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VARAL DO BRASIL 19 JAN 2013

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COTIDIANO DE PRISCILA<br />

Por Wilton Porto<br />

Em cada coisa que ela usava<br />

E segurava com amor incomum<br />

Nós não sabíamos que ali estava<br />

Um estridente e constante zum-zum<br />

Que mora na alma da saudade<br />

E dos sofrimentos outro igual nenhum.<br />

O pano limpo onde ela se deitava<br />

O lençol lavado que tirava o frio<br />

Os pratos cuidados onde se alimentava<br />

Aconchego da perna na hora do cio.<br />

Gostava de uma peça<br />

Para servir de consolo<br />

Tomava chá de boldo<br />

Com a maior naturalidade<br />

Quanto mais imaginem:<br />

Um recheado bolo!<br />

E se se falava em passear<br />

O ansioso latido era o comunicar-se<br />

De se esquecer dela – nem pensar!<br />

Pois em desespero se punha a chorar.<br />

Quando da hora todo dia noite<br />

Em que pelas ruas caminhávamos felizes<br />

O nó na garganta é inevitável<br />

Lágrimas no rosto o único consolo.<br />

Onde quer que eu estivesse<br />

No interior de nossa casa<br />

Ali ela estava dando sinal de muita graça<br />

E queria que eu imediatamente a tocasse<br />

Como se de um pacto que quisesse que eu<br />

lembrasse.<br />

Balançava o rabo e ia se deitar<br />

Em frente à porta ou lado do sofá<br />

Dormia como se anjo em descanso<br />

Mas despertava serelepe para ninguém nos<br />

perturbar.<br />

Varal do Brasil janeiro/fevereiro de <strong>2013</strong><br />

Era dócil apesar do tamanho<br />

O latido assustava qualquer ladrão<br />

Não conheço quem tivesse mais carinho<br />

Se fizesse traquinagens logo pedia perdão.<br />

Evitava ficar sozinha<br />

Morta de sono nos convidava para deitar<br />

Se a enganávamos de repente ela chegava<br />

E aos nossos pés ela se aquietava.<br />

Era danada quando de tomar remédios<br />

Ciumenta com as coisas e espaços<br />

Com ela não havia quem tivesse tédio<br />

De nem todos ela aceitava os abraços<br />

No entanto nem entre os humanos<br />

Conheço alguém que prime tanto pelos laços.<br />

O que mais faz subir o fogo da tristeza<br />

É sabermos o quantum de displicência<br />

Os que tratam têm que ter o mínimo de<br />

consciência<br />

De que quanto mais exames muito mais a<br />

certeza<br />

Das doenças naquele ser em permanência.<br />

Quem sabe? – talvez Priscila estivesse viva<br />

Se os cuidados tivessem sido mais primorosos<br />

Porém as condições sempre nos privam<br />

Assim perdemos a quem era imperdível<br />

E seguimos inconsoláveis todos os órgãos<br />

chorosos<br />

www.varaldobrasil.com 85

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