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EDIÇÃO DA SOCIEDADE ANONYMA "O MALHO"<br />
*C/UÜLO<br />
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£xige-se muita cousa da Sociedade das Nações, — escreveu, em<br />
prestigiosa tolha européa, autorizado publicista, — quando ela,<br />
entretanto, nem siquer consegue receber pontualmente as quotas pecuniárias<br />
devidas pelos seus consocios.<br />
Segundo relatorio recente, pubíicado por uma <strong>com</strong>issão incumbida<br />
de estudar a situação financeira da Sociedade, a receita desta devia<br />
ser em 1933 de 33 miihões de francos suissos provenientes das contribuições<br />
de 59 Estados aderentes.<br />
Mu«tos devedores, porém, tem contraído o doce habito de protelar<br />
o pagamento do seu debito. Não ihes resultou disso nenhum inconveniente<br />
pois representantes de paizes retardatarios continuaram a<br />
figurar no Conselho diretor e até a presidi-lo.<br />
Foi, consequentemente, aumentando o numero dos omissos. Sóbe<br />
anualmente a 23, e o total dos atrazos atinge 24 e meio milhões de<br />
francos suissos, quasi a soma de um orçamento anual.<br />
Só a Inglaterra, a França, a If-alia e a índia se acham quites e contribuem<br />
<strong>com</strong> um terço das quantias arrecadadas.<br />
No primeiro logar dos insolventes, figura a China. Os paizes demissionários<br />
rião se preocupam de saldar as contas abertas; por exemplo,<br />
c Allemanha tem cerca de cinco milhões de congelados. O Paraguay<br />
ainda não entrou <strong>com</strong> a parte que lhe cabe no dispêndio da <strong>com</strong>issão<br />
de inquérito enviada ao Chaco.<br />
Por que motivo, — indaga o referido escritor, — a Sociedade das<br />
Nações é assim tratada peios seus devedores? Simplesmente porque<br />
a paralisa, nos negocios particulares, a mesma fraqueza que a afiige<br />
no tocante aos de interesse geral. Nenhuma sanção lhe assiste para<br />
coagir os consocios recalcitrantes ao cumprimento de suas obrigações:<br />
tamanha ineficiência nas cousas grandes <strong>com</strong>o nas pequenas.<br />
E a <strong>com</strong>issão incumbida de examinar a matéria nada sugeriu para<br />
remediar.<br />
Como agir contra os demissionários relapsos ?<br />
Somente meios morais: pedir-lhes <strong>com</strong> insistência o desempenho de<br />
que lhes cumpre, dar publicidade ás negativas ou demoras. Mas esses<br />
meios morais, no terreno do pagamento de dividas publicas e particulares,<br />
pequena, sinão nula eficacia vai revelando.<br />
Relaxamento universal se assinala : pouco importa uma falência na<br />
vida dos indivíduos e das nacionalidades.<br />
"Não costumo pagar dividas antigas, — declarava um financista; —<br />
até que as beneficie a prescrição ou o esquecimento.<br />
E as modernas ? — inquiriu um interlocutor.<br />
Deixo que fiquem antigas, — respondeu o outro.<br />
E' exáto que subsistem, e hão de durar sempre, a honra, o escrupuio,<br />
a consciência, a moral pura, embora desarmada. O fundador da Sociedade<br />
das Nações, o presidente Wilson, acreditava na força desses<br />
princípios insuperáveis. Clemenceau, rendendo-lhes homenagem,<br />
dizia-os unqidos de — nobre candura.<br />
Na realidade, hoje nações, Estados, municipios, associações mercantis<br />
ou inoustriais, mostram-se, em toda parte, devedores mais ou menos<br />
remissos. Professam, no dizer de um critico, — a religião do dever,<br />
no sentido material da expressão.<br />
Conforme a oração dominical somos todos devedores. "Perdoai-nos<br />
Senhor, as nossas dividas, assim <strong>com</strong>o nós perdoamos aos nossos devedores."<br />
AFFONSO CELSO<br />
Da Academia de Letras