Estudo comparativo entre Humanos e outros Primatas
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justa de cada um e como obtê-la. Estas demandas sem dúvida serviram como pressões seletivas<br />
favorecendo a evolução de cérebros ainda maiores e mais complexos” (idem, p. 76).<br />
Outros autores questionam este tipo de visão. Por exemplo Wynn (1988, p. 283) afirma que<br />
“as ferramentas não falam a favor de um papel central da tecnologia na evolução da inteligência”, e<br />
que “muitos antropólogos sentem que a complexidade nas culturas humanas está não nas ferramentas e<br />
na subsistência, e sim na política e religião. A intencionalidade da ação humana implica em que, no<br />
que concerne aos seres humanos, nós nunca podemos predizer o que vai acontecer em seguida” (idem,<br />
p. 284). Em outras palavras, esta hipótese afirma que a seleção teria favorecido o desenvolvimento dos<br />
primatas enquanto “psicólogos naturais”, e não tanto enquanto “engenheiros naturais”, como prega a<br />
outra visão, e que foi por muito tempo a dominante.<br />
Byrne e Whiten (1997, p. 5) também enfatizam mais os aspectos sociais do que os “técnicos”<br />
como fator de desenvolvimento das capacidades cognitivas: “o aprendizado social é de valor<br />
incalculável para muitos pássaros e mamíferos: o fato de viver socialmente provê muitas<br />
oportunidades de aprender quais predadores evitar, que alimentos comer e onde encontrá-los, por<br />
exemplo. Mas se os primatas podem, além disso, imitar o comportamento adaptativo de <strong>outros</strong>, o seu<br />
potencial para lucrar com a vida social torna-se grandemente aumentado” (idem, p. 6).<br />
Cords (1997, p. 35) afirma que os primatas “podem também induzir apoio, tanto pela<br />
reciprocidade de atos suportivos específicos, ou por meio de cultivar relações amistosas que<br />
aumentarão a probabilidade de receber apoio a longo prazo. Harcourt argentou que uma das principais<br />
diferenças <strong>entre</strong> os primatas e <strong>outros</strong> animais sociais está no uso de tais táticas pelos primatas na<br />
competição pelo acesso aos parceiros mais efetivos (ou dominantes) em alianças”.<br />
O precursor mais famoso deste ponto de vista teria sido Humphrey que, em 1976, “argumentou<br />
que os primatas pareciam ter uma inteligência „excessiva‟ para seus desejos cotidianos de alimentação<br />
e ocupação do espaço. Portanto, dado que é improvável que a evolução selecione um excesso de<br />
capacidade, nós cientistas devemos estar deixando escapar algo. Humphrey identificou este „algo‟<br />
como a complexidade social inerente a muitos grupos primatas, e sugeriu que o ambiente social<br />
poderia ter constituído uma pressão seletiva significativa para a inteligência primata” (ibidem, p. 2).<br />
Beer (1992, p. 83) concorda quanto ao papel pioneiro de Humphrey, dizendo que ”ele pergunta<br />
para que poderia servir a consciência em termos de função adaptativa, e encontra a resposta na<br />
natureza de nossa vida social. As pessoas vivem em grupos nos quais competem e cooperam umas<br />
com os outras de maneiras complexas, requerendo graus profundos de compreensão psicológica mútua<br />
para dar conta disso. Esta compreensão, de acordo com Humphrey, depende de sermos capazes de<br />
consultar nossa própria experiência de modo a que sejamos capazes de colocar-nos imaginativamente<br />
no lugar da outra pessoa e assim antecipar a ação daquela pessoa, empatizar com a maneira de sentir<br />
dela, saber o que ela pretende, perceber como elas podem ser manipuladas, apaziguadas e abrandadas,<br />
encorajadas, engajadas a serviço de nossos interesses. Apenas <strong>entre</strong> os primatas superiores e os<br />
cetáceos pode ser encontrada uma sofisticação social de ordem tal que peça por esta capacidade de ser<br />
um „psicólogo natural‟, pois só para um psicólogo natural faz sentido, de um ponto de vista<br />
evolutivamente funcional, possuir consciência, introspecção e intelecto. Deste modo, Humphrey<br />
argumenta que a consciência, mesmo em sua forma mais rudimentar, é provavelmente de origem<br />
recente em termos evolutivos, e limitada ao alcance dos vertebrados com uma vida social mais<br />
sofisticada”.<br />
O acréscimo de dados que pareciam confirmar o valor desta hipótese foi se avolumando,<br />
chegando a um ponto em que “a idéia de que a inteligência começou com a manipulação social,<br />
tapeação e cooperação astuciosa, pareceu explicar tudo que antes nos desconcertava” (Byrne e Whiten,<br />
1997, p. 1). Estes autores propuseram então o nome de inteligência maquiavélica para designar este<br />
fenômeno. Segundo eles, “inteligência maquiavélica é melhor definida não como uma teoria, e sim<br />
como uma bandeira para um grupo de hipóteses .... e todas estas hipóteses têm em comum uma coisa:<br />
elas implicam em que a posse da capacidade cognitiva à qual chamamos „inteligência‟ está ligada à<br />
vida social e aos problemas de complexidade que esta propõe” (idem). Os autores ressaltam que o<br />
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