BAR EM BAR: ATÉ O DIA 18, UM FESTIVAL DE ... - Roteiro Brasília
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ALEXANDRE FRANCO<br />
pao&vinho@agenciaalo.com.br Divina<br />
PÃO & VINHO<br />
diversidade<br />
normalmente, quando uma pessoa aprecia um<br />
determinado tipo de bebida, como cerveja, whisky ou<br />
vodka, costuma eleger sua marca preferida e permanecer<br />
consumindo-a a maior parte do tempo. com o vinho a<br />
tendência é quase que a oposta, pois a diversidade de<br />
castas, de produtores, de regiões, de safras, de tantas<br />
variáveis, enfim, é tão grande que o enófilo sabe,<br />
percebe, mesmo que intuitivamente, que deve sempre<br />
experimentar novos rótulos, pois tem a certeza de que vai<br />
encontrar sempre algo diferente, que eventualmente lhe<br />
será ainda melhor do que aquele seu preferido até então.<br />
E é com esse pensamento, ou intuição, que, embora<br />
preserve um ou outro rótulo no meu consumo usual,<br />
acabo sempre que posso optando por experimentar,<br />
desde os mais básicos até os mais sofisticados rótulos,<br />
e tenho tido muitas surpresas nessa jornada vínica, a<br />
maioria delas muito boas. a possibilidade de, ao "virar<br />
uma esquina”, descobrir uma nova estrela, ainda mais<br />
brilhante, é talvez o que acho de melhor no mundo do<br />
vinho.<br />
Recentemente fui "ofuscado" por dois exemplares,<br />
um branco e um tinto, dos quais não me esquecerei<br />
tão cedo, pois foram gratas surpresas. o primeiro deles,<br />
o branco, foi um chardonnay americano da Beckstoffer<br />
Vineyards, o Littauer, safra 2008, da região de carneros,<br />
com nada menos que 14,9% de álcool, o que em<br />
princípio não me agradaria, mas que neste caso,<br />
totalmente equilibrado, muito bem trabalhado<br />
em carvalho, provavelmente tendo passado pela<br />
fermentação malolática, apresentou-se com os dois lados<br />
da chardonnay, um frutado com abacaxi e ao mesmo<br />
tempo a baunilha, o caramelo e a manteiga. Muito<br />
redondo e sedoso em boca e, apesar da baixa acidez,<br />
incrivelmente gastronômico. Excelente, dos melhores<br />
brancos que já degustei.<br />
Já o tinto, ah... que sonho! simplesmente o melhor<br />
vinho que já provei até hoje. a prova viva de que os<br />
melhores vinhos ficam ainda melhores com a idade, pois<br />
trata-se de um chateau D’Issan, um Grand cru classé<br />
de Margaux da safra de 1981, nada menos que 31<br />
anos de garrafa. ao sacar a rolha, tive um momento de<br />
preocupação, pois ela já se mostrava umedecida quase que<br />
por inteiro. Mas, ao aproximar a taça do nariz, as dúvidas<br />
sumiram e eu sabia que o casamento seria meu destino.<br />
amor à primeira vista. paixão arrebatadora. Tudo que de<br />
melhor se pode esperar de um vinho. os aromas abriram<br />
com chocolate e evoluíram para geleia de frutas negras e<br />
cassis. Depois veio algo de húmus, toque de terra, de<br />
tabaco, trufas. Havia para todo gosto. se durasse mais a<br />
garrafa, pois acabou-se com facilidade, seriam infindáveis<br />
os aromas a serem percebidos.<br />
a cor elegantemente acastanhada, o corpo ideal,<br />
extremamente elegante, com a sensualidade de um<br />
Borgonha e a estrutura de um Bordeaux. o retrogosto,<br />
notável, trouxe de volta o cassis, as frutas negras<br />
confitadas, o toque de chocolate, algo da baunilha e<br />
mesmo um quê de violetas. Infindável na persistência.<br />
sem dúvida, se eu o pontuasse receberia nota 100/100,<br />
mas para mim ele está muito além de uma pontuação, é<br />
simplesmente a essência da imaginação vínica. se tiverem<br />
a chance de degustá-lo, embora creio que não será fácil<br />
encontrar a safra, que adquiri em paris muitos anos atrás,<br />
não percam a oportunidade. se Baco de fato existiu,<br />
deixou parte de sua alma nessas garrafas.<br />
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