Estudo comparativo entre Humanos e outros Primatas
Estudo comparativo entre Humanos e outros Primatas
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momentos de tensão no grupo, especialmente quando sua posição frente a <strong>outros</strong> machos precisa ser<br />
demonstrada. Os machos intimidam as fêmeas estranhas do mesmo modo. Bertrand introduziu duas<br />
fêmeas em um grupo cativo e observou: essa montada forçada poderia ser considerada um estupro, no<br />
sentido de que a fêmea estava obviamente não-receptiva e não-desejosa. Ela se manteve agachada<br />
enquanto o macho levantou à força seu traseiro, sacudiu-a e até mesmo mordeu-a, ignorando seus<br />
gritos e sinais de desmontar”.<br />
De Waal (1989, p.175) comenta também que, <strong>entre</strong> os chimpanzés, “uma fêmea é livre para<br />
escolher se quer ter sexo ou não. Embora eu já tenha ouvido falar de casos isolados de estupro <strong>entre</strong><br />
chimpanzés em gaiolas de laboratório, nunca vi isso acontecer em nossa colônia. Se a fêmea não quer<br />
acasalar-se, isto é o fim do assunto. Machos persistentes correm o risco de serem perseguidos pela<br />
fêmea de quem eles se aproximaram e também por algumas das outras fêmeas”. Por outro lado, Nadler<br />
et al. (1994, p. 65) referem que “<strong>entre</strong> chimpanzés na natureza, observou-se que machos<br />
ocasionalmente intimidam fêmeas a copularem em condições em que as fêmeas estavam isoladas de<br />
<strong>outros</strong> co-específicos que pudessem apoiá-la, e incapazes de evitar os machos”.<br />
Para além dos relatos isolados, resta o debate sobre quais seriam as causas desta tendência<br />
humana. Muita polêmica e muita discussão acalorada vem se avolumando em relação às possíveis<br />
determinações biológicas e evolutivas dessa tendência em humanos, defendida por uns e ferozmente<br />
combatida por <strong>outros</strong>. Acredito ser útil aqui uma breve exposição deste tipo de visão.<br />
Alcock (1988, p. 526-529) defende a tese de que a tendência masculina ao estupro pode ter<br />
evoluído através da seleção natural, e comenta duas hipóteses: uma é que isto representaria um<br />
subproduto da psique masculina moldada pela evolução darwinista, no sentido de buscar fortemente a<br />
cópula mesmo contra a vontade da fêmea. Outra é que isto representaria uma estratégia onde “machos<br />
excluídos dos caminhos mais produtivos da competição reprodutiva engajam-se numa alternativa de<br />
alto risco e baixo ganho” (idem, p. 526).<br />
Num artigo recente, Thornhill e Palmer (2000, p. 30) argumentam no mesmo sentido,<br />
afirmando que “em 1975, a escritora feminista Susan Brownmiller afirmou que o estupro seria<br />
motivado não pelo desejo sexual, mas sim pela vontade de controlar e dominar. Nos vinte e cinco anos<br />
decorridos desde então, o ponto de vista de Brownmiller tornou-se a tese dominante. Segundo esta<br />
teoria, todos os homens sentem desejo sexual, mas nem todos os homens estupram. O estupro é visto<br />
como um comportamento não natural que não tem nada a ver com sexo, e algo que não tem<br />
correspondência no mundo animal”. Os autores propõem-se a contestar esta teoria, e defendem o ponto<br />
de vista de que o “estupro é, na sua essência, um ato sexual. Além disso.... o estupro é visto como algo<br />
natural, um fenômeno biológico que é um produto da herança evolutiva humana” (idem).<br />
Os autores enfatizam que isto não quer dizer que seja defensável. Biológico quer dizer “relativo<br />
à vida”, e o estupro, tal como as epidemias (outro fenômeno biológico) deve ser combatido. E, da<br />
mesma maneira que em relação aos terremotos e furacões (que também são naturais), devem ser<br />
tomadas medidas que evitem ou atenuem seus efeitos maléficos. Aplica-se aqui o mesmo argumento<br />
contra a falácia naturalista, comentada acima (ver item 3.3).<br />
Criticam o ponto de vista de alguns cientistas sociais que afirmam ser o desejo humano um<br />
comportamento aprendido no contexto de uma dada cultura: “nós acreditamos fervorosamente que, tal<br />
como as manchas na pele do leopardo e o pescoço longo da girafa são resultantes de eras de seleção<br />
darwinista no passado, o mesmo ocorre com o estupro” (ibidem, p. 31). Segundo eles, “uma dúzia de<br />
roas, jantares românticos à luz de velas, um anel de noivado da Tiffany: os rituais clássicos de corte<br />
requerem grande dispêndio de tempo, energia e cuidadosa atenção a detalhes. Porém as pessoas estão<br />
longe de ser as únicas neste ponto: os machos da maioria das espécies animais gasta uma boa parte de<br />
suas energias atraindo, galanteando e mantendo parceiras sexuais .... Mas embora a maioria dos<br />
animais machos invista um bom tanto de tempo e energia seduzindo as fêmeas, a copulação forçada –<br />
estupro – também ocorre, pelo menos ocasionalmente, em uma variedade de insetos, pássaros, peixes,<br />
répteis, anfíbios, mamíferos marinhos e primatas não-humanos. Em algumas espécies animais, além<br />
disso, o estupro é comum” (ibidem, p. 33).<br />
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