Monografia - Faculdade de Comunicação da UFBA - Universidade ...
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quando Collor afirmava que Lula confiscaria a poupança dos brasileiros. É a mesma<br />
fala <strong>da</strong> atriz Regina Duarte durante a campanha presi<strong>de</strong>ncial <strong>de</strong> 2002, quando ela<br />
afirmava “ter medo” <strong>de</strong> Lula. Teme-se na oposição que o presi<strong>de</strong>nte, se muito<br />
atacado ou se sofrer um impeachment, po<strong>de</strong> li<strong>de</strong>rar uma revolta que coloque em<br />
risco a saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocrática do país.<br />
O medo estava disseminado na oposição, mas o <strong>de</strong>sejo <strong>da</strong> mesma era<br />
espalhar esse sentimento pelo restante <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Lula se torna uma ameaça<br />
para a oposição. Os ataques ao presi<strong>de</strong>nte são comedidos. Mesmo sendo o herói <strong>da</strong><br />
narrativa, Lula parece ser poupado em diversos momentos por causa do temor <strong>de</strong><br />
que atacar ele revoltaria a população. Por isso a estratégia <strong>de</strong> sangrá-lo aos poucos.<br />
O estado <strong>de</strong> espírito do presi<strong>de</strong>nte é tão positivo na narrativa que, mesmo quando<br />
ele parece acuado pelos ataques, ele é retratado como um homem <strong>de</strong> classe, que<br />
respon<strong>de</strong> às ameaças <strong>de</strong> surra <strong>de</strong> Arthur Virgílio e ACM Neto com conversas<br />
educa<strong>da</strong>s.<br />
A ligação entre o presi<strong>de</strong>nte e o PT também é retrata<strong>da</strong> <strong>de</strong> forma que a<br />
personagem <strong>de</strong> Lula se sobreponha ao partido. Isso é natural, mesmo porque o<br />
Brasil não possui uma forte cultura partidária e há pouca ligação entre o eleitorado e<br />
partidos. Seja por falta <strong>de</strong> fi<strong>de</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> partidária, seja pela <strong>de</strong>mocracia que ain<strong>da</strong> é<br />
jovem, Carta Capital recorta o que realmente acontece. Lula é um ser à parte do<br />
partido. As discussões partidárias já não cabem a uma avaliação presi<strong>de</strong>ncial, mas à<br />
executiva nacional.<br />
As informações <strong>de</strong> bastidores, como jornalismo político brasileiro<br />
recomen<strong>da</strong>, são atribuí<strong>da</strong>s a palacianos, ministros, assessores. Eles não são<br />
i<strong>de</strong>ntificados e transmitem as informações no estilo brasileiro <strong>de</strong> veicular o off: não<br />
como uma informação para iniciar uma apuração, mas como uma informação<br />
acéfala a ser divulga<strong>da</strong>. As intrigas prejudiciais ao presi<strong>de</strong>nte são filtra<strong>da</strong>s.<br />
Em relação às características morais, Lula parece ingênuo ao dizer “que<br />
entregaria um cheque em branco” a Roberto Jefferson, mas não errado por confiar<br />
em alguém corrupto. Lula permanece sem “ser arrastado para o centro <strong>da</strong> crise”,<br />
como que inatingível. Ministros, assessores, parlamentares ligados ao presi<strong>de</strong>nte<br />
per<strong>de</strong>m seus cargos sucessivamente durante o escân<strong>da</strong>lo, mas na<strong>da</strong> parece atingir<br />
o presi<strong>de</strong>nte. Quando “o presi<strong>de</strong>nte pe<strong>de</strong> <strong>de</strong>sculpas em nome do governo e do<br />
PT”, a narrativa carrega no traço <strong>de</strong> um homem superior. Ele reconhece os erros, é<br />
humil<strong>de</strong> e íntegro, já que, segundo a revista, não há “indicação <strong>de</strong> que Lula<br />
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