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Estudo comparativo entre Humanos e outros Primatas

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existem dois pontos de ramificação imediatamente óbvios na evolução dos primatas (isto é, pontos de<br />

origem para novos clades, grupos monofiléticos) para os quais devemos olhar em busca de uma<br />

pressão seletiva causando mudança intelectual: o clade dos haplorrinos (macacos e apes), que difere do<br />

clade dos estrepsirrinos (lêmures e lórises) no fato de que os haplorrinos tipicamente têm cérebros<br />

relativamente maiores e, em particular, um maior investimento no neocórtex (ver Tabelas 1 e 2); o<br />

clade Homo, que mostra outro aumento no tamanho relativo (e absoluto) do tamanho do cérebro,<br />

precedendo a grande expansão geográfica („Da África para fora‟) e o desenvolvimento subseqüente de<br />

ferramentas sofisticadas de pedra”. O autor propõe que, em termos cognitivos, poderíamos acrescentar<br />

um outro ponto de ramificação: “o clade dos grandes apes, descendentes de um ancestral comum<br />

existente há cerca de 16 milhões de anos, incluindo os modernos orangotangos, gorilas, os dois<br />

chimpanzés e nós mesmos, que mostra um avanço cognitivo em comparação com os macacos do velho<br />

mundo e <strong>outros</strong> haplorrinos” (idem).<br />

Desta maneira, poderíamos distinguir quatro grandes grupos de primatas, de acordo com o<br />

critério acima: 1- estrepsirrinos e társios, 2- macacos do velho e do novo mundo, 3- apes, 4- humanos.<br />

Assim, dizer que os humanos possuem características cognitivas em grau mais desenvolvido do que os<br />

demais primatas não é nada de extraordinário. É tão plausível quanto dizer que os apes têm um<br />

desenvolvimento cognitivo maior do que o dos demais primatas, exceto os humanos. Existe, assim,<br />

uma continuidade, e também um padrão de desenvolvimento.<br />

Além da diferenciação <strong>entre</strong> macacos e apes vista acima, <strong>outros</strong> estudos parecem confirmar a<br />

divisão proposta. Segundo Byrne & Whiten (1997, p. 7), “a tapeação era usada por todas as famílias de<br />

macacos e apes, mas definitivamente não pelos primatas estrepsirrinos. Na maioria dos casos, a<br />

tapeação serviu para manipular a atenção de um co-específico: distraindo-o de suas ações em curso,<br />

evitando que ele se desse conta de algo, desviando sua atenção para outro estímulo”.<br />

Quanto à diferença <strong>entre</strong> humanos e <strong>outros</strong> primatas, Boysen (1997, p. 459) afirma que “os<br />

chimpanzés estudados nos fizeram lembrar que, apesar de nossos melhores esforços, a capacidade<br />

deles de atenção e a sua habilidade em representar simbolicamente o mundo não são funcionalmente<br />

equivalentes ao modo dos humanos codificarem eventos, objetos ou características do ambiente”.<br />

Gardner & Gardner (1994, p. 252), em relato sobre chimpanzés educados por humanos e que<br />

aprenderam a usar linguagem de sinais, comentam que “depois de três anos de criação por humanos,<br />

eles haviam claramente ficado para trás dos humanos de três anos de idade, e ficaram mais para trás<br />

depois de quatro anos, e mais atrás ainda depois de cinco anos”.<br />

Premack (1988, p. 164) refere que “em 20 anos de comparação de chimpanzés com crianças,<br />

nós temos apenas um caso no qual um chimpanzé passou num teste em que crianças de 3½ anos<br />

falharam. Excluindo-se esta única exceção, uma boa norma prática se revelou: se a criança de 3½ anos<br />

não pode fazer algo, o chimpanzé também não poderá”. Afirma também que, “no caso de chimpanzés,<br />

cognição avançada parece ser em grande medida um fenômeno de laboratório. Pois só os chimpanzés<br />

que foram especialmente treinados – expostos à cultura de uma espécie mais evoluída que eles<br />

mesmos – mostram raciocínio analógico” (idem, p. 171). Comenta ele ainda que “capacidades que não<br />

aparecem na criança de 3½ anos não serão encontradas nos grandes apes. As crianças têm por volta de<br />

4 anos de idade quando começam a distinguir <strong>entre</strong> o que X parece e o que X realmente é, mostrando<br />

assim pelo menos alguma evidência da não-confiabilidade dos estados sensoriais. De acordo com<br />

nossa regra informal, estes dados implicam que a não-confiabilidade sensorial – e assim da crença em<br />

sua forma mais fraca – está para além do chimpanzé” (ibidem, p. 173). Quanto à crença, o autor refere<br />

que “na sua forma mais avançada, crença é a decisão de aceitar como uma explicação (de um<br />

fenômeno ou outro) condições que não dependem de estados sensoriais”, sendo “improvável que<br />

encontremos crença deste tipo em espécies não-humanas, embora um julgamento definitivo esteja<br />

pendente de análises experimentais. Podemos achar precursores interessantes” (ibidem, p. 174).<br />

A conclusão a que se pode chegar a partir destas evidências é que o ser humano não tem nada<br />

de tão singular, tão diferente, ele é simplesmente o ponto mais desenvolvido de uma tendência do<br />

grupo taxonômico a que pertence. Por outro lado, esta diferença traduz-se na prática num resultado<br />

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