S. EXCIA O SR. DR. VICENTE RÁO, MINISTRO DE ESTADO DA JUSTIÇA E NEGOCIOS INTERIORES Photo Carlos Rosen
c foi I Tl EDIÇÃO DA SOCIEDADE ANONYMA "O MALHO" *C/UÜLO c Í1 £xige-se muita cousa da Sociedade das Nações, — escreveu, em prestigiosa tolha européa, autorizado publicista, — quando ela, entretanto, nem siquer consegue receber pontualmente as quotas pecuniárias devidas pelos seus consocios. Segundo relatorio recente, pubíicado por uma <strong>com</strong>issão incumbida de estudar a situação financeira da Sociedade, a receita desta devia ser em 1933 de 33 miihões de francos suissos provenientes das contribuições de 59 Estados aderentes. Mu«tos devedores, porém, tem contraído o doce habito de protelar o pagamento do seu debito. Não ihes resultou disso nenhum inconveniente pois representantes de paizes retardatarios continuaram a figurar no Conselho diretor e até a presidi-lo. Foi, consequentemente, aumentando o numero dos omissos. Sóbe anualmente a 23, e o total dos atrazos atinge 24 e meio milhões de francos suissos, quasi a soma de um orçamento anual. Só a Inglaterra, a França, a If-alia e a índia se acham quites e contribuem <strong>com</strong> um terço das quantias arrecadadas. No primeiro logar dos insolventes, figura a China. Os paizes demissionários rião se preocupam de saldar as contas abertas; por exemplo, c Allemanha tem cerca de cinco milhões de congelados. O Paraguay ainda não entrou <strong>com</strong> a parte que lhe cabe no dispêndio da <strong>com</strong>issão de inquérito enviada ao Chaco. Por que motivo, — indaga o referido escritor, — a Sociedade das Nações é assim tratada peios seus devedores? Simplesmente porque a paralisa, nos negocios particulares, a mesma fraqueza que a afiige no tocante aos de interesse geral. Nenhuma sanção lhe assiste para coagir os consocios recalcitrantes ao cumprimento de suas obrigações: tamanha ineficiência nas cousas grandes <strong>com</strong>o nas pequenas. E a <strong>com</strong>issão incumbida de examinar a matéria nada sugeriu para remediar. Como agir contra os demissionários relapsos ? Somente meios morais: pedir-lhes <strong>com</strong> insistência o desempenho de que lhes cumpre, dar publicidade ás negativas ou demoras. Mas esses meios morais, no terreno do pagamento de dividas publicas e particulares, pequena, sinão nula eficacia vai revelando. Relaxamento universal se assinala : pouco importa uma falência na vida dos indivíduos e das nacionalidades. "Não costumo pagar dividas antigas, — declarava um financista; — até que as beneficie a prescrição ou o esquecimento. E as modernas ? — inquiriu um interlocutor. Deixo que fiquem antigas, — respondeu o outro. E' exáto que subsistem, e hão de durar sempre, a honra, o escrupuio, a consciência, a moral pura, embora desarmada. O fundador da Sociedade das Nações, o presidente Wilson, acreditava na força desses princípios insuperáveis. Clemenceau, rendendo-lhes homenagem, dizia-os unqidos de — nobre candura. Na realidade, hoje nações, Estados, municipios, associações mercantis ou inoustriais, mostram-se, em toda parte, devedores mais ou menos remissos. Professam, no dizer de um critico, — a religião do dever, no sentido material da expressão. Conforme a oração dominical somos todos devedores. "Perdoai-nos Senhor, as nossas dividas, assim <strong>com</strong>o nós perdoamos aos nossos devedores." AFFONSO CELSO Da Academia de Letras