Josiane Thethê Andrade - Programa de Pós-Graduação em História ...
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mercadoria previamente <strong>em</strong>balada, todos esses processos na apresentação dos<br />
alimentos que inquietam‖ o freguês ante as mudanças. Portanto, foi justamente o<br />
equilíbrio entre o novo e o antigo que evitou uma ruptura simbólica entre aquilo que<br />
as vendas representam com toda sua tradição e as inovações trazidas pela<br />
introdução gradativa <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos mo<strong>de</strong>rnizantes.<br />
A chegada da televisão, no entanto, foi sentida pela população local <strong>de</strong><br />
uma forma bastante significativa. Abriu-se um mundo <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s. A venda<br />
passou a oferecer não só mais um meio <strong>de</strong> distração e lazer, mas um portal para um<br />
mundo da cultura <strong>de</strong> massa. As novelas, o telejornalismo, os filmes e <strong>de</strong>senhos<br />
animados passaram a a<strong>de</strong>ntrar naquele ―universo rural‖, mudando costumes,<br />
interferindo nas práticas sociais. Assim a senhora Aurinei<strong>de</strong> <strong>Thethê</strong> <strong>de</strong>screve a<br />
novida<strong>de</strong> da TV:<br />
Aí, ia os meninos assistir televisão, outros eu vou assistir o jornal. Já<br />
vinha pra venda ver televisão, assistir novela. Tinha uma novela<br />
chamada Marrom Glacê que o povo já gostava <strong>de</strong> assistir essa<br />
novela, foi logo quando botou televisão aqui (Aurinei<strong>de</strong> <strong>Thethê</strong>, 50<br />
anos, entrevista <strong>em</strong> 14/04/2007).<br />
Hobsbawn (1994, p.300) comenta como o fenômeno da televisão chegava<br />
às populações <strong>de</strong> países mais pobres, a partir da segunda meta<strong>de</strong> século XX, por<br />
meio <strong>de</strong> espaços públicos, que aglutinavam as pessoas diante da ―caixa mágica‖, já<br />
que os primeiros aparelhos <strong>de</strong> televisão eram caros e, por conseguinte, não<br />
acessíveis a todos. Ir a lugares públicos como bares, clubes, praças para ver TV<br />
tornou-se um costume <strong>de</strong> muitos, no início atraídos pela novida<strong>de</strong> da tecnológica,<br />
<strong>de</strong>pois pelo hábito ou, qu<strong>em</strong> sabe, ver TV só era mais um pretexto para sair,<br />
encontrar gente nos lugares públicos.<br />
A chegada da TV é um ex<strong>em</strong>plo dos impactos causados pela introdução<br />
<strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos mo<strong>de</strong>rnizantes no espaço da venda, que funcionava como uma<br />
espécie <strong>de</strong> catalisador das transformações sociais do povoado, na medida <strong>em</strong> que<br />
havia uma interação entre os sujeitos e o lugar, através <strong>de</strong> formas <strong>de</strong> apropriação,<br />
utilização e ocupação do ambiente físico da venda. Se fosse <strong>de</strong>finir o espaço das<br />
vendas, diria que sua geografia é <strong>em</strong>ocional <strong>de</strong>s<strong>de</strong> quando ele é ressignificado<br />
sentimentalmente pelos indivíduos enquanto construção social.<br />
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