Josiane Thethê Andrade - Programa de Pós-Graduação em História ...
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suas dívidas s<strong>em</strong> qualquer constrangimento e não levavam <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração<br />
questões pessoais, <strong>em</strong>bora a maior parte dos ven<strong>de</strong>iros tenha <strong>de</strong>monstrado essas<br />
preocupações.<br />
1.4 LUGARES DE PROSA<br />
As vendas exerciam uma importante influência na vida da população do<br />
Tabuleiro. Esses espaços <strong>de</strong> circulação <strong>de</strong> pessoas, abertos da manhã à noite,<br />
todos os dias da s<strong>em</strong>ana, s<strong>em</strong> fechar para o almoço, significavam para os seus<br />
frequentadores um momento <strong>de</strong> lazer e diversão. Lá contavam os ―causos‖, bebiam<br />
cachaça e discutiam os mais diversos t<strong>em</strong>as possíveis do universo cultural das roças<br />
e fora <strong>de</strong>las, tais como: ouviam notícias no rádio ou viam televisão, falavam <strong>de</strong><br />
acontecimentos políticos, nacionais e regionais, <strong>de</strong>batiam futebol, contavam piadas,<br />
faziam adivinhações, falavam sobre a vida pessoal e alheia, criando significados,<br />
valores e práticas para suas vidas, como l<strong>em</strong>bra a Sra. Aurinei<strong>de</strong>:<br />
Aí, <strong>de</strong> tar<strong>de</strong>, como não tinha a violência que t<strong>em</strong> hoje, <strong>de</strong> tar<strong>de</strong> o<br />
povo vinha tudo pra porta da venda, que chovesse ou que fizesse<br />
sol. À boca da noite, a venda era cheia <strong>de</strong> gente, uns vinha comprar,<br />
outros fazer a feira. Trabalhava o dia inteiro, aí quando era <strong>de</strong> noite,<br />
às vezes, tinha alguma coisa pra ven<strong>de</strong>r ou farinha ou cacau, trazia<br />
pra ven<strong>de</strong>r, outros vinha, fazia a feira, outros vinha comprar alguma<br />
coisa que tava faltando <strong>em</strong> casa, outros vinha mesmo beber, tomar<br />
uma cachacinha e contar piada. Outros vinha bestando mesmo, pra<br />
vê o povo, pra ver todo mundo que tava e conversar à boca da noite.<br />
E, às vezes, <strong>de</strong> dia, quando chegava assim... Antigamente vinha os<br />
cavaia<strong>de</strong>iros pra aqui. Na época <strong>de</strong> 60, 70 e 80 ainda vinha<br />
cavaia<strong>de</strong>iros aqui. Aí o povo passava aqui, chegava por aqui pra<br />
ven<strong>de</strong>r animal, barganhar, trocava, fazia barganha, um animal pelo<br />
outro, por burro, por cavalo, por boi. Outra hora vendia por dinheiro,<br />
fazia esse tipo <strong>de</strong> negócio, barganha. E, aí, <strong>de</strong> noite, os meninos<br />
mais novo ia jogar sinuca, outros vinha jogar (Aurinei<strong>de</strong> <strong>Thethê</strong>, 50<br />
anos, entrevista <strong>em</strong> 14/04/2007).<br />
As l<strong>em</strong>branças da Sra. Aurinei<strong>de</strong> traz<strong>em</strong> à tona aspectos inerentes ao<br />
cotidiano das vendas com <strong>de</strong>staque para a sua função social como ponto <strong>de</strong><br />
encontro privilegiado. Muitos se dirigiam para lá para fechar um contrato <strong>de</strong> meação,<br />
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