BAR EM BAR: ATÉ O DIA 18, UM FESTIVAL DE ... - Roteiro Brasília
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luZ câMERa ação<br />
A negociação<br />
por reynaldo domingos Ferreira<br />
Com uma direção bem conduzida,<br />
ao estilo de um thriller, o escritor<br />
e cineasta Nicholas Jarecki<br />
defende a ideia, em A negociação, de que<br />
os poderosos – principalmente os que lidam<br />
no desregrado mercado financeiro<br />
– se saem sempre bem dos imbróglios<br />
que eles próprios aprontam, na vida particular<br />
ou nos negócios. Autor também<br />
do brilhante roteiro, Jarecki não tem como<br />
evitar a conotação política que assume<br />
sua parábola em relação ao que vem<br />
acontecendo em seu país depois da bolha<br />
imobiliária de 2008.<br />
De fato, os articuladores da crise hipotecária<br />
dos bancos – como mostra o<br />
pertinente documentário Trabalho interno,<br />
de Charles Ferguson, premiado com<br />
o Oscar – acabaram por ser aquinhoados<br />
com altos cargos da administração financeira,<br />
no atual governo democrata, e evitaram<br />
assim que fosse feita uma regulamentação,<br />
como era necessária, do sistema<br />
bancário.<br />
Realizado pela mesma metodologia<br />
de thrillers da década de 70, como Serpico,<br />
de Sidney Lumet, o filme de Jarecki, embora<br />
tenha voo próprio, narra a história<br />
de um magnata de Wall Street, Robert<br />
Miller (Richard Gere), capa da revista<br />
Fortune, que, como muitos atualmente,<br />
daqui e de lá, ficou milionário vendendo<br />
títulos fictícios sobre a exploração de<br />
uma mina de minérios na Rússia. Para<br />
vender sua falida empresa, na qual trabalham<br />
seus filhos Peter (Austin Lysi) e<br />
Brooke (Brit Marling), ele não se constrange<br />
em fazer, comprometendo-os,<br />
uma série de transferências fraudulentas,<br />
com a anuência de um banco estatal, de<br />
empréstimos contraídos, no valor de 412<br />
milhões de dólares. Mas isso não é tudo.<br />
Depois de badalada entrevista concedida<br />
algures à imprensa, Miller retorna,<br />
em seu avião particular, a Nova York, onde<br />
a família, reunida, o aguarda para comemorar<br />
seu aniversário. Ao agradecer a<br />
homenagem, ele, enfático, cita Mark<br />
Twain, quando afirma que “a velhice não<br />
importa para quem não se importa com<br />
ela”. Em seguida, malgrado o pedido da<br />
esposa Ellen (Susan Sarandon) para que<br />
fique em casa com os filhos e netos, Miller<br />
alega compromissos de negócios e,<br />
azafamado, como um gigolô de luxo, vai<br />
para a casa da amante francesa Julie (Laetitia<br />
Casta), dona de uma galeria de artes.<br />
Aspirando pó, ela se despedaça de angústia<br />
pela demora dele em comer o bolo<br />
que lhe preparou. Chorosa, muito chorosa,<br />
Julie lhe exige que deixe a família.<br />
Para distraí-la, Miller a convida a dar<br />
um passeio, em sua Mercedes, por lugares<br />
ermos e aprazíveis da cidade, mas,<br />
cansado, dormita ao volante, provocando<br />
uma espetacular capotagem. Julie<br />
morre. Ele, ferido na cabeça e nas costas,<br />
foge do carro em chamas para evitar<br />
comprometer sua imagem com o acidente.<br />
Entram então na história duas curiosas<br />
figuras que vão ficar na cola do poderoso<br />
Miller: um motorista de táxi do<br />
Harlem, Jimmy (Nate Parker), e um detetive,<br />
Michael Bryer (Tim Roth).<br />
O estreante diretor tem uma linguagem<br />
clara, simples, sem simbologia pré-<br />
fabricada, no ritmo e na cadência do suspense.<br />
E trabalha com uma ambientação<br />
de Carrie Stewart muito apropriada ao desenvolvimento<br />
do argumento. Além disso,<br />
conta com interpretações primorosas<br />
de um elenco a todo o tempo ajustado à<br />
sua concepção da mise-en-scène do drama.<br />
Nesse sentido, vale ressaltar que Richard<br />
Gere, como Robert Miller, tem representação<br />
discreta, mas eficiente. Susan<br />
Sarandon, embora mal servida (intencionalmente?)<br />
pelo figurinista, aparece<br />
em bons momentos de atuação. Tim<br />
Roth personifica bem o detetive Michael<br />
Bryer, que transita pelos meandros da vida<br />
de Miller à procura de provas que possam<br />
incriminá-lo. E Nate Parker oferece<br />
justas evidências de seu promissor talento.<br />
Note-se ainda a presença de Graydon<br />
Carter, editor da revista Vanity Fair, que<br />
fez questão de encarnar James Mayfield,<br />
o comprador da empresa de Miller.<br />
a negociação (Arbitrage)<br />
eua/2012, 107min. roteiro e direção: nicholas<br />
Jarecki. com richard gere, susan sarandon,<br />
tim roth, brit marling, laetitia casta, nate<br />
parker, graydon carter e austin lysi.<br />
Divulgação