Josiane Thethê Andrade - Programa de Pós-Graduação em História ...
Josiane Thethê Andrade - Programa de Pós-Graduação em História ...
Josiane Thethê Andrade - Programa de Pós-Graduação em História ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
parentesco, que proporcionavam o estreitamento dos laços <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong>.<br />
Todavia, ser da família ou não, não era pré-requisito para que as ajudas mútuas<br />
acontecess<strong>em</strong>. Segundo Tuan (1983, p.156),<br />
A intimida<strong>de</strong> entre as pessoas não requer o conhecimento <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>talhes da vida <strong>de</strong> cada um; brilha nos momentos <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>ira<br />
consciência e troca, cada troca íntima acontece <strong>em</strong> um local, o qual<br />
participa da qualida<strong>de</strong> do encontro. Os lugares íntimos são tantos<br />
quantos as ocasiões <strong>em</strong> que as pessoas verda<strong>de</strong>iramente<br />
estabelec<strong>em</strong> contato.<br />
Os momentos como os adjutórios, as reuniões para pilar café, plantar<br />
fumo ou raspar mandioca nas casas <strong>de</strong> farinha, mutirões, entre outros,<br />
proporcionavam encontros humanos afetuosos, os sujeitos dividiam experiências<br />
íntimas, ao dançar, cantar, contar ―causos‖ até altas horas da noite. Tais ambientes<br />
<strong>de</strong>têm a ―qualida<strong>de</strong> do encontro‖ como aponta Tuan (1983), ao propiciar aos<br />
sujeitos, na interação social, experiências pessoais e afetuosas significativas,<br />
rel<strong>em</strong>bradas quase s<strong>em</strong>pre pelos narradores com muita alegria, uma vez que dias<br />
como esses, quando r<strong>em</strong><strong>em</strong>orados, provocam intensa satisfação. Porém, a forma<br />
como as pessoas l<strong>em</strong>bram momentos <strong>de</strong> lazer e diversão t<strong>em</strong> variações conforme<br />
as experiências <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> cada um.<br />
Nas l<strong>em</strong>branças do Sr. Pedro <strong>Andra<strong>de</strong></strong>, sobre o trabalho no campo, um<br />
misto <strong>de</strong> alegria e sofrimento, <strong>de</strong> trabalho e diversão aparece com certa constância<br />
nas suas r<strong>em</strong>iniscências. O que revela não apenas os sofrimentos do trabalho ou as<br />
formas como ele escapava à exploração da lida diária e das relações com seus<br />
patrões durante o período que trabalhou como meeiro, mas revela como ―a m<strong>em</strong>ória<br />
que escolh<strong>em</strong>os para recordar e relatar (portanto, rel<strong>em</strong>brar) e como damos<br />
sentidos a elas são coisas que mudam com o passar do t<strong>em</strong>po‖ (THOMSON, 1997,<br />
p. 57). Ou seja, as m<strong>em</strong>órias do Sr. Pedro e <strong>de</strong> outros narradores mostram certas<br />
variações, encarando acontecimentos dolorosos ora com alegria ora com tristeza,<br />
<strong>de</strong>monstrando que as experiências ao longo da vida vão ressignificando as vivências<br />
e lhes dando outros matizes e sentidos, como é perceptível na narrativa do Sr.<br />
Pedro:<br />
Quando a gente vinha da roça, cansado, nós ia manocar fumo até...<br />
dormia na ruma <strong>de</strong> fumo. Banho ninguém tomava. A gente, quando<br />
72