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Varal do Brasil janeiro/fevereiro de <strong>2013</strong><br />
Dente-de-Leão<br />
Por Ana Rosenrot<br />
Eu estava com muita pressa, tinha centenas de coisas para fazer, inúmeros clientes para<br />
visitar e pouquíssimo tempo, andava pelas ruas quase correndo, lutando para me movimentar<br />
rápido em meio ao enorme fluxo de pessoas, o coração acelerado e a cabeça doendo devido ao<br />
estresse – o grande mal da vida moderna −; quando o vento, que espelhava poeira por todos os<br />
lados, fez pousar em meus óculos algo muito interessante: sementes de dente-de-leão.<br />
Peguei uma delas e ao ver aquela sementinha tão linda e aerodinâmica, a penugem<br />
branquinha e incrivelmente leve, recordei imediatamente de minha infância, quando colhia uma<br />
daquelas bolas brancas e um simples assopro desfazia-se em dezenas de paraquedas imaginários,<br />
prontos para viverem incríveis aventuras pelos quatro cantos da Terra.<br />
Pensando bem, somos como as sementes de dente-de-leão, nascemos protegidos por<br />
nossa “planta” mãe e pouco a pouco vamos nos desenvolvendo, tentando sair do invólucro natural<br />
que nos mantém afastados das intempéries da vida, loucos para expor-se completamente à<br />
luz do sol e todos vão se preparando da melhor forma possível, até o grande momento de alçar<br />
voo e dar o máximo de si para pegar os melhores ventos e buscar um local adequado para germinar<br />
e crescer; muitas caem no asfalto duro, na terra infértil, sobre os arranha-céus, ficam grudados<br />
nas roupas – ou óculos – de alguém, podendo ser novamente levadas pelo vento se forem<br />
persistentes, ou simplesmente ficam presas nos desvãos da rua até secarem; poucas encontram<br />
o lugar e as condições ideais para desenvolver-se com plenitude.<br />
Nós seres humanos, também somos assim, uns se esforçam e vencem na vida, outros<br />
não. O problema é que, ao contrário da semente de dente-de-leão, quando finalmente atingimos<br />
nossos objetivos, ao invés de florescermos, parece fazer parte da natureza humana o oposto:<br />
vamos murchando, perdendo o interesse, ficando estagnados. Eu mesmo, que lutei tanto para<br />
alcançar o sucesso e agora vivo estressado por ter tantos clientes e não saber administrar bem<br />
meu tempo; estou sempre irritado, nervoso, vazio, sem coragem para tomar novas iniciativas.<br />
Mas estranhamente, as sementes que grudaram em meus óculos, reacenderam a chama, o desejo<br />
de ir mais longe, de recomeçar, de procurar novos caminhos.<br />
Não é à toa que no Nordeste Brasileiro essa planta é chamada de “esperança” e deu origem<br />
a um sábio dito popular:<br />
“Abre as janelas e deixa a “esperança” entrar na tua casa trazida pelo vento da tarde”.<br />
Devemos deixar que essa semente germine em nossos corações e reinicie seu ciclo natural,<br />
para podermos alcançar voos cada vez mais longos, mais altos, infinitos, cheios de<br />
“esperança”.<br />
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