Josiane Thethê Andrade - Programa de Pós-Graduação em História ...
Josiane Thethê Andrade - Programa de Pós-Graduação em História ...
Josiane Thethê Andrade - Programa de Pós-Graduação em História ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
ampliaram as alternativas <strong>de</strong> consumo, maior circulação das pessoas e,<br />
consequent<strong>em</strong>ente, <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias, favorecendo as trocas sociais e comerciais.<br />
Para o Sr. Domingos, as estradas e o acesso aos meios <strong>de</strong> transporte<br />
facilitaram a locomoção dos moradores do povoado, modificando costumes e<br />
antigos hábitos, como o <strong>de</strong> amarrar as mulas, cavalos e jumentos <strong>em</strong> estacas das<br />
cercas que se estendiam ao longo das estradas. Agora, os pe<strong>de</strong>stres e os animais<br />
divi<strong>de</strong>m as estradas com automóveis e motocicletas. Dessa forma, ele <strong>de</strong>screve o<br />
impacto das estradas:<br />
105<br />
Essa estrada t<strong>em</strong> uns 40 anos <strong>de</strong> feita. Naquele t<strong>em</strong>po não existia<br />
carro, assim <strong>em</strong> Mutuípe não. Só tinha um caminhão velho, qu<strong>em</strong><br />
comprou foi o finado Leordino Rocha, um Jeep véi aí na rua e uma<br />
tali [tal <strong>de</strong>] <strong>de</strong> motocicreta [risos], que eu não sei <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> era, era o<br />
que existia na rua. As estacas vivia cheia <strong>de</strong> animá. E Hoje não, tudo<br />
que é bichim [pessoa] t<strong>em</strong> carro, às vezes sai daqui mais <strong>de</strong> 50, mais<br />
<strong>de</strong> 100 carros. Naquele t<strong>em</strong>po não, nêgo arrumava um jegue botava<br />
uma cangalha, dois panacuns e ia pra rua fazer feira e ven<strong>de</strong>r uma<br />
codornazinha. Hoje, não, nêgo t<strong>em</strong> seus carro, eu que não tenho<br />
nenhum! (Domingos Santos <strong>de</strong> <strong>Andra<strong>de</strong></strong>, 63 anos. Entrevista<br />
<strong>em</strong>19/08/2009)<br />
A escolha por trilhar os novos caminhos não significava o abandono <strong>de</strong><br />
antigos lugares <strong>de</strong> m<strong>em</strong>ória. O Sr. Hélio Nunes, assíduo frequentador das vendas do<br />
Tabuleiro, referindo-se aos anos posteriores a década <strong>de</strong> 60 após a criação da<br />
estrada <strong>de</strong> rodag<strong>em</strong> que corta o Tabuleiro, afirmou: ―o povo ia pra rua comprar<br />
alguma coisa, mas quando passava nas vendas do Tabuleiro tinha que parar para<br />
fazer a feira‖ (Hélio Nunes dos Santos, 62 anos, entrevista <strong>em</strong> 05/07/2010). A partir<br />
<strong>de</strong>sse relato, afirmar que as vendas foram trocadas pelas casas comerciais do<br />
centro urbano <strong>de</strong> Mutuípe, simplesmente, porque os indivíduos po<strong>de</strong>riam ter acesso<br />
à cida<strong>de</strong> e a bens <strong>de</strong> consumos variados seria ignorar as relações <strong>de</strong> consumo que<br />
eram praticadas nas vendas. As formas <strong>de</strong> negociar ainda continuavam baseadas<br />
<strong>em</strong> antigos costumes, pautadas na confiança e nas relações solidárias típicas das<br />
vendas rurais.<br />
O crescimento do capitalismo e seu avanço sobre o mundo rural fazia-se<br />
sentir <strong>em</strong> valores i<strong>de</strong>ológicos transmitidos pelas novelas, filmes, programas <strong>de</strong> TV ou<br />
nas músicas e notícias difundidas pelo rádio. Como, também, os migrantes que<br />
traziam <strong>em</strong> suas visitas ou retornos ao vilarejo as novida<strong>de</strong>s tecnológicas, as<br />
vivências das cida<strong>de</strong>s; enfim, um mundo <strong>de</strong> informações que impactavam a vida dos