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Estudo comparativo entre Humanos e outros Primatas

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congêneres são incapazes de copular eficazmente. Comportamentos de acasalamento devem ser<br />

aprendidos em um contexto social, e embora o ato de copular seja instintivo, as habilidades sociais e<br />

motoras apropriadas para completar uma copulação bem sucedida só podem ser obtidas pela<br />

observação e pela prática. Para qualquer um que tenha observado primatas jovens, é impossível deixar<br />

de perceber que praticar a cópula (mounting) é parte integral de seus padrões de brincadeira”.<br />

Conforme Hashimoto (1997, p. 16), referindo-se a chimpanzés e bonobos, “supõe-se<br />

habitualmente que o comportamento sexual tipo copulação dos machos imaturos é necessário para o<br />

aprendizado do comportamento copulatório. De fato, chimpanzés criados isoladamente não conseguem<br />

copular normalmente”. É observado, <strong>entre</strong>tanto, que machos de outras espécies não apresentam<br />

comportamento sexual deste tipo quando imaturos, e copulam normalmente na vida adulta.<br />

Para West (1968, p. 32), “parece que, em macacos, os contatos precoces com <strong>outros</strong> animais,<br />

especialmente o contato com <strong>outros</strong> macacos jovens com os quais eles praticam brincadeiras sexuais, é<br />

um elemento essencial no aprendizado das respostas heterossexuais adultas normais ....e isso pode<br />

também nos fazer refletir sobre as possíveis conseqüências deletérias das nossas proibições culturais<br />

contra os interesses sexuais e os jogos sexuais das crianças pequenas”.<br />

Se isto for verdadeiro, é uma má notícia para nós humanos. Se pensarmos nos três tipos de<br />

aprendizado cultural descritos por Tomasello et al. (1993), veremos que a vergonha constitui um<br />

obstáculo fundamental aos mesmos. O aprendizado imitativo fica muito prejudicado se não houver o<br />

que se imitar, e em nossa cultura, além da quase impossibilidade de se presenciar uma cópula real, há<br />

em geral uma forte proibição para crianças e jovens (menores de 18 anos) quanto a assistir filmes ou<br />

ver fotos que poderiam constituir uma fonte de imitação. A ênfase da psicanálise quanto à importância<br />

da cena primária 7 na estruturação do psiquismo pode ser então apreciada de outro ângulo. Talvez a<br />

busca da criança de observar ou pelo menos de imaginar o ato sexual dos pais se origine da busca de<br />

um aprendizado que depois será tão essencial.<br />

O segundo tipo de aprendizado seria o advindo de instrução proposital de adultos. Aqui a coisa<br />

é ainda mais complicada. Depois de séculos de abandonar as crianças a toda sorte de crendices e<br />

superstições, sem ensiná-las nas mínimas e básicas questões da sexualidade, pelo menos nas últimas<br />

décadas se fala da importância da educação sexual. Mas o puritanismo vigente faz com que esta,<br />

quando existe, se limite a aulas sobre a fisiologia da reprodução. Quando eu estava com cerca de 12 a<br />

14 anos, às vezes comentava-se na escola que teríamos aulas de educação sexual, e a brincadeira <strong>entre</strong><br />

a molecada era de perguntarmos <strong>entre</strong> nós quando seriam as aulas práticas. As risadas advindas da<br />

constatação da óbvia impossibilidade de que isto ocorresse traziam implícitas em si uma sabedoria e<br />

uma frustração de que nossa ingenuidade não se dava conta. Sabedoria porque intuíamos que era disso<br />

que na verdade precisávamos: como se faz para excitar uma mulher, como beijar, como fazer<br />

corretamente o sexo oral, como “fazer nas coxas”? Frustração porque a falta de instrução nos<br />

condenava à aflição de ter que desempenhar o papel de macho sem ter noção exata de como era isso. O<br />

resultado é colhido nos consultórios de psicoterapia e nas clínicas de terapia sexual, onde se constata o<br />

quanto existe de inibição, de desconhecimento, e de desperdício daquilo que poderia ter sido uma<br />

grande fonte de prazer e de encontro.<br />

Sobrou então o terceiro tipo, o aprendizado colaborativo, <strong>entre</strong> adultos, mas somente para<br />

aqueles com as cabeças mais abertas. Segundo Tomasello et al. (1993, p. 497), o “aprendizado<br />

colaborativo não envolve transmissão de um organismo maduro para um imaturo no sentido clássico<br />

porque, por definição, a situação consiste de pares colaborando para construir algo novo que nenhum<br />

dos dois possuía antes de a interação começar”. Ou seja, as pessoas que tiveram a tranqüilidade, a<br />

sabedoria e a sorte de poder admitir a própria ignorância e despreparo, e encontrar uma parceira ou<br />

parceiro no mesmo plano, puderam viver a magia de descobrir o que é o “fazer amor”, e o erotismo<br />

7 Cena primária é “a cena de relação sexual <strong>entre</strong> os pais, observada ou suposta segundo determinados índices e fantasiada<br />

pela criança, que é geralmente interpretada por ela como um ato de violência por parte dos pais” (Laplanche & Pontalis,<br />

1991, p. 62).<br />

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