempre<br />

contribui com algo mais. E<br />

sempre com bom humor.”<br />

Fernando sávio de sousa,<br />

servidor público.<br />

na parte artística do espaço cultural.<br />

O prato principal do cardápio ainda<br />

é a música. Neste primeiro ano de vida,<br />

o ECAI já promoveu palestras sobre<br />

compositores clássicos, sobre a história<br />

da MPB e sobre os instrumentos musicais<br />

de uma orquestra, entre ou-<br />

tras. Para comemorar o aniversário,<br />

volta o ciclo sobre<br />

história da música erudita,<br />

abordando os períodos da<br />

Renascença, Barroco, Clássico,<br />

Romântico e Moderno,<br />

e começa uma nova rodada<br />

de palestras, desta vez<br />

sobre ópera, com a história<br />

do gênero, os grandes nomes<br />

e o vocabulário específico<br />

utilizado nas produções.<br />

“A ideia é ter sempre<br />

um módulo novo e outros<br />

antigos”, avisa Innecco.


Ele diz que o principal desafio das palestras<br />

musicais – sempre ministradas por<br />

ele próprio – é fazer uma análise diferente<br />

do assunto. É aí que entram as ferramentas<br />

adquiridas com a formação musical,<br />

que fizeram, por exemplo, com que os<br />

alunos de História da MPB ouvissem,<br />

com espanto e atenção, a “desconstrução”<br />

do arranjo do maestro Rogério Duprat<br />

para Construção, de Chico Buarque, na<br />

aula sobre a década de 60. “Vem do estilo<br />

de maestro a necessidade de criar uma<br />

aula estimulante”, afirma Alexandre, que<br />

já conduziu orquestras e coros com os<br />

mais diversos repertórios. Ele deixa claro,<br />

no entanto, que cada palestra é tão somente<br />

uma introdução ao assunto – “é como<br />

uma visita à seção de referência de<br />

uma biblioteca”.<br />

Os encontros acontecem durante a semana,<br />

em vários horários. O primeiro ano<br />

de atividades já revelou o perfil dos alunos:<br />

nas aulas durante o dia, uma turma fiel de<br />

aposentados; à noite, um público mais variado.<br />

“São principalmente pessoas curiosas,<br />

que sentem necessidade de encontrar<br />

pessoas novas, de falar”, atesta o maestro,<br />

que identifica uma grande quantidade de<br />

funcionários públicos.<br />

Um ciclo diferente na área musical foi<br />

o curso de voz para tímidos. O mote era<br />

atrair gente que gosta de cantar, mas tem<br />

vergonha de fazê-lo fora do chuveiro. A<br />

“alexandre Innecco tem o<br />

dom de cativar a plateia.<br />

É um prazer acompanhar<br />

a história da música<br />

dividida criativamente em<br />

gêneros, instrumentos,<br />

épocas e personalidades.”<br />

Fátima bueno, artista<br />

plástica que atualmente<br />

expõe no ecai.<br />

empreitada, ao que parece, deu certo – ao<br />

final do ciclo, muitos alunos tinham per-<br />

dido a inibição, escolheram<br />

uma música de seu repertório<br />

particular e soltaram<br />

a voz.<br />

Além da música, o Espaço<br />

Cultural Alexandre<br />

Innecco tem promovido<br />

exposições e lançamentos<br />

de livros. As cinco mostras<br />

de artes plásticas e fotografialevaram,<br />

em cada<br />

vernissage,<br />

um público<br />

que, depois,<br />

deixa o contato para ser incluído<br />

na mala direta do ECAI. O<br />

professor tem um benefício<br />

extra com as exposições: “É<br />

muito bom dar aula variando<br />

o cenário”, comemora ele,<br />

que descobriu os artistas entre<br />

os próprios alunos das palestras<br />

de música. Os lançamentos<br />

de livros, conta Alexandre,<br />

também levaram “gente antenada”<br />

ao espaço.<br />

O espírito empreendedor<br />

fez com que ele planejasse diversas<br />

formas de os alunos terem<br />

acesso às aulas. A primeira<br />

palestra é sempre gratuita<br />

e, a partir da segunda, o preço<br />

é R$ 45. Mas quem compra<br />

um passaporte por R$ <strong>18</strong>0<br />

paga por quatro aulas e tem<br />

“Eu sentia falta de um local<br />

onde a cultura pudesse ser<br />

divulgada e trabalhada da<br />

forma mais variada possível.<br />

a volta do alexandre foi<br />

crucial, pois pudemos ver<br />

exposições, ter aulas sobre os<br />

mais diversificados assuntos<br />

em torno da música, assistir<br />

a palestras sobre filosofia,<br />

discutir e bater papo de<br />

forma descontraída.”<br />

maria cândida veloso,<br />

servidora pública.<br />

cinco, podendo variar os horários e os ciclos<br />

e até “pular” uma aula do mesmo ci-<br />

clo, de acordo com sua conveniência.<br />

Quem quiser ser fiel<br />

ao ciclo paga pelo curso completo<br />

e tem maior abatimento,<br />

com cada aula saindo a R$ 30.<br />

Os preços ainda variam de<br />

acordo com a antecedência da<br />

reserva, se a pessoa leva um<br />

amigo ou se compromete com<br />

mais de um módulo. E existe<br />

também a possibilidade de se<br />

“encomendar” uma palestra<br />

dentro de um cardápio previamente<br />

oferecido, para grupos<br />

de tamanhos variados.<br />

As ideias para movimentar o ECAI<br />

não param. Em janeiro e fevereiro haverá<br />

uma espécie de “colônia de férias para<br />

adultos”, com cursos em horários e fre-<br />

quência diferentes dos habituais. Em<br />

2013, o objetivo é intensificar a diversificação<br />

de temas e áreas tratados nas palestras.<br />

E solidificar a parceria com o Café Savana,<br />

que tinha uma galeria de arte naquele local<br />

e apoia todos os eventos do ECAI – o aluno<br />

pode, por exemplo, almoçar enquanto<br />

assiste a uma aula de música ou sentar para<br />

tomar um drinque depois de pegar o autógrafo<br />

do autor no lançamento do livro.<br />

espaço cultural alexandre innecco<br />

116 norte – bloco a – loja 74 (ao lado do<br />

café savana). programação de novembro:<br />

13 e 14, Grandes nomes da ópera; 20 e 21,<br />

Como se faz uma ópera; 26, Romântico;<br />

27 e 28, Discoteca básica de ópera; 29, Bert<br />

Hellinger para todos. reservas: 9559.2699.<br />

informações: www.alexandreinnecco.com.<br />

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36<br />

brasiliense <strong>DE</strong> coração<br />

Maluco<br />

beleza<br />

por vicente sá<br />

Fotos rodrigo oliveira<br />

Otempo é setembro de 2012. O<br />

espaço, um misto de shopping<br />

e labirinto, no bairro do Jardim<br />

Botânico, conhecido como Mercado<br />

Cultural Piloto, um conjunto nada convencional<br />

de lojas, restaurantes, um teatro<br />

e uma sala de cinema que funciona<br />

com equipamentos de projeção doados<br />

pelo Ministério da Cultura. Em cima da<br />

mesa, vinho, água e alguns petiscos. Em<br />

volta, atores e músicos fazem a primeira<br />

leitura do texto. Quase ao fundo, sorrindo<br />

e deixando a conversa e os palpites<br />

fluírem, o autor e diretor do espetáculo,<br />

J. Pingo. A peça é O último rango, que será<br />

reencenada a partir do primeiro semestre<br />

de 2013, quase 30 anos depois da<br />

primeira montagem, no Teatro Galpão<br />

– que, naquela época, causou um verdadeiro<br />

rebuliço na efervescente <strong>Brasília</strong>.<br />

Mas quem é mesmo esse senhor de<br />

66 anos, protagonista de tão distintos papéis<br />

como autor e diretor de teatro, dono<br />

do “shopping labirinto”, ator de cinema,<br />

locutor, jornalista, ex-presidente<br />

do Clube da Imprensa, pai de seis<br />

filhos, respeitado e temido nos<br />

meios culturais da cidade por suas<br />

posições firmes e sua voz grave, que<br />

pouco elogia e muito esbraveja?<br />

Quem é esse personagem que parece<br />

não conseguir parar de surpreender<br />

e se rebelar contra o teatro tradicional?<br />

Quem, de verdade, é J. Pingo?<br />

O pouco que se sabe dele aponta<br />

Porto Alegre como cidade de nascimento<br />

e mostra uma infância rica de aventu


as ao lado dos irmãos – entre eles o ator<br />

Paulo César Pereio, seis anos mais velho<br />

– e da família que foi rica e que, por conta<br />

de gastança romântica do pai, ficou<br />

quase pobre. Dos seus primeiros anos de<br />

estudo sabe-se apenas que foi brilhante e<br />

rebelde, expulso quase todos os anos do<br />

primário, embora nunca tenha sido reprovado.<br />

“Eu normalmente já havia passado<br />

de ano quando me pegavam”, conta<br />

Carlos Augusto de Campos Velho,<br />

nome de registro do pequeno “pinguinho<br />

de gente”, como o chamava sua<br />

mãe, dona Maria Hugo Velho.<br />

Sua adolescência fica perdida nas<br />

brumas da lenda e hora ou outra se entrevê<br />

um rapaz alto fazendo teatro, cantando<br />

mocinhas e viajando pelos lugares<br />

menos turísticos do país. Do homem<br />

ainda jovem, sabe-se de uma aventura no<br />

Paraguai que lhe rendeu um ano de prisão<br />

numa pequena cidade do interior do<br />

Mato Grosso. O carro que ele dirigia, ao<br />

voltar para o Brasil, estava abarrotado de<br />

drogas. Seu companheiro de viagem fugiu<br />

e ele foi preso. Não se sabe se tinha<br />

conhecimento da carga, mas o certo é<br />

que na cadeia fez amizade com o delegado<br />

e os praças e passou a exercer o ofício<br />

de escrivão, que lhe rendeu algumas<br />

mordomias: uma sala especial só para ele<br />

e acesso a todo material apreendido pelos<br />

policiais. “Quando eu saí, eles quase<br />

choravam, pedindo para eu ficar, mas eu<br />

tinha outros compromissos e não aceitei<br />

a oferta”, lembra Pingo.<br />

Depois de passar pelo Rio de Janeiro<br />

e São Paulo e trabalhar em teatro e cinema,<br />

chegou a <strong>Brasília</strong> em 1977, aos 31<br />

anos. Aqui retomou a carreira teatral como<br />

diretor e montou diversas peças,<br />

sempre com sucessos ou fracassos estrondosos.<br />

Criou inimigos a rodo no meio<br />

artístico e uniu-se a figuras mitológicas<br />

da cidade, como o produtor José Pereira<br />

e o jornalista Wanderlei Lopes, com<br />

quem aprontou muito em bares e festas.<br />

Para conseguir patrocínio da extinta<br />

Fundação Cultural para uma de suas<br />

montagens, tirou a roupa na porta do gabinete<br />

do diretor, o embaixador Wladimir<br />

Murtinho. A artimanha deu certo e ele<br />

conseguiu a verba.<br />

Na década de 80, inspirado no clássico<br />

O último tango em Paris, escreveu e<br />

montou O último rango, com direção musical<br />

de Edu Viola e participação de Renato<br />

Russo, Plebe Rude e Liga Tripa. No<br />

transcorrer da peça é preparada uma sopa,<br />

depois servida aos atores e à plateia.<br />

Para garantir os ingredientes da sopa,<br />

Pingo ligou certo dia para a Ceasa, passando-se<br />

pelo secretário de Agricultura e<br />

ordenando que atendessem bem a um enviado<br />

seu, que naquele momento estava<br />

se dirigindo para lá. Apresentou-se como<br />

tal, informou que estava montando o espetáculo<br />

a pedido do governador e daí em<br />

diante não faltou sopa nem nos ensaios<br />

do grupo, que eram realizados no Clube<br />

da Imprensa.<br />

Sua relação com o Clube da Imprensa<br />

se tornou mágica e ele, por puro amor e<br />

também por falta de local para morar,<br />

candidatou-se à presidência com o slogan<br />

“vamos viver o clube”. Ganhou a eleição e<br />

passou, efetivamente, a morar no clube<br />

com a família e uma vaca que comprara<br />

para dar leite fresco aos filhos pequenos.<br />

Depois dessa experiência política, voltou<br />

aos palcos e montou mais uma dezena<br />

de peças. Entre elas, uma que não<br />

agradava muito ao público, que costumava<br />

sair antes dos vinte primeiros minutos.<br />

Pingo resolveu esse problema trancando<br />

o teatro e colocando a chave no colo. Antes<br />

de o espetáculo começar, ele avisava<br />

que quem quisesse sair era só pegar a chave<br />

e abrir a porta. O público tornou-se<br />

mais sensível ao texto e à montagem e<br />

passou a sair somente no final da peça.<br />

Nosso imaginoso e irrequieto personagem<br />

não se prende somente ao teatro.<br />

Também faz filmes e muitos filhos. “Um<br />

com cada mulher, sem nunca me ter casado.<br />

Aliás, tive dois gêmeos com uma,<br />

por isso são seis filhos”, conta. Também<br />

criou uma colônia de férias, promoveu<br />

oficinas de arte e desfiles de moda afro<br />

com jovens da periferia. Candidatou-se a<br />

deputado distrital, mas não foi eleito.<br />

Uniu-se à atriz e produtora Andréa<br />

Gozzo, com quem tem a filha mais nova,<br />

Alice, e criou a Associação de Movimentos<br />

Culturais, para produzir seus trabalhos.<br />

Por fim, tornou-se empresário e<br />

construiu o shopping no qual funcionam<br />

o Teatro Grande Otelo e o Cinema Saracura.<br />

Pois foi justamente nesse centro comercial<br />

que começou nossa história – que<br />

esperamos esteja longe do fim.<br />

37


38<br />

galeria <strong>DE</strong> arte<br />

O corpo<br />

e seus limites<br />

Obras do britânico Antony Gormley ocupam CCBB<br />

e espaços públicos da cidade até dia 6 de janeiro.<br />

por alexandre marino<br />

O<br />

espaço é a referência do corpo.<br />

O que envolve o corpo o torna<br />

visível, autêntico, vivo. Entre o<br />

espaço e o corpo reside o limite entre a<br />

existência e a desintegração, o que cria<br />

um estado de tensão permanente, explorado<br />

pelo artista plástico inglês Antony<br />

Gormley em obras expostas em vários<br />

pontos de <strong>Brasília</strong> e mais especificamente<br />

no Centro Cultural Banco do Brasil. Sob<br />

o título geral de Corpos presentes (Still being,<br />

no original), uma ampla retrospectiva do<br />

artista nascido em Londres há 61 anos po-<br />

de ser vista na cidade até 6 de janeiro.<br />

Depois de levar mais de 410 mil espectadores<br />

aos espaços do CCBB no Rio de<br />

Janeiro e São Paulo, a mostra chegou a<br />

<strong>Brasília</strong> provocando polêmica. Uma de<br />

suas esculturas, que retrata um corpo masculino<br />

em tamanho natural, moldado em<br />

ferro fundido – o modelo é o próprio artista<br />

–, foi derrubada e embalada em saco<br />

plástico, como se fosse um cadáver. A peça<br />

deveria ficar nas imediações do Espaço<br />

Israel Pinheiro, próximo à Praça dos Três<br />

Poderes, local onde, na véspera da inauguração,<br />

ocorreu o vandalismo.<br />

As esculturas de Gormley já correram<br />

o mundo, passando por países como Inglaterra,<br />

Alemanha, Dinamarca, China,<br />

México, Rússia, Áustria, Holanda. Em vários<br />

locais, provocaram reações e despertaram<br />

a criatividade de pessoas que resolveram<br />

contribuir, ainda que inconscientemente,<br />

para o aprofundamento da experiência<br />

artística. No Rio de Janeiro, uma<br />

das esculturas recebeu uma camisinha<br />

usada, e alguém deixou, ao lado de outra,<br />

uma caixinha de esmolas com a frase “ajude<br />

a arte”. Indiferentes a tudo, os “corpos<br />

presentes” de Gormley observam os principais<br />

cenários de grandes cidades do<br />

mundo, e também de <strong>Brasília</strong>, a partir de<br />

Divulgação


pontos estratégicos. Do alto do viaduto da<br />

rodoviária central, por exemplo.<br />

Os corpos de Gormley, que pesam<br />

630 quilos, já foram vistos em áreas urbanas<br />

de grande movimento, como o Vale<br />

do Anhangabaú, em São Paulo, ou no<br />

Largo da Candelária, no Rio de Janeiro.<br />

Como turistas que observam a cidade ou<br />

suicidas que ameaçam se atirar do alto<br />

de edifícios, eles interferem na paisagem<br />

humana e se tornam atores no meio urbano.<br />

Esta é a força maior do trabalho de<br />

Gormley, observável tanto nas ruas, em<br />

que os corpos dialogam com a população,<br />

quanto nos pavilhões e galerias do<br />

CCBB.<br />

Em <strong>Brasília</strong>, Gormley preferiu não<br />

instalar suas esculturas no alto de prédios,<br />

e apenas as espalhou em locais de<br />

circulação. Foi a forma que encontrou<br />

de dialogar com a cidade, que lhe chamou<br />

a atenção pelo posicionamento do<br />

horizonte, que se encontra no campo<br />

frontal de visão, no nível dos olhos do<br />

pedestre. Ele também preferiu não interferir<br />

na obra de Oscar Niemeyer, por<br />

considerar <strong>Brasília</strong> “uma escultura onde<br />

as pessoas vivem” – em meio a alienação<br />

e sofrimento, perdidas como formigas<br />

no espaço vazio. Em visita à cidade para<br />

a inauguração da exposição, Gormley reconheceu<br />

que <strong>Brasília</strong> evocou lembranças<br />

da Praça Vermelha, de Moscou, e de<br />

regiões de Varsóvia, projetadas de acordo<br />

com o fundamento socialista. Oscar<br />

Niemeyer, o comunista sobrevivente, deve<br />

ter gostado da comparação.<br />

O trabalho de Antony Gormley não<br />

se limita a corpos moldados em ferro<br />

fundido, embora sempre explore a tensão<br />

entre a matéria humana e o espaço<br />

que a envolve. Especificamente na mostra<br />

brasiliense, chamam a atenção obras<br />

como Breathing room IV, uma armação de<br />

tubos de alumínio que dramatizam a arquitetura,<br />

colocando o espectador dentro<br />

de uma mandala tridimensional que,<br />

em função dos efeitos de luz, provocam<br />

reações indescritíveis.<br />

Outro trabalho em exposto no CCBB<br />

é Amazonian field, que provoca um misto<br />

de encantamento e desconforto. São<br />

aproximadamente 24 mil pequenas esculturas<br />

em terracota, medindo entre quatro<br />

e 40 centímetros, representando formas<br />

corporais em que se destaca um irrepreensível<br />

olhar de questionamento. Cerca<br />

de <strong>18</strong> toneladas de terra foram trabalhadas<br />

pelo artista e 60 pessoas escolhidas<br />

em Porto Velho, Rondônia, durante sete<br />

dias, em 1992. A obra foi produzida originalmente<br />

para ser exposta na conferência<br />

ambiental Rio-92. Assim como acontece<br />

com os demais trabalhos de Antony<br />

Gormley, fica a sensação de que as figuras,<br />

que miram o espectador, lançam perguntas<br />

no ar. Aqui, não é a arte que leva<br />

o espectador a perguntar. A própria obra<br />

se antecipa e coloca as questões, cabendo<br />

a nós procurar as respostas.<br />

corpos presentes<br />

antony gormley<br />

ate 6/1/2013 no centro cultural banco<br />

do brasil. de 3ª a domingo, das 9 às 21h.<br />

entrada franca.<br />

Divulgação<br />

Divulgação<br />

alexandre Loureiro<br />

39


astelo de Bragança,<br />

onstruído no<br />

éculo XII.<br />

40<br />

diário <strong>DE</strong> viagem<br />

Portugal medieval<br />

por súsan Faria<br />

colaborou marina ávila<br />

Portugal possui regiões belíssimas e<br />

isoladas, bem menos conhecidas<br />

do que as tradicionais rotas turísticas<br />

próximas a Lisboa. Apreciar a rústica<br />

natureza, os vilarejos e monumentos arquitetônicos<br />

medievais do Centro e Leste<br />

Transmontano, especialmente nas cercanias<br />

do Rio Douro, é desligar-se do mundo<br />

e entrar em sintonia com um passado<br />

remoto, que resiste, especialmente, nas<br />

muralhas, rochas, casas celtas, igrejas, castelos<br />

medievais e santuários locais.<br />

Navegar de barco pelo grandioso Douro,<br />

na divisa entre Portugal e Espanha, em<br />

silêncio, é conhecer um mundo distante,<br />

onde a contemplação da exuberante paisagem<br />

nos tranquiliza e nos equilibra. Fizemos<br />

parte da comitiva de jornalistas e promotores<br />

turísticos portugueses e estrangeiros<br />

que conheceu a região, dias 9, 10 e 11<br />

de outubro. A visita foi organizada pela<br />

Direção Regional de Cultura Norte e pela<br />

instituição Porto e Norte de Portugal.<br />

Na divisa entre o distrito de Bragança<br />

e Zamora, na Espanha, encontramos um<br />

povoado surgido na Idade Média, Miranda<br />

do Douro, com suas muralhas, porta<br />

falsa, castelos, torre e uma história de muitas<br />

batalhas. Habitada durante séculos<br />

por romanos, depois árabes, Miranda do<br />

Douro enfrentou tragédias como a explosão<br />

de 30 mil kg de pólvora no paiol da<br />

praça, com a morte de 400 pessoas, du-<br />

rante a Guerra dos Sete Anos (Guerra do<br />

Miradum, de 1756 a 1763, vencida pelos<br />

espanhóis).<br />

Na cidade, localizada na região de<br />

Trás-os-Montes, assistimos a “pauliteiros”<br />

com suas gaitas e instrumentos típicos, e<br />

percorremos de barco o Parque Natural<br />

Douro Internacional, cercado por rochas<br />

de 250 metros de altura. O ar puríssimo,<br />

as cegonhas negras, o poço das lontras,<br />

os graves cantos das aves, os pássaros<br />

em ninhos altos, o bosque das corujas,<br />

os patos, as plantas centenárias com<br />

raízes na rocha, os coelhos selvagens ou<br />

mesmo um santuário nas pedras, em boa<br />

parte dos 150 km do Douro, em nada recordam<br />

a civilização atual.<br />

Às margens do Douro, junto às rochas,<br />

ancestrais enfrentavam a natureza fazendo<br />

aterros de pedra e terra, para cultivar<br />

oliveiras, amendoeiras e laranjais, produzir<br />

mel e até improvisar pequenos pastos<br />

para cabras. No Século XVII, em meio<br />

aos blocos de rochas, corredeiras e gargantas,<br />

enfrentando a noite e o frio, o contrabando<br />

rolava solto no Douro, mas sempre<br />

à noite e praticado por homens de<br />

muita resistência física.<br />

Aventureiros montavam estacas ou<br />

cordas entre uma margem e outra do rio<br />

– com profundidade entre 22 e 80 metros<br />

– e transportavam café, açúcar e máquinas<br />

de costura Singer de Portugal para a Espanha<br />

e, na volta, tabaco para Portugal. Ou<br />

seja, produtos vindos das colônias e que<br />

garantiam a sobrevivência de moradores<br />

da região. Ainda hoje cultiva-se alimentos


às margens íngremes e rústicas do Douro.<br />

A navegação foi viabilizada a partir de<br />

1950, graças às barragens edificadas por<br />

Portugal e Espanha.<br />

A beleza da região não se restringe ao<br />

Rio Douro. Em Bragança e Vimioso, visitamos<br />

castelos e igrejas ornamentadas<br />

de ouro. Em Mogadouro, conhecemos a<br />

igreja românica de Algosinho e o Largo<br />

da Misericórdia, onde se encontra um<br />

castelo de 1297, ligado à Ordem dos<br />

Templários. No restaurante Lareira, nessa<br />

cidade a 200 km do Porto, pudemos<br />

apreciar pães com azeitonas e caldo verde<br />

de entrada, posta à mirandesa (400<br />

gramas de bife de vitela), cogumelos selvagens,<br />

salada, pastelão de batatas, vinho<br />

do Douro e charlotte al figo (sobremesa<br />

de gelatina com figo).<br />

Em Moncorvo, destaque para os edifícios<br />

dos séculos XVI, XVII e XVIII, de<br />

elevado valor patrimonial, e a Casa de<br />

Roda dos Expostos, onde foram deixados<br />

mais de quatro mil bebês pobres ou indesejados,<br />

cujos registros estão na Casa Municipal.<br />

Em Carrazeda de Ansiães, uma<br />

das mais antigas vilas de Portugal, conhecemos<br />

o Castelo de Ansiães, uma vila<br />

amuralhada com cinco mil anos de história,<br />

onde viveu uma população estimada<br />

em 200 habitantes. Na área fria e áspera,<br />

belas oliveiras e castanheiras e o cultivo de<br />

trigo, centeio, figos e amêndoas. Muitos<br />

dos caminhos para chegar a essas cidades<br />

foram rotas antigas dos peregrinos para<br />

Santiago de Compostela, na Espanha.<br />

Serra da Estrela<br />

A crise que afeta Portugal – com desemprego,<br />

farmácias de luto para não serem<br />

fechadas, protesto de estudantes e<br />

queda na qualidade de vida da classe média<br />

– praticamente não prejudicou nossa<br />

viagem. Ao contrário: os portugueses<br />

foram corteses e gentís o tempo todo. E<br />

a culinária, preciosa e farta.<br />

O que não pudemos fazer foi viajar<br />

para o centro de Portugal de trem, cujos<br />

condutores estavam em greve. Alugamos<br />

um carro e fomos de Lisboa a Seia. No<br />

caminho, avistamos montanhas, lagoas e<br />

vales cavados por rios e riachos que têm<br />

suas nascentes no alto da Serra da Estrela,<br />

com quase dois mil metros de altitude, o<br />

ponto mais alto de Portugal.<br />

Rota também única: as plantações de<br />

maçã, uva, marmelo e pêssego e pequenas<br />

aldeias e comércios, em estradinhas<br />

Castelo de Mogadouro, em Trás-os-Montes.<br />

bem conservadas, ao lado de precipícios.<br />

A fartura de frutas na região já foi tanta<br />

que os moradores davam maçãs aos porcos.<br />

Em Seia, com cinco mil habitantes,<br />

come-se bem, especialmente carne de porco,<br />

queijos variados, requeijão, azeite,<br />

pão de centeio e broa de milho, e bebe-se<br />

excelentes vinhos. A diária para casal em<br />

hotel quatro estrelas, com piscina, fica em<br />

torno de 50 euros. Um bom almoço, cerca<br />

de dez euros.<br />

Em Seia, assistimos ao XVIII Festival<br />

Internacional de Cinema Ambiental da<br />

Serra da Estrela (Cine Eco), no qual foram<br />

exibidos 36 filmes, selecionados entre<br />

mais de 300 inscritos, como os brasi-<br />

O passeio dos jornalistas pelo Rio Douro.<br />

leiros Paralelo 10, de Sílvio Da-Rin, Ribeirinhos<br />

do asfalto, de Jorane Castro, e Uma<br />

professora muito maluquinha, de André Pinto<br />

e César Rodrigues. “O tema do festival<br />

é muito atual, já que os problemas do<br />

meio-ambiente se agravam. O festival discute<br />

o meio ambiente daqui e de outros<br />

lugares do mundo”, destaca a atriz portuguesa<br />

Ana Brito e Cunha, uma das juradas<br />

do Cine Eco. Na cidade, belos monumentos,<br />

bom comércio e os Museus da<br />

Criança, da Eletricidade e do Pão.<br />

Na Serra da Estrela, a neve chega em<br />

novembro e o frio atinge 20 graus negativos<br />

em fevereiro e março. Com o passar<br />

dos anos, a neve moldou os rochedos da<br />

Fotos: nuno Gouveia<br />

41


42<br />

diário <strong>DE</strong> viagem<br />

Muralha do Castelo de Ansiães.<br />

região. As lagoas em volta são geladas,<br />

mesmo em época de verão. Nas altitudes<br />

mais elevadas, os invernos, além de rigorosos,<br />

são longos, mas resplandece a natureza<br />

ímpar, com grande variedade de flores e<br />

animais selvagens, como a lontra, a largatixa-da-montanha,<br />

a raposa, o coelho-bravo,<br />

o largato-de-água, o javali e a perdiz.<br />

Lisboa<br />

Além de ser uma porta de entrada<br />

para a Europa, e da facilidade com a língua,<br />

Lisboa é um lugar para passear, comer<br />

bem, andar, aprofundar conhecimentos,<br />

contemplar e se divertir muito,<br />

especialmente neste Ano do Brasil em<br />

Portugal, iniciado em setembro último e<br />

que prossegue até junho de 2013, com<br />

muitos espetáculos de música, dança e<br />

teatro, exposições artísticas, seminários e<br />

outras promoções.<br />

Entre tantas atrações em Lisboa –<br />

museus, teatros, pastelarias de Belém,<br />

noites de fado – destaca-se o Cine São<br />

Jorge, na Avenida da Liberdade, 175,<br />

próximo à Praça Marquês de Pombal,<br />

que sedia festivais de cinema de muita<br />

qualidade, como o Festin (Festival de Cinema<br />

Itinerante da Língua Portuguesa),<br />

tendo à frente duas jornalistas brasileiras<br />

que vivem em Portugal, Lea Teixeira e<br />

Adriana Niemeyer. A quarta edição do<br />

evento, que exibe curtas e longas-metragens,<br />

será de 3 a 10 de abril de 2013 e as<br />

inscrições estão abertas até 31 de dezembro<br />

próximo. Em 2013, o Festin homenageará<br />

a cinematografia angolana e terá<br />

uma mostra de cinema brasileiro.<br />

Há voos diretos para Lisboa saindo<br />

de <strong>Brasília</strong>, Salvador, Recife, Natal e Fortaleza.<br />

Para visitar a Serra da Estrela e a região<br />

do Douro, interessante é alugar um<br />

carro – 40 euros por dia para um veículo<br />

seguro e bom – e seguir pelas estradas<br />

bem conservadas, ou procurar agências de<br />

turismo na Cidade do Porto. Foi o que fizemos<br />

– eu, Marina e um casal de amigos,<br />

Curiosidades lusitanas<br />

Igreja Matriz de Torre de Moncorvo.<br />

Ivana (também jornalista) e Carlos Nery.<br />

Juntos, estivemos em Lisboa e Seia durante<br />

nove dias. Ivana e Carlos seguiram para<br />

excursão em Fátima.<br />

As repórteres Marina Ávila e Súsan Faria às margens do Rio Tejo, em Lisboa. Ao fundo, a Ponte 25 de Abril.<br />

• O Brasil tem uma extensão territorial 96 vezes maior,<br />

aproximadamente, do que Portugal.<br />

• "Obrigadinho!" é uma forma carinhosa e muito usada<br />

pelos portugueses para agradecer algo.<br />

• Se não lhe tratarem bem, peça o “Livro de Reclamação”.<br />

É obrigatório nos estabelecimentos e vale muito.<br />

• Pequeno almoço é como se denomina o café da manhã dos portugueses.<br />

• Come-se bem e barato, em Lisboa, nas tasquinhas, restaurantes pequenos,<br />

apertadinhos mesmo, mas de muita qualidade e bem servidos. Bacalhau<br />

a lagareiro (no forno com alho por cima), batata inglesa assada, sobremesa<br />

(maçã assada ou torta de laranja), água e vinho à vontade. Com 10 euros<br />

se faz a festas nas tasquinhas. Não há cobrança dos 10% de serviço.<br />

• Comprar água e frutas nos mercadinhos sai bem em conta. Próximo à Praça<br />

Marquês de Pombal, com 7,50 euros compramos 5 litros de água, banana,<br />

laranja, maçã, biscoitinhos de nata e iogurtes.<br />

Fotos: nuno Gouveia


Fátima: o fervor da religiosidade<br />

por ivana cássia nery<br />

Todo dia 13 de cada mês, especialmente<br />

13 de maio e 13 de outubro, milhares<br />

de fiéis vão até Fátima, em Portugal,<br />

em peregrinação para pedir votos, agradecer<br />

graças ou milagres e comemorar a aparição<br />

da virgem aos três pastorinhos – Lúcia<br />

Santos, 10 anos, e seus primos Francisco<br />

Marto e Jacinta Marto, 9 e 7 anos,<br />

respectivamente. O espaço da Cova da<br />

Iria, onde hoje se ergue uma grande basílica<br />

neobarroca, às vezes não comporta o<br />

grande número de visitantes do mundo<br />

inteiro. Muitos vêm em romaria que leva<br />

vários dias. Uma romaria de 300 km, por<br />

exemplo, necessita de onze dias de caminhada.<br />

Cerca de 4,5 milhões de pessoas<br />

visitam o local anualmente.<br />

A Virgem apareceu para as crianças<br />

acima de uma azinheira grande (árvore<br />

nativa), no dia 13 de maio de 1917, quando<br />

brincavam na Cova da Iria. Cinco<br />

aparições aconteceram até outubro, sempre<br />

no mesmo dia. A senhora de grande<br />

beleza solicitou-lhes que rezassem pela<br />

salvação do mundo. No Brasil, paróquias<br />

e lares de devotos recebem a santa por<br />

meio dos mais de 250 mensageiros, inscritos<br />

no Santuário de Fátima, em Portugal.<br />

Atualmente, o trabalho é realizado de<br />

segunda a sábado, sempre à noite. As famílias<br />

reúnem parentes e amigos para a<br />

oração do terço e maior conhecimento<br />

das palavras proferidas pela santa.<br />

O Movimento da Mensagem de Fátima<br />

tem sede na Paróquia de Santa Edwiges,<br />

em Curitiba, e segue a orientação do<br />

Padre Raimundo Alves Fonseca. Integrante<br />

do Movimento e um dos três responsá-<br />

veis por levar a imagem da peregrina às casas<br />

do Distrito Federal, Wagner de Castro<br />

explica que, inicialmente, eram contemplados<br />

apenas dois lares a cada dia, em razão<br />

da grande quantidade de pedidos. Hoje,<br />

com a ajuda de outras duas pessoas, as<br />

visitas aumentaram. De 2009 até 2012,<br />

mais de 1.200 famílias já receberam a santa<br />

em seus lares, no DF. Não há quem não<br />

se emocione com a presença da imagem<br />

da Virgem, uma obra de arte de grande<br />

perfeição. Seus olhos, feitos em porcelana,<br />

parecem vivos, e transmitem imensa paz.<br />

No inicio de outubro, Wagner de<br />

Castro levou 27 devotos para Fátima,<br />

um dos principais centros de peregrinação<br />

da Europa, comparável ao de Lourdes,<br />

na França, e a Santiago de Compos-<br />

Fotos: carlos nery<br />

tela, na Espanha. Todos os dias são feitas<br />

homenagens à santa.<br />

No enorme espaço da Cova da Iria,<br />

que pode acolher até 500 mil pessoas, romeiros<br />

de todos os lugares têm a chance<br />

de ouvir, durante o terço, parte da Ave<br />

Maria em sua língua. Nas dez primeiras<br />

dezenas é possível vê-lo recitado metade<br />

em inglês e o restante em romeno, por<br />

exemplo, conforme as inscrições feitas.<br />

A segunda parte é respondida pela plateia,<br />

cada pessoa no seu idioma. No início<br />

do terço, e entre um e outro mistério,<br />

são cantadas músicas de grande beleza<br />

em latim, acompanhadas por um coral,<br />

o que encanta a todos que participam do<br />

encontro. Todo dia 12 de cada mês acontece<br />

a procissão das velas, após o terço e<br />

a vigília, para preparar os festejos do dia<br />

13, data das aparições.<br />

Atualmente, onze imagens oficiais de<br />

Nossa Senhora de Fátima percorrem países<br />

do mundo inteiro levando mensagens<br />

de amor e paz. Esculpida em madeira (cedro<br />

do Brasil) pelo escultor santeiro José<br />

Ferreira Thedim, a santa mede 1,04 m e<br />

foi feita pela primeira vez em 1920 com<br />

base na descrição de Lúcia, a quem a santa<br />

apareceu em 1917. Em 1945, pouco<br />

depois da Segunda Guerra, um pároco<br />

de Berlim propôs que a imagem percorresse<br />

todas as capitais e cidades episcopais<br />

da Europa, até a fronteira da Rússia.<br />

43


44<br />

carta Da europa<br />

O jeito<br />

Hitchcock<br />

de criar<br />

por silio boccanera, de londres<br />

The pleasure garden, um filme mudo dirigido por Alfred Hitchcock na década de<br />

1920, foi uma das atrações paralelas do recente Festival Internacional de Cinema<br />

do Rio de Janeiro. A projeção aberta ao público, na Praia de Copacabana,<br />

só foi possível graças a um cuidadoso trabalho de restauração no Instituto Britânico do<br />

Cinema-BFI, que recuperou oito filmes mudos do cineasta nascido em Londres e emigrado<br />

para Hollywood.<br />

Hitchcock é ainda tema de uma retrospectiva no BFI, que há meio século publica<br />

uma revista, Sight&Sound, famosa pelo tratamento sério que dá ao cinema internacional<br />

e também pela preparação, a cada dez anos, de uma lista dos melhores filmes de<br />

todos os tempos, conforme opinião de especialistas. Neste ano, pela primeira vez em<br />

cinco décadas de premiação, o vencedor habitual perdeu a vaga para um novo campeão:<br />

saiu Cidadão Kane, de Orson Welles, entrou Vertigem, ou Um corpo que cai,<br />

de Hitchcock.<br />

A retrospectiva Hitchcock no BFI inclui os filmes mudos feitos por ele antes<br />

de se mudar para Hollywood, em 1936. Nos Estados Unidos, ele iria<br />

conquistar fama mundial com filmes como Psicose, Os<br />

pássaros, O homem que sabia demais, Janela indiscreta<br />

e muitos outros que lhe trouxeram reconhecimento<br />

de público e crítica.<br />

O novo ocupante do pedestal dos melhores,<br />

Um corpo que cai, traz James Stewart como um detetive<br />

que se aposentou porque sofre de vertigem de altura e<br />

se sentiu culpado pela morte de um colega. Ele aceita realizar<br />

uma investigação privada para o marido da misteriosa<br />

Kim Novak, porque estranha o comportamento incomum<br />

que a mulher vem exibindo.<br />

Como de hábito em Hitchcock, o que importa não é apenas<br />

a narrativa, o drama psicológico da personagem, e sim a maneira<br />

de contar a história sob a forma de filme. O diretor, que começou<br />

sua carreira no Reino Unido e encerrou-a em Hollywood,<br />

onde morreu em 1980, contribuiu para criar uma linguagem<br />

no cinema, um jeito de se expressar pelas imagens, seja na sequência<br />

em que elas aparecem como resultado da montagem,<br />

no ângulo da câmera ao captar a cena, no uso da música ou<br />

nos diálogos.


Hitchcock criou seus próprios recursos<br />

visuais, numa época sem os truques<br />

eletrônicos hoje banalizados pela tecnologia<br />

digital nos computadores. A vertigem<br />

do personagem de James Stewart<br />

permite mostrar alguns desses truques<br />

com a tecnologia de 1958, mas com uma<br />

criatividade sem data.<br />

A votação da Sight&Sound recolheu<br />

opiniões de críticos, curadores, programadores,<br />

exibidores e outros especialistas<br />

em cinema pelo mundo, além de cineastas<br />

como Martin Scorcese, Woody<br />

Allen, Quentin Tarantino, Francis Ford<br />

Coppola e Guillermo del Toro. Segundo<br />

o editor da revista, Um corpo que cai é um<br />

filme que cresce à medida que o revemos.<br />

O curador da retrospectiva no BFI,<br />

Robin Baker, complementou essa observação<br />

em entrevista que nos deu em Londres:<br />

“O fato de um filme feito há bem<br />

mais de 50 anos ainda ser considerado o<br />

melhor de todas as épocas comprova que<br />

o julgamento crítico não precisa se dar necessariamente<br />

no momento de produção<br />

ou lançamento da obra. É importante ver<br />

como ela passa à posteridade. E é esse o<br />

caso da premiação de Um corpo que cai”.<br />

Na época, esse filme não foi necessariamente<br />

aclamado por todos. “Não é<br />

um filme confortável ou fácil de ver”, explicou<br />

Baker. “Tem várias camadas. É o<br />

tipo de filme que me surpreende sempre<br />

que o revejo. Há momentos em que fico<br />

impressionado, chocado, pelas mudanças<br />

no tom do filme, por ver James<br />

Stewart agindo de maneira tão horrível.<br />

Estaria tendo um colapso nervoso? Por<br />

que age daquela maneira?” Ele se diz surpreso<br />

com a mágica e o brilhantismo de<br />

Hitchcock ao construir uma narrativa,<br />

com o que faz com a câmera. “É tudo<br />

muito rico. É o tipo de filme sobre o<br />

qual podemos falar sem parar, escrever<br />

sem parar. E, para mim, é esse desejo de<br />

vê-lo de novo e de novo”.<br />

Por certo, a vitória de Hitchcock com<br />

o melhor filme de todos os tempos não<br />

tem a unanimidade dos 846 especialistas<br />

que responderam à consulta da<br />

Sigh&Sound, nem terá concordância geral<br />

do público ou de outros cinéfilos. Compor<br />

uma lista dos melhores filmes exige<br />

considerar a importância histórica da<br />

obra, seu impacto a longo prazo, a capacidade<br />

de resistir a uma segunda, terceira,<br />

décima sessão repetida. Quem não<br />

concorda com a escolha pode esbravejar<br />

Divulgação<br />

e até chamar de imbecis os eleitores da<br />

revista. Esse tipo de indignação revela a<br />

paixão que o cinema desperta. No mínimo,<br />

gera calorosa discussão em bar.<br />

Nem mesmo os aficionados de Hitch-<br />

cock concordam na escolha do que seria<br />

seu melhor filme. Muitos preferem, por<br />

exemplo, Psicose, obra marcante na capacidade<br />

de espantar o espectador. Inclui uma<br />

das cenas mais reverenciadas na história do<br />

cinema: o esfaqueamento de Janet Leigh no<br />

chuveiro, com maestria na edição dos vários<br />

cortes (97), nos closes reveladores. Nos<br />

iludimos a ponto de perceber o vermelho<br />

do sangue num filme preto e branco. Sem<br />

esquecer do uso dramático da trilha sonora<br />

de Bernard Hermann.<br />

Outros preferem como melhor filme<br />

Os pássaros, que nos surpreende com o<br />

mistério das aves que atacam humanos<br />

sem motivo aparente, com alvo especial<br />

numa das habituais louras frias de Hitch-<br />

cock. No caso, a loura se encarna em Tippi<br />

Hedren, de visita a uma pequena cidade<br />

de beira-mar para resolver uma pendência<br />

antiga. Seria uma metáfora de explosão<br />

sexual contida, que a mulher de<br />

aparência impecável traz e a história insi-<br />

nua? Hitchcock não explica. Não pretende<br />

explicar. Deixa obscuro e não resolvido<br />

de propósito, para que o espectador perplexo<br />

preencha o conteúdo. Ou passe o<br />

resto da vida com medo de pássaros...<br />

Há quem prefira Janela Indiscreta, com<br />

um James Stewart de perna engessada convencido<br />

de que ocorreu um homicídio no<br />

prédio em frente, que ele observa de binóculos.<br />

Difícil convencer os outros, inclusive<br />

sua própria namorada, Grace Kelly em fase<br />

de beleza inigualável, em 1954, fazendo outra<br />

loura hitchcockiana.<br />

Quando o assunto é cinema, cada<br />

um tem sua escolha pessoal, muitas vezes<br />

inspirada pelo que a obra representou na<br />

vida pessoal ou na primeira vez que viu o<br />

filme, em companhia de quem, com que<br />

idade, visto no cinema escuro ou no vídeo<br />

em casa.<br />

Além da votação ampla, que gerou a<br />

vitória de Um corpo que cai, a revista promoveu<br />

também uma votação mais restrita,<br />

só entre 358 diretores, escolhidos em vários<br />

países para evitar um predomínio anglo-americano.<br />

Nessa lista extra, só de diretores,<br />

o filme de Hitchcock ficou apenas<br />

no oitavo lugar.<br />

os dez mais<br />

1. Vertigem ou Um corpo que cai, de alfredo Hitchcock (1958)<br />

2. Cidadão Kane, de orson Welles (1941)<br />

3. Era uma vez em Tóquio, de Yasugiro ozu (1953)<br />

4. A regra do jogo, de Jean Renoir (1939)<br />

5. Aurora, de F.W. Murnau (1927)<br />

6. 2001: Uma odisséia no espaço, de Stanley Kubrick (1968)<br />

7. Rastros de ódio, de John Ford (1956)<br />

8. Um homem com uma câmera, de Dziga Vertov (1929)<br />

9. The passion of Joan of Arc, de carl Dreyer (1927)<br />

10. 8 ½, de Federico Fellini (1963)<br />

45


luZ câMERa ação<br />

Elefante<br />

branco<br />

por reynaldo domingos Ferreira<br />

Não é de fácil convencimento a<br />

abordagem, na literatura ou no<br />

cinema, da questão do altruísmo<br />

cristão, como pretendeu o cineasta Pablo<br />

Trapero em Elefante branco, selecionado<br />

para a mostra Un Certain Régard do Festival<br />

de Cannes deste ano, apesar de contar<br />

com a colaboração de dois excepcionais<br />

intérpretes: Ricardo Darín e Jérémie Renier,<br />

que estão bem, mas não em seus<br />

melhores momentos.<br />

Seus papéis são os de dois padres, Julián<br />

e Nicolá, mergulhados no inferno de<br />

uma favela – Villa Virgen – na periferia<br />

de Buenos Aires, de 15 mil habitantes,<br />

dominada pelo narcotráfico, uma horrenda<br />

mazela social que a Argentina não<br />

faz questão de divulgar. A vila se formou,<br />

desde a década de 30, em torno do esqueleto<br />

de um edifício destinado a abrigar<br />

um hospital que, segundo a idealização<br />

de seu construtor, Alfredo Palácios, deveria<br />

ser o maior da América Latina. Na<br />

atualidade, residem nele perto de 300 famílias<br />

em condições deploráveis.<br />

Os sacerdotes, originários de famílias<br />

ricas da França, que em outros tempos foram<br />

colegas no seminário, um tendo sido<br />

confessor do outro, querem atenuar os<br />

problemas da gente pobre que os cerca.<br />

Acontece, porém, que, ante sua inábil<br />

atuação, eles contrariam não só os traficantes<br />

como também a Igreja, cuja cúpula<br />

representativa se mostra conivente com a<br />

corrupta ação policial na localidade.<br />

Trapero, também um dos autores do<br />

roteiro, abarca variados temas paralelos,<br />

como a campanha pela canonização do<br />

padre Carlos Mugica, criador da primeira<br />

capela na comunidade; um projeto imobiliário<br />

de construção de vivendas, tocado<br />

pelo bispado; o abalo da fé de Julián<br />

ante a percepção da inutilidade de sua luta;<br />

e, além disso, os tormentos da carne<br />

de Nicolá, causados por uma assistente<br />

social, Luciana (Martina Gusman). O resultado,<br />

previsível, não poderia ser outro<br />

senão o da superficialidade com que todos<br />

os assuntos são tratados. E, pior, com<br />

certo sabor de falsidade. Do lado do roteiro,<br />

portanto, é isso o que se tem.<br />

Mas, do lado da direção, o trabalho<br />

de Trapero é, sem dúvida, mais elogiável,<br />

principalmente pelos recursos de linguagem<br />

que ele usa com muita propriedade.<br />

Note-se, por exemplo, a constância com<br />

que ele capta, pela excelente fotografia de<br />

Guillermo Nieto, cenas em plano-sequência<br />

de eficiente efeito dramático, como a da<br />

chegada dos dois religiosos à favela, em<br />

que, pelo deslocar da embarcação que os<br />

traz, se descortina, em impressionante<br />

quadro panorâmico, a miséria do lugar.<br />

Ao tomar ciência, no prólogo, por<br />

exame de ressonância magnética, de ser<br />

portador de uma doença terminal, o padre<br />

Julián vai à procura de seu ex-colega<br />

Nicolá, que se encontra gravemente ferido<br />

num vilarejo, na Amazônia. Ele sobrevivera<br />

a uma chacina perpetrada por<br />

policiais contra colonos, moradores de<br />

um ajuntamento de cabanas no meio da<br />

floresta, sem que lhes pudesse prestar<br />

qualquer ajuda.<br />

Muito debilitado, física e moralmente,<br />

Nicolá, sem saber da situação verdadeira<br />

de Julián, aceita seu convite para se<br />

integrar à vida de Villa Virgen. Na essência,<br />

portanto, o argumento do pouco<br />

convincente filme de Trapero se centraliza<br />

na tentativa do padre Nicolá de moldar<br />

sua alma às difíceis condições locais.<br />

Os dois intérpretes dos protagonistas,<br />

como já foi dito, estão razoavelmente<br />

bem. Ao que se evidencia, contudo, Jéremie<br />

Renier se entregou mais à sua personagem<br />

do que Darín, que continuou, a<br />

todo tempo, sendo ele mesmo.<br />

elefante branco (Elefante blanco)<br />

argentina/espanha/bélgica/2012, 107min.<br />

direção: pablo trapero. roteiro: trapero,<br />

alejandro Fadel, martin maurequi e santiago<br />

mitri. com ricardo darín, Jérémie renier,<br />

martina gusman, pablo gatti, susana varela e<br />

raul ramos.<br />

Fotos: Divulgação<br />

47


48<br />

luZ câMERa ação<br />

O resgate<br />

da memória<br />

por sérgio moriconi<br />

Se a captação das imagens históricas<br />

da épica construção de <strong>Brasília</strong> fosse<br />

uma corrida de revezamento, Dino<br />

Cazzola certamente seria aquele que fecharia<br />

a raia, já no alvorecer dos anos 70.<br />

Com a transferência do centro do poder<br />

brasileiro para os confins do Centro-Oeste<br />

(uma aventura inimaginável para os incrédulos),<br />

dezenas de profissionais da reportagem<br />

cinematográfica se deslocaram para<br />

o gigantesco descampado onde seria erguida<br />

a utópica capital do país, a fim de documentar<br />

o início da obras. Alguns nomes,<br />

como os de Herbert Richers e do judeu<br />

bessarábico Isaac Rozemberg, se destacavam<br />

como produtores consolidados no<br />

Rio e São Paulo. Ao lado deles, um francês,<br />

Jean Manzon, muito conhecido desde<br />

os tempos de Getúlio Vargas por sua atuação<br />

no malfadado Departamento de Imprensa<br />

e Propaganda, o DIP.<br />

Mas foram José Silva e Sávio Silva, pai<br />

e filho, aqueles que seriam considerados<br />

os cinegrafistas oficiais do governo, responsáveis<br />

por toda a documentação do<br />

trabalho de construção. José era um pioneiro<br />

dos cinejornais quando Israel Pinheiro,<br />

presidente da Novacap, o convidou<br />

para filmar o andamento das obras da<br />

nova capital. Os dois se conheciam desde<br />

os tempos de Belo Horizonte. A Liberta<br />

Filmes, de José Silva, tinha grande expe-<br />

riência no ramo. Registrou os principais<br />

acontecimentos oficiais e não-oficiais da<br />

capital mineira e de Minas Gerais, como a<br />

construção do Grande Hotel de Araxá e –<br />

ele próprio cita – “a visita do general Clark<br />

a Belo Horizonte”. Serviu a Juscelino no<br />

período da prefeitura de BH, de 1940 a<br />

Estreia no final do mês o<br />

documentário que conta<br />

um pedaço da história<br />

de <strong>Brasília</strong> com base no<br />

acervo do cinegrafista<br />

italiano Dino Cazzola.<br />

1945, e do governo de Minas, de 1951 a<br />

1955. Um ano e pouco depois, ele e o filho<br />

registravam as escavadeiras retirando<br />

o pó rubro que daria lugar à cidade imaginada<br />

na prancheta por Oscar Niemeyer e<br />

Lúcio Costa.<br />

Italiano de nascimento, Dino Cazzola<br />

– lembramos – recebeu a bola da documentação<br />

com a capital já inaugurada. Ele<br />

tinha vindo a <strong>Brasília</strong>, em 1959, justamente<br />

para registrar as festas de inauguração<br />

pela extinta TV Tupi. Criaria depois o<br />

Departamento de Cinema da TV <strong>Brasília</strong><br />

e aqui ficou, registrando a vida na nova capital<br />

para os órgãos públicos. De sua equipe,<br />

e de sua câmara, saíam as imagens veiculadas<br />

nos telejornais dos quatro cantos<br />

do país. Em 1972, com a chegada da TV<br />

a cores, aos 16 anos, o filho Júlio Cazzola<br />

foi com ele à Bélgica, para um curso sobre<br />

vídeo e fotos coloridos na Agfa Gevaert.<br />

Não seguiu a profissão do pai. A vocação<br />

pela Engenharia falou mais alto. Hoje, ele<br />

é o guardião do acervo cinematográfico dr<br />

Dino Cazzola, falecido em 1998. São 500<br />

latas com filmes em preto-e-branco e em<br />

cores. Eles narram parte da história da capital<br />

em suas duas primeiras décadas de<br />

existência.


E foi por esse baú de memórias que a<br />

historiadora Andréa Prates e o cineasta<br />

Cleisson Vidal se interessaram. Andrea<br />

soube dos filmes de Dino em 1984, quando<br />

era estagiária na extinta Fundação Nacional<br />

Pró-Memória. No início da década<br />

de 90, ela conheceu Júlio e se assustou<br />

com a coincidência. “Quando ele disse<br />

que era filho do Dino, quase caí dura.”<br />

Depois da morte do jornalista, as conversas<br />

sobre a recuperação do acervo ficaram<br />

cada vez mais constantes. Junto com Cleisson<br />

Vidal, Andréa lançou, em 2005, o longa-metragem<br />

Missionários, exibido no Festival<br />

do Rio. Novamente juntos, os dois realizaram,<br />

em 2012, Dino Cazzola: uma filmografia<br />

de <strong>Brasília</strong>, que, como o título deixa<br />

claro, é um documentário sobre a história<br />

da cidade a partir da coleção deixada pelo<br />

cinegrafista, ao mesmo tempo em que expõe<br />

a fragilidade das políticas de preservação<br />

dos acervos de imagem brasileiros.<br />

Que tesouros mais podem ser encontrados<br />

na <strong>Brasília</strong> filtrada pelas lentes de<br />

Cazzola, além daqueles revelados por esse<br />

documentário? Na histórica entrevista que<br />

fez para a Globo News com Geraldo Vandré,<br />

o jornalista Geneton Moraes Neto<br />

perguntou: “Onde estão as imagens gravadas<br />

por Evilásio Carneiro para a produtora<br />

de Dino Cazzola, no Aeroporto de <strong>Brasília</strong><br />

(retransmitidas por emissoras de TV<br />

de todo país), quando o artista regressou<br />

de seu exílio no Chile, em 1973, após breves<br />

passagens por Peru, Argélia, Alemanha<br />

e França?” Segundo Geneton, não há<br />

registros do filme na Polícia Federal, nem<br />

no Arquivo Nacional, nem em lugar nenhum.<br />

Personagem maldito, mítico, autor<br />

do hino à sublevação popular Pra não dizer<br />

que não falei das flores, teriam tido inutilizadas<br />

pelos militares todas as imagens<br />

de participações suas em programas de televisão<br />

e festivais.<br />

“Busco incansavelmente, nos últimos<br />

anos”, conta Cleisson Vidal, “os registros<br />

do depoimento que Vandré deu à equipe<br />

de Dino Cazzola, pois este é um dos momentos<br />

mais importantes da trajetória da<br />

produtora”. Apesar das buscas, Vidal não<br />

conseguiu encontrar nenhuma imagem.<br />

“Naquela altura”, diz ele, “eu me daria por<br />

Os diretores<br />

Andrea Prates<br />

e Cleisson Vidal<br />

Fotos: Divulgação<br />

satisfeito se conseguisse ao menos o áudio<br />

para usar no nosso documentário”. Na<br />

entrevista a Geneton, Vandré disse não<br />

acreditar na “lenda” da destruição de sua<br />

imagem televisiva e cinematográfica. Afirmou<br />

nunca ter tido problemas com os militares,<br />

a ponto de ter composto um hino<br />

em homenagem à Força Aérea Brasileira<br />

(FAB). Para ele, esses registros devem estar<br />

muito bem guardados em algum lugar.<br />

Boa parte do acervo de Cazzola pertencia<br />

à TV <strong>Brasília</strong>. Cleisson Vidal e Andréa<br />

Prates tiveram em suas mãos três mil rolos,<br />

contendo cerca de 300 horas de filmes.<br />

Boa parte deles estava deteriorada.<br />

Foi preciso contar com os serviços de um<br />

perito – Francisco Moreira, diretor de restauração<br />

do Labocine – para analisar o<br />

material. Quando houve a mudança do filme<br />

para vídeo, a emissora jogou tudo fora.<br />

Cazzola teve o bom senso de recolher tudo<br />

e guardar ele próprio as latas em sua produtora.<br />

Isso ilustra bem o descaso que empresas,<br />

e também órgãos públicos, têm em<br />

relação à conservação e restauração do patrimônio<br />

de memória audiovisual do país.<br />

Júlio Cazzola lembra que o pai considerava<br />

seu acervo um patrimônio. “Tudo que<br />

ele fez ele guardou. Infelizmente, mais de<br />

80% se perderam”.<br />

dino cazzola – uma<br />

filmografia de brasília<br />

brasil/2012, 71min. estreia dia 30/11 em<br />

cinemas de são paulo, rio de Janeiro, brasília<br />

e Juiz de Fora. roteiro, produção e direção:<br />

andrea prates e cleisson vidal. Fotografia:<br />

cleisson vidal. consultoria em acervo Fílmico:<br />

Francisco sérgio moreira. montagem: lea<br />

van steen. produção executiva: vera affonso.<br />

música: iura ranevsky. som: renato calaça.<br />

edição de som e mixagem: miriam biderman<br />

e ricardo reis. Finalização: afinal Filmes.<br />

49


50<br />

luZ câMERa ação<br />

A negociação<br />

por reynaldo domingos Ferreira<br />

Com uma direção bem conduzida,<br />

ao estilo de um thriller, o escritor<br />

e cineasta Nicholas Jarecki<br />

defende a ideia, em A negociação, de que<br />

os poderosos – principalmente os que lidam<br />

no desregrado mercado financeiro<br />

– se saem sempre bem dos imbróglios<br />

que eles próprios aprontam, na vida particular<br />

ou nos negócios. Autor também<br />

do brilhante roteiro, Jarecki não tem como<br />

evitar a conotação política que assume<br />

sua parábola em relação ao que vem<br />

acontecendo em seu país depois da bolha<br />

imobiliária de 2008.<br />

De fato, os articuladores da crise hipotecária<br />

dos bancos – como mostra o<br />

pertinente documentário Trabalho interno,<br />

de Charles Ferguson, premiado com<br />

o Oscar – acabaram por ser aquinhoados<br />

com altos cargos da administração financeira,<br />

no atual governo democrata, e evitaram<br />

assim que fosse feita uma regulamentação,<br />

como era necessária, do sistema<br />

bancário.<br />

Realizado pela mesma metodologia<br />

de thrillers da década de 70, como Serpico,<br />

de Sidney Lumet, o filme de Jarecki, embora<br />

tenha voo próprio, narra a história<br />

de um magnata de Wall Street, Robert<br />

Miller (Richard Gere), capa da revista<br />

Fortune, que, como muitos atualmente,<br />

daqui e de lá, ficou milionário vendendo<br />

títulos fictícios sobre a exploração de<br />

uma mina de minérios na Rússia. Para<br />

vender sua falida empresa, na qual trabalham<br />

seus filhos Peter (Austin Lysi) e<br />

Brooke (Brit Marling), ele não se constrange<br />

em fazer, comprometendo-os,<br />

uma série de transferências fraudulentas,<br />

com a anuência de um banco estatal, de<br />

empréstimos contraídos, no valor de 412<br />

milhões de dólares. Mas isso não é tudo.<br />

Depois de badalada entrevista concedida<br />

algures à imprensa, Miller retorna,<br />

em seu avião particular, a Nova York, onde<br />

a família, reunida, o aguarda para comemorar<br />

seu aniversário. Ao agradecer a<br />

homenagem, ele, enfático, cita Mark<br />

Twain, quando afirma que “a velhice não<br />

importa para quem não se importa com<br />

ela”. Em seguida, malgrado o pedido da<br />

esposa Ellen (Susan Sarandon) para que<br />

fique em casa com os filhos e netos, Miller<br />

alega compromissos de negócios e,<br />

azafamado, como um gigolô de luxo, vai<br />

para a casa da amante francesa Julie (Laetitia<br />

Casta), dona de uma galeria de artes.<br />

Aspirando pó, ela se despedaça de angústia<br />

pela demora dele em comer o bolo<br />

que lhe preparou. Chorosa, muito chorosa,<br />

Julie lhe exige que deixe a família.<br />

Para distraí-la, Miller a convida a dar<br />

um passeio, em sua Mercedes, por lugares<br />

ermos e aprazíveis da cidade, mas,<br />

cansado, dormita ao volante, provocando<br />

uma espetacular capotagem. Julie<br />

morre. Ele, ferido na cabeça e nas costas,<br />

foge do carro em chamas para evitar<br />

comprometer sua imagem com o acidente.<br />

Entram então na história duas curiosas<br />

figuras que vão ficar na cola do poderoso<br />

Miller: um motorista de táxi do<br />

Harlem, Jimmy (Nate Parker), e um detetive,<br />

Michael Bryer (Tim Roth).<br />

O estreante diretor tem uma linguagem<br />

clara, simples, sem simbologia pré-<br />

fabricada, no ritmo e na cadência do suspense.<br />

E trabalha com uma ambientação<br />

de Carrie Stewart muito apropriada ao desenvolvimento<br />

do argumento. Além disso,<br />

conta com interpretações primorosas<br />

de um elenco a todo o tempo ajustado à<br />

sua concepção da mise-en-scène do drama.<br />

Nesse sentido, vale ressaltar que Richard<br />

Gere, como Robert Miller, tem representação<br />

discreta, mas eficiente. Susan<br />

Sarandon, embora mal servida (intencionalmente?)<br />

pelo figurinista, aparece<br />

em bons momentos de atuação. Tim<br />

Roth personifica bem o detetive Michael<br />

Bryer, que transita pelos meandros da vida<br />

de Miller à procura de provas que possam<br />

incriminá-lo. E Nate Parker oferece<br />

justas evidências de seu promissor talento.<br />

Note-se ainda a presença de Graydon<br />

Carter, editor da revista Vanity Fair, que<br />

fez questão de encarnar James Mayfield,<br />

o comprador da empresa de Miller.<br />

a negociação (Arbitrage)<br />

eua/2012, 107min. roteiro e direção: nicholas<br />

Jarecki. com richard gere, susan sarandon,<br />

tim roth, brit marling, laetitia casta, nate<br />

parker, graydon carter e austin lysi.<br />

Divulgação


Duas horas de férias por dia.<br />

Vista para o lago, amplo estacionamento<br />

e as melhores opções gastronômicas.<br />

Quem almoça no Pontão volta muito mais descansado.<br />

bierfass • Café antiquário • devassa Cervejaria • manzuá • mormaii surf bar • soho restaurante<br />

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