BAR EM BAR: ATÉ O DIA 18, UM FESTIVAL DE ... - Roteiro Brasília
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as ao lado dos irmãos – entre eles o ator<br />
Paulo César Pereio, seis anos mais velho<br />
– e da família que foi rica e que, por conta<br />
de gastança romântica do pai, ficou<br />
quase pobre. Dos seus primeiros anos de<br />
estudo sabe-se apenas que foi brilhante e<br />
rebelde, expulso quase todos os anos do<br />
primário, embora nunca tenha sido reprovado.<br />
“Eu normalmente já havia passado<br />
de ano quando me pegavam”, conta<br />
Carlos Augusto de Campos Velho,<br />
nome de registro do pequeno “pinguinho<br />
de gente”, como o chamava sua<br />
mãe, dona Maria Hugo Velho.<br />
Sua adolescência fica perdida nas<br />
brumas da lenda e hora ou outra se entrevê<br />
um rapaz alto fazendo teatro, cantando<br />
mocinhas e viajando pelos lugares<br />
menos turísticos do país. Do homem<br />
ainda jovem, sabe-se de uma aventura no<br />
Paraguai que lhe rendeu um ano de prisão<br />
numa pequena cidade do interior do<br />
Mato Grosso. O carro que ele dirigia, ao<br />
voltar para o Brasil, estava abarrotado de<br />
drogas. Seu companheiro de viagem fugiu<br />
e ele foi preso. Não se sabe se tinha<br />
conhecimento da carga, mas o certo é<br />
que na cadeia fez amizade com o delegado<br />
e os praças e passou a exercer o ofício<br />
de escrivão, que lhe rendeu algumas<br />
mordomias: uma sala especial só para ele<br />
e acesso a todo material apreendido pelos<br />
policiais. “Quando eu saí, eles quase<br />
choravam, pedindo para eu ficar, mas eu<br />
tinha outros compromissos e não aceitei<br />
a oferta”, lembra Pingo.<br />
Depois de passar pelo Rio de Janeiro<br />
e São Paulo e trabalhar em teatro e cinema,<br />
chegou a <strong>Brasília</strong> em 1977, aos 31<br />
anos. Aqui retomou a carreira teatral como<br />
diretor e montou diversas peças,<br />
sempre com sucessos ou fracassos estrondosos.<br />
Criou inimigos a rodo no meio<br />
artístico e uniu-se a figuras mitológicas<br />
da cidade, como o produtor José Pereira<br />
e o jornalista Wanderlei Lopes, com<br />
quem aprontou muito em bares e festas.<br />
Para conseguir patrocínio da extinta<br />
Fundação Cultural para uma de suas<br />
montagens, tirou a roupa na porta do gabinete<br />
do diretor, o embaixador Wladimir<br />
Murtinho. A artimanha deu certo e ele<br />
conseguiu a verba.<br />
Na década de 80, inspirado no clássico<br />
O último tango em Paris, escreveu e<br />
montou O último rango, com direção musical<br />
de Edu Viola e participação de Renato<br />
Russo, Plebe Rude e Liga Tripa. No<br />
transcorrer da peça é preparada uma sopa,<br />
depois servida aos atores e à plateia.<br />
Para garantir os ingredientes da sopa,<br />
Pingo ligou certo dia para a Ceasa, passando-se<br />
pelo secretário de Agricultura e<br />
ordenando que atendessem bem a um enviado<br />
seu, que naquele momento estava<br />
se dirigindo para lá. Apresentou-se como<br />
tal, informou que estava montando o espetáculo<br />
a pedido do governador e daí em<br />
diante não faltou sopa nem nos ensaios<br />
do grupo, que eram realizados no Clube<br />
da Imprensa.<br />
Sua relação com o Clube da Imprensa<br />
se tornou mágica e ele, por puro amor e<br />
também por falta de local para morar,<br />
candidatou-se à presidência com o slogan<br />
“vamos viver o clube”. Ganhou a eleição e<br />
passou, efetivamente, a morar no clube<br />
com a família e uma vaca que comprara<br />
para dar leite fresco aos filhos pequenos.<br />
Depois dessa experiência política, voltou<br />
aos palcos e montou mais uma dezena<br />
de peças. Entre elas, uma que não<br />
agradava muito ao público, que costumava<br />
sair antes dos vinte primeiros minutos.<br />
Pingo resolveu esse problema trancando<br />
o teatro e colocando a chave no colo. Antes<br />
de o espetáculo começar, ele avisava<br />
que quem quisesse sair era só pegar a chave<br />
e abrir a porta. O público tornou-se<br />
mais sensível ao texto e à montagem e<br />
passou a sair somente no final da peça.<br />
Nosso imaginoso e irrequieto personagem<br />
não se prende somente ao teatro.<br />
Também faz filmes e muitos filhos. “Um<br />
com cada mulher, sem nunca me ter casado.<br />
Aliás, tive dois gêmeos com uma,<br />
por isso são seis filhos”, conta. Também<br />
criou uma colônia de férias, promoveu<br />
oficinas de arte e desfiles de moda afro<br />
com jovens da periferia. Candidatou-se a<br />
deputado distrital, mas não foi eleito.<br />
Uniu-se à atriz e produtora Andréa<br />
Gozzo, com quem tem a filha mais nova,<br />
Alice, e criou a Associação de Movimentos<br />
Culturais, para produzir seus trabalhos.<br />
Por fim, tornou-se empresário e<br />
construiu o shopping no qual funcionam<br />
o Teatro Grande Otelo e o Cinema Saracura.<br />
Pois foi justamente nesse centro comercial<br />
que começou nossa história – que<br />
esperamos esteja longe do fim.<br />
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