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M A H T I \ H F O N T E S<br />

I L L U S T R AÇÁO DE J. C A R L O S<br />

Não sei de musica humana<br />

Que, inspirante, tenha o dom<br />

Do luar em Copacabana,<br />

No Ipanema ou no Leblon.<br />

A nitencia se desata,<br />

Em repuxo, a neviscar.<br />

Como uma chuva de praia<br />

Que ficasse immovel no ar.<br />

Milhões de pombas, em bando.<br />

Parecem volar, fugir. . .<br />

Não sei se estarei sonhando,<br />

Estarei a entredormir?<br />

Assombrosissimamente,<br />

Possue a luz o poder<br />

De esvair-se, de repente.<br />

E das cinzas renascer.<br />

Maravilha, maravilha,<br />

Prodigio da encantação !<br />

E a areia ferve e rebrilha.<br />

Feita de argento em fusão !<br />

Imagem mortal nenhuma<br />

Suggere o albor do luar,<br />

Que, tendo a pallez da espuma.<br />

Retem a ardência do mar.<br />

Entre linhos de nevoeiros,<br />

Rendilhados aranhoes.<br />

Se amontoam travesseiros<br />

E se desdobram lençoes.<br />

ano<br />

E ha nesses fofos regaços<br />

Tumescencias feminis:<br />

Espaduas, collos e braços,<br />

Tremuíações de quadris.<br />

Em curvaturas, em ondas,<br />

Tantalismos do luar,<br />

Arfantes fôrmas redondas<br />

Fluem na bruma, a vogar.<br />

Nada de morte ou mysterio,<br />

Nem de lembranças do além,<br />

Do livor que um cemiterio<br />

No seu silencio contém.<br />

Não: a vida, a vida, a vida,<br />

Em todo o seu resplendor,<br />

Ardente, ardorosa, ardida,<br />

Cheia de sonho e de amor.<br />

Porque a belleza suprema,<br />

Que aureola a Criação,<br />

E' a que doureia o Ipanema.<br />

Numa noite de verão !<br />

No plenilúnio doirado<br />

Sente-se o beijo cantar.<br />

Como é doce ser amado,<br />

Mas quanto é melhor amar.<br />

O' Lua, Lua, bendita<br />

Seja sempre a tua luz,<br />

Que a volúpia nos incita,<br />

Que a dormência nos induz.<br />

Versos na areia tu lavras,<br />

E ouve-se, em todo o Leblon.<br />

Um romance sem palavras.<br />

E uma sonata sem som.

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