Estudo comparativo entre Humanos e outros Primatas
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grupo. Esta situação terminou quando Luit e Nikkie se revoltaram contra ele. Yeroen não foi cortado<br />
em pedaços, mas ele nunca mais foi capaz de conquistar novamente algo parecido com a sua antiga<br />
quota de atividade sexual. Além disso, nenhum outro macho tornou-se forte o suficiente para<br />
monopolizar as fêmeas no estro tão completamente como ele o fazia antigamente”.<br />
Falou-se acima do poder, mas há também semelhanças quanto ao aspecto lúdico do sexo:<br />
“chimpanzés são capazes de brincar com o sexo. Isso fica bastante claro nas chamadas „danças<br />
sexuais‟. Numa seqüência típica, Amber cutuca Nikkie e juntos encontram um lugar tranqüilo. Quando<br />
chegam, Nikkie a convida para acasalar, mas Amber se agacha durante um tempo curto demais para<br />
que a cópula ocorra. Ela salta para fora dessa posição e começa a acenar para ele, com seus lábios<br />
espichados, a uns poucos metros de distância. Às vezes ela corre até Nikkie e fica na posição de<br />
cópula, apenas para novamente retomar o movimento anterior logo em seguida. Então ela se estica<br />
sobre duas pernas em frente a ele e toca seu próprio corpo com longas carícias, enquanto ao mesmo<br />
tempo dá alguns passos para a frente. Este padrão de se aproximar, montar, mover-se e escapar,<br />
parece-se um pouco com uma dança, e mais ainda quando Nikkie se junta a ela dando um breve galope<br />
intercalado com pulos. O padrão pode se repetir até quinze vezes e termina com uma copulação”<br />
(idem, p. 161).<br />
Resta então a pergunta: se somos tão parecidos, por que então somos tão diferentes? É um tema<br />
bastante amplo mas, para as finalidades deste trabalho, creio que podemos nos satisfazer<br />
provisoriamente com um raciocínio baseado na tese de que o acúmulo de quantidade em algum<br />
momento pode se transformar em uma mudança de qualidade. Isto ocorre nas revoluções, e também<br />
em fenômenos físicos como a ebulição da água, e podemos tomar esta última como analogia. Digamos<br />
que a capacidade cognitiva fosse o equivalente à temperatura, e cada espécie seria como uma água<br />
onde reina uma dada temperatura. Atribuiríamos talvez 5 o C às amebas, quem sabe 42 o C aos atuns,<br />
70 o C aos ratos, possivelmente 98 o C aos chimpanzés, e 103 o C aos humanos. Veríamos então que o<br />
chimpanzé está muito mais próximo dos humanos do que dos ratos, mas os humanos teriam<br />
ultrapassado um limiar (ao nível do mar) e mudado de estado, de líquido para gasoso. O que significa<br />
exatamente esta passagem será examinado adiante. Podemos levar um pouco mais longe esta analogia,<br />
e lembrar que a água a 98 o C está quase fervendo, formando bolhas, alguma turbulência, e parece<br />
muitas vezes em relação aos chimpanzés e bonobos que eles estão quase lá, no limiar de uma<br />
compreensão que os transformaria radicalmente, como aconteceu conosco.<br />
4.2 SIMBOLIZAÇÃO<br />
O que seria esta transformação? Retomemos aqui o experimento descrito no item 2.8, onde<br />
chimpanzés eram capazes de apresentar respostas mais adaptadas à realidade quando lidavam com<br />
algarismos do que quando estavam expostos a estímulos diretos, visando à obtenção para si de<br />
bandejas com mais doces. Este achado pode clarear o significado e permitir a compreensão de muitos<br />
comportamentos. Por exemplo, quando alguém cede à tentação de um forte desejo sexual (estímulo<br />
direto) e não age segundo a razão, o resultado pode ser às vezes pouco adaptativo, como por exemplo<br />
contaminar-se pelo vírus da AIDS.<br />
A idéia aqui defendida é que os humanos, com sua função cognitiva grandemente<br />
desenvolvida, podem interpretar de maneira simbólica a realidade, num grau não alcançado por<br />
nenhum outro animal. Camadas e mais camadas de significado simbólico são atribuídas a cada objeto,<br />
pessoa, acontecimento. Isto se desenvolve até um ponto em que o significado simbólico de algo é em<br />
geral muito mais importante do que o aspecto concreto. Tal como os chimpanzés do experimento<br />
descrito, isso vai levar a uma resposta diferente, resultado de uma diferente apreensão do real. Só que<br />
num grau muito maior e mais abrangente. O ato sexual pode significar algo impuro a ser evitado (para<br />
um padre, ou, para alguns, se significar adultério), ou pode adquirir uma importância muito além do<br />
biológico (por exemplo para um adolescente que o pratica pela primeira vez e se sente “homem” por<br />
isso).<br />
Como Freud dizia, tudo é aquilo e outra coisa ao mesmo tempo. O ser humano freqüentemente<br />
opera a partir de significados, colocando em segundo plano os fatos do mundo “real”. Certas<br />
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