BAR EM BAR: ATÉ O DIA 18, UM FESTIVAL DE ... - Roteiro Brasília
BAR EM BAR: ATÉ O DIA 18, UM FESTIVAL DE ... - Roteiro Brasília
BAR EM BAR: ATÉ O DIA 18, UM FESTIVAL DE ... - Roteiro Brasília
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
E foi por esse baú de memórias que a<br />
historiadora Andréa Prates e o cineasta<br />
Cleisson Vidal se interessaram. Andrea<br />
soube dos filmes de Dino em 1984, quando<br />
era estagiária na extinta Fundação Nacional<br />
Pró-Memória. No início da década<br />
de 90, ela conheceu Júlio e se assustou<br />
com a coincidência. “Quando ele disse<br />
que era filho do Dino, quase caí dura.”<br />
Depois da morte do jornalista, as conversas<br />
sobre a recuperação do acervo ficaram<br />
cada vez mais constantes. Junto com Cleisson<br />
Vidal, Andréa lançou, em 2005, o longa-metragem<br />
Missionários, exibido no Festival<br />
do Rio. Novamente juntos, os dois realizaram,<br />
em 2012, Dino Cazzola: uma filmografia<br />
de <strong>Brasília</strong>, que, como o título deixa<br />
claro, é um documentário sobre a história<br />
da cidade a partir da coleção deixada pelo<br />
cinegrafista, ao mesmo tempo em que expõe<br />
a fragilidade das políticas de preservação<br />
dos acervos de imagem brasileiros.<br />
Que tesouros mais podem ser encontrados<br />
na <strong>Brasília</strong> filtrada pelas lentes de<br />
Cazzola, além daqueles revelados por esse<br />
documentário? Na histórica entrevista que<br />
fez para a Globo News com Geraldo Vandré,<br />
o jornalista Geneton Moraes Neto<br />
perguntou: “Onde estão as imagens gravadas<br />
por Evilásio Carneiro para a produtora<br />
de Dino Cazzola, no Aeroporto de <strong>Brasília</strong><br />
(retransmitidas por emissoras de TV<br />
de todo país), quando o artista regressou<br />
de seu exílio no Chile, em 1973, após breves<br />
passagens por Peru, Argélia, Alemanha<br />
e França?” Segundo Geneton, não há<br />
registros do filme na Polícia Federal, nem<br />
no Arquivo Nacional, nem em lugar nenhum.<br />
Personagem maldito, mítico, autor<br />
do hino à sublevação popular Pra não dizer<br />
que não falei das flores, teriam tido inutilizadas<br />
pelos militares todas as imagens<br />
de participações suas em programas de televisão<br />
e festivais.<br />
“Busco incansavelmente, nos últimos<br />
anos”, conta Cleisson Vidal, “os registros<br />
do depoimento que Vandré deu à equipe<br />
de Dino Cazzola, pois este é um dos momentos<br />
mais importantes da trajetória da<br />
produtora”. Apesar das buscas, Vidal não<br />
conseguiu encontrar nenhuma imagem.<br />
“Naquela altura”, diz ele, “eu me daria por<br />
Os diretores<br />
Andrea Prates<br />
e Cleisson Vidal<br />
Fotos: Divulgação<br />
satisfeito se conseguisse ao menos o áudio<br />
para usar no nosso documentário”. Na<br />
entrevista a Geneton, Vandré disse não<br />
acreditar na “lenda” da destruição de sua<br />
imagem televisiva e cinematográfica. Afirmou<br />
nunca ter tido problemas com os militares,<br />
a ponto de ter composto um hino<br />
em homenagem à Força Aérea Brasileira<br />
(FAB). Para ele, esses registros devem estar<br />
muito bem guardados em algum lugar.<br />
Boa parte do acervo de Cazzola pertencia<br />
à TV <strong>Brasília</strong>. Cleisson Vidal e Andréa<br />
Prates tiveram em suas mãos três mil rolos,<br />
contendo cerca de 300 horas de filmes.<br />
Boa parte deles estava deteriorada.<br />
Foi preciso contar com os serviços de um<br />
perito – Francisco Moreira, diretor de restauração<br />
do Labocine – para analisar o<br />
material. Quando houve a mudança do filme<br />
para vídeo, a emissora jogou tudo fora.<br />
Cazzola teve o bom senso de recolher tudo<br />
e guardar ele próprio as latas em sua produtora.<br />
Isso ilustra bem o descaso que empresas,<br />
e também órgãos públicos, têm em<br />
relação à conservação e restauração do patrimônio<br />
de memória audiovisual do país.<br />
Júlio Cazzola lembra que o pai considerava<br />
seu acervo um patrimônio. “Tudo que<br />
ele fez ele guardou. Infelizmente, mais de<br />
80% se perderam”.<br />
dino cazzola – uma<br />
filmografia de brasília<br />
brasil/2012, 71min. estreia dia 30/11 em<br />
cinemas de são paulo, rio de Janeiro, brasília<br />
e Juiz de Fora. roteiro, produção e direção:<br />
andrea prates e cleisson vidal. Fotografia:<br />
cleisson vidal. consultoria em acervo Fílmico:<br />
Francisco sérgio moreira. montagem: lea<br />
van steen. produção executiva: vera affonso.<br />
música: iura ranevsky. som: renato calaça.<br />
edição de som e mixagem: miriam biderman<br />
e ricardo reis. Finalização: afinal Filmes.<br />
49