BAR EM BAR: ATÉ O DIA 18, UM FESTIVAL DE ... - Roteiro Brasília
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água na boca<br />
O morador de rua<br />
por vicente sá<br />
que virou tapioca<br />
A<br />
mais forte contribuição dos indígenas<br />
à culinária nacional, a mandioca<br />
é a base de uma iguaria que<br />
sempre foi apreciada no Nordeste brasileiro<br />
e nos últimos anos conquistou todo o<br />
país. Deixou de ser uma comidinha simples<br />
para sofisticar-se e agradar aos paladares<br />
mais exigentes. Estamos falando da tapioca,<br />
comida feita à base da fécula da<br />
mandioca que, ao se espalhar em uma<br />
chapa quente, coagula-se e vira um tipo de<br />
panqueca ou crepe seco. Do início da colonização<br />
brasileira até a metade do século<br />
passado, esse era o pão do nordestino,<br />
apreciado basicamente com manteiga ou<br />
queijo, em sua versão salgada, ou com coco,<br />
quando doce.<br />
Hoje, a comida ganhou incontáveis variações,<br />
com dezenas de recheios diferentes,<br />
e se transformou em “especialidade”<br />
de casas espalhadas por todo o Brasil. Em<br />
algumas, é tratada com requintes que a<br />
elevam à categoria gourmet, como é o caso<br />
da Tapiocaria Raízes do Sertão, do empresário<br />
Durley Soares da Silva. São mais de<br />
100 sabores de tapioca, desde a mais simples,<br />
apenas com manteiga do sertão, às<br />
recheadas com camarão, salmão, baca-<br />
Fotos: Divulgação<br />
lhau, atum, tilápia e uma vasta combinação<br />
de queijos e purês.<br />
A tapioca tornou-se uma paixão para<br />
Durley Soares ainda em 2009, quando<br />
ele era gerente de uma casa de massas que<br />
funcionava na 311 Norte, ao lado de uma<br />
tapiocaria. Mas a história desse hoje empresário<br />
de sucesso merece ser melhor<br />
contada. Durley é goiano de Iraciara e<br />
chegou a <strong>Brasília</strong> em 1987, aos sete anos<br />
de idade. Filho de uma família numerosa<br />
e com o pai sofrendo de um problema na<br />
coluna que o impedia de trabalhar, lutou<br />
desde cedo para ajudar no sustento da casa.<br />
Morando em Planaltina com os onze<br />
irmãos, descia todos os dias para trabalhar<br />
no Plano Piloto. Foi nessas incursões<br />
que aprendeu a gostar de livros. “Eu<br />
lia tudo o que encontrava, sem ligar para<br />
assunto ou gênero. Eu achava muito livro<br />
jogado no lixo. Depois fui lendo os oferecido<br />
pelo Luiz Amorim, do T-Bone, esses<br />
que ficam nos pontos de ônibus. Cheguei<br />
a ler mais de 300 livros em seis meses”,<br />
orgulha-se Durley.<br />
O amor pelos livros mudaria sua vida<br />
e o ajudaria a fugir do rumo fácil das drogas<br />
ou da bebida quando, por questões<br />
emocionais, largou a família, aos 17 anos,<br />
e tornou-se morador de rua. “Eu dormia<br />
pela Asa Norte, frequentava os pequenos<br />
restaurantes, onde trabalhava por comida,<br />
lavando pratos ou limpando o lixo.<br />
Nunca aceitei comida de graça”, lembra.<br />
Depois de um ano, ele voltou ao convívio<br />
da família e logo depois casou-se. Fez cursos<br />
no Senac enquanto trabalhava na Escola<br />
de Música de <strong>Brasília</strong> como técnico<br />
mecanógrafo, e nas horas de folga vendia<br />
sorvetes aos alunos e professores. Conheceu<br />
e criou laços de amizade com boa parte<br />
dos músicos da cidade que ali lecionavam,<br />
entre eles o violonista Jaime Ernest<br />
Dias, Maria Barros e o próprio diretor da<br />
escola à época, Carlos Galvão.<br />
Depois de fazer o curso de garçom,<br />
também no Senac, foi trabalhar numa ca