Monografia - Faculdade de Comunicação da UFBA - Universidade ...

sofrido apenas uma fissura para a qual talvez pudesse haver conserto se tomadas
as medidas certas. Em seguida, Veja passa a questionar o caráter de Lula
diretamente e sua integridade é posta em xeque.
A capa de 13 de julho de 2005 pergunta se “Ele sabia?” traz um Lula
envolto em uma sombra de dúvida. Ainda na fase do suposto questionamento, a
hipótese não esconde uma tese que o deprecia porque julga antes de investigar: "A
pergunta inevitável é se Lula sabia das traficâncias do tesoureiro do PT. Antes
mesmo que se tenha uma resposta sem rodeios a essa pergunta, o simples fato de
a dúvida existir já atinge o presidente."
Na edição imediatamente seguinte, a capa responde: “Mensalão –
quando e como Lula foi alertado”. Sim, diz o narrador Veja. Depois de investigar, a
revista conclui que ele não só sabia como também foi alertado e não tomou
providências porque fez uma escolha. Uma escolha de omissão, mas ainda assim
uma escolha que não o exime. O subtítulo da matéria correspondente diz que Veja
descobriu que o presidente soube do mensalão bem mais do que admitiu
oficialmente até então.
A partir daí, a revista se propõe a investigar as pistas deixadas pelo
presidente. Baseada em suas expressões, cria um personagem emotivo, que se
desaponta, chora, se deprime, “não consegue mais esconder no semblante sua
contrariedade com a permanência e o paulatino aprofundamento da crise política”,
se deixa abater e, por fim, após a constatação de sua vitória, “exibe um sorriso de
orelha a orelha. Já fareja o cheiro de pizza.”. Até que isso acontecesse, muita coisa
aconteceu.
Socialmente (o que equivale a politicamente), Lula é uma figura que
precisou ser isolada. Externamente, foi preciso dissociá-lo do governo para poder
também isolá-lo da crise. Essa estratégia foi fundamental para a sobrevivência de
sua imagem pública, conforme se pôde ver depois, e Veja contribuiu com essa
separação. Ao longo do escândalo, a revista especula sobre a popularidade do
presidente, mas como esta se mostra inabalável, o constrói como um ser ilhado em
meio à crise, como quando afirma que ao manter a agenda de viagens
internacionais, ele "ficou protegido pela distância entre Brasil e Japão das ondas de
choque das trombadas de seus auxiliares diretos no Planalto.".
Da mesma forma, internamente, nenhuma das capas da revista que traz
Lula o faz associando-o ao partido. Mesmo na edição da capa “República Federativa
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