Monografia - Faculdade de Comunicação da UFBA - Universidade ...

principal da pesquisa. A inviabilidade de reescrever um escândalo desse porte é o
primeiro argumento que incentiva uma revisão do 1º movimento proposto por Motta.
A quantidade de personagens, empresas e documentos envolvidos, além da ampla
cobertura da imprensa e do acompanhamento diário por parte da sociedade, já
justificaria a confecção de um produto, algo como um livro-reportagem. Aliás, isso
até já foi feito. 43 .Assim, parece mais adequado traçar um resumo da cobertura
midiática do escândalo e dos fatos políticos que aconteceram para esses holofotes.
Essa síntese será orientada por uma linha temporal (Anexo VI), por dois
gráficos sobre o grau de noticiabilidade do escândalo nas capas dos dois
semanários escolhidos (Anexos I e Ii) e, por fim, uma breve narrativa dos fatos
(Anexo VII).
A referência para a reescrita é Vladimir Propp 44 , em seu estudo sobre a
construção narrativa de contos russos. Antes de tudo, para efeitos de análise, é
preciso estabelecer que essa reconstrução não será feita buscando uma
correspondência absoluta entre os pontos estabelecidos por Propp e as várias
etapas pelas quais passou o escândalo do mensalão. O que se tentará fazer aqui é
uma associação que ajude não só a caracterizar, mas também a compreender o
fenômeno em questão como uma narrativa complexa, ágil e autônoma dentro do
campo da comunicação política.
É importante deixar claro também que não há uma linearidade temporal
entre as funções de Propp e os eventos do escândalo político do mensalão. Assim,
serão utilizados artifícios narrativos que vão e voltam no tempo, como os flashbacks
e os flashforwards.
O ponto de partida do escândalo, mesmo que no momento da publicação
da matéria isso não fosse possível de ser precisado, foi a matéria de Veja, veiculada
no dia 14 de maio de 2005 com o título “O homem-chave do PTB”. A imagem do
chefe do departamento de contratação e administração de materiais dos Correios,
Maurício Marinho, recebendo propina de R$ 3 mil foi o antecedente da crise. A
gravação oculta, feita por agentes da ABIN, relaciona a corrupção a Roberto
Jefferson, já que o presidente do PTB, graças ao fisiologismo praticado normalmente
43
O jornalista Ivo Patarra narrou os 403 dias durante os quais transcorreu o escândalo do mensalão.
Ao longo de cerca de 370 páginas, Patarra nomeia o presidente Lula como o “chefe” do esquema de
corrupção e cita toda a cobertura feita pela imprensa durante o período.
http://www.escandalodomensalao.com.br.
44
PROPP, Vladimir. Morfologia do conto maravilhoso. Rio de Janeiro, Forense Universitária,
2006.
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