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C O L L E G I O S M I L I T A R E S As grandes desgraças, tocando fundamente os cora- ções, despertam sentimentos generosos nas collectivi- dades congregando-as em torno de idéas nobres que vão produzir obras meritórias e duradouras. Os Col- leg ; os Militares constituem uma destas obras, conse- quência remota que veio a ser da Guerra do Para- auay. A desolação que tal lucta produziu na familia brasileira, gerou um movimento nacional em favor dos que se invalidavam no serviço da Patria, com uma grande subscrioção nacional que, sob o patrocínio da Asso- ciação Commercial, correu todo o Brasil e se desti- nava a manutenção d'um Asylo de Inválidos da Pa- tria. E, caso o governo o creasse, á fundação d um instituto ao ensino onde se educassem gratuitamente os fiihos dos que tombassem ou se invalidassem na defesa do torrão natal. Tomando o governo a seu cargo aquelle Asylo, resta- va a segunda nypothese, a qual, atravessou diversos governos, sem qualquer tentativa de emprehendimento e foi encontrar seu realisador na pessoa do Conse- lheiro Thomaz José Coelho de Almeida. GENESE No inicio do anno de 1888 lançou aquelle esclarecido estadista sua idéa, encarregando da redacção do res- pectivo piano ao seu prestimoso amigo, Dr. José de Nápoles Telles de Menezes, — engenheiro civil que regressara da guerra com as honras de Tenente Coro- nel, — o quai inspirou-se no regulamento do Prytanée Militaire de ia F!êche, donde tirou inclusive a deno- Pateo Thornaz Coelho e pavilhão central do Collegio Militar desta Capital. » • MAJOR JOSÉ FAUSTINO FILHO Do Estado Maior do Exercito minação proposta de Prytaneu Militar, que foi trocada pelo Imperador para a de Imperia' Collegio Militar. O monarcha discordou egualmente da indi- cação do illuslre engenheiro, para ser seu primeiro comman- dante, por saber de suas idéas republicanas. Outro ardoroso propugnador de creação do novel instituto foi o então Major Antonio Ernesto Gomes Carneiro; a elle coube, após ingentes pesquizas, levar o Ministro, do cujo gabinete fazia parte, á visitar o cognominado "Palacete da Babylo- nia", que vem a ser adquirido ao Barão de Itacurus- sá pela quantia de 220 contos, pagos em apólices da divida publica. OBRIGATORIEDADE DA PROFISSÃO MILITAR O primitivo regulamento. — Dec. 10.202 de 9-III-I889. — estabelecendo a clausula da gratuitidade da ma- tricula aos filhos dos officiaes, impunha a condição, aos que terminassem o curso, de seguirem a carreira militar; o que foi mantido por muito tempo, para fi- nalmente deixar-se a futura profissão á livre escolha do alumno. Este é o verdadeiro critério, pois não se justifica, pagar-se ao filho a divida que se roconhece contra- hida com o pae, impondo-se, á creanças. a clausula d'uma indemnisação quo poderá de futuro importar- lhe no permanente sacrifício da contrariedade de pen- MAIO DE 1936 Avenida 1° de Junho, consagrada á data da inauguração do Collegio Militar do Ceará. dores esoirituaos por outra carreira, onde melhor ser- viria ao paiz. Vae caber, é certo: aos seus dirigentes, a nobilitant^ o delicada funccão de despertar nos espíritos ainda tímidos o enthusiasmo nela vida militar; avivando os arroubos d alma, as tendencias o inclinações, logo que revelem. Taes educadores devem ter hem presente as obser- varões feitas por Guilherme I ao da consti- tuição militar da Confederação Allemã. onde diz aue "os deveres do offiîa! são penoso* e semente os hem cumnrir acnelles oue deHir*ram á r^Teln oor vocação ou foram educados desde a sua infância para exercel-a". "Por isso, nroseque o orando Gene- ral. é de summo interesse que continuem a existir es- tabelecimentos onde os asoirantes á carreira mili+*r se habituem desde a mais tenra edade á severa dís- riolina, á ordem, as privações e á obediencia que seu futuro estado lhes imporá, oara poderem dar bons exemplos aos seus su balte rnos OS TRABALHOS PRÁTICOS Pondo de parte a instrucção militar, queremos salientar a orientação pratica que, com o mais completo êxito, sempie se deu, nos Collegios Militares, ao estudo das sciencias. As visitas ao Museu Nacional, Jardim Zoologico, Jardim Botânico e Hortos Florestaes, já se tornaram tradicionaes. O Capitão de Fragata Themistocles Savio dava proveitosos ensinamentos de Geographia do Alto do Corcovado. Em 1905 o Capitão Pereira de Mello levou a turma de Historia Natural á assistir a abertura do tunnel do Leme, donde trouxe os preciosos exemplares de graphiío que enriquecem o Museu do Collegio do Rio e que mereceu a especial visita do Dr. Costa Senna, Director da Escola de Ouro Preto. O primeiro levantamento topographico da iiha de Paquetá foi feito em 1900 pelos alumnos do professor Bello Lisboa. Desde o apparecimento do hoje afamado methodo Berlitz, para aprendizagem pratica das linguas, que o Collegio o adoptou, ao par do ensino theorico. "A ASPIRAÇÃO" E A "LITTERARIA" O cultivo do vernáculo e o acendrado amor ás let- tras poz á prova o enthusiasmo e a persistência de tres dos melhores alumnos de então, Armando Fer- reira, Daltro Santos e Graça Couto, os dois últimos hoje iliustres professores; ao pugnarem pela fundação d'uma revista onde cultivassem as sciencias e a litte- ratura, luctando inclusive contra a pirronica prescri- pção do art. 42 do regulamento de I892, que veda- va aos alumnos occuparem-se com a redacção de periodicos. Dizem as suas boas intenções, do instru- mento poderoso que seria uma publicação onde so- mente se pregasse amor aos mestres, estimulo aos estudos, cuito ao civismo, respeito á ordem e á disci- plina; e acabam vencedores, dando por terra com a *nachronica disposição regulamentar. Surgem então, aquelles magníficos apparelhos para desenvolvimento das actividades mentacs, que se cha- mam "Aspiração" no Coüegio do Rio e "Hiléia" no de Porto Alegre. Nestes Collegios, como também no do Ceará, existem as Sociedades Litterarias que tanto
ILLÜSTRAÇÃO BRASILEIRA concorrem para desenvolver o gosto pela linguagem fallada. Foi r.a 'Aspiração" e na "Litteraria" que ensaiaram seus primeiros passos, nomes aureolados depois no jornalismo. Felix Pacheco o saudoso redactor do "Jor- nal do Commercio", Gastão Penalva o scintillante chronista do "Jornal do Brasil", Carivaldo Lima, o talentoso secretario da "A Tribuna", Luiz Sucupira o operoso e vibrante redactor-chete do "S. Paulo-lm- parciai" e Luiz Amaral França que deixou tradição de honâdês e civismo na imprensa carioca. POSTOS Dc DESTAQUES Não só no jornalismo, como em todas as demais pro- fissões, oncontram-se occupando postos do destaque ex-alumnos dos Collegios Militares. Ministros de Esta- do já tivemos FeÜx Pacheco e Oswaldo Aranha. Na magistratura, o saudoso Eurico Cruz brilhou como es- treila de primeira grandeza, e só não attingiu a Su- prema Corte pela sua morto prematura. Seguem-lhe as pogadas Edgard Ribas Carneiro e Frederico Sus- sekind. No Magisierio tornaram-se notáveis pelo sabor e do- tes de espirito, Mario Barreto, Daltro Santos. Graça Couto, Milton Cruz, Sebastião Fontes, Fenelon Bo- miícar, Hermenegildo Porto Carrero, Alonso de Oli- veira, Alexandre Barroto Filho, Décio Coutinho, Djal- ma Régis Bittencourt e Ruy de Lima e Silva, o mais jovem e operoso director que já teve a Escola Poly- rechnica e na magistratura militar: Ranulpho B:-cay- uva, Berredo Leal e Campos da Paz. São brilhantes Generaes de terra e mar José Pompeu Cavalcanti, Pedro de Alcantara Cavalcanti de Albu- querque e Amphiioquio dos Reis. Na Medicina gozam ae justa fama: Castro Araujo, Octávio Vianna, Emygdio Cabral. Roberto Freire, Ar- mando Alves da Rocha, Capanema de Sousa, Tarqui- no Lopes Filho. Victor Nunes Godinho, Paranhos Fon- tenelle, Jesuino de Albuquerque, Christino Cruz e Eduardo Sattamini. engenheiros de nomeada como Coelho Rodrigues, Os- car Machado da Costa, Feliciano Sousa Aguiar, Firmo Dutra e Lino de Sá Pereira. Na Advocacia fulguram os talentos de Justo Mendes de Mo r aeS: Sylvio Rangel do Castro, Araujo Carva- lho, Bruno Mendonça Lima, Francisco Baldessarini, Tancredo Moita Albuquerque e Hermínio Duque Es- trada Costa. No Funccior.aiismo publico muito se distinguio o saudoso Mario Gitahy de Alencastro e occupam alli po- sições de marcante relevo Manoel Paes de Oliveira, Bello Amorim, João de Oliveira Sá, Laudelino Tava- res, Giasdorino Cosra, Anacreonte Borba e Almerin- do de Moraes. No Commercio, Gastão Ferreira attingiu a culminân- cia de interessado na firma Paul Christoph. Na diplomacia, Edmundo Luz Pinto teve fulguração scintilante ainda agora quando do rpeente Congres- so de Paz de Buenos Ayres. EXAME DE MADUREZA Ao Coiiegio Militar cabe a primasia no regimen da revisão dos estudos de humanidades. Foi instituído pelo regulamento baixado com o Dec. 1.775-A de 1894, que vigorou até 1898, com a denominação de Exame de madureze", o qual embora assaz comba- Vista geral do Collegio Militar do Coará, tido pela imprensa, notadamente pelo "O Paiz", com- provou sua razão de ser e delle pouco differem os exarr.es vestibulares e cursos complementares adopta- dos pc!a instrucção publica, como admissão ás escolas superiores. INSTITUIÇÃO MODELO Um dos redactores do "Jor- nal do Commercio", dando con+a o'e sua minuciosa visita, creou a denominação que se tornou tradicional, neste trecho da edição de 23 de Dezembro de 1892: — "Resumindo a excellente impressão que tivemos, dire- mos mais uma vez, que o Collegio Militar é uma ins- tituição modelo e que entre nós não possuímos nenhuma egual". E como modelo tem sido to- mado pelas auctoridades do ensino. O proprio Conselho Superior do Ensino diz, em seu officio n° 40, de 28-111-1921. ao Sr. M inistro da Justiça: "E* las- timável, por exemplo, que até hoje não se tenham con- Entrada principal do Collegio Militar do Rio do Janeiro. cluído as obras do edifício do Externato do Collogio Pedro II, e que o Internato desse estabelecimento ainda se resinta quasi das mesmas deficiências da sua installõção inicial no edifício em que funcciona, fazendo singular e significativo contraste com o modelar Collegio Militar desta Capital de creação muito mais recente". FINALIDADE NOBILITANTE O fim essencial dos Collegios Militares, sendo o de ministrar educação aos orphãos dos militares, é da mais alta nobresa por encerrar uma missão de amor e jusliça, qual seja a gratidão do Estado para com seus servidores fallecidos. Tinha muila razão o Coronel Telles de Menezes quan* do propoz a denominação de Prytanéu para tal educandario. Prytonêj era o sábio areopago da velha Grécia onde tinham assento seus políticos e juristas. Nelle se abrigavam aquelles que eram sustentados polo thesouro em recompensa aos serviços prestados á Patria. O noravel cabo de guerra que ascendeu ao throno da França com a denominação de Henrique IV foi quem deu a ta! premio a nobilitante finalidade da educação aos filhos dos servidores da Patria. Dahi o Collegio Luiz, o Grande, que na Republica tomou o nome de Prytanéu Francez e no IImpério o de Prytanéu Militar da Flexa; nome que foi dado ao estabelecimento hoje universalmente conhecido por Escola de Saint-Cyr. Foi ainda tangida por esta altiloquente ideia que Maria Thereza, a vehemente Rainha que defendeu com inabaiavel energia seus Estados, doou ó Áustria o collogio que tem o seu nome.
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